terça-feira, 10 de março de 2015
Codevasf investe R$ 1,47 bilhão para revitalizar bacias hidrográficas
Pesquisadores analisam salinidade do rio São Francisco
Em uma das viagens para pesquisa (fotos Laboratório Georioemar) |
Os pesquisadores realizaram o levantamento no trecho do rio próximo à foz, na região costeira norte de Sergipe, para medir a velocidade da água utilizando as ondas sonoras, através do efeito Doppler, com o uso de um medidor tipo ADCP. “O objetivo do levantamento é analisar a atual vazão do rio São Francisco, bem como a influência da
Oceanógrafo Jonas Ricardo explica pesquisa |
Ele lembra que o estudo feito na região estuarina do rio São Francisco poderá indicar a influência que o rio sofre com o avanço da cunha salina nas suas águas, hoje afetando diretamente às populações ribeirinhas. “Com a diminuição da vazão, regulada pelas represas hidrelétricas, a cunha salina tende a adentrar mais o rio, tornando a água salobra e promovendo mudanças na sua qualidade para consumo, deixando de ser um recurso que possa ser utilizado diretamente, tanto pelas pessoas como pelos animais e plantas”, afirma.
Para ele, a intrusão salina constitui uma ameaça potencial ao suprimento de água, tanto
Foz do rio São Francisco (Foto: Google Earth) |
Ele explica que o avanço da cunha salina ocorre quando a cunha de água salgada do mar avança ou se mistura com as águas doces do rio. “Com a grande vazão que o rio tinha antigamente, a força não permitia a entrada de água salgada. Os pescadores relatam que antigamente não acontecia o fenômeno da água salobra invadindo o rio. Hoje, isso ocorre com frequência principalmente com as marés de maior amplitude”, ressalta Jonas Ricardo, da equipe Georioemar-UFS.
A bióloga Neuma Rúbia, do Projeto Águas do São Francisco, doutoranda em Desenvolvimento e Meio Ambiente (UFS), participou do levantamento na desembocadura do rio. Para ela, os ribeirinhos já sentem a água salobra e, caso a água do rio sofra uma maior influência da cunha salina, a comunidade poderá ficar sem água para consumo. “O carro chefe da minha pesquisa é a analise da à cunha salina na foz do São Francisco, mas também analisaremos a água potável para consumo porque queremos dar uma reposta à comunidade”, diz. Esses dados farão parte da tese de doutorado por título Hidrodinâmica Ambiental na Foz do São Francisco desenvolvida atualmente pela pesquisadora.
O Laboratório Georioemar da Universidade Federal de Sergipe é coordenado pelo professor-geólogo Luiz Carlos Fontes e possui uma equipe multidisciplinar composta por geólogos, oceanógrafos, sedimentólogos, entre vários outros pesquisadores. O Projeto Águas do São Francisco é coordenado pelo professor Antenor de Oliveira Netto, grupo Acqua.
quarta-feira, 5 de novembro de 2014
A Crise Energética e a Seca mais Cruel dos Últimos 100 anos
Local de captação de água para as turbinas de Três Marias: imagem da desolação! |
domingo, 5 de outubro de 2014
NOTA DO MTC BRASIL EM DEFESA DO RIO SÃO FRANCISCO
Rio São Francisco, próximo a São Romão, MG (foto: João Carlos Figueiredo www.expedicaovelhochico.com - 1979) |
quarta-feira, 1 de outubro de 2014
O VELHO CHICO ESTÁ MORRENDO!
Berçários das nascentes do Cerrado serão tombados
Bacia hidrográfica: corresponde à área drenada por um rio principal, seus afluentes e subafluentes, que formam, dessa maneira, uma rede hidrográfica. É usualmente definida como a área na qual ocorre a captação de água (drenagem) para um rio principal e seus afluentes devido às suas características geográficas e topográficas.
Nascentes serão tombadas pelo Iphan
Cerrado, o berço das águas
No caso do sistema Araguaia-Tocantins, que corre para o Norte e vai desaguar no Pará, 71% da água da bacia nasce no Cerrado. A proporção é a mesma para o conjunto das Bacias do Paraguai e do Paraná, que drenam grandes áreas do Centro-Sul. “O rio é só o encanamento superficial pelo qual a água corre”, diz o pesquisador Felipe Ribeiro, da Embrapa. “Mas onde a água nasce é no Cerrado. As besteiras que a gente fizer aqui em cima vão repercutir rio abaixo.”
A sobrevivência do Pantanal depende diretamente da conservação do Cerrado
Geografia - Nelson Bacic Olic
terça-feira, 30 de setembro de 2014
Seca do São Francisco reduz vazão da represa de Três Marias
Proposta, que será votada nesta terça-feira, quer a redução dos atuais 160 metros cúbicos por segundo para 140m3/s a partir do início de outubro e para 120m3/s a partir de novembro
O Rio São Francisco chegou a um nível tão crítico – o pior da história –, que estão sendo adotadas medidas para garantir uma vazão mínima do curso d’água também em 2015. A movimentação indica que autoridades e ambientalistas já trabalham com a probabilidade de que a próxima estação chuvosa não será suficiente para normalizar a vazão. Como parte desse conjunto de providências, a Câmara Consultiva do Comitê da Bacia Hidrográfica do Alto São Francisco se reúne hoje com o objetivo de aprovar proposta para que a quantidade liberada pala represa de Três Marias seja reduzida de 160 metros cúbicos por segundo para 140m3/s a partir do início de outubro e para 120m3/s a partir de novembro. A sugestão já provoca reações de populações atingidas.
A secretária do comitê, Silvia Freedman, assegura que a proposta – que ainda será encaminhada ao Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) –, tem como objetivo garantir uma vazão mínima para o rio, além de manter água no reservatório de Três Marias, que está com apenas 5,3% de sua capacidade. “Se isso não for feito, o lago da usina vai secar e o rio, também. Estamos tomando essa decisão para evitar um colapso total”, justifica.
A ação defendida pelo comitê atende diretamente ao entorno do lago da usina de Três Marias, que abrange diretamente oito municípios. Por outro lado, provoca temor em comunidades rio abaixo, como ocorre no projeto de irrigação do Jaíba. O produtor Mario Borborema, que trabalha na área, afirma que, se a liberação da usina de Três Marias baixar a menos de 150m3/s, o nível do rio vai diminuir tanto que a captação de água pelo sistema de bombas do perímetro irrigado pode tornar-se inviável. “Isso pode levar a interrupção do projeto de irrigação”, alerta o produtor, acrescentando que, além de prejudicar a atividade de cerca de 2 mil agricultores, a situação atingiria cerca de 20 mil moradores do perímetro irrigado.
“Entendemos a preocupação do comitê em garantir a vazão do rio. Mas o lago de Três Marias ainda tem 5% de capacidade e estamos na iminência do início do período chuvoso”, disse. Ele lembrou que, por causa da estiagem, desde junho os irrigantes do Jaíba não iniciam novos plantios. “Já estamos dando a nossa cota de sacrifício e não podemos ser ainda mais prejudicados”, comenta.
O assessor jurídico da Prefeitura de Pirapora, Fidelies Morais, também questiona a proposta de reduzir a vazão de Três Marias. “Estudos do próprio ONS mostram que, se a fluência do rio ficar abaixo de 150m3/s, haverá danos ambientais ao rio”, argumentou, sem, no entanto, detalhar que ameaças seriam essas. Lembrando que a legislação estabelece prioridade de recursos hídricos para uso humano e animal, ele aponta falhas de planejamento na manutenção da hidrelétrica. “Infelizmente, nos anos anteriores só olharam a produção de energia, mantendo as seis turbinas funcionando ao máximo”, denuncia.
Já a secretária do Comitê do Alto São Francisco explica que as propostas da entidade consideram somente a necessidade de manter uma vazão mínima do Velho Chico, para que o abastecimento humano seja garantido no futuro. “Mesmo se ocorrerem bons índices de chuva de novembro a março, o problema da seca pode se repetir em 2015. Temos que adotar medidas preventivas.”
Procurados, a Agência Nacional de Águas (ANA) e o Instituto Mineiro de Gestão das Águas (Igam) informaram que vão aguardar a chegada oficial das propostas do comitê de bacia para se manifestar. O Estado de Minas tentou, sem sucesso, ouvir representantes do ONS sobre o assunto.
Pior que o apagão
Com 1,1 bilhão de metros cúbicos de água, da capacidade total de 21 bilhões, o volume de Três Marias é o menor da história, segundo a Cemig, da operadora da usina. A companhia informou que amanhã enviará técnicos para reunião da ANA com integrantes do ONS, na qual pode ser decidida a redução da vazão das turbinas.
Ontem, a vazão de água da represa era de 160m3/s, mas o reservatório só recebia 40m3/s. Desde sábado o volume de água é de 5,3%. Em 2001, o ano do apagão no Brasil, o nível mínimo de armazenamento chegou a 8%. Na reunião de amanhã será discutida a redução gradativa da vazão. As turbinas podem funcionar até com o volume diário que chega à represa, mas as populações rio abaixo seriam prejudicadas.
Fonte: Correio Braziliense
Luiz Ribeiro / Landercy Hemerson
quinta-feira, 25 de setembro de 2014
Morte Anunciada: a tragédia do Velho Chico
A nascente do Velho Chico secou completamente, e sua vegetação desapareceu |
Triste visão do rio São Francisco em Pirapora, Minas Gerais |
Imagem da seca do rio São Francisco em Xique-Xique, na Bahia |
A maior seca da história do nordeste, prova definitiva das mudanças climáticas |
quarta-feira, 24 de setembro de 2014
Nascente do Rio São Francisco secou, afirma diretor de Parque
"Não afeta todo o rio porque ele é muito grande, tem outros tributários que vão ajudando a mantê-lo. A gravidade maior é a seca. É uma questão simbólica", diz o diretor do parque, Luiz Arthur Castanheira.
Segundo Castanheira, a falta de água na nascente do rio, que tem 2.700 km de extensão e atravessa seis Estados e o Distrito Federal, foi detectada por funcionários da unidade, que visitam o local diariamente. "O pessoal mais antigo aqui do parque está assustado [com a seca]", diz. O rio nasce a cerca de 1.200 metros de altitude, em um dos pontos mais altos do parque, que tem 200 mil hectares de área.
A água brota de diversos "olhos d'água" e pequenos riachos que formam a nascente do Velho Chico, como o rio é afetuosamente chamado. "Se a nascente seca, [o rio] vai ficar com pouca água até o primeiro desaguar de outro rio [no São Francisco]", explica o vice-presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco (CBHSF). Ele não soube dizer em que ponto isso ocorre.
A estiagem rigorosa não afeta somente a nascente. A represa de Três Marias (a 224 km de Belo Horizonte), a primeira do São Francisco, está com a vazão crítica. Segundo Soares, a vazão atual é de cerca de 60 m³/s, quando o esperado mesmo para épocas de estiagem é de 300 a 350 m³/s.
"Não choveu a quantidade esperada, mas há a necessidade de manter a vazão para a energia elétrica, o que diminui o reservatório", explica Soares. "Precisamos trabalhar com as pessoas e com as empresas para que seja feito o uso racional da água."
De acordo com o comitê, a previsão é que a situação seja normalizada com aumento no volume de chuva em meados de outubro. O Ministério Público Federal de Sete Lagoas (a 50 km de Belo Horizonte) investiga a situação do São Francisco e da represa. De acordo com a Promotoria, a estiagem está acima da média histórica, o que tem reduzido a quantidade de água liberada pela represa.
A principal nascente vem no rio Samburá, no município de Medeiros, na região Centro-Oeste de Minas. “Mesmo não sendo a maior, secar a nascente da Serra da Canastra é gravíssimo. É resultado da estiagem que começou em março do ano passado. E o pior é que essa águas não se recuperam apenas em um ano e ainda podemos ter uma surpresa em 2015, com a continuidade da estiagem. E aí, vamos fazer o quê?”, destaca o presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do rio São Francisco (CBHSF), Anivaldo Miranda.
Na avaliação dele, a escassez de água no Velho Chico é fruto da política de monopolização do rio para a geração de energia. “A redução da vazão do reservatório de Três Marias para atender à geração elétrica está afetando os outros usos da água. O São Francisco é um rio de muita demanda, que pega 58% do polígono da seca, ou seja, a agricultura depende dele. É preciso ter coragem para mudar o modelo da matriz energética do país”, questiona.
“As autoridades precisam tirar do papel a política de revitalização do São Francisco. Foi prometido que, para cada centavo investido na transposição, o mesmo seria aplicado na recuperação do rio”, cobra Miranda.
Na beira do rio
Antônia das Graças Silva Santos, de 65 anos, é nascida e criada na região e é aposentada como funcionária do Parque Nacional. "Sempre visitei essa nascente, o escritório em que eu trabalhava fica bem perto dela. Sei que a água do rio diminuiu, mas secar a nascente não fiquei sabendo, isso nem pode acontecer. A gente fica com medo ao ver uma coisa desta, pois um rio tão importante não pode secar assim. Mas isso não vai acontecer não, a chuva virá, tenho esperança", disse. Ainda segundo ela, a falta de água está crítica para todo mundo.
Incêndio
O tempo seco também vem aumentando o número de focos de incêndio no parque - desde 20 de agosto, já foram registrados oito. O mais recente e mais grave ocorreu na sexta-feira (19), durou 48 horas e atingiu 10 mil hectares. Os campos próximos da nascente do São Francisco também foram afetados pelo fogo, segundo Castanheira.
"Isso é o que é o mais triste. [A nascente] está tão seca que não conseguimos nem pegar água para apagar o incêndio", relata o diretor, segundo quem há fazendeiros ateando fogo na vizinhança do parque em plena época de seca.
Três Marias
Apesar de a situação ser alarmante, muitos acreditam que tudo voltará ao normal após o período de chuvas. Essa é a opinião de Norberto Antônio dos Santos, vice-presidente da Organização Não Governamental (ONG) SOS São Francisco, localizada na cidade de Três Marias, na região Central do Estado, onde se encontra uma das represas do Velho Chico. "A Casca D'Anta (primeira cachoeira do rio) deve estar com um fiapo de água, mas não acredito que a nascente vá secar assim, não. Lá para o dia 10 de outubro já começa a normalizar a situação", acredita Norberto.
De acordo com ele, o nível da barragem está bem baixo, sendo que a entrada de água é de 50 m³ por segundo e a vazão é de 150 m³. "Se não fosse a barragem estaríamos recebendo só os 50m³, o que seria muito pouco", explicou.
sábado, 23 de agosto de 2014
Ministério Público acompanha situação do Rio São Francisco
O Ministério Público Federal divulgou nesta quarta-feira (13) a instauração de procedimento para acompanhar os problemas provocados pelo baixo nível de água no Rio São Francisco, na região da Usina Hidrelétrica de Três Marias, na região central de Minas Gerais.Passeio no Vapor não tem data prevista para serem retomados. (Foto: Ivan Rodrigues/Ascom) - Fonte: G1 Grande Minas
“Como desde 2011 as precipitações na bacia do Rio São Francisco estão abaixo da média e no período 2013/2014 está ocorrendo o pior resultado de chuvas das últimas décadas, o MPF também acentua a necessidade de que os órgãos responsáveis por gerenciar situações de calamidade pública estejam preparados para atuar caso haja agravamento da crise”, afirma o procurador Antônio Arthur Barros Mendes.
As obras inacabadas do PAC de DILMA e LULA |
“A queda no volume de água do rio significa risco para a navegação, uma vez que as pedras podem comprometer o casco do vapor, que ainda corre o risco de ficar encalhado, tamanha a quantidade de bancos de areia”, justificou o presidente da Empresa Municipal de Turismo (Emutur), Anselmo Rocha de Matos.
Há cerca de três meses a cidade enfrenta problemas por causa do baixo nível de água do Rio. A situação piorou ainda mais após a Usina Hidrelétrica de Três Marias diminuir a vazão água liberada pela represa.
segunda-feira, 9 de junho de 2014
sexta-feira, 6 de setembro de 2013
Problemas Ecológicos do Rio São Francisco
Porém, logo as questões ambientais passaram a ser minha maior preocupação e cuidados, pois evidências começavam a aparecer no caminho, seja pela presença de gado às margens do rio, seja pela constatação de pesca predatória, ou mesmo a certeza de que fazendas às margens do rio estavam contaminando suas águas com o excesso de agrotóxicos utilizados nas plantações. Mesmo quando essas evidências não eram tão óbvias, os próprios ribeirinhos comentavam ocorrências de crimes ambientais: plantações de cana-de-açúcar onde o vinhoto era descarregado nas águas do Velho Chico.
A pesca, antes da represa de Três Marias, é praticada por profissionais e amadores. Os primeiros são os próprios ribeirinhos e pessoas vindas das cidades para abastecer grandes comerciantes com dourados, piranhas, pintados e tantas outras espécies apreciadas pelos consumidores. O problema é a forma com que esses profissionais atuam no rio: utilizam uma prática denominada PINDA, que consiste em fincar dezenas de varas nas barrancas dos rios, deixando que os peixes se enrosquem nos anzóis. No final do dia, ou no dia seguinte, vêm buscar sua pesca.
Ocorre que a quantidade é tamanha que os próprios pescadores acabam abandonando as varas nas margens por vários dias e, quando finalmente vêm buscá-las, os peixes já estão mortos e apodrecidos, ou comidos por outros peixes. Um desperdício! A quantidade desperdiçada é impressionante e injustificável! Não saberia estimar os prejuízos, nem avaliar o impacto dessas perdas para as populações de peixes do rio, mas como são peixes de porte médio, acredito que o impacto seja relevante por atingir justamente os indivíduos em plena fase de reprodução, machos e fêmeas.
Quanto aos amadores, o impacto já é bem maior, por incrível que pareça. Existem dezenas de ranchos de pesca ao longo do rio, com toda infraestrutura necessária para receber barcos potentes e equipados com tecnologia inacessível para os pescadores profissionais. Assim, esses amadores conseguem “ver” os maiores peixes nos sonares e caçá-los com grande facilidade. Em pouco tempo, eles retiram do rio os maiores espécimes, em uma concorrência desleal com os profissionais e com os próprios peixes.
Passando a barragem de Três Marias esses problemas persistem e se agravam, com a maior concentração humana nas proximidades do rio, além de novos problemas de maior gravidade. A primeira percepção que temos é que as matas ciliares já não são tão contínuas e nem tão largas. Às vezes, é apenas uma linha estreita às margens do rio, insuficientes para abastecer de vida esse ecossistema. Porém, a barragem tem um aspecto ainda mais perverso: sua função reguladora do rio!
Antes da construção de Três Marias, o rio tinha um ciclo natural de cheias e vazantes, caracterizadas pelas épocas das chuvas e da seca em toda sua extensão. Com isso, as margens se expandiam e se retraíam sazonalmente, irrigando as margens e abastecendo as lagoas vicinais, verdadeiros berçários de peixes, aves e mamíferos. Na enchente, as fêmeas saíam pelos canais até as lagoas e lá depositavam seus ovos, que eram fecundados pelos machos reprodutores. Esses ovos davam origem aos alevinos, que cresciam nas lagoas até as próximas cheias, quando então retornavam ao rio.
Com a construção da hidrelétrica, o regime do rio se modificou, e o homem passou a controlar sua vazão conforme seus interesses, reduzindo drasticamente esse processo cíclico de reprodução e de abastecimento das lagoas. Não somente os peixes foram prejudicados, mas toda cadeia alimentar de todas as espécies que utilizavam as lagoas como berçários naturais, principalmente os pássaros e felinos. É evidente que a população de todo ecossistema sofreu dramática redução, inclusive com o desaparecimento de muitas espécies, em especial dos felinos e dos grandes peixes.
As fazendas às margens do rio também tiveram outra participação importante nesse processo de degradação ambiental. Eliminando as matas ciliares, as barrancas do rio ficaram vulneráveis ao ciclo das chuvas, sendo arrancadas em grandes blocos de terra lançados dentro do rio. Isso provocava três efeitos críticos: primeiro, o alargamento do rio pelo desabamento gradual das margens; depois, esses grandes volumes de terra reduziam a profundidade do rio, em um fenômeno conhecido como “assoreamento”; finalmente, o aumento da temperatura do rio, devido à menor profundidade das águas. Todo esse processo causava não apenas a redução da ictiofauna, mas também o aumento significativo da evaporação das águas do rio, reduzindo seu volume e sua vazão. Vale destacar que o São Francisco se encontra na região do Semiárido, onde na maior parte de sua extensão o volume de chuvas não passa de 300 mm/ano!
A barragem da represa teve, ainda, outro efeito devastador: muitas espécies de peixes têm seu ciclo de vida regulado pelas estações do ano e, no segundo semestre, começa a migração no sentido da foz para a nascente, conhecido como “piracema”. As fêmeas de cada espécie desovam sempre na mesma época do ano, percorrendo as mesmas distâncias. Porém, encontrando um obstáculo intransponível em seu caminho, não conseguem prosseguir e tentam desovar ali, aos pés da barragem. A desova prematura não permite a fecundação plena dos ovos, e a população diminui constantemente até sua extinção. Só sobrevivem aqueles que se adaptam ao novo ciclo do rio.
Do outro lado da barragem, outro fenômeno perverso acontece: o rio, que corria em sua velocidade e declividade natural, encontra a barragem e para, formando o grande lago artificial. As águas paradas favorecem um processo físico de sedimentação, tornando as águas cristalinas, e desprovidas de seus nutrientes naturais. Peixes de correnteza, que também dependem da turbidez das águas, perdem a capacidade de caçar, e desaparecem gradualmente, provocando transformações na cadeia alimentar.
As águas profundas do lago artificial da represa provocam alterações no pH e na temperatura, que também afetam a reprodução das espécies que habitam o rio. Do outro lado da represa, o grande volume de água despejado pelo vertedouro e pelas turbinas também provoca alterações substanciais no substrato e nas próprias águas do rio. Toda cadeia de vida é profundamente afetada pela construção da barragem, que separa o rio em duas partes completamente isoladas. Já não é mais um rio somente, mas dois!
O rio São Francisco possui cinco hidrelétricas e oito barragens: Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso (I, II, III e IV) e Xingó. É como se houvessem nove pedaços de rio, isolados por barragens, em um mesmo ecossistema. Para agravar ainda mais os impactos sobre a ictiofauna, nas represas foram introduzidas espécies exógenas, principalmente carpas, tilápias, tambaqui, pacu-caranha e o bagre africano. Essas espécies, por serem desconhecidas dos peixes nativos, não encontram predadores naturais e acabam por proliferar e dizimar grande parte das espécies nativas.
A irrigação desordenada é outro problema crítico do rio São Francisco. Iniciada a partir dos projetos de agricultura do semiárido, acabaram por comprometer a vazão do rio, além de se tornar um elemento condutor de agrotóxicos, utilizados amplamente nas plantações, para dentro do rio, ao escorrer pelo solo árido do sertão. Destaque especial para a transposição de suas águas para a bacia do Parnaíba, cuja vazão estimada é de 99 m³/s, embora os canais tenham capacidade nominal de 125 m³/s. O destaque desse projeto é que, em sua origem, previa a reposição desse volume de águas por um canal trazido do rio Tocantins, e que foi abandonado pelo atual projeto em desenvolvimento.
Mas os problemas do Velho Chico não se resumem apenas às suas próprias águas. A Bacia do São Francisco é composta por cerca de 150 afluentes, sendo 100 deles perenes e os demais intermitentes, conforme a época do ano. Esses tributários, por sua vez, são formados por centenas de outros afluentes menores, até os pequenos córregos que, em sua totalidade, constituem o complexo ecossistema do São Francisco, o único que se encontra inserido completamente no território nacional e que abastece praticamente toda a região do semiárido nordestino. Nele habitam cerca de 20 milhões de pessoas, inclusive a Grande Belo Horizonte, através de seu maior afluente, o Rio das Velhas.
Os problemas do rio São Francisco começaram na época do Descobrimento, quando foi encontrado por Américo Vespúcio, em 1.504. Desde então, vem sendo habitado gradualmente, primeiro por pequenos lavradores e pescadores, depois pela instalação de cidades cada vez maiores e mais problemáticas para a vida do rio. O mais grave é a poluição, que se manifesta em três processos distintos. O primeiro já mencionamos, que é o da contaminação por agrotóxicos. O segundo é decorrente do despejo de esgotos urbanos sem tratamento em todos seus afluentes. E o terceiro é a poluição industrial, pelo despejo de dejetos de fábricas, produtos químicos e metais pesados, que contaminam o rio e seus habitantes, peixes, animais que habitam suas margens, e pessoas.
Na década de 1960, quando foi construída a Hidrelétrica de Três Marias, instalou-se em sua jusante, às margens do rio, uma fábrica da Votorantim, que produz manganês e despeja em uma lagoa seus resíduos químicos, altamente tóxicos. Em 2004, um grande desastre ecológico aconteceu pelo derramamento desses produtos químicos no leito do rio, matando milhões de peixes e depositando no substrato uma grande quantidade de metais pesados que, a cada vez que as comportas são abertas, revolvem o leito e trazem novos acidentes menores. Foi o pior desastre ecológico acontecido nos rios brasileiros.
A Hidrelétrica de Sobradinho, no ano de sua construção (1970), produziu o maior lago artificial do mundo em volume de água, alagando uma extensão de 400 km e uma largura máxima de 25 km, desalojando cerca de 70.000 pessoas e deixando submersas as cidades de Pilão Arcado, Casa Nova, Remanso, Santo Sé e Sobradinho. Além do deslocamento de toda essa população, com graves impactos sociais, Sobradinho alterou todo ciclo de vida do rio, eliminando centenas de lagoas marginais que sustentavam a riquíssima vida silvestre que, em grande parte, desapareceu para sempre.
Os problemas do Velho Chico são imensos e não se esgotam nesta pequena avaliação. Estima-se que o rio perdeu cerca de 75% de seu volume original de água desde que foi descoberto. Hoje, sua vazão na foz é de 2.700 m³/s e continua diminuindo. A 50 km da foz as águas são salobras e detecta-se sal marinho até a 250 km da foz. Ainda não se conhecem os impactos da transposição, e estão planejadas mais duas grandes hidrelétricas, ambas no baixo São Francisco, além de centenas de pequenas centrais hidrelétricas em seus afluentes. As obras de revitalização são poucas e insuficientes, e o desrespeito ao Código Florestal causou impactos irreversíveis em toda extensão do rio. Por isso, dizem que o Velho Chico está morrendo, levando consigo lendas, tradições e sua beleza incomparável...
Depoimento de Manoel Bibiano, prefeito de Iguatama, MG
Charge na "Gazzeta do São Francisco"
Depoimento de Roberto Rocha, Lagoa da Prata, MG
Localidades Ribeirinhas
Vargem Bonita / MG | Ibotirama / BA |
Hidrelétrica de Três Marias / MG | Morpará / BA |
Pirapora / MG | Barra / BA |
Ibiaí / MG | Xique-Xique / BA |
Cachoeira do Manteiga / MG | Remanso / BA |
Ponto Chique / MG | Santo Sé / BA |
São Romão / MG | Sobradinho / BA |
São Francisco / MG | Juazeiro / BA |
Pedras de Maria da Cruz / MG | Petrolina / PE |
Januária / MG | Cabrobó / PE |
Itacarambi / MG | Hidrelétrica de Itaparica - PE / BA |
Matias Cardoso / MG | Hidrelétrica de Paulo Afonso / BA |
Manga / MG | Canindé de São Francisco / SE |
Malhada / BA | Hidrelétrica de Xingó - AL / SE |
Carinhanha / BA | Propriá / SE |
Bom Jesus da Lapa / BA | Penedo / AL |
Paratinga / BA | Piaçabuçu / AL |
Depoimento de Dom Frei Luiz Cappio, Bispo de Barra, BA
Principais Afluentes
Rio Abaeté | Rio Pandeira |
Rio Borrachudo | Rio Pará |
Rio Carinhanha | Rio Paracatu |
Rio Corrente | Rio Paramirim |
Rio das Velhas | Rio Paraopeba |
Rio Grande | Rio Pardo |
Rio Indaiá | Rio São Pedro |
Rio Jacaré | Rio Urucuia |
Rio Pajeú | Rio Verde Grande |
Entrevista à TV Sergipe, Aracaju
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