domingo, 24 de janeiro de 2010

Ambientalista viaja sozinho pelo São Francisco e faz levantamento ambiental do rio

Correio Braziliense - Ciência e Saúde

Gisela Cabral

Publicação: 24/01/2010 09:50



Percorrer toda a extensão do São Francisco a bordo de uma simples canoa. A missão — movida pela vontade de conhecer a fundo cada detalhe do famoso rio, que banha nada menos do que cinco estados brasileiros — pode parecer impossível, mas o ambientalista João Carlos Figueiredo, 60 anos, não só a realizou, como transformou a aventura solitária em alerta para a sociedade sobre a situação de um ecossistema que necessita de cuidados.

A jornada, iniciada em setembro passado, durou 99 dias. Figueiredo percorreu 2,5 mil quilômetros munido apenas de itens básicos de sobrevivência, com exceção de um aparelho de GPS para localização e câmeras de fotografia e vídeo. O ambientalista pode ver de perto a situação da fauna e da flora do rio — considerado o mais importante caminho de ligação das regiões Sudeste e Centro-Oeste com a Nordeste —, além das condições de vida das populações que vivem às margens do Velho Chico. Tudo registrado em milhares de fotos, horas de filmagem e muitas páginas escritas. O material foi publicado em um blog na internet pelo próprio Figueiredo, que recebeu patrocínio para alimentação e para a câmera fotográfica que utilizou.

Durante os mais de três meses de aventura, ele iniciava o dia por volta das 4h, remava por até 10 horas e só parava no fim da tarde, para se alimentar e descansar. Ele conta que teve o privilégio de observar belas paisagens e encontrar gente simples e hospitaleira, além de conhecer iniciativas bem-sucedidas de preservação do rio. Porém, a expedição revelou trechos onde a poluição e o desrespeito à natureza eram visíveis. “A destruição das matas ciliares fez com que barrancos enormes desmoronassem e provocassem o fenômeno do assoreamento no rio. Isso sem contar com o grave problema do desaparecimento da fauna nativa”, afirma.

De acordo com o viajante, já no início do rio é possível sentir o cheiro do esgoto. “A situação vai se agravando à medida que povoados maiores vão surgindo. Depois de Três Maria (MG), por exemplo, há o esgoto que vem de Belo Horizonte (MG) e desce pelo Rio das Velhas, um dos afluentes do São Francisco. Também falta educação ambiental às populações ribeirinhas, que acabam jogando lixo e dejetos na água. Essas pessoas não imaginam que a situação é ruim para elas e para o planeta”, explica Figueiredo. Indústrias e grandes agricultores também lançam resíduos no rio, como agrotóxicos utilizados nas lavouras.

Características próprias

Os contrastes encontrados ao longo do percurso também chamaram a atenção de Figueiredo. Apesar de o curso d’água ser o mesmo, ele aponta que cada região apresenta características próprias. “Em Alagoas, por exemplo, predomina a plantação de coco. Num trecho próximo a Piaçabuçu, cheio de curvas, conheci um verdadeiro paraíso ecológico, repleto de animais. Parecia um oásis”, conta. Trechos próximos a Sergipe, onde predominam plantações bem cuidadas e diversificadas, também não passaram despercebidas. Além disso, segundo ele, é impossível falar do Rio São Francisco sem mencionar a obra de transposição implantada pelo governo, devido ao agravamento da crise do abastecimento hídrico do Nordeste, em 1999. Porém, o tema ainda divide opiniões, pois é considerado por muitos uma agressão ao ecossistema.

A previsão é que seja concluída a implantação de um conjunto de canais, adutoras, túneis, estações de bombeamento e reservatórios feito a partir dos dois eixos que saem do rio, entre as barragens de Sobradinho e Itaparica, na Bahia. “A transposição tem de ser vista sobre dois pontos de vista: o ambiental e o social. O grande problema, na minha opinião, é que a água do rio está sendo levada para abastecer outros lugares e pode descobrir outros que também necessitam de ajuda”, avalia Figueiredo, que agora trabalha na compilação das informações coletadas ao longo dos três meses em que passou no rio para o lançamento de um livro.

Artigo Correio Braziliense

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Próximas Etapas

Já estou trabalhando o material que dará origem às minhas próximas ações... nesse ano de 2009, totalmente dedicado ao projeto da expedição "Meu Velho Chico" eu consumi cinco meses em planejamento, 99 dias em viagem, três meses tentando patrocínios; tirei quase 4.000 fotografias, gravei cerca de 30 horas de vídeo, escrevi mais de 300 páginas de meu diário de bordo, visitei 25 cidades e 15 comunidades (indígenas, quilombolas, assentamentos), conheci centenas de pessoas interessantíssimas, fotografei igrejas, pontes, pores-do-sol, animais, árvores, barrancos, pessoas, casas antigas, praias de rio e de mar...

Pretendo concluir a edição de todo esse material até o final de abril. Depois começa outra batalha por editoras e patrocínios. Quero ter meu livro publicado até o final de julho deste ano, para lançá-lo na Adventure Sports Fair e relançá-lo em algumas das principais cidades que visitei. Vou doar um exemplar para cada comunidade que me acolheu e para as pessoas que me ajudaram ao longo do rio. Gostaria muito de entregá-los pessoalmente, mas isso só será possível com patrocinadores... vamos aguardar...

Pretendo fazer palestras em todos os eventos relacionados com a preservação do meio ambiente e, para isso também preciso da ajuda de amigos, que tornem isso possível. Por enquanto, as poucas ajudas que consegui partiram dos mais humildes, dos mais comprometidos com a preservação do rio São Francisco. A mídia nacional continua me ignorando; por isso, se alguém puder me ajudar a romper essa muralha de silêncio, ficarei eternamente grato. Não é a fama que busco, mas oportunidades para divulgar minha missão!

Abraços a todos!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Já passamos de CENTO E VINTE assinaturas na Petição!

Embora seja um marco importante, cem assinaturas ainda representam pouco interesse pelas questões ambientais em nosso país... meu blog já recebeu mais de 12.000 visitantes em seis meses, o que é significativo para um assunto denso como a preservação do meio ambiente, mas 120 assinaturas representam 1% dos visitantes. Mesmo sabendo que a maioria das visitas pertence aos mesmos visitantes, que retornam ao blog, eu enviei mais de 400 emails, coloquei mensagens no Orkut, Facebook, Linked In, Plaxo, Twitter...
Bem, mas consciência ecológica é um processo educativo que demanda muito tempo para amadurecer... prova disso é que já se passaram 18 anos desde que o Brasil sediou a ECO 92 no Rio de Janeiro, verdadeiro marco divisório de um período extenso de desperdícios e o início de uma era de consumo racional, que ainda está na infância. No entanto, fenômenos trágicos como o que ocorre nas praias da região norte paulista evidenciam que um processo de transformações na Natureza está em curso. Katrina, nos Estados Unidos, Catarina em Santa Catarina, Tsunami nos mares das Filipinas, nevasca em Nova Iorque...
É lamentável que somente com a reação de desordem nos fenômenos naturais é que a Humanidade começará a tomar providências para reverter a tragédia que se avizinha... nem mesmo os filmes de ficção mais extremistas, como "O dia depois de amanhã" e "Avatar" são suficientes para mobilizar decisões dos países que estiveram reunidos em Kopenhagen e nada aconteceu de importante...
Bem, de qualquer forma, CENTO E VINTE assinaturas no nosso Protocolo do São Francisco é um número expressivo e quero agradecer a todas as colaborações dos que registraram sua presença e, principalmente daqueles que me ajudaram a divulgar esse manifesto, replicando emails e mobilizando sua rede de relacionamentos!
Ainda há tempo: a quem não assinou, convido a conhecerem a petição "Protocolo do São Francisco". Ela será encerrada no dia 31 de janeiro próximo, quando a encaminharei para os governos federal, estaduais e municipais (da bacia do São Francisco), aos órgãos de imprensa, às ONGs que atuam na região e aos ambientalistas que se manifestaram em meu apoio durante minha expedição.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Brasil que não está no GIBI


Passei o ano de 2009 comprometido com meu projeto de expedição pelo rio São Francisco e conheci o mais paradoxal exemplo de anacronismo político de um Brasil que pouca gente conhece e muitos pensam que morreu ou ficou no passado... pois existe, e ainda reflete as mais sórdidas realidades de nossa formação política, econômica e social: o país dos coronéis!
No oeste baiano, uma imensa população de deserdados é submetida, nos dias de hoje, às humilhações e à prepotência de um poder obscuro e, no entanto, real e cruel: grandes propriedades rurais, verdadeiros latifúndios, fazem valer sua vontade sobre pequenos agricultores, submetendo-os ao terror das armas, mantendo-os como testemunhos de uma história que gostaríamos de esquecer.
Visitei muitas dessas comunidades, onde a criação de cabras, porcos, galinhas e até algumas cabeças de gado é mantida solta, nas terras comunitárias, junto com os humanos... esses animais compartilham os mesmos espaços das crianças e dos adultos; as construções ainda são de taipa, e o besouro transmissor da doença de Chagas permanece ativo, fazendo novas vítimas... as oportunidades de trabalho são escassas e se resumem ao extrativismo (pescadores, carvoeiros, garimpeiros), às pequenas lavouras de lameiro, ao escambo e a um comércio regional incipiente e insignificante, que não permite que essas populações saiam da miséria econômica e, sobretudo, cultural. Para agravar ainda mais a situação, as famílias são imensas, com seis, oito, dez, doze filhos, pois a única distração das pessoas é procriar!
É como se voltássemos o relógio do tempo e mergulhássemos no mundo de nossos avós, onde o conforto era um luxo permitido a poucos, a segurança não existia e o futuro era incerto, às vezes até improvável... carros de tração animal, ruas sem calçamento, esgoto escorrendo pelas beiradas das casas, crianças mal nutridas perambulando suas enormes barrigas pela comunidade, lixo jogado a céu aberto, apodrecendo, e o grande paradoxo das antenas parabólicas, desfilando um mundo de fantasias que as pessoas só conhecem pela telinha...
Nenhuma cidade ribeirinha que eu visitei possui cinema; o circo mambembe passa por lá, levando espetáculos tão anacrônicos quanto os carros de boi rangendo pelas ruas, teatro é uma ilusão inacessível, e as igrejas evangélicas, pentecostais e católicas fazem a vida se resumir à esperança de que, ao menos depois da morte, haveria justiça e se tornam a única razão de continuar a viver. Para compensar tanta desgraça, somente a cachaça que corre solta por todo o lado, alimentando o crime, a solidão e o desespero inconsolável...
O coronelato domina o poder, mais forte do que aquele constituído e legal, de urnas eletrônicas e falta de consciência política, que elegem aqueles que mais entregam parcas e modestas benesses às vésperas das eleições. O sindicalismo é forte, mas apenas como outra faceta do mesmo grupo dominante, pois suas lideranças se contrapõem aos coronéias apenas para legalizar essa situação absurda e onírica! A eles também interessa preservar a miséria, sua principal matéria-prima de perpetuação nesse poder secundário dos protestos inúteis.
Crimes ocorrem aos montões: políticos, passionais, de vingança ou de "acerto de contas", de afirmação do machismo dominante, ou simplesmente devido ao excesso de álcool ou de drogas, que correm soltas por todas as partes. As histórias desses crimes "divertem" os mais velhos, que relembram as façanhas de seus antepassados, seja para conquista da terra, seja nas demonstrações de sua vontade e de poder.
Esse Brasil está lá, no nordeste, no oeste baiano, incentivado pela ausência das políticas nacionais, a quem interessa preservar esses currais eleitorais que jamais se extinguirão, mesmo com urnas eletrônicas e sistemas sofisticados de reconhecimento ergométrico de eleitores, pois não é o modo de votar que determina a validade e a representatividade popular, e sim a consciência política e a autonomia econômica e social.
Essas não existem na caatinga, e jamais existirão, enquanto a decisão dos investimentos privilegiar o agronegócio, que chega e se instala aos poucos, excluindo os pequenos e metamorfoseando as paisagens do sertão através das "plantations" contemporâneas que ocupam as novas fronteiras agrícolas nacionais de modo irreversível.
Dizem que o agronegócio levou modernidade e riqueza às terras antes ressequidas e agora férteis do sertão. É verdade. Basta olhar para Petrolina e constatar a pujança dessa nova cidade que emergiu do semi-árido nos últimos vinte anos: a estrutura urbana se transformou, edifícios se ergueram com as mesmas linhas das grandes cidades, estradas bem construídas surgiram por todo lado, universidades e centros de pesquisa foram construídos.
Mas não é preciso andar muito para constatar que existe um tênue manto de prosperidade no entorno dessa bela cidade; logo aparece de novo a miséria, a falta de água, a fome, a ausência de oportunidades, pois para os pobres quase nada mudou. O sertão continua lá; as águas do rio São Francisco não chegam às casas dos pobres que habitam as áreas rurais, que ainda dependem exclusivamente das parcas chuvas de "inverno" e da boa vontade dos políticos que manejam a distribuição de água pelos carros-pipa, moeda de troca dos favores...
O Brasil que não está no gibi também não está na consciência da população privilegiada do sul e sudeste-maravilha, do centro-oeste do agronegócio, do centro de poder brasiliense, repleto de escândalos e pobre de criatividade para a solução dos gravíssimos e crônicos problemas de distribuição de renda nacionais...
Até quando? Provavelmente, até que essa panela de pressão exploda, o que é improvável, mesmo com tamanha miséria, pois as igrejas fazem com competência o seu papel apaziguador de consciências, solapando qualquer iniciativa de rebeldia desses novos escravos de consciência da era contemporânea!

PROTOCOLO DO SÃO FRANCISCO


Vamos fazer um esforço para finalizar as assinaturas do Protocolo do São Francisco! Assinem e divulguem esse documento: http://www.ipetitions.com/petition/velhochico/. 
Até o final de janeiro pretendo encaminhá-lo às autoridades e conto com seu apoio e colaboração para dar credibilidade e força persuasiva a esse documento!
É incrível, mas apesar dos imensos recursos reservados para as obras da transposição, que seguem aceleradas às vésperas das eleições presidenciais, com evidentes interesses eleitoreiros, quase nada foi reservado para a revitalização do rio e de seus afluentes.
Nota-se claramente que não existe um plano nacional e integrado de ações preservacionistas para que o Velho Chico não morra... ao invés disso, pequenas obras de pouco alcance e de nenhum impacto nas complexas situações de degradação mostram o descaso de nossas autoridades em recuperar esse fantástico patrimônio hídrico nacional.
Enquanto isso, a propaganda política das ações na Amazônia Legal não condiz com a redução pífia dos desmatamentos e queimadas, e com a expansão acelerada da agro-indústria e das fronteiras agrícolas sobre outros biomas, como o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal, nossas Bacias Hidrográficas e a Mata Atlântica!
Onde estão os ambientalistas brasileiros? Preocupados com a pesca predatória das baleias e dos tubarões? Nada contra, mas precisamos cuidar primeiro do que é nosso e que garantirá o futuro de nossas novas gerações! Vamos nos mobilizar e demonstrar nossa revolta e insatisfação com o destino de nosso dinheiro, desperdiçado em obras faraônicas!

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails

Depoimento de Manoel Bibiano, prefeito de Iguatama, MG

Charge na "Gazzeta do São Francisco"

Charge na "Gazzeta do São Francisco"
Despedida de Nêgo Dágua e a Carranca - Juazeiro, BA

Depoimento de Roberto Rocha, Lagoa da Prata, MG

Localidades Ribeirinhas

Vargem Bonita / MG

Ibotirama / BA

Hidrelétrica de Três Marias / MG

Morpará / BA

Pirapora / MG

Barra / BA

Ibiaí / MG

Xique-Xique / BA

Cachoeira do Manteiga / MG

Remanso / BA

Ponto Chique / MG

Santo Sé / BA

São Romão / MG

Sobradinho / BA

São Francisco / MG

Juazeiro / BA

Pedras de Maria da Cruz / MG

Petrolina / PE

Januária / MG

Cabrobó / PE

Itacarambi / MG

Hidrelétrica de Itaparica - PE / BA

Matias Cardoso / MG

Hidrelétrica de Paulo Afonso / BA

Manga / MG

Canindé de São Francisco / SE

Malhada / BA

Hidrelétrica de Xingó - AL / SE

Carinhanha / BA

Propriá / SE

Bom Jesus da Lapa / BA

Penedo / AL

Paratinga / BA

Piaçabuçu / AL

Depoimento de Dom Frei Luiz Cappio, Bispo de Barra, BA

Principais Afluentes

Rio Abaeté

Rio Pandeira

Rio Borrachudo

Rio Pará

Rio Carinhanha

Rio Paracatu

Rio Corrente

Rio Paramirim

Rio das Velhas

Rio Paraopeba

Rio Grande

Rio Pardo

Rio Indaiá

Rio São Pedro

Rio Jacaré

Rio Urucuia

Rio Pajeú

Rio Verde Grande

Entrevista à TV Sergipe, Aracaju

Postagens mais populares