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quarta-feira, 1 de outubro de 2014

O VELHO CHICO ESTÁ MORRENDO!

O grande defensor do Velho Chico e das populações ribeirinhas, Dom Frei Luiz Cappio, já fez duas greves de fome contra as obras da Transposição. Ele sempre afirmou que o Velho Chico está morrendo! Agora, os fatos comprovam que ele estava com a razão! Agora, com a reeleição de #DILMA praticamente assegurada, o que poderemos esperar? Apenas o agravamento das agressões ao Meio Ambiente, perpetradas pelo Agronegócio, pelos Ruralistas, pelos Latifundiários da Soja e do Gado! E o povo nem mesmo percebeu que foi enganado durante os 12 anos do #PT no governo! Recebeu as migalhas dos programas assistencialistas do Bolsa Família, enquanto os latifundiários recebiam créditos bilionários e a juros subsidiados para continuar a expandir as fronteiras agrícolas do Brasil... em breve, Cerrado, Caatinga, Pantanal e Amazônia serão apenas lembranças nas memórias dos idosos... até que eles também desapareçam...

terça-feira, 15 de maio de 2012

Dom Frei Luís Flávio Cappio

Fonte: Wikipédia, a enciclopédia livre

Dom Frei Luís Flávio Cappio OFM (Guaratinguetá, 4 de outubro de 1946) é um bispo católico brasileiro da Diocese de Barra, Bahia. Nos anos de 2005 e 2007 ganhou as manchetes dos jornais ao fazer duas greve de fome em protesto ao projeto do governo federal de transposição do Rio São Francisco.


Biografia

Filho mais novo de uma família de origem italiana, é formado em Economia, apesar de na sua juventude ter desejado ser engenheiro. Fez seus estudos teológicos no Seminário Franciscano de Petrópolis, estado do Rio de Janeiro. Foi ordenado padre em 1971. Trabalhou por três anos na periferia da cidade de São Paulo pela Pastoral Operária. Em 1974, partiu para o semi-árido nordestino com a roupa do corpo. Desde então, o bispo vive no sertão nordestino.

Sua biografia mostra uma forte ligação com São Francisco de Assis: dom Luís Cappio nasceu no dia em que a Igreja Católica celebra este santo, tornou-se religioso da Ordem Franciscana, e foi viver às margens do rio São Francisco. Em 1992, ao completar 48 anos, iniciou uma peregrinação de 6 mil quilômetros da nascente até a foz do Rio São Francisco. Esta peregrinação durou um ano. Este período foi vivido por Dom Luís Cappio como uma missão ecológica e religiosa, durante a qual o frei buscou conscientizar a população sobre a necessidade de preservação do Rio São Francisco. A experiência foi publicada no livro “O Rio São Francisco – Uma Caminhada entre Vida e Morte”, pela Editora Vozes. Tornou-se bispo da Diocese de Barra em 1997, escolhido por não haver outro que se dispusesse a viver na região.

Entre 26 de setembro e 5 de outubro de 2005, fez uma greve de fome em defesa do rio São Francisco na cidade de Cabrobó, estado de Pernambuco. Seu protesto era a favor da revitalização do rio e contra o projeto de transposição do Rio São Francisco planejado pelo governo do presidente Lula. Esta manifestação ganhou o apoio de diversas organizações e movimentos sociais. O jejum foi interrompido após negociação com o então ministro Jacques Wagner. Feito o acordo, frei Cappio comentou que se a promessa não fosse cumprida, retomaria o protesto.

A decisão do governo federal de iniciar as obras da transposição em 2007, utilizando o Exército brasileiro, fez com que o bispo iniciasse um novo jejum no dia 27 de novembro daquele ano. Seu protesto não foi um gesto solitário, mas deu visibilidade à luta de diversos movimentos sociais contrários à transposição, evidenciando o conflito pelo uso das águas da bacia do São Francisco. Sua posição sobre a transposição recebeu apoio de diversas personalidades, como o teólogo Leonardo Boff, o geógrafo Aziz Ab'Sáber, o escritor Adolfo Pérez Esquivel, Elba Ramalho, Letícia Sabatella, a psicóloga Marianne Spiller, o filósofo Rosalvo Salgueiro e outros. Diversas entidades da sociedade, como o Comitê da Bacia Hidrográfica do Rio São Francisco, Serviço Paz e Justiça na América Latina - SERPAJ-AL e da Igreja Católica brasileira, como as pastorais sociais e a cúpula da CNBB, entidades ecumênicas como o Conselho Nacional de Igrejas Cristãs e movimentos sociais como o MST e o Movimento dos Atingidos por Barragens também manifestaram seu apoio.

Após praticamente um mês de jejum espontâneo, entrou num grave estado de saúde, sendo internado na Unidade de Tratamento Intensivo (UTI) na cidade de Petrolina, no dia 19 de dezembro. Por vários motivos, entre eles o parecer médico, decidiu findar seu jejum em protesto à transposição das águas do Rio São Francisco. Não obstante, seu protesto não terminou. Celebrou seus 36 anos de sacerdócio em meio a este último jejum. Sua vida não poderia estar melhor associada à de São Francisco, a quem decidiu viver semelhantemente. Hoje é um dos líderes de projeção contra a transposição do Rio São Francisco e em defesa dos direitos dos povos ribeirinhos.

Prêmios


Dom Luís Cappio em Canudos, outubro de 2007
No dia 10 de agosto de 2008 a Pax Christi Internacional, com sede em Bruxelas, anunciou a decisão de dar a dom Luís Flávio Cappio o prêmio da Paz 2008, por sua luta em defesa da vida na região do São Francisco². O prêmio foi entregue no dia 18 de outubro do mesmo ano, durante a V Romaria das Águas, em Sobradinho³.

Em 9 de maio de 2009, Dom Cappio recebe o Prêmio Kant de Cidadão do Mundo, da Fundação Kant, na cidade de Freiburg. Este prêmio é concedido bianualmente a pessoas que se destacaram na defesa dos direitos humanos.

Em 22 de outubro de 2009, Dom Cappio recebeu o Troféu João Canuto, por iniciativa do Movimento Humanos Direitos, devido ao seu empenho pelos direitos humanos.

Bibliografia

CAPPIO, Luís Flávio e outros: Rio São Francisco - Uma caminhada entre vida e morte, 2a Edição, Petrópolis: Editora Vozes, 2000 ISBN 8532614108

MOREIRA, G.L.: Dom Cappio: Rio e Povo, Editora: CEBI/CPT/Diocese Católica da Barra ISBN 9788577330478

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

O dia em que Lula não foi a Cabrobó

Autor: Ruben Siqueira*

Capela onde D. Frei Luiz Cappio jejuou em 2003, Cabrobó, PE
Sábado, 1º de outubro, chegamos lá pelas 10 horas da manhã, em romaria a pé, vindos do centro da pequena Cabrobó, “Capital da Cebola” no sub-médio São Francisco. No trajeto pela cidade, a sensação de estranheza das pessoas, provavelmente a mesma frente ao bispo Frei Luiz e sua greve de fome em defesa do rio. Contra ou a favor, o país finalmente mobilizado está tendo que responder. Éramos 36 pessoas, vindos do encontro anual de formação das CPTs (Comissão Pastoral da Terra) do Nordeste. Decidimos trocar a tarde de lazer cultural em Garanhuns-PE, pela caminhada, em jejum, de solidariedade a Frei Luiz e sua causa.


Já era grande a aglomeração de gente em torno da pequena capela, numa colina entre a BR 232 e a margem esquerda do rio São Francisco, distante uns 150 metros. Todos se voltaram para nos acolher, com salva de palmas. Cantávamos a canção composta pelo f rei, com refrão inspirado em Guimarães Rosa: “Meu rio de São Francisco, nesta grande turvação, vim te dar um gole d’água e pedir sua benção”. O canto é uma espécie de hino entoado em todo o Vale, desde a peregrinação que D. Luiz e mais três companheiros fizeram, da nascente à foz, entre 1993 e 94 – um marco da história ribeirinha, que tornou o frei nacionalmente conhecido.


Trazíamos para presenteá-lo uma vela daquelas que queimam 21 dias, nela afixada uma foto do Padre Ibiapina, alusiva aos 200 anos de nascimento daquele que foi o inaugurador da Igreja voltada para os pobres no Nordeste; atrás da foto a frase dele: “Morrer com os pobres e famintos, e não vê-los morrer a sede e a fome.”. Outro presente era uma quartinha (moringa) com água da região setentrional do Nordeste...


Lá estava o povo. Índios Tumbalalá e Truká com suas vestes de palha e seus maracás. Uma mulher vestida com o hábito franciscano, comum nos locais de romaria do Nordeste. Freiras de hábito e sem hábito. Um senhor queria que o frei ajudasse a resolver a questão da imagem da santa que ainda falta na capela de seu povoado. Alguns buscavam confessar-lhe os pecados. Uma família trazia uma menina doente para D. Luiz abençoar e, quem sabe, curar... Gente chegando o tempo todo, e ele pacientemente atendendo a todos. O repórter da Folha de São Paulo senta ao lado de uma velha e tanto faz sua entrevista como ouve explicações ao povo sobre o rio.


Muitos políticos, a maioria da pior espécie. Afora a senadora alagoana Heloisa Helena e o deputado baiano do PV Edson Duarte, pestilência... Um, ao se aproximar do frei para abraçá-lo, estava mais preocupado com o ângulo para o fotógrafo que o acompanhava. Pouco antes de começar a celebração, chegam o senador ACM, o governador baiano Paulo Souto e cupinchas. À noite seu abraço ao bispo vai pro Brasil pelo Jornal Nacional... Há quem não tem dúvidas sobre como agir...


Com eles, a diretoria do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco. A greve de fome interessa também a eles, pois estão com seus projetos para o São Francisco preteridos pelo da transposição.


Como disse uma vez um jornal pernambucano: “Eles têm suas próprias transposições”.
Em meio ao tumulto, parentes e amigos de D. Luiz tentam pôr ordem na situação e preservá-lo dos muitos e variados assédios. Enquanto os políticos barulhentos saem pela porta lateral da capela, em frente o frei tenta dar início à missa. O emissário de Lula, Selvino Heck, tem que assisti-la para depois entregar-lhe a carta enviada pelo presidente. Há quem se surpreenda que ele, ex-franciscano, saiba os cantos e orações da missa... O povo reza, compungido. Lágrimas em alguns momentos... E até quem não é dado a rezas se envolve e se enternece.


Ao final da missa, é lida a carta de D. Luiz endereçada aos nordestinos do Setentrional, explicando as razões de sua greve de fome, que não é contra o direito deles à água, mas por soluções verdadeiras para o problema, além da defesa do São Francisco. Afirma que o projeto é mentiroso e que os pobres pagarão pelo benefício dos ricos empresários, como sempre no Nordeste. E que a solução é a convivência com o semi-árido. “Não estivesse o Rio São Francisco à beira da morte e suas águas fossem a melhor solução para a sede de vocês, eu não me oporia e lutaria com vocês por isso”, diz a carta.


Finda a missa, D. Luiz se reúne com o emissário de Lula e mais cinco pessoas de sua confiança: D. Itamar Vian, arcebispo de Feira de Santana, representante da CNBB, Dra. Luciana Khoury, do Ministério Público da Bahia / Projeto São Francisco, Dr. Luiz Roberto Cappio, Juiz de Direito, sobrinho do frei, Adriano Martins, sociólogo, companheiro da peregrinação, e eu.


A carta do presidente é decepcionante. Longa, mistura sentimentalismo e argumentação técnica a favor da transposição. Nenhuma sensibilidade e nenhum gesto concreto de recuo quanto ao projeto, algo que desse substância à sua proposta de diálogo. Ouvida a opinião de cada um, o frei tomou papel e caneta e, em pouco tempo, apresentou os termos de sua resposta praticamente pronta. Agradecia, reforçava os esforços pela revitalização do rio e comunicava a decisão de continuar a greve de fome, nos mesmos termos da primeira carta.
Discutiu-se, então, a sugestão de um dos presentes de amenizar as condições para o fim da greve de fome: aceitar a suspensão em vez da revogação e do arquivamento do projeto de transposição.


Concluiu D. Luiz pela manutenção de como estava, acrescentando a expressão “atual projeto” e a abertura para um “amplo diálogo e debate nacional, verdadeiro e transparente, discutindo
alternativas de convivência com o semi-árido e a oportunidade ou não de realizar a transposição”.


O emissário ainda tentou em vão se contrapor, sem muita convicção e sem argumentos. Dizia: “O governo é o governo”, refletindo a visão descolada da sociedade, já tantas vezes demonstrada pelos atuais do Planalto. Aliás, o governo reagiu apenas ao 6º dia e porque a CNBB deu apoio e solidariedade ao bispo. E aparenta não ter completa compreensão de todos os elementos em jogo na situação. Não quer ceder, mas não sabe o que nem como fazer, com medo de criar um mártir para a causa... Não parece entender que aí pode estar em risco o próprio projeto de transposição e sua própria reeleição. Está em jogo algo que o núcleo duro do governo parece ignorar – o poder místico da alma popular acionado. O mesmo povo que apóia o presidente que fugiu da seca e teve de “beber água de enxurrada”, provavelmente vai condenar o presidente que deixa morrer um bispo defensor de uma causa justa e nobre... Amaldiçoados, governo e projeto estariam com os dias contados.


Ao contrário do governo, Frei Luiz impressiona pela simplicidade, lucidez e firmeza. Parece viver um num outro patamar, onde as coisas têm mais sentido. Não se volta indiferente de Cabrobó.


Aquela colina com a capela, à beira do Velho Chico, o mais brasileiro dos rios, a figura frágil e
iluminada do bispo está a oferecer à gente e ao país uma chance de reencontro conosco mesmos e com o melhor de nós. Talvez, fique tarde demais para Lula ir a Cabrabó...


* Sociólogo, coordenador da CPT / Projeto São Fancisco.

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