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sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Problemas Ecológicos do Rio São Francisco

Durante 99 dias percorri a remo os 2.800 km do rio São Francisco em canoa canadense, acampando em suas margens, ou compartilhando a hospitalidade dos povos ribeirinhos. Meu primeiro objetivo nesta viagem era conhecer o rio como um aventureiro, sem outras preocupações senão enfrentar o desconhecido de forma autônoma. E nos primeiros 20 dias foi exatamente esta a percepção que tive desse majestoso rio, pois, em sua fase inicial, o que predominam são áreas pouco povoadas, matas ciliares bem preservadas e uma sucessão de pequenas corredeiras entremeadas com remansos.

Porém, logo as questões ambientais passaram a ser minha maior preocupação e cuidados, pois evidências começavam a aparecer no caminho, seja pela presença de gado às margens do rio, seja pela constatação de pesca predatória, ou mesmo a certeza de que fazendas às margens do rio estavam contaminando suas águas com o excesso de agrotóxicos utilizados nas plantações. Mesmo quando essas evidências não eram tão óbvias, os próprios ribeirinhos comentavam ocorrências de crimes ambientais: plantações de cana-de-açúcar onde o vinhoto era descarregado nas águas do Velho Chico.

A pesca, antes da represa de Três Marias, é praticada por profissionais e amadores. Os primeiros são os próprios ribeirinhos e pessoas vindas das cidades para abastecer grandes comerciantes com dourados, piranhas, pintados e tantas outras espécies apreciadas pelos consumidores. O problema é a forma com que esses profissionais atuam no rio: utilizam uma prática denominada PINDA, que consiste em fincar dezenas de varas nas barrancas dos rios, deixando que os peixes se enrosquem nos anzóis. No final do dia, ou no dia seguinte, vêm buscar sua pesca.

Ocorre que a quantidade é tamanha que os próprios pescadores acabam abandonando as varas nas margens por vários dias e, quando finalmente vêm buscá-las, os peixes já estão mortos e apodrecidos, ou comidos por outros peixes. Um desperdício! A quantidade desperdiçada é impressionante e injustificável! Não saberia estimar os prejuízos, nem avaliar o impacto dessas perdas para as populações de peixes do rio, mas como são peixes de porte médio, acredito que o impacto seja relevante por atingir justamente os indivíduos em plena fase de reprodução, machos e fêmeas.

Quanto aos amadores, o impacto já é bem maior, por incrível que pareça. Existem dezenas de ranchos de pesca ao longo do rio, com toda infraestrutura necessária para receber barcos potentes e equipados com tecnologia inacessível para os pescadores profissionais. Assim, esses amadores conseguem “ver” os maiores peixes nos sonares e caçá-los com grande facilidade. Em pouco tempo, eles retiram do rio os maiores espécimes, em uma concorrência desleal com os profissionais e com os próprios peixes.

Passando a barragem de Três Marias esses problemas persistem e se agravam, com a maior concentração humana nas proximidades do rio, além de novos problemas de maior gravidade. A primeira percepção que temos é que as matas ciliares já não são tão contínuas e nem tão largas. Às vezes, é apenas uma linha estreita às margens do rio, insuficientes para abastecer de vida esse ecossistema. Porém, a barragem tem um aspecto ainda mais perverso: sua função reguladora do rio!

Antes da construção de Três Marias, o rio tinha um ciclo natural de cheias e vazantes, caracterizadas pelas épocas das chuvas e da seca em toda sua extensão. Com isso, as margens se expandiam e se retraíam sazonalmente, irrigando as margens e abastecendo as lagoas vicinais, verdadeiros berçários de peixes, aves e mamíferos. Na enchente, as fêmeas saíam pelos canais até as lagoas e lá depositavam seus ovos, que eram fecundados pelos machos reprodutores. Esses ovos davam origem aos alevinos, que cresciam nas lagoas até as próximas cheias, quando então retornavam ao rio.

Com a construção da hidrelétrica, o regime do rio se modificou, e o homem passou a controlar sua vazão conforme seus interesses, reduzindo drasticamente esse processo cíclico de reprodução e de abastecimento das lagoas. Não somente os peixes foram prejudicados, mas toda cadeia alimentar de todas as espécies que utilizavam as lagoas como berçários naturais, principalmente os pássaros e felinos. É evidente que a população de todo ecossistema sofreu dramática redução, inclusive com o desaparecimento de muitas espécies, em especial dos felinos e dos grandes peixes.

As fazendas às margens do rio também tiveram outra participação importante nesse processo de degradação ambiental. Eliminando as matas ciliares, as barrancas do rio ficaram vulneráveis ao ciclo das chuvas, sendo arrancadas em grandes blocos de terra lançados dentro do rio. Isso provocava três efeitos críticos: primeiro, o alargamento do rio pelo desabamento gradual das margens; depois, esses grandes volumes de terra reduziam a profundidade do rio, em um fenômeno conhecido como “assoreamento”; finalmente, o aumento da temperatura do rio, devido à menor profundidade das águas. Todo esse processo causava não apenas a redução da ictiofauna, mas também o aumento significativo da evaporação das águas do rio, reduzindo seu volume e sua vazão. Vale destacar que o São Francisco se encontra na região do Semiárido, onde na maior parte de sua extensão o volume de chuvas não passa de 300 mm/ano!

A barragem da represa teve, ainda, outro efeito devastador: muitas espécies de peixes têm seu ciclo de vida regulado pelas estações do ano e, no segundo semestre, começa a migração no sentido da foz para a nascente, conhecido como “piracema”. As fêmeas de cada espécie desovam sempre na mesma época do ano, percorrendo as mesmas distâncias. Porém, encontrando um obstáculo intransponível em seu caminho, não conseguem prosseguir e tentam desovar ali, aos pés da barragem. A desova prematura não permite a fecundação plena dos ovos, e a população diminui constantemente até sua extinção. Só sobrevivem aqueles que se adaptam ao novo ciclo do rio.

Do outro lado da barragem, outro fenômeno perverso acontece: o rio, que corria em sua velocidade e declividade natural, encontra a barragem e para, formando o grande lago artificial. As águas paradas favorecem um processo físico de sedimentação, tornando as águas cristalinas, e desprovidas de seus nutrientes naturais. Peixes de correnteza, que também dependem da turbidez das águas, perdem a capacidade de caçar, e desaparecem gradualmente, provocando transformações na cadeia alimentar.

As águas profundas do lago artificial da represa provocam alterações no pH e na temperatura, que também afetam a reprodução das espécies que habitam o rio. Do outro lado da represa, o grande volume de água despejado pelo vertedouro e pelas turbinas também provoca alterações substanciais no substrato e nas próprias águas do rio. Toda cadeia de vida é profundamente afetada pela construção da barragem, que separa o rio em duas partes completamente isoladas. Já não é mais um rio somente, mas dois!

O rio São Francisco possui cinco hidrelétricas e oito barragens: Três Marias, Sobradinho, Itaparica, Paulo Afonso (I, II, III e IV) e Xingó. É como se houvessem nove pedaços de rio, isolados por barragens, em um mesmo ecossistema. Para agravar ainda mais os impactos sobre a ictiofauna, nas represas foram introduzidas espécies exógenas, principalmente carpas, tilápias, tambaqui, pacu-caranha e o bagre africano. Essas espécies, por serem desconhecidas dos peixes nativos, não encontram predadores naturais e acabam por proliferar e dizimar grande parte das espécies nativas.

A irrigação desordenada é outro problema crítico do rio São Francisco. Iniciada a partir dos projetos de agricultura do semiárido, acabaram por comprometer a vazão do rio, além de se tornar um elemento condutor de agrotóxicos, utilizados amplamente nas plantações, para dentro do rio, ao escorrer pelo solo árido do sertão. Destaque especial para a transposição de suas águas para a bacia do Parnaíba, cuja vazão estimada é de 99 m³/s, embora os canais tenham capacidade nominal de 125 m³/s. O destaque desse projeto é que, em sua origem, previa a reposição desse volume de águas por um canal trazido do rio Tocantins, e que foi abandonado pelo atual projeto em desenvolvimento.

Mas os problemas do Velho Chico não se resumem apenas às suas próprias águas. A Bacia do São Francisco é composta por cerca de 150 afluentes, sendo 100 deles perenes e os demais intermitentes, conforme a época do ano. Esses tributários, por sua vez, são formados por centenas de outros afluentes menores, até os pequenos córregos que, em sua totalidade, constituem o complexo ecossistema do São Francisco, o único que se encontra inserido completamente no território nacional e que abastece praticamente toda a região do semiárido nordestino. Nele habitam cerca de 20 milhões de pessoas, inclusive a Grande Belo Horizonte, através de seu maior afluente, o Rio das Velhas.

Os problemas do rio São Francisco começaram na época do Descobrimento, quando foi encontrado por Américo Vespúcio, em 1.504. Desde então, vem sendo habitado gradualmente, primeiro por pequenos lavradores e pescadores, depois pela instalação de cidades cada vez maiores e mais problemáticas para a vida do rio. O mais grave é a poluição, que se manifesta em três processos distintos. O primeiro já mencionamos, que é o da contaminação por agrotóxicos. O segundo é decorrente do despejo de esgotos urbanos sem tratamento em todos seus afluentes. E o terceiro é a poluição industrial, pelo despejo de dejetos de fábricas, produtos químicos e metais pesados, que contaminam o rio e seus habitantes, peixes, animais que habitam suas margens, e pessoas.

Na década de 1960, quando foi construída a Hidrelétrica de Três Marias, instalou-se em sua jusante, às margens do rio, uma fábrica da Votorantim, que produz manganês e despeja em uma lagoa seus resíduos químicos, altamente tóxicos. Em 2004, um grande desastre ecológico aconteceu pelo derramamento desses produtos químicos no leito do rio, matando milhões de peixes e depositando no substrato uma grande quantidade de metais pesados que, a cada vez que as comportas são abertas, revolvem o leito e trazem novos acidentes menores. Foi o pior desastre ecológico acontecido nos rios brasileiros.

A Hidrelétrica de Sobradinho, no ano de sua construção (1970), produziu o maior lago artificial do mundo em volume de água, alagando uma extensão de 400 km e uma largura máxima de 25 km, desalojando cerca de 70.000 pessoas e deixando submersas as cidades de Pilão Arcado, Casa Nova, Remanso, Santo Sé e Sobradinho. Além do deslocamento de toda essa população, com graves impactos sociais, Sobradinho alterou todo ciclo de vida do rio, eliminando centenas de lagoas marginais que sustentavam a riquíssima vida silvestre que, em grande parte, desapareceu para sempre.
Os problemas do Velho Chico são imensos e não se esgotam nesta pequena avaliação. Estima-se que o rio perdeu cerca de 75% de seu volume original de água desde que foi descoberto. Hoje, sua vazão na foz é de 2.700 m³/s e continua diminuindo. A 50 km da foz as águas são salobras e detecta-se sal marinho até a 250 km da foz. Ainda não se conhecem os impactos da transposição, e estão planejadas mais duas grandes hidrelétricas, ambas no baixo São Francisco, além de centenas de pequenas centrais hidrelétricas em seus afluentes. As obras de revitalização são poucas e insuficientes, e o desrespeito ao Código Florestal causou impactos irreversíveis em toda extensão do rio. Por isso, dizem que o Velho Chico está morrendo, levando consigo lendas, tradições e sua beleza incomparável...

sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

Chesf anuncia que vai aumentar a vazão do Rio São Francisco

A Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf) vai aumentar a vazão do Rio São Francisco de 2.500m³/s para 3.000m³/s, no próximo dia 10/02, sexta-feira, a partir da Barragem de Sobradinho. A Chesf disponibiliza o acompanhamento da afluência e defluência de seus reservatórios, no site www.chesf.gov.br, no link "Sistema Chesf", em seguida, "Gestão de Recursos Hídricos". Atualmente, Sobradinho está com 75% de sua capacidade de armazenamento.

Segundo o superintendente de Operação da Chesf, João Henrique Franklin, a vazão em 3.000m³/s não deve causar transtornos para as comunidades ribeirinhas. “A situação é de normalidade, mas como em fevereiro e março chove na Bacia no Rio São Francisco, é preciso atenção”.

A Diretoria de Operação da Empresa já está em contato com as autoridades dos municípios da Região, para que medidas de prevenção sejam tomadas tendo em vista os meses de fevereiro e março – ainda período úmido que pode levar à necessidade de novo aumento de vazão. No último dia 7, o diretor de Operação, Mozart Arnaud, e o superintendente de Operação, João Henrique Franklin participaram de reunião com o prefeito de Juazeiro (BA), Isaac Carvalho. Em Juazeiro, as localidades de Angary e Ilha do Rodeadouro estão mais vulneráveis às cheias do rio.

A prefeitura de Juazeiro divulgou a informação de que a Defesa Civil do município vem trabalhando desde dezembro, preventivamente, e que vão visitar o Angary e a Ilha do Rodeadouro para repassar as informações apresentadas pela Chesf. “Nós já estamos trabalhando desde o inicio das chuvas nessa prevenção e agora vamos oficializar, junto às famílias o que a Chesf apresentou para que possamos agir antes que algum prejuízo maior possa vir a ocorrer”, informou Adalberto Carvalho, supervisor da Defesa Civil de Juazeiro, no site da prefeitura.

Fonte: Ascom Chesf

Rio São Francisco terá regime de cheias programadas

O anúncio à população ribeirinha foi feito pela Seagri
A vazão de água vai aumentar (Foto: Arquivo Portal Infonet)
A Bacia do Rio São Francisco encontra-se no seu período chuvoso, tendo os reservatórios de Sobradinho e Itaparica alcançado na terça-feira, 07, respectivamente, as seguintes cotas de armazenamento correspondentes: 390,61 metros ( 75 por cento do volume útil) e 301,36 metros (43,6 por cento do volume útil). Essa informação foi endereçada pela Superintendência de Operações e Contrato de Transmissão de Energia, da Companhia Hidrelétrica do São Francisco (Chesf), ao Secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural (Seagri), José Macedo Sobral, que iniciou o contato com comunidades ribeirinhas, perímetros irrigados e com a imprensa sergipana, visando com a comunicação permitir que possam ser tomadas medidas preventivas, notadamente para comunidades que já conhecem os efeitos da situação anunciada, com registros de enchentes em anos anteriores.

José Sobral afirmou que essa comunicação faz parte do Regime de Cheias Programadas da Chesfa Companhia explicou as medidas, que visam a manutenção do volume vazio para controle de cheias e que, em decorrência as defluências dos aproveitamentos citados serão elevadas para o patamar de 3.000 metros cúbicos por segundo, o que, consequentemente as descargas médias diárias do Reservatório de Xingó evoluirão para o mesmo patamar a partir do dia 15 de fevereiro.

A Chesf, de acordo com o Secretário da Agricultura, acrescentou que, considerando as condições hidrológicas atuais, haverá vertimento em Itaparica, complexo, Paulo Afonso e Xingó, a partir daquela data, e que a situação hidrológica está sendo permanentemente avaliada, podendo haver alterações nos valores, em função da evolução das chuvas e vazões na Bacia do São Francisco.

À medida que novas informações forem feitas à Seagri, o repasse será encaminahdo imediatamente à imprensa, pelo alcance dos meios de comunicação em avisar a toda a região do São Francisco, em Sergipe, concluiu José Sobral.

Fonte: INFONET

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A Eclusa de Sobradinho

Por: Por José Paulo Borges. Fotos de José Augusto Cíndio
Publicado em 18/12/2011
Onde o Velho Chico virou mar
Passeio no Vapor do Vinho dura cerca de duas horas
Quando as cortinas de aço da eclusa da barragem de Sobradinho se abrem, é impossível não se impressionar com o que acontece em seguida. No meio da caatinga, em pleno Rio São Francisco, no interior da Bahia, sob um sol de mais de 30 graus, o espetáculo é deslumbrante. São 4.214 quilômetros quadrados e capacidade para 37,5 bilhões de metros cúbicos de água do segundo maior lago artificial do mundo. O céu sertanejo de um azul-cobalto e os morros ao fundo compõem, com as marolas de meio metro de altura, ou mais, a paisagem onde o Velho Chico vira mar.
Eclusa de Sobradinho (@ José Augusto Cindio)
Eclusa de Sobradinho (@ José Augusto Cindio)
Com 120 metros de comprimento e 17 de largura, a eclusa permite às embarcações vencer o desnível de 32 metros criado pela barragem construída pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), no período de 1973 a 1979.
Eclusa  permite às embarcações subir e descer o desnível de 32 metros entre o rio e lago
O Vapor do Vinho, referência às primeiras embarcações que navegavam pelo São Francisco, impulsionadas a vapor, leva até 50 turistas à eclusa e à Barragem de Sobradinho, à Fazenda Fortaleza, produtora de frutas, e à Vinícola Terranova, ambas no município baiano de Casa Nova.
O passeio dura cerca de oito horas. Cobre um trecho do São Francisco situado a 40 quilômetros das cidades de Petrolina (PE), Juazeiro e Sobradinho (BA). O ônibus – grande, novo e confortável – parte cedo da orla de Petrolina e, após cerca de 50 minutos de viagem, para na vinícola. Os visitantes são conduzidos por guias da Terranova para conhecer o processo produtivo. Ao final, podem degustar, ou comprar, vinhos, espumantes e brandy num elegante salão. A etapa seguinte, uma incursão à Fazenda Fortaleza, produtora de uvas e mangas para exportação, termina igualmente em degustações. Já por volta do meio-dia, o grupo é conduzido à barca para o retorno a Petrolina.
  • Roteiro: 8h30, saída da orla portuária de Juazeiro (BA)-Petrolina (PE), via rodoviária, até o porto de Chico Periquito, em Sobradinho (BA); 10h, embarque no Vapor do Vinho em direção à eclusa; 13h, chegada à Fazenda Fortaleza; 14h, chegada à Vinícola Terranova; 17h, chegada prevista às orlas de Juazeiro e Petrolina.
No meio do caminho, a passagem pela eclusa é um espetáculo fascinante. O trajeto que leva a embarcação, para baixo ou para cima, é uma experiência de encher os olhos. Inaugurada em 1978, a eclusa é um reservatório em forma de câmara que possibilita, pelo enchimento e pelo esvaziamento, que uma embarcação transponha a diferença de nível. O desnível de pouco mais de 32 metros da represa está entre os quatro maiores no mundo.
No retorno, durante as cerca de quatro horas finais da viagem, os visitantes recebem no rosto a brisa do Velho Chico e são brindados com a paisagem das margens baiana e pernambucana do rio. De quebra, desfrutam a excelente comida regional de bordo – com direito a bode cozido e peixes do São Francisco –, incluindo petiscos e bebidas variadas. A hospitalidade e a diversão prosseguem. Pouca gente resiste à tentação de mexer os quadris, embalada pelos ritmos de uma banda regional.

Adeus Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado...

Represa de Sobradinho formou o segundo maior lago artificial do mundo (foto: @ José Augusto Cindio)
Represa de Sobradinho formou o segundo maior lago artificial do mundo
(foto: @ José Augusto Cindio)
Sertão baiano, 1978. Com a subida de nível das águas do Rio São Francisco, o lago formado para a construção da represa de Sobradinho atingiu sua capacidade máxima, afogando as cidades de Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado, 26 povoados e uma imensa extensão de terras agricultáveis. Mais de 70 mil pessoas foram desalojadas. A imagem daquele dilúvio repentino e as promessas de fartura e oportunidades em outros assentamentos, distantes, acenadas pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), responsável pela barragem, convenceram os ribeirinhos a deixar suas terras.
Os “beraderos“ ou “barranqueiros” tinham forte relação de sobrevivência com o rio. Cerca de 6.000 famílias foram transferidas para o Projeto Especial de Colonização Serra do Ramalho, em Bom Jesus da Lapa, a 700 quilômetros de onde viviam. Receberam glebas de 25 hectares, sem irrigação. Passados alguns anos, muitos não se adaptaram, transferiram sua terra para terceiros e tentaram voltar, inchando as periferias do Vale do São Francisco. A hidrelétrica de Sobradinho foi orçada em US$ 870 milhões (valores de dezembro de 1979). Os custos sociais e ambientais são incalculáveis.

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