quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012
As enganosas promessas da Transposição
Observem as placas indicativas das empresas habilitadas para as obras da Transposição na cidade de Cabrobó, PE. É curioso observar que o Consórcio Construtor "Águas do São Francisco" é constituído de uma empresa PAULISTA (Serveng), uma empresa CARIOCA (Christiani-Nielsen), outra empresa PAULISTA (SA Paulista de Construções e Comércio), além do Exército Brasileiro... ou seja, nenhuma empresa nordestina investe nesse projeto, e os empregos gerados são transitórios. Assim que terminar a obra, mais de 10.000 trabalhadores estarão sem emprego, agravando os problemas sociais dessas cidades que os acolheram.
Já se produziram centenas de peças publicitárias para tentar resgatar a imagem pública desse gigantesco investimento em infraestrutura, que poderá trazer consequências catastróficas para os destinos da Bacia do São Francisco. Exemplo disso está na página do UOL: "Tão necessária, tão problemática"! Quem inadvertidamente lê essa reportagem não percebe a mensagem subliminar que enaltece a "grande obra do PAC", pois seu conteúdo é deliberadamente ambíguo, ora criticando, ora elogiando o projeto.
O que não se diz é que o "Projeto de Revitalização", inventado por Lula para se contrapor à Transposição, é um "apanhado" de obras isoladas, que não levam em consideração a Bacia Hidrográfica do rio São Francisco como um todo indissolúvel, e que seria, de fato, a única obra justificável para essa região. Não há como reativar a economia do Polígono das Secas sem resgatar a integridade da Bacia do São Francisco. Os mais de seis bilhões de reais que estão sendo investidos na Transposição teriam resultados muito mais efetivos se fossem destinados à Revitalização. Nenhuma obra desses "projetos isolados" do Governo Federal é destinada à recuperação da vazão dos rios que compõem a Bacia do São Francisco. E essa obra faraônica da Transposição só terá consequências negativas sobre a vazão do rio, que hoje atinge, no máximo, 3.500 m3 por segundo (na foz) e já foi, segundo estudos científicos, cerca de 16.000 m3 por segundo!
Os governos petistas iniciaram uma nova era de demagogia que eu, nos meus longos anos de luta revolucionária, nunca imaginei presenciar. O Partido dos Trabalhadores, que foi a esperança de redenção da Nação Brasileira, se envolveu em todos os tipos de escândalos que tanto criticou enquanto oposição; depois aliou-se aos partidos mais corruptos do país, como o PMDB e o PR. Enganou o povo com alianças espúrias como aquela com a famigerada Bancada Ruralista (preconizada e conduzida pelo ex-comunista Aldo Rabelo, do PC do B), com quem desenvolve os projetos do agronegócio, em detrimento dos pequenos e médios agricultores, e com ações e obras radicalmente contrárias aos propósitos ambientalistas que declarou internacionalmente, como as mega-hidrelétricas de Tucuruí, Belo Monte, Jirau e Santo Antônio, que fazem parte do processo de destruição da Floresta Amazônica.
O projeto de Transposição é mais uma dessas mentiras, pois não resolverá o problema da distribuição de água para a população carente, e favorecerá novos empreendimentos que só aumentarão a concentração de renda em nosso país. Segundo especialistas em hidrologia, como João Suassuna(1), Aziz Ab´Saber (2) e Manoel Bonfim Ribeiro (3), a quantidade de água armazenada em reservatórios, açudes, barragens e lagos na região do polígono da seca já seria suficiente para abastecer todos os lares e suprir as indústrias nordestinas, bastando para isso que se desenvolvesse um projeto de integração desses reservatórios, que custaria infinitamente menos que a transposição, e teria resultados muito mais efetivos para a economia regional.
O paradoxo desse projeto de Transposição é que, nas regiões onde a água será retirada, a seca é muito mais perversa do que nas regiões para onde a água será transferida. Dentro mesmo do município de Cabrobó, origem do eixo norte da transposição, é comum ver-se caminhões-pipa entregarem água nas residências pobres da periferia da cidade; pior ainda são as pequenas propriedades a menos de 5 km das margens do rio São Francisco, que padecem da seca e são atravessadas pelos canais da transposição, cercado com arame farpado para impedir que esses agricultores familiares façam uso da água que lhes pertence e que será levada para mais de 400 km de distância da bacia do São Francisco.
Vale lembrar que o projeto original previa a recomposição das águas do São Francisco por um canal de 150 km ligando a Bacia do Tocantins através da Lagoa do Varedão. Essa proposta foi esquecida no projeto atual para não onerar seus custos, embora fosse muito menos dispendiosa que a Transposição do Velho Chico, uma vez que não necessitaria de estações elevatórias. Vejam análise técnica do pesquisador Luiz Carlos Baldicero Molion(4) no link http://www.sfrancisco.bio.br/arquivos/Molion%20LCB001.pdf
São muitos os questionamentos em relação a essa obra bilionária, mas nenhuma resposta convincente é oferecida aos antagonistas do projeto, que não é do povo, mas de Lula, de Ciro Gomes, de Dilma Rousseff e dos megaempresários que dele se beneficiarão. Que democracia é essa, que usa forças militares para garantir a execução das obras e faz ouvidos moucos aos protestos da população?
____________________________
(1) João Suassuna - Engenheiro Agrônomo, formado pela Universidade Federal da Paraíba. Especialista em Planejamento Florestal pela Fundação Getúlio Vargas
(2) Aziz Nacib Ab'Saber - geógrafo, geólogo, ecólogo, professor universitário e Presidente de Honra da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC)
(3) Eng. Manoel Bonfim Ribeiro - mestre em hidrologia e ex-diretor do Departamento Nacional de Obras Contra a Seca (DNOCS)
(4) Luiz Carlos Baldicero Molion - Pesquisador do Departamento de Meteorologia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL)
segunda-feira, 13 de fevereiro de 2012
O colapso previsível do “Velho Chico”
sábado, 11 de fevereiro de 2012
O insustentável peso do "desenvolvimento humano"
quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012
TRANSPOSIÇÃO DO RIO SÃO FRANCISCO
TÃO NECESSÁRIA, TÃO PROBLEMÁTICA
Por Giovanni Sandes
A transposição do São Francisco tomaria água do rio e distribuiria no Nordeste a partir deste ano – prometeu várias vezes, do início até os últimos dias de seu governo, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Apesar disso, até a presidente Dilma Rousseff, em sua atual gestão, não conseguirá concluir a obra secular, pensada pela primeira vez no Brasil de Dom Pedro II, em 1847. Foram 160 anos de espera até as obras, em 2007, início da contagem regressiva para a água do chamado Rio da Integração Nacional correr pelo Semiárido, para consumo humano e nos negócios. Cinco anos após o novo começo, o clima de abandono é visível em vários trechos da transposição. O controverso projeto virou unânime, mesmo entre críticos: a obra, irreversível, tem que sair, com qualidade e o menor prejuízo possível aos cofres públicos.
Até virar a transposição em sua versão atual, de canais, túneis e estações elevatórias, o projeto mudou muito, assim como o Nordeste. No século 19, a literatura romântica de José de Alencar, em O Sertanejo, de 1875, descrevia uma região isolada e rude, distante e sem avanços futuros como eletrificação rural. De qualquer cidade sertaneja, era possível contemplar “as noites do sertão, recamadas de estrelas rutilantes”.
A luz artificial hoje atrapalha a romântica vista do céu noturno nas cidades do interior, onde ainda há povoados miseráveis, com torneiras que passam mais de 15 dias sem água. A transposição sempre foi vista como a solução desse problema.
Mas o nordestino, cantava Luiz Gonzaga em 1972, em United States of Piauí, já havia trocado a garapa pela Coca-Cola e a calça de couro pelo jeans da marca Lee. A transposição também trocou de roupa.
Até o governo do ex-presidente Itamar Franco, o projeto era de um só grande canal, de Cabrobó, em Pernambuco, a Jati, no Ceará, com a água seguindo para bacias de rios e dali principalmente para o Rio Grande do Norte. Fernando Henrique Cardoso virou presidente, em 1994, prometendo fazer a transposição. Foi seu governo que ampliou o projeto para dois canais, o Eixo Norte, o original, mais o Leste, para beneficiar Pernambuco e Paraíba.
Secretário Estadual de Recursos Hídricos e Energéticos, José Almir Cirilo era secretário-adjunto de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente em 1997, na gestão do governador Miguel Arraes. Ele acompanhou as negociações com o time de FHC. “Fomos contra a proposta que estava apresentada porque ela não beneficiava em nada ou quase nada Pernambuco, que tem uma situação crítica de abastecimento. Não se podia aceitar uma proposta que não resolvesse essa questão. Nos perguntaram o que queríamos e apontamos a região do Agreste e alguns sistemas hídricos do sertão que poderiam ser beneficiados. Daí surgiu o Eixo Leste”, lembra.
O então ministro da Integração Nacional, o potiguar Fernando Bezerra (não confundir com o homônimo hoje na mesma pasta), era um entusiasta. Prometia licitação em 2000 e, em três anos, a secular obra pronta. Nada saiu. A oposição política era forte mesmo no Nordeste, em Sergipe, Alagoas e Bahia, Estados que, em tese, perderiam com a transposição. No dia 11 de outubro de 2001, em Uberaba (MG), FHC alegou razões ambientais e desistiu publicamente: disse que o rio deveria ser preservado e não transposto.
O que parecia um fim melancólico do projeto virou uma pausa. Sucessor de FHC, Lula resgatou a ideia com força. Negociou, usou a popularidade e peitou opositores: políticos, artistas ou ambientalistas. Na Bahia, o bispo do município de Barra, dom Luiz Flávio Cappio, fez duas greves de fome contra a obra, em 2005 e em 2007. Ganhou holofotes internacionais, mas perdeu a parada.
Lula criou um projeto para revitalizar o rio e sanear as mais de 400 cidades e povoados às suas margens. Também apresentou números diferentes. Manteve o teto de retirada de água de FHC,de 127 metros cúbicos por segundo (m³/s), 3% da vazão do rio, quando houvesse excesso no Reservatório de Sobradinho (BA). Mas propôs captar continuamente 26,4 m³/s, 1,42% da vazão. Diante da promessa técnica de haver limite na tomada de água, a resistência foi vencida. O ex-ministro Ciro Gomes, grande escudeiro de Lula na transposição, convocou o Exército para tirar o projeto do papel, em 2007, início do segundo governo Lula.
A obra foi dividida em 14 lotes. Mas algumas empreiteiras pediram aumento antes de começar. Três consórcios até desistiram.
Mesmo assim, Lula mantinha os prazos. Entregaria o Eixo Leste em 2010 e o Norte, em 2012. Assim, o governo que deu um enredo novo a um projeto tão antigo também deu início aos problemas da transposição no mundo real. Os bastidores dessa história recente foram marcados pela pressa diante eleitoral, o que atrapalhou do planejamento à execução do projeto. Os prejuízos estão a céu aberto: trechos de canais deteriorados antes mesmo de receberam água.
segunda-feira, 30 de janeiro de 2012
Desmatamento impede navegação no Velho Chico, maior hidrovia do país
Professor Zuza (Foto: Divulgação) |
Estátua do negrinho do Rio, às margens do
Rio São Francisco (Foto: Divulgação)
|
CUIDADO COM AS MENTIRAS ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! ! !
Não confundam Transposição com REVITALIZAÇÃO! A transposição caminha no sentido inverso da REVITALIZAÇÃO; enquanto a transposição "rouba" águas do Rio São Francisco para enviá-la a outras bacias hidrográficas do Nordeste, a REVITALIZAÇÃO deveria recuperar o volume do rio através de ações de reflorestamento de matas ciliares, desassoreamento de seu leito, canalização e tratamento de esgotos antes de serem jogados nos rios, conscientização ambiental nas escolas para que os futuros adultos saibam respeitar a Natureza, controle e erradicação da pesca predatória, redução drástica do uso de agrotóxicos em lavouras e pastos que ficam à beira dos rios, repeixamento de afluentes e lagoas de reprodução e obras de contenção de barrancos através do plantio de espécies nativas e outras ações pensadas para a proteção dos mananciais. A transposição é uma obra perversa, tanto para o VELHO CHICO, como para as populações que vivem de suas águas, como também para as populações que vivem em áreas próximas dos seus canais: ao contrário do que diz a propaganda enganosa do governo, essas águas não servirão às populações que dependem de carros-pipa para sobrevivência de sua família; elas são destinadas a indústrias, grandes latifúndios e grandes açudes; apenas 2% de suas águas serão destinadas ao consumo doméstico! Leiam com atenção e espírito crítico a "reportagem" abaixo. Os grifos em vermelho no texto abaixo são meus e objetivam alertá-los para essas mentiras mal intencionadas.
Mauriti-CE: Paralisação das obras de "revitalização" do Rio São Francisco preocupa trabalhadores
sexta-feira, 27 de janeiro de 2012
Ministério interrompe licitação de obra de transposição do São Francisco
Em dezembro, o Estado mostrou que as obras estão paralisadas em vários trechos e que parte do trabalho feito começa a se perder. No final de 2011, o ministério anunciou ainda que faria novas licitações, não programadas, no valor de R$ 1,2 bilhão para salvar a transposição.
O novo edital foi preparado ao longo do ano passado e publicado em dezembro de 2011. O valor estimado na concorrência era de R$ 720,8 milhões. A entrega das propostas pelas empresas estava marcada para acontecer na tarde desta quinta-feira, 26.
De acordo com informações do ministério, 20 empresas tinham feito visitas técnicas na obra para buscar mais detalhes a fim de participar da licitação.
Prioridade. O lote que teve a licitação suspensa faz parte do eixo norte da transposição, o maior da obra. A previsão do governo é entregar em 2015 o trecho de forma completa.
A obra da transposição do Rio São Francisco é a mais cara do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) entre as que serão feitas integralmente com recursos públicos. Apontada como prioritária ainda no governo Luiz Inácio Lula da Silva, ela teve início em 2007 e foi usada como cenário de campanha da presidente Dilma Rousseff nas eleições de 2010. O custo inicial era de R$ 5 bilhões, mas já saltou para R$ 6,9 bilhões.
O ministério enfrentou nos últimos dois anos problemas com os consórcios contratados e a maioria deles abandonou os canteiros no sertão nordestino. Foram feitos acordos para a retomada em 2012, mas parte das obras que tinham sido entregues ao setor privado passará por nova licitação porque as empresas não concordaram em concluí-las pelo preço determinado.
quinta-feira, 19 de janeiro de 2012
Transposição tem 10 investigações do MPF em curso
Qui, 19 de Janeiro de 2012 12:36 (Fonte: CPT - Comissão Pastoral da Terra) |
A Procuradoria da República em Pernambuco apura indícios de superfaturamento no Eixo Leste e de descontrole no pagamento de aditivos na gestão de Bezerra. Entre os contratos suspeitos estão o 34/2008, que será retomado na primeira quinzena de fevereiro, e o 29/2008. O primeiro teve reajuste de 14,6% do valor inicial, que passou de R$ 235,5 milhões para R$ 269,9 milhões. O aumento contratual do segundo foi de 21% (de R$ 250,9 milhões para R$ 303,6 milhões).
Outro fato que está sendo apurado é que as medições dos serviços executados estavam sendo feitas pelas empresas construtoras e não pelas supervisoras. Os problemas foram apontados por uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU), realizada entre 7 de abril e 27 de maio do ano passado, e remetida ao MPF.
A procuradoria solicitou ainda informações sobre uma denúncia formulada pelo Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon). O sindicato aponta a omissão da comissão de licitação do ministério na concorrência 2/2007.
A investigação está em fase de instrução e a procuradoria aguarda a manifestação final da Corte de Contas para tomar as providências judiciais, caso as irregularidades sejam confirmadas.
Os processos sobre a transposição do São Francisco estão nas mãos da ministra Ana Arraes, mãe do governador de Pernambuco, Eduardo Campos. O governador é presidente do PSB, partido do ministro da Integração. Bezerra está no centro de uma crise política desde que o jornal O Estado de S. Paulo revelou que quase 90% da verba antienchente do ministério foi destinada para Pernambuco.
Há investigações em outros Estados. No Ceará, dois procedimentos foram abertos no ano passado pelo Procurador da República Marcelo Mesquita. O primeiro apura, com base em relatório de fiscalização do TCU, aditivos feitos pelo ministério em contratos do Eixo Norte. O segundo apura a instalação de trechos do Eixão das Águas, projeto do governo estadual que irá escoar na transposição em áreas indígenas. De acordo com a Procuradoria, o estudo de impacto ambiental não considerou a existência da terra indígena Tapeba.
As primeiras ações sobre a transposição foram propostas em 2005. Os inquéritos apuram desde fraudes em licitações até a remoção de índios de locais por onde passam as obras. Segundo o procurador da República de Pernambuco, Rodrigo Gomes Teixeira, autor de dois inquéritos, os processos estão em fase de instrução.
Uma das investigações apura indícios de fraude nas obras das bacias hidrográficas do Nordeste Setentrional. "As irregularidades repercutem no âmbito da improbidade administrativa e no plano ambiental. A improbidade é consistente na concessão irregular de licença prévia à execução do projeto de integração do Rio São Francisco e já existe processo judicial na Justiça Federal do Distrito Federal", informou o procurador. Já a questão ambiental trata da ausência do dimensionamento dos impactos ambientais da obra.
Em Minas, a única ação da Procuradoria da República foi remetida há quase seis anos ao Supremo Tribunal Federal (STF). Na época, o STF entendeu que a competência para analisar as ações seria daquela Corte porque os atos eram praticados por autoridades que tinham foro.
Segundo o Ministério da Integração Nacional, o ministro determinou a implementação de todas as recomendações dos órgãos de controle - TCU e CGU. As medidas administrativas e jurídicas decorrentes do acórdão do TCU 2628/2011, que trata da auditoria analisada pelo Ministério Público em Pernambuco, estão sendo adotadas tanto no âmbito da fiscalização da obra quanto nos processos relativos aos lotes de obras auditados. O ministério afirma que os aditivos não ultrapassaram o limite de 25%, como previsto em lei.
segunda-feira, 9 de janeiro de 2012
Transposição do Rio São Francisco tem vários canteiros de obras parados
Publicado em 31.12.2011, às 10h13 - Mariana Dantas - Fonte: ( UOL)
Para a execução do projeto de Transposição do Rio São Francisco, o governo federal, ainda na gestão do ex-presidente Lula, dividiu a obra, que totaliza mais de 400 quilômetros, em 16 lotes, distribuídos nos eixos Norte e Leste. Do total de lotes, apenas quatro funcionam em ritmo normal.
Várias construtoras abandonaram o empreendimento e parte da construção começa a se deteriorar com rachaduras e obras deixadas pela metade. Uma auditoria realizada pelo Tribunal de Contas da União (TCU) apontou ainda prejuízo de R$ 8,6 milhões nas obras do Eixo Leste, que vai de Floresta (PE) a Monteiro (PB).
O Ministério da Integração Nacional afirmou em nota, no último dia 5 de dezembro, que a sensação de “abandono” deve-se a uma paralisação temporária em algumas áreas da obra. A pasta atribuiu novamente essa interrupção a uma disputa com as empresas relativa a aditivos contratuais. Ressaltou que algumas das empresas que deixaram os canteiros devem retomar as atividades no início de 2012; e que caberá aos consórcios a reconstrução de trechos deteriorados.
ATRASOS - Cinco lotes estão paralisados: o lote 4, em Verdejante (PE), o 7, em São José dos Pinhais (PB), o 9, em Floresta (PE), o 2, em Cabrobó (PE) e o 10, em Custódia (PE). Os três primeiros aguardam a finalização dos levantamentos necessários à licitação de novos serviços que deverão ser realizados e que não estão contemplados no atual contrato de serviço com a construtora. A previsão é que esses trechos sejam retomados somente em março de 2012. Os dois últimos lotes parados aguardam, de acordo com o ministério, a finalização das revisões dos contratos de serviço.
Já os lotes 1, em Cabrobó (PE), o 12, em Sertânia (PE), e o 13, em Floresta (PE) estão em ritmo lento. Os lotes 5, referente à construção de sete barragens em Jati (CE), e o 8, em Pernambuco, que prevê a implantação de estações de bombeamento no Eixo Norte, tiveram suas licitações canceladas em 2010 pelo Tribunal de Contas da União (TCU).
As obras do Lote 8 foram retomadas no último dia 16 de dezembro, com o início da construção das três estações de bombeamento do Eixo Norte. As estações serão construídas nos municípios de Cabrobó (35 metros de altitude), Terra Nova (55 metros) e Salgueiro (90 metros). O ministro Fernando Bezerra Coelho acompanhou pessoalmente a retomada dos serviços no município de Salgueiro.
Total gasto pelo Ministério no ano: R$ 3,2 bilhões, ou seja, “sobrou dinheiro”.
O Projeto de Integração do Rio São Francisco: Considerada uma das principais obras do Governo Dilma, a transposição do Rio São Francisco tem como objetivo assegurar oferta de água, em 2025, para cerca de 12 milhões de habitantes de 390 municípios do Agreste e do Sertão dos estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte.
A integração do rio São Francisco às bacias dos rios temporários do semiárido será possível com a retirada contínua de 26,4 m³/s de água, o equivalente a apenas 1,42% da vazão garantida pela barragem de Sobradinho (1850 m³/s), sendo que 16,4 m³/s (0,88%) seguirão para o Eixo Norte e 10 m³/s (0,54%) para o Eixo Leste. Esses dados são contestados, uma vez que a capacidade total de vazão dos canais corresponde a 2,7% do volume médio do rio.
O projeto está orçado em R$ 6,8 bilhões - 36% a mais que o valor estimado inicialmente - e faz parte do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). O Eixo Leste tem 71% de execução, enquanto o Eixo Norte tem 46%. Dados de setembro deste ano apontam que R$ 2,6 bilhões foram pagos e R$ 3,8 bilhões estão empenhados. De acordo com a assessoria do Ministério da Integração Nacional, foram investidos R$ 300 milhões em 2011. Nos últimos meses, a Transposição vem sofrendo uma série de críticas devido aos atrasos e paralisações em vários canteiros de obras (leia mais AQUI - link para a matéria abaixo).
Bezerra quis usar verba do Rio São Francisco em PE
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
O dia em que Lula não foi a Cabrobó
Capela onde D. Frei Luiz Cappio jejuou em 2003, Cabrobó, PE |
Já era grande a aglomeração de gente em torno da pequena capela, numa colina entre a BR 232 e a margem esquerda do rio São Francisco, distante uns 150 metros. Todos se voltaram para nos acolher, com salva de palmas. Cantávamos a canção composta pelo f rei, com refrão inspirado em Guimarães Rosa: “Meu rio de São Francisco, nesta grande turvação, vim te dar um gole d’água e pedir sua benção”. O canto é uma espécie de hino entoado em todo o Vale, desde a peregrinação que D. Luiz e mais três companheiros fizeram, da nascente à foz, entre 1993 e 94 – um marco da história ribeirinha, que tornou o frei nacionalmente conhecido.
Trazíamos para presenteá-lo uma vela daquelas que queimam 21 dias, nela afixada uma foto do Padre Ibiapina, alusiva aos 200 anos de nascimento daquele que foi o inaugurador da Igreja voltada para os pobres no Nordeste; atrás da foto a frase dele: “Morrer com os pobres e famintos, e não vê-los morrer a sede e a fome.”. Outro presente era uma quartinha (moringa) com água da região setentrional do Nordeste...
Lá estava o povo. Índios Tumbalalá e Truká com suas vestes de palha e seus maracás. Uma mulher vestida com o hábito franciscano, comum nos locais de romaria do Nordeste. Freiras de hábito e sem hábito. Um senhor queria que o frei ajudasse a resolver a questão da imagem da santa que ainda falta na capela de seu povoado. Alguns buscavam confessar-lhe os pecados. Uma família trazia uma menina doente para D. Luiz abençoar e, quem sabe, curar... Gente chegando o tempo todo, e ele pacientemente atendendo a todos. O repórter da Folha de São Paulo senta ao lado de uma velha e tanto faz sua entrevista como ouve explicações ao povo sobre o rio.
Muitos políticos, a maioria da pior espécie. Afora a senadora alagoana Heloisa Helena e o deputado baiano do PV Edson Duarte, pestilência... Um, ao se aproximar do frei para abraçá-lo, estava mais preocupado com o ângulo para o fotógrafo que o acompanhava. Pouco antes de começar a celebração, chegam o senador ACM, o governador baiano Paulo Souto e cupinchas. À noite seu abraço ao bispo vai pro Brasil pelo Jornal Nacional... Há quem não tem dúvidas sobre como agir...
Com eles, a diretoria do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco. A greve de fome interessa também a eles, pois estão com seus projetos para o São Francisco preteridos pelo da transposição.
Como disse uma vez um jornal pernambucano: “Eles têm suas próprias transposições”.
Em meio ao tumulto, parentes e amigos de D. Luiz tentam pôr ordem na situação e preservá-lo dos muitos e variados assédios. Enquanto os políticos barulhentos saem pela porta lateral da capela, em frente o frei tenta dar início à missa. O emissário de Lula, Selvino Heck, tem que assisti-la para depois entregar-lhe a carta enviada pelo presidente. Há quem se surpreenda que ele, ex-franciscano, saiba os cantos e orações da missa... O povo reza, compungido. Lágrimas em alguns momentos... E até quem não é dado a rezas se envolve e se enternece.
Ao final da missa, é lida a carta de D. Luiz endereçada aos nordestinos do Setentrional, explicando as razões de sua greve de fome, que não é contra o direito deles à água, mas por soluções verdadeiras para o problema, além da defesa do São Francisco. Afirma que o projeto é mentiroso e que os pobres pagarão pelo benefício dos ricos empresários, como sempre no Nordeste. E que a solução é a convivência com o semi-árido. “Não estivesse o Rio São Francisco à beira da morte e suas águas fossem a melhor solução para a sede de vocês, eu não me oporia e lutaria com vocês por isso”, diz a carta.
Finda a missa, D. Luiz se reúne com o emissário de Lula e mais cinco pessoas de sua confiança: D. Itamar Vian, arcebispo de Feira de Santana, representante da CNBB, Dra. Luciana Khoury, do Ministério Público da Bahia / Projeto São Francisco, Dr. Luiz Roberto Cappio, Juiz de Direito, sobrinho do frei, Adriano Martins, sociólogo, companheiro da peregrinação, e eu.
A carta do presidente é decepcionante. Longa, mistura sentimentalismo e argumentação técnica a favor da transposição. Nenhuma sensibilidade e nenhum gesto concreto de recuo quanto ao projeto, algo que desse substância à sua proposta de diálogo. Ouvida a opinião de cada um, o frei tomou papel e caneta e, em pouco tempo, apresentou os termos de sua resposta praticamente pronta. Agradecia, reforçava os esforços pela revitalização do rio e comunicava a decisão de continuar a greve de fome, nos mesmos termos da primeira carta.
Discutiu-se, então, a sugestão de um dos presentes de amenizar as condições para o fim da greve de fome: aceitar a suspensão em vez da revogação e do arquivamento do projeto de transposição.
Concluiu D. Luiz pela manutenção de como estava, acrescentando a expressão “atual projeto” e a abertura para um “amplo diálogo e debate nacional, verdadeiro e transparente, discutindo
alternativas de convivência com o semi-árido e a oportunidade ou não de realizar a transposição”.
O emissário ainda tentou em vão se contrapor, sem muita convicção e sem argumentos. Dizia: “O governo é o governo”, refletindo a visão descolada da sociedade, já tantas vezes demonstrada pelos atuais do Planalto. Aliás, o governo reagiu apenas ao 6º dia e porque a CNBB deu apoio e solidariedade ao bispo. E aparenta não ter completa compreensão de todos os elementos em jogo na situação. Não quer ceder, mas não sabe o que nem como fazer, com medo de criar um mártir para a causa... Não parece entender que aí pode estar em risco o próprio projeto de transposição e sua própria reeleição. Está em jogo algo que o núcleo duro do governo parece ignorar – o poder místico da alma popular acionado. O mesmo povo que apóia o presidente que fugiu da seca e teve de “beber água de enxurrada”, provavelmente vai condenar o presidente que deixa morrer um bispo defensor de uma causa justa e nobre... Amaldiçoados, governo e projeto estariam com os dias contados.
Ao contrário do governo, Frei Luiz impressiona pela simplicidade, lucidez e firmeza. Parece viver um num outro patamar, onde as coisas têm mais sentido. Não se volta indiferente de Cabrobó.
Aquela colina com a capela, à beira do Velho Chico, o mais brasileiro dos rios, a figura frágil e
iluminada do bispo está a oferecer à gente e ao país uma chance de reencontro conosco mesmos e com o melhor de nós. Talvez, fique tarde demais para Lula ir a Cabrabó...
* Sociólogo, coordenador da CPT / Projeto São Fancisco.
Depoimento de Manoel Bibiano, prefeito de Iguatama, MG
Charge na "Gazzeta do São Francisco"
Depoimento de Roberto Rocha, Lagoa da Prata, MG
Localidades Ribeirinhas
Vargem Bonita / MG | Ibotirama / BA |
Hidrelétrica de Três Marias / MG | Morpará / BA |
Pirapora / MG | Barra / BA |
Ibiaí / MG | Xique-Xique / BA |
Cachoeira do Manteiga / MG | Remanso / BA |
Ponto Chique / MG | Santo Sé / BA |
São Romão / MG | Sobradinho / BA |
São Francisco / MG | Juazeiro / BA |
Pedras de Maria da Cruz / MG | Petrolina / PE |
Januária / MG | Cabrobó / PE |
Itacarambi / MG | Hidrelétrica de Itaparica - PE / BA |
Matias Cardoso / MG | Hidrelétrica de Paulo Afonso / BA |
Manga / MG | Canindé de São Francisco / SE |
Malhada / BA | Hidrelétrica de Xingó - AL / SE |
Carinhanha / BA | Propriá / SE |
Bom Jesus da Lapa / BA | Penedo / AL |
Paratinga / BA | Piaçabuçu / AL |
Depoimento de Dom Frei Luiz Cappio, Bispo de Barra, BA
Principais Afluentes
Rio Abaeté | Rio Pandeira |
Rio Borrachudo | Rio Pará |
Rio Carinhanha | Rio Paracatu |
Rio Corrente | Rio Paramirim |
Rio das Velhas | Rio Paraopeba |
Rio Grande | Rio Pardo |
Rio Indaiá | Rio São Pedro |
Rio Jacaré | Rio Urucuia |
Rio Pajeú | Rio Verde Grande |
Entrevista à TV Sergipe, Aracaju
Postagens mais populares
-
Andrea Zellhuber e Ruben Siqueira Fala-se muito, hoje, da necessidade de revitalizar, preservar e conservar Bacias hidrográficas. Revitaliz...
-
A religiosidade está presente em toda extensão do rio São Francisco, seja em grandes cidades, seja em pequenas comunidades quilombolas e ind...
-
A Arte está presente em toda a extensão do rio São Francisco, seja pelos trabalhos em argila, pedra, tecido e madeira, seja nas esculturas, ...
-
Uma viagem em busca do passado. Navegamos onde havia uma estrada. O destino era Petrolândia, uma das cidades inundadas na formação do Lago...
-
Durante 99 dias percorri a remo os 2.800 km do rio São Francisco em canoa canadense, acampando em suas margens, ou compartilhando a hospit...
-
João Carlos Figueiredo defendeu ações integradas para preservar o Rio São Francisco Veja Galeria de Fotos Ambientalista d...
-
Represa de Sobradinho, na Bahia, atinge pior nível da história, revelando proporção da crise que obriga Três Marias a manter altas vazões e...
-
A perda da vazão natural afeta populações ribeirinhas e a reprodução de várias espécies de peixes “O rio São Francisco é, hoje, um can...
-
Meu rio de São Francisco D.Frei Luiz Cappio e Roberto Malvezzi Meu rio de São Francisco, nesta grande turvação, vim te dar um gole d'águ...
-
Embora muitas igrejas tenham sido demolidas ou se encontrem em ruínas e despojadas de seus tesouros artísticos, ainda restam exemplos da art...