quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
CPT BAHIA OUVE O GRITO DO CERRADO
A CPT Bahia partilha o que viu e sentiu durante o Conselho Regional, em Correntina, no Cerrado baiano, hóspede da equipe da CPT Centro-Oeste e da igreja local (diocese de Bom Jesus da Lapa). Junto com os camponeses e camponesas e representantes dos movimentos e entidades sociais, éramos 42 pessoas, entre encantadas e preocupadas com aquele lugar.
No Cerrado de Correntina, nos deparamos com uma realidade conflitiva e chocante. Um poder, cego e tenebroso, vem há decênios corporificando-se no Oeste Baiano. Atrás da propaganda de “desenvolvimento” trazido pelo agronegócio de exportação, está sendo demolido um bioma – o mais antigo e fundamental – e se oculta um crime que se perpetua: a usurpação das terras públicas, a grilagem, o desmatamento, a morte dos rios e das nascentes, a degradação dos solos, a contaminação por agrotóxicos, a superexploração do trabalho e o trabalho escravo, o desmantelamento das comunidades tradicionais, a desagregação social – a extinção da vida.
Estas realidades, sem nenhum exagero, apresentam o triste espetáculo de uma chaga exposta, sangrando. Ela é mais preocupante e dolorida pela consciência de que o Cerrado brasileiro, e o Oeste baiano nele, concentram em si o “santuário sagrado das águas”. Daqui – uma grande caixa d’água natural – a água se derrama em vida, por inúmeros veios “correntes”, na direção do nascer do sol, para o rio São Francisco e o Oceano. Com a destruição do Cerrado todos eles estão ameaçados de morte, alguns já foram extintos.
Com uma programação intensa, os participantes do Conselho, na manhã do dia 29 de novembro, pudemos ver com os nossos olhos e nos indignar com as seguintes situações:
• Em 1945, terceiros adquiriram, não se sabe como, 40 hectares de terra, na localidade de Itamarana, em Correntina. Por força de uma retificação de área, homologada por um juiz de Santa Maria da Vitória, em 1987, esses 40 se transformaram em 217 mil hectares. Além de mudar o local do imóvel em mais de 150 km, três erros elementares foram acintosamente cometidos: não foram ouvidos, como manda a lei, o Ministério Público e os limitantes, nem o órgão de terras do Estado foi consultado. Um caso clássico e escancarado da velha grilagem de terras públicas. Para piorar, foi cercada a comunidade geraizeira do Couro de Porco, formada por posseiros que ali habitam desde tempos imemoriais. O “empresário” é o Sr. Nelson Tricanato, que nesta área implantou 11 mil hectares de mandioca para etanol. Entretanto, diz ele publicamente “que não se importa muito com as batatas”.
• Durante a visita, pudemos com facilidade associar o agronegócio à lavagem de dinheiro público, algo que foi amplamente divulgado durante o escândalo do “mensalão”. Três dias depois da visita, o Sr. Marcos Valério foi preso em BH, em razão de crimes de “agrobanditismo” praticados na região.
• Numa relação de causa e efeito, à instalação do agronegócio segue uma mortandade, em série, de nascentes, riachos e rios. Vimos com os nossos olhos: o braço de rio, afluente do rio Correntina, na área da REBRAS (Reflorestadora Brasil SA), totalmente exterminado.
• Para dar suporte à expansão do agronegócio, primeiro se constrói um posto de gasolina, em torno dele empresas vão se acomodando, depois se pleiteia a criação de um município ali. Primeiro foi o posto Mimoso do Oeste, que virou o município de Luiz Eduardo Magalhães, hoje com 60 mil habitantes. Na mesma direção projetam-se novas cidades no Oeste baiano: Alto Paraíso, Novo Paraná, Placas, Panambi, Nova Roda Velha, Posto Rosário, Vereda do Oeste, Cidade Trevoso... Para concluir, o agronegócio pretende transformar o Oeste baiano em “Estado do São Francisco”.
• O Estado joga neste processo papel decisivo: atrai, financia, cria infra-estrutura (rodovia, ferrovia, porto, energia etc.), facilita a grilagem e flexibiliza a legislação ambiental.
• Tudo isto, porém, não resulta em benefício para o povo do lugar. Pesquisa da Universidade Estadual da Bahia – UNEB constatou um “falso eldorado” na Região Oeste: a riqueza cresceu 245,6%, entre 1991 e 2000, mas 71,78% dos 800 mil habitantes têm renda inferior a meio salário mínimo (jornal A Tarde, 29/07/04). O município de São Desidério tem a maior renda agrícola do País e uma das piores distribuições de renda. A riqueza produzida na região não fica nela, vai para fora, de onde vem a quase totalidade dos empresários.
• O povo do Oeste baiano, porém, não se conforma. Têm comunidades geraizeiras tendo que brigar por seus territórios da Serra Geral do Tocantins ao Grande Sertão Veredas (MG), da Muriçoca em Barreiras aos Brejos da Barra, da sede da Empresa REBRAS às Cachoeiras do Formoso, do Salto ao Jacurutu... O caso da comunidade do Salto é dos mais absurdos. Como não questionar a ocupação de sem-terras liderados pela Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado da Bahia – FETAG-BA no território desta comunidade tradicional, existente há pelo menos 200 anos? Em meio a tantos latifúndios e terras griladas, justo esta comunidade foi visada?
À luz do Espírito de Javé que, como nos contam as primeiras palavras da Bíblia, “pairava sobre as águas” (Genesis 1,2), afirmamos que sobre o que vimos em Correntina não podemos nos calar e pactuar. Como Pastoral da Terra, não nos é permitido perder a lucidez evangélica. O “êxodo” – saída e travessia – para qual convidamos movimentos sociais, comunidades, igrejas, é conhecer, não aceitar e resistir a esta realidade fechada em morte, sem minimizar desafios e complexidades nela inerentes.
Neste final de 2011, luzes clarearam perspectivas do serviço pastoral da CPT na Bahia. Em Correntina, como na memória dos 35 anos da CPT celebrados em Juazeiro, dez dias antes, os camponeses e camponesas e as realidades que ecoavam por eles, nos disseram que o serviço da Pastoral da Terra continua irrenunciável e urgente. E este serviço, hoje, deve cuidar cotidianamente para desconstruir o “canto das sereias” do capitalismo que seduz, coopta, desvirtua e corrompe. Nossa crônica fragilidade de recursos financeiros não deve nos preocupar mais do que a tentação de largar a coerência evangélica. Num diálogo humilde e firme, devemos buscar apoio para uma “Co-Missão Pastoral da Terra” que se sinta organicamente enviada com interesse e apoio pelas igrejas, servindo aos pobres da terra e a seus movimentos e lutas por acesso a terra e posse de seus territórios. Assim beneficiando também a toda a sociedade com a produção de alimentos saudáveis e a defesa dos bens comuns da terra.
A celebração dos 35 anos da CPT em Juazeiro e este Conselho Regional em Correntina marcam a conclusão de um ano e se transformam em pedras angulares para o futuro da CPT Bahia. Nisto nos sentimos unidos a tantos quantos nos outros biomas nacionais se mantêm na defesa dos povos dos campos, matas e rios que ainda restam e precisam viver.
Das comunidades de Areia Grande, em Casa Nova, e Salto, em Correntina, sentimos que os pobres nos encorajam com sua silenciosa resistência e iniciativas, a permanecermos com eles, na firmeza de quem existe, persiste e insiste fazendo pulsar tradição, cultura, religião, autonomia, solidariedade e ecologia, a despeito de sofrimentos, a partir da história e das etnias, com seus mártires.
Nesta travessia, ressoam com sentido de força sagrada, direção, compromisso e esperança, as palavras que o povo proclama no Natal: “Já raiou a barra do dia, por detrás da escuridão! Mais que o sol brilha Jesus Cristo, dentro no nosso coração!” (Canto dos romeiros e romeiras no Natal).
Conselho Regional da CPT BahiaCorrentina - BA, dezembro de 2011.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
Boca Ferina: A sujeira está feita: aprovaram o estupro do Códig...
Agora não há esperanças, pois a ministra do "Meio Ambiente" e a própria presidente Dilma já demonstraram sua adesão às teses desenvolvimentistas (a qualquer preço), quando apoiaram a construção de grandes hidrelétricas na região amazônica. Todos os abaixo-assinados, rubricados por milhões de brasileiros, de nada adiantaram; pisaram na Constituição e jogaram-na no lixo da História, quando admitiram atender ao interesse de poucos em detrimento dos anseios de nossa Nação. Já não havia nenhuma esperança desde que o resultado da última eleição majoritária foi declarado, dando a vitória para Dilma Rousseff, ex-ministra da poderosa pasta da Casa Civil e eminência parda do governo Lula, que também rompeu com seus "companheiros" de luta democrática e aderiu ao jogo fácil do poder econômico.
Mas o que há de errado neste novo código florestal? O que de tão importante foi perdido? Não é difícil explicar; basta ouvir a ladainha dos próprios defensores dessa aberração legal, que se compreenderá o alcance dos estragos que virão por aí. Em primeiro lugar, foi uma decisão política sobre um tema técnico e científico, que é a proteção de nossa biodiversidade. De todas as manifestações contrárias às mudanças propostas e, agora, aprovadas, as que se destacam são aquelas de nossa comunidade científica, seja através das instituições que representam, seja pelo peso de seus nomes no trato com o meio ambiente. Embora o Código Florestal tenha sido concebido no fim do Estado Novo da ditadura Vargas, ele continha os principais reclames dos especialistas em florestas, em biodiversidade e em hidrologia da época. As especificações técnicas, como a largura da faixa de matas ciliares em conformidade com a largura dos rios, ou a preservação de mananciais hídricos, e a definição de conceitos sobre áreas de preservação permanente continuam, todas elas atualíssimas.
Além da questão técnico-científica, existe a questão ética do perdão das dívidas pelos crimes ambientais cometidos tanto pelos latifundiários (e que causam muito maior dano ambiental, com certeza), quanto pelos pequenos agricultores. Eles não só foram isentos das penalidades como também deixarão de recompor a mata destruída, pois seus limites se tornaram muito mais tolerantes com os criminosos e intransigentes com a Natureza.As faixas de matas ciliares foram reduzidas em até 80%... sim, pasmem, as novas faixas de proteção aos rios, córregos e lagos caiu de 500 metros, o que não é nada para os proprietários de terras, para 100 metros, o que nada significa para a Natureza. As áreas de encostas de morros e de seus cumes também foram liberadas para as pastagens e plantio de soja.
A região amazônica certamente foi a mais prejudicada, pois até mesmo o que ainda não foi desmatado ficou à mercê dos criminosos agora legalizados por um golpe do poder ruralista. Dentro de poucos anos, o que restará das maiores florestas tropicais do planeta serão apenas restos de matas, traços de vida selvagem e um clima definitivamente comprometido com a devastação que virá. Se em menos de 50 anos metade do Cerrado Brasileiro foi completamente destruído pelo agronegócio, agora que a lei permite o que se fará? E ainda darão boas gargalhadas ao menosprezar os ambientalistas que lutaram essa batalha inglória, e nos chamarão de idiotas e ingênuos diante de tamanho poder concentrado nas mãos de tão poucos.
Essa "Vitória de Pirro" ( vitória de Pirro é uma expressão utilizada para expressar uma vitória obtida a alto preço, potencialmente acarretadora de prejuízos irreparáveis) ainda repercutirá em todo o mundo civilizado, que olha com preocupação o avanço dos tratores e das motosserras sobre o que resta de nosso ambiente original. A Floresta Amazônica tem um papel fundamental na manutenção do equilíbrio hídrico e climático do planeta; sua destruição representará o passo final para o precipício, a gota d´água a se derramar sobre o copo cheio da devastação planetária; essa floresta contém o maior complexo hídrico da Terra e seu equilíbrio é frágil e instável, pois a maior parte de sua vegetação sobrevive apenas em função da complexa cadeia de rios e igarapés, e dos próprios resíduos orgânicos que se decompõem em seu "solo arável". Eliminando-se essa camada, seja pelo arrasto dos tratores, seja pela sua exposição direta à luz solar, e terá sido dado o passo final para o fim da Floresta.
Aprovar esse projeto indecente de revisão da lei maior das florestas brasileiras terá sido a pá de cal nas esperanças dos ambientalistas. Certamente Dilma não vetará essas mudanças, pois é dela também o projeto de construção de Belo Monte e de tantas outras hidrelétricas no coração do Amazonas. Como a maioria silenciosa da população sempre foi a massa de manobra para esses golpes sujos do Congresso Nacional, e como essa mesma população escolhe seus representantes, reservo-me o direito de afirmar que temos os políticos que merecemos, e as leis que evidenciam a consciência do Povo Brasileiro, tão enaltecida nas palavras do antropólogo Darci Ribeiro. Aceitemos, pois, essa derrota lamentável...
domingo, 19 de junho de 2011
Entrevista para a Revista "CONTERRÂNEOS"
segunda-feira, 6 de junho de 2011
Minha Canoa está de volta!
quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011
Arte e Inspiração
Se minha arte era rica, não importa. Sei que tinha seu valor e expressava meus pensamentos de forma clara, concisa e lírica como eu nunca mais o faria, pois essa erupção poética se extinguiu assim como chegou. Não lamento, pois creio ter dito tudo o que desejava nesses poucos meses em que fui visitado pela Poesia.
Meus textos são duros, difíceis de encontrar adeptos porque eu falo aquilo que todos se recusam a admitir: que o mundo dos homens não é belo, que a brutalidade das relações se esconde sob as máscaras de cada um, enquanto nossos pensamentos refletem nossa verdadeira personalidade, que ocultamos até de nós mesmos.
sábado, 27 de novembro de 2010
O Fim de um Ciclo
sábado, 13 de novembro de 2010
Às margens do rio Negro
Estou há dois meses aqui, aprendendo a gostar dessa gente humilde e apreciando as oportunidades que me são concedidas de caminhar nas trilhas da solidariedade. Este mês fiz um curso de piscicultura: quinze dias coletando informações sobre espécies da região, como o Aracu, o Tambaqui, Tucunaré, Pirarucu, Matrinxã e tantos ourtos peixes de grande aceitação e consumo nas mesas dos habitantes locais. Construímos um tanque flutuante com ripas entrelaçadas por cipós, que podem durar mais de um ano e abrigar centenas de peixes.
Também aprendi a extrair as ovas de fêmeas de Tambaqui e Matrinxã e inseminá-las, antes de colocá-las nos berçários, gerando alguns milhões de alevinos que irão repovoar os tanques e os rios. A piscicultura é uma das opções de melhoria da segurança alimentar das famílias indígenas. Ao longo de séculos de ocupação e desagregação de costumes e tradições os indígenas também contribuíram para a redução dos estoques de peixes nos igarapés; sua alimentação tornou-se precária, carente de proteínas, e nossos projetos visam oferecer alternativas simples e de baixo custo para a melhoria das condições de saúde e da qualidade de vida dos índios.
São centenas de comunidades que habitam a bacia do rio Negro. Só de Yanomamis são cerca de 5.000 índios. Estes vivem em semi-isolamento, na região montanhosa do Parque Nacional do Pico da Neblina. Duas dezenas de etnias coabitam o Alto Rio Negro e seus principais afluentes: Uaupés, Tiquié, Içana, Xié... milhões de igarapés abastecem um intrincado complexo de rios que levarão suas águas para a bacia Amazônica, a maior do mundo em extensão e volume de águas. A bacia do rio Negro também é a maior bacia de águas pretas do mundo. Sua coloração é devida aos compostos orgânicos, ricos em tanino.
Nessa região, a floresta alterna espaços com uma vegetação mais pobre, conhecida como Campinaranas, ou Caatinga da Amazônia, terras muito pobres em nutrientes, solo arenoso e extremamente ácido, que reduz o volume de fitoplâncton e zooplâncton de suas águas límpidas e cor de chá preto. Por isso, a capacidade de manutenção da vida nesses rios de águas pretas é baixa; poucas espécies se adaptaram à acidez e falta de alimentos.
Muitas localidades, na fronteira com a Colômbia, demandam 48 horas contínuas dentro de uma voadeira (barco a motor), ou quatro a cinco dias de viagem, atravessando corredeiras e sob um sol causticante de 35ºC, cuja sensação térmica é de mais de 40ºC. As aldeias limítrofes com a Colômbia têm presença permanente do Exército, que não apenas controla e protege as fronteiras, mas também dá auxílio às populações indígenas, oferecendo assistência médica e apoio logístico em casos mais graves que exigem translado do paciente.
Não é raro encontrarmos indígenas com pernas amputadas em decorrência de picadas de cobras, muito comuns nas matas da região. Alguns não sobrevivem e nem mesmo são atendidos a tempo de se ministrar soros anti-ofídicos devido ao isolamento em que se encontram. O Ministério da Saúde mantém equipes de atendimento médico em toda a região, através dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, mas a região é muito extensa.
Esta é a minha realidade, lugar que escolhi morar para contribuir com meu trabalho para a transição dos indígenas, de seu estado atual de enorme dependência do Estado, para uma situação de auto-suficiência de que já gozaram um dia remoto no passado. A transição é inevitável: a partir do momento em que a "civilização" os tocou, contaminando sua alma, nada mais se pode fazer para reverter essa situação. Por isso, é necessário se preservar o que é possível, resgatando a memória desse povo e registrando-a em compêndios que, um dia, serão suas únicas recordações de seus tempos primitivos.
Atualmente, muitos indígenas são professores nas aldeias, outros se formaram técnicos agrícolas, alguns poucos chegaram aos bancos acadêmicos e hoje são mestres e doutores. Mas a absoluta maioria ainda padece da mais cruel e insensata ignorância, viciados pela religião e pelas drogas. A primeira lhes solapa a vontade, resignados pelas promessas de salvação de suas almas. A segunda lhes rouba a dignidade e os torna vítimas dos piores males da "civilização": a bebida, as drogas, a prostituição, a mendicância... centenas de mortos-vivos arrastando-se pelas ruas das urbanidades dominadas por imigrantes de outras terras e culturas.
Assim são as margens do rio Negro, cujas pedras guardam memórias milenares e cujos seres se perdem nos caminhos inundados, com seus sonhos desfeitos e sua memória perdida.
terça-feira, 2 de novembro de 2010
Propostas equivocadas
Dentre as promessas de campanha, Dilma evidencia a incoerência de suas políticas públicas, muitas das quais antagônicas quanto a seus impactos sobre o Meio Ambiente, o que demonstra seu desconhecimento da matéria, ou apenas a necessidade de conquistar o eleitorado durante os meses que antecederam as eleições presidenciais. Cito abaixo algumas dessas "promessas", publicadas em "O GLOBO" em 01/11/2010.
OUTRAS FONTES DE ENERGIA
142. Fazer uma política com ênfase na produção de energia renovável e na pesquisa de novas fontes limpas. Construir parques eólicos.
Seria muito bom se esse fosse, realmente, um compromisso de Presidente da República. Afinal, há muitos anos se discute o uso de recursos renováveis em substituição a fontes tradicionais de produção de energia. Mas vejam o próximo item:
143. Desenvolver o potencial hidrelétrico do país.
Certamente, dentre as fontes primárias de produção de energia, o uso do potencial hidrelétrico do país foi o que causou maiores danos ao meio ambiente. As gigantescas hidrelétricas como Itaipu, Sobradinho, Três Marias, Tucuruí, dentre tantas, causaram danos irreparáveis à Natureza. Além da imensa área alagada, que caracteriza esse tipo de empreendimento, há o bloqueio dos rios, interrompendo seu ciclo natural, com enormes perdas de mobilidade de espécies, muitas vezes até com sua extinção. O governo Lula deu prosseguimento a essa modalidade de exploração de energia e Dilma diz que fará o mesmo.
144. Ampliar a liderança mundial do Brasil na produção de energia limpa.
Depois da revelação de sua preferência pela energia hidrelétrica, Dilma se contradiz afirmando que o Brasil se tornará o líder mundial em energia limpa.
145. Expandir o etanol na matriz energética brasileira e ampliar a participação do combustível na matriz mundial.
Novamente a contradição: para se produzir etanol são necessárias imensas áreas de plantação de cana de açúcar, com trágicas consequências para o meio ambiente. Não há coerência entre tais propostas.
146. Incentivar a produção de biocombustíveis.
O que são os biocombustíveis senão resultado de monoculturas que exigem a ocupação de imensas áreas territoriais, geralmente confiscadas de ambientes naturais, como áreas de cerrado ou até de matas preservadas? Pois muitas regiões do país tiveram suas reservas naturais destruídas pela produção de matérias primas para o biocombustível, como é o caso de Mato Grosso.
MEIO AMBIENTE
147. Reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia.
Isto significa que, mesmo tendo atingido a meta, 20% do desmatamento atual continuará devastando nossa Floresta Amazônica. Apenas estaremos postergando a tragédia final, que será o fim a Amazônia. Não existe nenhum estudo científico que afirme que esse nível de desmatamento seja tolerável pela floresta e impeça sua total destruição. O único nível de desmatamento possível para a Amazônia, a Mata Atlântica e outros biomas nacionais é DESMATAMENTO ZERO! Já temos áreas agricultáveis em quantidade suficiente para abastecer nossa população de alimentos por milhares de anos. O que é preciso é aumentar a produtividade por espaço físico, e isso a EMBRAPA já oferece com competência.
148. Ter tolerância zero com desmatamento em qualquer bioma.
Como assim: e o que foi dito na proposta anterior? Tolerância zero com 20% de desmatamento?
149. Incentivar o reflorestamento em áreas degradadas.
De que forma será esse incentivo: através de isenção de impostos? De perdão das multas pelo desmatamento já realizado? Quem fará esse reflorestamento? Como acreditar nessa proposta?
150. Antecipar o cumprimento da meta de reduzir as emissões dos gases do efeito estufa em 36% a 39% até 2020.
Mais uma vez, a hipocrisia: de onde tiraram nossos diplomatas esses números percentuais quando foram apresentados à comunidade internacional? É preciso se trabalhar em um projeto sério de planejamento para se saber como extrair o máximo de nossas áreas agricultáveis para poder prescindir de novos desmatamentos. Também é necessário se investir em novas fontes de energia não poluentes para se afirmar com algum nível de certeza em metas percentuais tão agressivas. Nosso atual modelo produtivo, que exporta matérias-primas sem valor agregado, em lugar de alta tecnologia com elevado valor agregado, não permite propostas tão corajosas e arrojadas. São apenas propostas eleitoreiras.
151. Dar prioridade à economia de baixo carbono, consolidando o modelo de energia renovável.
Mesmas considerações acima: propostas vãs, sem respaldo científico ou tecnológico.
152. Considerar critérios ambientais nas políticas industrial, fiscal e de crédito.
Esse deveria ser o primeiro item desta série, e deveria incluir as políticas agrícolas, que hoje privilegiam a agro-indústria, como se verá abaixo, maior responsável pelos desmatamentos no país.
REFORMA AGRÁRIA E AGRICULTURA
153. Reduzir as invasões no campo.
As invasões no campo são consequência de uma promessa nunca cumprida de fornecer terras para os trabalhadores rurais. Enquanto não houver uma reforma agrária séria e compromissada, não se acabará com as tensões no campo. Basta conhecer os conflitos fundiários no oeste baiano.
154. Não compactuar com invasões de prédios públicos e propriedades. Mas não reprimir manifestações de sem terra quando estiverem simplesmente fazendo reivindicações.
Esse é um compromisso irrelevante. É obrigação de todo governante proteger os prédios e propriedades públicas que estão sob sua guarda e responsabilidade.
155. Intensificar e aprimorar a reforma agrária para dar centralidade na estratégia de desenvolvimento sustentável, com a garantia do cumprimento integral da função social da propriedade.
A reforma agrária nunca saiu do papel; mesmo nos assentamentos realizados, sempre faltou assistência técnica e extensão rural aos novos trabalhadores. Sem orientação, a maioria acaba por abandonar suas terras e retornar às áreas urbanas, agravando as tensões sociais. Meia reforma agrária é como meia gravidez.
156. Ampliar o financiamento para o agronegócio e a agricultura familiar.
(grifo meu) Quando lidamos com o agronegício devemos recordar que o Brasil possui um rebanho de 200 milhões de cabeças de gado, uma área de plantio de soja e cana de açúcar maior do que a maioria dos países do mundo, e que ao exportarmos produtos agrícolas primários, assim como a exportação de minérios, estamos jogando fora nossas maiores riquezas naturais, pois para cada gado no pasto extensivo, centenas de árvores foram abatidas. Não é esse o caminho inteligente. Agora, falar de agricultura familiar no Brasil é brincadeira! As verbas são irrelevantes! Existem milhões de pequenos e micro-agricultores em nosso país; eles representam 95% dos homens do campo e só percebem 5% da renda das propriedades agrícolas nacionais. Muitos ainda são semi-escravos da indústria, produzindo sob contratos leoninos, que os impedem de participar da livre concorrência, um dos pilares do Capitalismo!
157. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores. Vai ampliar inclusive o programa de compra direta de alimentos do agricultor familiar, passando de 700 mil para 1,2 milhão de contemplados. Ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial.
70% de aumento previsto. Quanto cresceu o agronegócio durante o governo Lula?
158. Incluir dois milhões de famílias de pequeno agricultores e assentados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).
Novamente, números baseados em intenções de voto. Quanto representam esses números em esforço e em recursos a serem carreados para esse propósito? Como se chegou a esses números? As campanhas deveriam ter se baseado em apresentar e comprovar a viabilidade de tantas metas arrojadas...
159. Dar mais apoio científico e tecnológico a organismos como a Embrapa.
A Embrapa não precisa de apoio científico ou tecnológico. É uma das mais bem sucedidas empresas nacionais, mesmo sendo pública. Dela saem os melhores resultados em pesquisa pura e aplicada ao campo. O que é preciso é convencer os demais órgãos públicos, inclusive o Ministério da Agricultura a competência dessa empresa exemplar: não há necessidade de expandir as fronteiras agrícolas; apenas é preciso investir em aumento da produtividade. Não seria necessário abate de mais uma única árvore!
IRRIGAÇÃO
160. Fazer 54 obras para melhorar os indicadores de saúde das comunidades ribeirinhas do Norte.
Que obras são essas? Quanto custam? Para que servem? Onde se localizam? Que comunidades são essas? É o mesmo que dizer "construir mais 54 pontes nos rios do Norte"! Temos milhões de rios!
161. Construir sistemas de irrigação no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste.
Só faltaram o Norte e o Nordeste... que proposta mais vazia e desprovida de significado! É esta nossa Administradora que foi capaz, sozinha, de gerenciar o PAC e o PAC-2? Aliás, onde estão os PAC´s nessas propostas? PAC são Programas Ausentes de Crédito, um "monte" de obras desconexas que, para efeitos eleitoreiros foram agrupadas no mesmo "feixe". O que precisamos é de planejamento de longo prazo, projetos integrados que não consumam recursos desnecessários e sejam aprovados pela população.
162. Continuar a transposição das águas do Rio São Francisco.
Tragédia das tragédias: a Transposição do rio São Francisco é o Elefante Branco das obras de Luiz Inácio LULA da Silva. Um projeto dos tempos do Império que, ressuscitado, sequer foi atualizado com o acordo das populações ribeirinhas do São Francisco. Aprovado nas catacumbas do poder, foi implementado à força pelo Exército, desviando águas de um rio moribundo para abastecer reservatórios e bacias de outros estados, enquanto a população ribeirinha do Velho Chico padece da fome e da seca. Provem que uma única família do São Francisco receberá água dessa obra faraônica!
Ainda faltou o principal compromisso que deveria constar de todas as campanhas eleitorais dos candidatos: impedir, de todos os modos possíveis e negociáveis, o desvirtuamento de uma de nossas melhores legislações - o Código Florestal Brasileiro! Depois de gravemente ameaçado pelo NEO-RURALISTA Aldo Rebelo, nossa legislação florestal está ameaçada de extinção, assim como nossos rios e florestas! Tentar impedir essas mudanças é dever e obrigação de todo político e de todo brasileiro consciente. Perdoar as dívidas dos desmatadores, dos criminosos que quase acabaram com as mais promissoras áreas de cerrado e floresta subtropical é um crime maior do que daquele que o praticou.
domingo, 31 de outubro de 2010
Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff
Falo como quem não votou em seu nome, e nunca votaria em José Serra. Fui defensor de Marina Silva como uma alternativa de governo que nunca foi tentada neste país, mas que deveria ser considerada por quem ama a terra em que nasceu e acredita no ser humano como uma criatura possível no concerto geral deste universo atribulado por tanta miséria e desgoverno.
Até hoje a humanidade sempre procurou alternativas para conceder o poder e as riquezas para poucos em detrimento da maioria. À senhora que, como eu, lutou contra a ditadura militar, mesmo sabendo que na relação de forças não tínhamos a menor possibilidade de vitória, e que, por idealismo e convicção, mesmo assim perseverou na defesa de seus ideais, peço-lhe apenas um minuto de sua atenção, antes que sucumba de vez nos labirintos do poder.
Nas barganhas dos cargos e dos Ministérios, guarde uma vaga para o bom-senso, e destine, pela primeira vez na história, a Agricultura para os pequenos agricultores, esses que representam mais de 95% de todos os trabalhadores rurais desse país imenso. Não entregue o poder para os ruralistas, esses que querem apenas se enriquecer, produzindo soja, gado e cana de açúcar para abastecer os celeiros do mundo, deixando a mesa dos pobres vazia.
Reserve o Meio Ambiente para quem luta por preservar as belezas desse planeta, suas águas e as florestas, seus animais e as paisagens para que nossos filhos, nossos netos, seus netos, tenham algo para se maravilhar e viver. Deixe um pouco do que resta para as futuras gerações e não para aqueles que ambicionam os domínios intermináveis dos latifúndios vazios.
Leve consigo, para as outras pastas, a Educação, a Saúde, os Transportes, Minas e Energia, pessoas que sonham com um mundo melhor e menos consumista, onde todos (todos mesmo) possam ter suas vidas dignas e não consumidas no desperdício e no desprezo pelos pobres.
Senhora Presidente, seja, antes de tudo, humilde; visite todos os rincões desse país e não apenas aqueles que lhe deram os votos da vitória, mesmo que sejam tão vazios e distantes que apenas os indígenas os estejam habitando. Veja com seus olhos a imensidão de nossas florestas, de nossos rios, a riqueza que eles guardam para um futuro que só acontecerá se alguém cuidar para que isso aconteça. E apenas a senhora poderá fazê-lo.
Não espere que as alianças espúrias que fez lhe garantam a tal "governabilidade". Tenha a coragem e a ousadia de decidir pelas gentes de nossa Nação, a despeito dos partidos políticos, cada vez mais corruptos, cada vez mais distantes dos nossos anseios populares.
Senão, para que terá valido sua luta revolucionária? Lembre-se de seu idealismo como estudante, que enfrentou as armas dos exércitos, os porões da ditadura, apenas para viabilizar um mundo melhor, mais solidário, mais justo e honesto. Traga de volta seus sonhos estudantis, ainda não contaminados pelas ambições políticas, e pense em seu povo, pois foi este quem a elegeu com seus milhões de votos! Rompa essas alianças estúpidas e acredite em seu poder.
Senhora Dilma Rousseff, não repita a hipocrisia do passado! Leve consigo poucas propostas, mas apenas as efetivas, importantes de fato, que possam modificar para sempre a fisionomia deste imenso país, de recursos (quase) inesgotáveis. Não deixe que eles se acabem!
Ainda existem pessoas do bem, preocupadas e solidárias, aquelas que votaram em Marina Silva apenas pelo que ela representou para todos nós, uma via diferente, não baseada no Capitalismo Selvagem em que vivemos, mas na busca de alternativas Sustentáveis, que possam preservar a Vida, a Beleza e a Permanência do Homem sobre a Terra.
Este é o meu pedido sincero, senhora Presidente!
quarta-feira, 27 de outubro de 2010
A escolha difícil
Isto porque Lula, que a apóia, representou, para o Povo Brasileiro, uma promissora redenção em suas políticas públicas que favoreceram a ascensão das minorias à condição de dignidade social, e à grande e empobrecida maioria, alguns degraus que a afastou temporariamente da pobreza e da fome. Assistencialismo e imediatismos à parte, essa "proteção" contra a miséria, vinda através do Bolsa Família, era uma necessidade imperativa, enquanto medidas mais efetivas e duradouras não pudessem vir a afeito.
As habilidosas e inteligentes negociações de Lula e de sua equipe de Diplomatas conseguiram evitar que a maior crise do Capitalismo desestruturasse todas as conquistas sociais obtidas nesses últimos 10 anos. Isso ocorreu porque nosso mercado externo passou pela maior guinada de sua História, reduzindo a importância de parceiros tradicionais, fortemente atrelados ao Euro e ao Dolar, e buscando a parceria de outros países emergentes, como a China e a Índia, além dos países africanos e do Oriente Médio.
Lula também acelerou o processo de demarcação das terras indígenas e dos quilombolas, e de assentamento de trabalhadores rurais, dando o primeiro passo para o resgate desssas populações, que foram as maiores vítimas do Colonialismo português, no pior genocídio que maculou a História do Brasil, de Portugal e de sua aliada, a Inglaterra.
No entanto, apesar de tantas conquistas sociais importantes, o governo Lula não conseguiu reverter o processo de destruição sistemática da Floresta Amazônica, deixando um vergonhoso rastro de devastação provocado pelas alianças espúrias do PT com a famigerada Bancada Ruralista, para quem só importa o enriquecimento fácil da exploração e da exportação de soja, da criação de gado bovino e dos subprodutos da cana de açúcar.
Marina Silva, nossa candidadta à Presidência, não conseguiu, contudo, conter a fúria destruidora do Latifúndio e das monoculturas, que destroçaram, desgraçadamente, grande parte do Cerrado do Mato Grosso, Goiás e Tocantins, e também extensas regiões da Floresta Amazônica nos estados do Pará, Rondônia e Acre.
Na visão Desenvolvimentista embasada pelo anacrônico e decadente Neo-Liberalismo, DIlma e Serra não se diferenciam; isso nos leva a crer que os próximos quatro anos, pelo menos, serão desastrosos para o Meio Ambiente, conduzindo-nos a uma situação crítica de sobrevivência de nossos principais biomas, os mais importantes do Planeta em extensão e biodiversidade. Principalmente para as bacias hidrográficas do Amazonas e do São Francisco, fontes de irrigação de uma gigantesca extensão territorial brasileira.
Será uma perda irreversível, dada a fragilidade dos solos amazônicos, e um grande risco para a sobrevivência da raça humana. Quem será o responsável por essa hecatombe: Dilma ou Serra? No próximo final de semana conheceremos o nosso algoz!
segunda-feira, 25 de outubro de 2010
Momento de Decisão
Um deles, que mais interessa a nós, ambientalistas, é o destino que se dará aos projetos de construção de obras gigantescas em áreas de risco ambiental, como é o caso das bacias do São Francisco e do Amazonas. Ambos, o Velho Chico e a Amazônia já padecem de violentas intervenções desde o período ditatorial dos anos 60 e 70; as imensas barragens de Sobradinho e Tucurui, as rodovias Transamazônica e Belém-Brasília, os estímulos fiscais a transformar Manaus em um pólo de desenvolvimento a qualquer custo (e que custo elevado foi esse!), já demonstraram os enormes equívocos de decisões baseadas em um modelo desenvolvimentista ultrapassado e predador.
Recentemente, novas barragens foram construídas ou estão em vias de se tornarem realidade, como Belo Monte, no Xingu, e Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, além de uma dezena de outras já em fase final de planejamento ou de certificação junto ao IBAMA. Ocorre que a Amazônia representa cerca de 60% de todas as florestas tropicais do planeta, e vem sendo destruída, às barbas do governo e com sua conivência, pelo agronegócio, que despreza as leis e invade as fronteiras do bom-senso e do equilíbrio que deveriam nortear as ações estratégicas de um país continental, que se propõe a ser, um dia, uma grande potência.
O São Francisco já foi tão mutilado que mal pode ser considerado um rio contínuo em toda sua extensão: são 5 barragens (Três Marias, Sobradinho, Moxotó, Paulo Afonso e Xingó) e ainda se pretende construir mais três: em Pirapora, Santa Maria da Boa Vista e em Pão de Açúcar, fora as dezenas de pequenas centrais hidrelétricas planejadas ou em execução nos afluentes do Velho Chico. Neste, a existência de espécies tradicionais está completamente ameaçada.
Por isso, o momento é de decisão: precisamos pensar em quem fará menos mal, causará menos dano, provocará menos desastres ambientais em nosso já tão combalido planeta. O Brasil é, ao mesmo tempo, um país privilegiado e responsável pelos destinos do mundo, pois um desastre de grandes proporções nos riquíssimos ecossistemas que temos poderá determinar o ocaso da civilização em todo globo terrestre. É uma pena, mas os políticos, excetuando-se Marina Silva, ainda não se deram conta da gravidade desta situação.
Quando Al Gore fez seu contundente depoimento, que se tornou filme, "Uma Verdade Inconveniente", ele sabia que enfrentaria o maior desafio de sua carreira depois da eleição roubada por George Bush (filho). Poucos ouviram seu depoimento, menos ainda foram os que o entenderam, mas ninguém, nenhum mandatário do mundo mexeu uma palha sequer para inserir seu país dentre as nações preservacionistas. O desastre está aí, à nossa porta, pronto para arrombar as nossas vidas com a destruição da beleza e da riqueza da biodiversidade que dá motivo às nossas existências. Só não vê quem não quer, ou quem ambiciona lucros fantásticos e de curto prazo, como a nossa famigerada Bancada Ruralista!
A decisão está nas mãos dos brasileiros, ou melhor, estava, quando Marina Silva ainda concorria pelo cargo máximo da Nação brasileira. Agora, só nos resta esperar que quem vença as eleições tenha juízo e bom-senso para não aderir às políticas fáceis e de favorecimento das classes dominantes, em detrimento das populações mais pobres, mais esquecidas pelas políticas públicas, ou enganadas por elas. Cabe a cada um de nós o veredito, mas é bom lembrar que Fernando Henrique Cardoso, quando tomou o poder, teria dito algo como: "esqueçam tudo o que eu disse"; sua intenção teria sido demonstrar o quanto um presidente da república está atrelado aos acordos e conchavos políticos que viabilizaram sua eleição. Agora, PSDB e PT têm muito pouca margem de manobra e decisão!
domingo, 17 de outubro de 2010
Visão do Rio Negro em São Gabriel da Cachoeira
Quando procurei novos caminhos para minha missão preservacionista e optei pelo trabalho com a população indígena, não quis me afastar dos rios brasileiros, e escolhi São Gabriel da Cachoeira, cidade do Amazonas, às margens do rio Negro, cujas semelhanças e diferenças com nosso Velho Chico apenas demonstram que a questão ambiental não pode ser abandonada, mesmo que os políticos que se degladiam pelo poder em Brasília pouco se importem com a conservação da Natureza e do meio ambiente, nossa maior riqueza.
Assim, decidi conservar esse blog e falar dos temas ambientais, mantendo acesa a chama da luta pela revitalização do São Francisco, sem nos esquecermos que nossos recursos hídricos são os maiores e mais complexos de todo o planeta. O clima da Amazônia é responsável pela manutenção da vida na Terra, e poucos sabem disso; por isso, a motosserra continua devastando essa que é a maior floresta contínua e em biodiversidade do mundo! Quem se importa? Certamente os ambientalistas, talvez uma pequena parcela da população esclarecida. Mas não os ruralistas, para quem só importa produzir e enriquecer, nem que seja à custa do desaparecimento de todas as espécies animais e vegetais e não apenas aquelas hoje consideradas em extinção; e até mesmo do desaparecimento das populações indígenas, esses incômodos personagens de nossa história nada digna, nem edificante, vítimas dos massacres provocados pela mesma ânsia pelo poder e pela dominação a qualquer custo que hoje determinam as posturas "desenvolvimentistas" de José Serra e de Dilma Rousseff.
Mesmo que meus esforços sejam em vão, e que o destino do mundo seja o de se transformar tudo em uma imensidão desértica comparável às premonições trágicas de Mad Max, ainda assim precisamos continuar lutando, pois talvez a geração que nos sucederá acorde em tempo de salvar um pouco dessas belezas que, por si somente deveriam justificar a vida em toda sua plenitude, e que, para tantos são apenas áreas inúteis a se converter em pastos e campos de soja e de cana de açúcar... de que valerá viver então, quando nada mais restar?
terça-feira, 12 de outubro de 2010
Dois rios majestosos e a mesma sentença
Enquanto a bacia do São Francisco possui uma população de cerca de 15 milhões de habitantes, a bacia do rio Negro não chega aos dois milhões; e quase a totalidade de seus habitantes está nas cidades de Boa Vista e de Manaus, na foz do rio Negro, onde suas águas se misturam, lentamente, às águas do Solimões, formando o gigantesco rio Amazonas. O rio Negro é o maior afluente da margem esquerda do Amazonas e o maior de todos os seus afluentes em volume de águas.
Enquanto o rio São Francisco possui cerca de 150 afluentes, o rio Negro tem mais de 700 tributários, sem contar os mais de 8.000 igarapés que formam uma das maiores cadeias de cursos dágua do planeta. Em suas terras, a bacia do rio Negro abriga uma população de mais de 80.000 indígenas, em quase 1.000 aldeias, com mais de 80 etnias, e falando dezenas de línguas e suas variações ou dialetos!
A coloração do rio Negro, de águas cor de chá preto, é devida ao tanino retirado dos compostos orgânicos da imensa floresta que ainda sobrevive, quase intacta, em seus territórios, ao contrário da vegetação quase moribunda do São Francisco. As terras do rio Negro não são ricas em nutrientes, como as do Velho Chico, mas o respeito da população indígena pela Natureza ajudou a preservar, durante séculos, essa imensa riqueza das florestas, presentes em grande parte de seu território.
Ao contrário do que muitos pensam, a presença humana na região do rio Negro remnta a mais de 3.000 anos, mesmo com o terrível genocídio perpetrado pelos colonizadores e pelos Salesianos a partir do século XVI. Já foram identificados vestígios dessa época, de uma civilzação inteligente na região de Iawaretê, na fronteira com a Colômbia, e os estudos ainda prosseguem.
No entanto, a triste notícia é que a civilização ocidental, que tantos males já causou aos indígenas, únicos e verdadeiros habitantes originários das Américas, essa civilização que se julga tão avançada e inteligente, continua a destruir culturas e povos indígenas com seus hábitos daninhos: caça e pesca predatórias, consumo de drogas, ingestão de bebidas alcoólicas em índices absurdos, e degradação ambiental em todos os níveis.
Acreditava-se que o rio Negro seria eterno em sua beleza e prosperidade. No entanto, as populações indígenas hoje passam fome e carecem da ajuda dos invasores brancos para sobreviver, pois estes, em sua ânsia pelo lucro indiscriminado, faz os indígenas se esquecerem de suas próprias crenças, adotando as "religiões" ocidentais; torna-os dependentes da cachaça, em lugar de sua inofensiva bebida, o caxiri; torna-os ambiciosos e competitivos, eliminando a harmonia que os mantinha como "parentes", independentemente de suas etnias; permite que os brancos os escravizem em dívidas contraídas em "trocas" injustas de mercadorias valiosas por bugigangas ocidentais; e destroem seus lugares sagrados, fazendo-os se esquecerem de suas tradições, de seus valores e de suas origens ancestrais.
São dois rios que demonstram a inviabilidade da vida no modelo ocidental, capitalista, "desenvolvimentista" a qualquer custo. Ambos condenados à morte; porém um, o Velho Chico, já moribundo e decadente, aguarda apenas o golpe de misericórdia, enquanto o outro, o majestoso rio Negro, ainda floresce na magnificência de suas matas repletas de vida, mas consciente de que sua sentença não será menos cruel: a morte de suas populações indígenas será também a sua morte, pois não há como separar a vida do rio e da floresta da vida de seus generosos habitantes, simples em sua maneira de viver, econômicos no uso dos recursos naturais, singelos em suas crenças que, aos poucos, se esvanecem, sufocadas pela "cultura" ocidental.
quinta-feira, 7 de outubro de 2010
O Rio Negro: algumas informações
O rio Negro é navegável por 720 km acima de sua foz e pode chegar a ter um mínimo de 1 m de água em tempo de seca, mas há muitos bancos de areia e outras dificuldades menores. Na estação das chuvas, transborda, inundando as regiões ribeirinhas em distâncias que vão de 32 km até 640 km.
Todo ano, com o degelo nos Andes, e a estação das chuvas na região Amazônica, o nível do rio sobe vários metros, alcançando sua máxima entre os meses de Junho e Julho. O pico coincide com o "verão amazônico", e portanto, o nível do rio começa a baixar até meados de novembro, quando novamente inicia o ciclo da cheia. Em Manaus, a cota máxima do Rio Negro vem sendo registrada há mais de cem anos, e há um quadro no Porto de Manaus com todos os registros históricos, inclusive o da maior cheia de todos os tempos, ocorrido em 1º de julho de 2009, alcançando a cota máxima de 29,77 m acima do nível do mar. Todos os rios da Bacia Amazônica sofrem o mesmo fenômeno de subidas e baixas em seus níveis, comandados pelos dois maiores rios: Rio Negro e Rio Solimões.
segunda-feira, 23 de agosto de 2010
Lula não Leu!
Quando terminei minha expedição pelo rio São Francisco, em dezembro de 2009, fui procurado por um alto funcionário do Banco do Nordeste do Brasil, convidando-me a publicar meu livro através do BNB. Enviei meus originais em janeiro de 2010 e aí começou a minha via crucis!Enviei diversas versões do livro, excluindo ou alterando textos censurados pelo banco, que alegava serem inaceitáveis minhas críticas a personalidades do governo federal e às obras da transposição, "menina dos olhos" de Ciro Gomes e Dilma Rousseff. A contragosto fiz todas as modificações exigidas pelo BNB mas, mesmo assim, o tempo passava e nenhuma resposta definitiva, nenhum comprometimento, até que chegou junho, quando recebi uma resposta evasiva de que um membro do Conselho Editorial havia pedido "vistas" do processo.
Eu me senti como um réu diante de um tribunal de exceção, sendo julgado por falar a verdade, por divulgar que a Revitalização do rio São Francisco era uma mentira, que as obras da Transposição não atenderiam às necessidades do povo nordestino, que havia lutas pela posse das terras indígenas e quilombolas; tudo o que eu vi e fotografei não passava de imaginação de um escritor sensacionalista. Fiquei parado, suspenso no ar.
Passou-se junho e julho, e nenhuma nova mensagem minha foi respondida pelo BNB. Foi quando percebi que eles tinham conseguido seu intento, ou seja, evitar que um livro polêmico fosse publicado antes das eleições! Afinal, Dilma Rousseff liderava as pesquisas de opinião com razoável vantagem sobre seu concorrente!
Diante dessa manobra anti-democrática, decidi publicar meu livro na Internet, de graça, para que todos pudessem lê-lo e tomar conhecimento das mentiras do governo LULA nas obras faraônicas do Amazonas, do semi-árido nordestino e da bacia do São Francisco. Criei um blog, ao qual atribuí o nome de "Lula não Leu" pois tenho certeza que ele não lerá meu trabalho! Não é de seu perfil a leitura de textos extensos e analíticos sobre a realidade brasileira. Afinal, ele decidiu, como um déspota, com o uso do Exército Brasileiro, a construção dos canais de transposição, mesmo contrariando as opiniões de especialistas em hidrologia e meio ambiente, passando longe dos interesses do povo ribeirinho.
Também coloquei meus originais para "download" nos sites SCRIBD e OVERMUNDO. Mais de 15.000 pessoas já se interessaram pelo meu trabalho e creio que muitas mais terão o cuidado e a atenção de conhecer essa realidade tão distante dos olhos da população urbana de nosso país. Minha dificuldade é divulgar o trabalho e, para isso, conto com vocês: leiam, divulguem, repliquem minha mensagem para que muitas pessoas tenham a lucidez de julgar um governo que começou com a corrupção do desvio de dinheiro do Mensalão e acaba com a construção de obras gigantescas de engenharia (Hidrelétricas na Amazônia e Transposição no Nordeste) que certamente terão um custo social e ambiental irreparáveis! Conto com vocês!
domingo, 22 de agosto de 2010
A Arte Sacra nas igrejas do Velho Chico
Embora muitas igrejas tenham sido demolidas ou se encontrem em ruínas e despojadas de seus tesouros artísticos, ainda restam exemplos da arte sacra na época do império colonial. Nesta coleção mostro algumas obras de real valor, como pinturas, iluminuras, quadros em relevo, esculturas e vitrais, alguns de extrema simplicidade, outros ricamente ornamentados.
Escultura em mármore na entrada do Santuário de Bom Jesus da Lapa, Bahia
Imagem de Jesus no interior da gruta do Santuário de Bom Jesus da Lapa, Bahia
Imagem de Santa Rita no interior da gruta do Santuário de Bom Jesus da Lapa, Bahia
Iluminura de Nossa Senhora no interior da gruta do Santuário de Bom Jesus da Lapa, Bahia
A religiosidade e a fé do povo simples que habita as margens do São Francisco
Imagens de santos na igreja matriz de Paratinga, Bahia
Acervo de Joana Camandaroba em Barra, Bahia
Acervo de Joana Camandaroba em Barra, Bahia
Imagem de São Francisco na igreja matriz de Petrolina, PE
Escultura em pedra de São Benedito, em Curaçá, Bahia
Pequeno altar em capela da aldeia Truká de Cabrobó, Pernambuco
Escultura de São Francisco em madeira do Museu do Sertão, em Piranhas, Alagoas
Bom Jesus dos Navegantes, Museu do Sertão, em Piranhas, Alagoas
Bom Jesus dos Navegantes, Porto Real do Colégio, Alagoas
Depoimento de Manoel Bibiano, prefeito de Iguatama, MG
Charge na "Gazzeta do São Francisco"
Depoimento de Roberto Rocha, Lagoa da Prata, MG
Localidades Ribeirinhas
Vargem Bonita / MG | Ibotirama / BA |
Hidrelétrica de Três Marias / MG | Morpará / BA |
Pirapora / MG | Barra / BA |
Ibiaí / MG | Xique-Xique / BA |
Cachoeira do Manteiga / MG | Remanso / BA |
Ponto Chique / MG | Santo Sé / BA |
São Romão / MG | Sobradinho / BA |
São Francisco / MG | Juazeiro / BA |
Pedras de Maria da Cruz / MG | Petrolina / PE |
Januária / MG | Cabrobó / PE |
Itacarambi / MG | Hidrelétrica de Itaparica - PE / BA |
Matias Cardoso / MG | Hidrelétrica de Paulo Afonso / BA |
Manga / MG | Canindé de São Francisco / SE |
Malhada / BA | Hidrelétrica de Xingó - AL / SE |
Carinhanha / BA | Propriá / SE |
Bom Jesus da Lapa / BA | Penedo / AL |
Paratinga / BA | Piaçabuçu / AL |
Depoimento de Dom Frei Luiz Cappio, Bispo de Barra, BA
Principais Afluentes
Rio Abaeté | Rio Pandeira |
Rio Borrachudo | Rio Pará |
Rio Carinhanha | Rio Paracatu |
Rio Corrente | Rio Paramirim |
Rio das Velhas | Rio Paraopeba |
Rio Grande | Rio Pardo |
Rio Indaiá | Rio São Pedro |
Rio Jacaré | Rio Urucuia |
Rio Pajeú | Rio Verde Grande |
Entrevista à TV Sergipe, Aracaju
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