quinta-feira, 9 de julho de 2009

A História dos Vencedores

Dizem que a história da humanidade é a história dos vencedores. O problema é que sempre há somente um vencedor e milhares de vencidos! E são vencidos aqueles que chegam em segundo lugar, em terceiro... em último lugar! Quem não chega também é um dos vencidos...
Seria, portanto, essa História, apenas o registro de uma elite, uma minoria inexpressiva na realidade dos homens... apenas uns poucos privilegiados seriam lembrados para sempre, eleitos para a glória, erguidos aos altares da fama e do sucesso.
Quem lê a História tem a impressão de que tudo existiu pelos excessos do homem: o Bem, o Mal, o Saber, a Arte, a Violência, a Generosidade, o Heroísmo, a Covardia...
Em nossas mentes ficaram somente alguns nomes, como Jesus, Calígula, Hitler, Einstein, Budha, Beethoven, Lennon, Caxias, Marx, Lincoln... Bin Laden...
Mas foram milhões, bilhões de seres que, através dos tempos, doaram suas vidas, seu suor, suas idéias, suas forças, seu trabalho... para que esses poucos escolhidos se tornassem famosos e ficassem registrados de forma indelével nos anais da História, pelo bem ou pelo mal. Quantos milhões morreram nas guerras? Só na Segunda Guerra Mundial foram mais de 33 milhões de mortos, mas apenas os 6 milhões de judeus continuaram relembrados... e só Hitler ficou para a História... alguns talvez se lembrem de Mussolini, ou de Churchil, De Gaule, ou mesmo Roosevelt... talvez alguém se lembre do Dia D, da bomba de Hiroshima, da invasão da Polônia... mas são apenas fragmentos dessa História.
Quem esteve de fato na guerra, paticipou dos combates, viu seus companheiros caírem feridos, morrerem, ficarem mutilados, quem se aproveitou da guerra para manifestar seus instintos mais primitivos, estuprando, roubando, destruindo apenas por prazer ou oportunismo, esses ficaram no esquecimento, no limbo da História, aquela que ninguém quer recordar.
Quantos deram suas vidas para que uns poucos se tornassem famosos?
Pois assim é a vida... assim ficará sempre registrada a passagem dos homens pela Terra. Quem ficou em segundo lugar na corrida de 100 metros das Olimpíadas da China? Quem "quase" bateu o recorde olímpico de salto em distância? Quem chegou em último lugar na Maratona? Bem, isso também já é demais! Mas alguém saberia o que fez aquele atleta para não vencer, quando todos nele confiavam, para "quase" ficar na história?
O que torna nossa existência possível e tolerável é sonhar, é acreditar que seremos diferenciados da grande massa que povoa esse planeta fantástico, trágico e belo... mas seria assim para todos? E aqueles que apenas sobrevivem nas areias do deserto, sem nunca tomar um banho por absoluta falta de água? E aqueles que foram trucidados nas guerras fratricidas dos árabes, palestinos e judeus, e que nunca souberam o que significa "PAZ"?
Pode ser que alguém pergunte o que isso tem a ver com minha expedição pelo rio São Francisco...
Tem tudo a ver! Quando decidi parar, interromper minha viagem, deixar de remar, abandonar minha canoa em Três Marias, voltar para casa, uma terrível sensação de fracasso, de derrota, de tristeza tomou conta de mim... ainda que eu tenha remado mais de 400 quilômetros (quantos já remaram tanto?), ainda que eu tenha superado meus limites, eu não conseguia conviver com a idéia da derrota... mesmo que não fosse uma decisão definitiva, mesmo que eu pretendesse retornar à minha jornada, essa sensação me deixou um gosto amargo na garganta...
Quando não recebi (quase) nenhuma manifestação de solidariedade, as noites se tornaram longas e tristes para mim. E não adiantava ver as 250 fotos que tirei, ou assistir às mais de 3 horas de vídeo que gravei, ou ainda ler as quase 100 páginas de textos que escrevi em meu diário de bordo... sentia-me mais solitário aqui, no meio da civilização, do que no rio, à beira das matas, sozinho em meu barco, ou em meu acampamento.
Essa é a realidade da História... a história dos vencedores!
Pois não desisti; estou aqui, trabalhando para meu retorno. Quero fazer parte dessa história de vencedores, não por vaidade, nem pela glória de ser reconhecido pelo meu feito, mas pela sensação do dever cumprido, da missão terminada, dos resultados alcançados. Não desisti, pois não desisto nunca!

Um comentário:

Marcio Costa disse...

Sua decisão como já havia comentado, foi com certeza a melhor.
Sim suas palavras tem tudo a ver com seu momento.

Espero que consiga o apoio necessário para retomada de mais uma missão.
Estou torcendo e acompanhando.
Fique com DEUS.
Serenidade, sabedoria e luz.

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