quinta-feira, 15 de julho de 2010

Ciência teme pelo futuro da floresta (Greenpeace)

As duas associações que representam a comunidade científica brasileira falam como proposta de mudança do Código Florestal é nociva para o país.
'Mar' de árvores derrubadas no Pará em 2001, imagem que maioria dos brasileiros gostaria de deixar no passado ©Greenpeace/Daniel Beltra
Os ruralistas adoram falar que têm a ciência do seu lado ao propor mudanças no Código Florestal – a saber, redução de áreas de preservação permanente (APPs), como mata nas margens de rios e topos de morro, e da reserva legal, quando não pregam seu fim. A verdade, contudo, está bem distante.
Os dois principais grupos representativos da classe científica no Brasil – a Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) – divulgaram uma carta conjunta repudiando o relatório apresentado pelo deputado Aldo Rebelo (PCdo-B-SP), aprovado na semana passada pela comissão que tratou do tema na Câmara apesar da oposição de diversos setores da sociedade civil, inclusive as ONGs.
O presidente da SBPC, Marco Antonio Raupp, e da ABC, Jacob Palis, afirmam que a comunidade científica não foi de fato consultada no processo, ao contrário do que Aldo afirma, e que a proposta “foi pautada muito mais em interesses unilaterais de determinados setores econômicos”.
“Se os ruralistas de fato tivessem a preocupação em montar uma proposta séria de reforma do Código Florestal, deixariam de lado seus cientistas de aluguel e passariam a ouvir quem faz e entende mesmo de ciência no Brasil, representados por esses dois grupos, SBPC e ABC”, afirma Paulo Adario, diretor da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Leia a seguir a íntegra da carta conjunta, também disponível no site da SBPC.
"Senhor Deputado,
O Brasil foi o primeiro país do mundo a buscar uma agricultura tropical altamente produtiva, fruto principalmente de investimentos contínuos em ciência e tecnologia. Com o aumento da produtividade das principais culturas agrícolas, a agricultura brasileira ganhou destaque mundial e passou a contribuir, decisivamente, para o desenvolvimento econômico e social do país, produzindo alimentos, fibras e bioenergia para o consumo interno e para exportação.
O Brasil já é uma potência agrícola, mas deve ser observado que o paradigma predominante em outras potências agrícolas do mundo desenvolvido é o do aumento da produtividade e não da expansão das fronteiras agrícolas. A competitividade se dá no terreno de maior inserção de ciência e tecnologia na produção e maior agregação de valor nas cadeias produtivas agrícolas e pecuárias.
Paralelamente, o Brasil ainda preserva grandes áreas intactas que abrigam uma extensa gama de formas de vida, caracterizando o país como detentor de uma megabiodiversidade. Portanto, o país tem a chance única na história de conciliar uma agricultura altamente desenvolvida com vastos ecossistemas naturais preservados e ou conservados que produzem uma gama de serviços ambientais dos quais a própria agricultura depende, dentre eles se destacam a manutenção da fertilidade dos solos e suas propriedades físicas e a produção e sustentabilidade dos regimes hídricos dos ecossistemas.
Editado em 1965, e substancialmente reformulado em 1989, o Código Florestal, constitui-se até hoje na peça fundamental de uma legislação ambiental reconhecida com uma das mais modernas do mundo. Ainda passível de aperfeiçoamentos como qualquer legislação, o Código Florestal é um arcabouço legal fundamental na manutenção de paisagens multi-funcionais que permitam seu aproveitamento tanto para a produção de alimentos, fibras e bioenergia; como também para preservação e manutenção dos ecossistemas, com amplos benefícios para toda a população.
Baseando-se na premissa errônea de que não há mais área disponível para expansão da agricultura brasileira, o Congresso brasileiro propôs, recentemente, uma reformulação do antigo Código Florestal.
Infelizmente, a reformulação desse Código não foi feita sobre a égide de uma sólida base científica, pelo contrário, a maioria da comunidade científica não foi sequer consultada e a reformulação foi pautada muito mais em interesses unilaterais de determinados setores econômicos.
Em decorrência, a comunidade científica brasileira se encontra extremamente preocupada frente às mudanças propostas, pois esta comunidade antevê a possibilidade de um aumento considerável na substituição de áreas naturais por áreas agrícolas em locais extremamente sensíveis como são as áreas alagadas, a zona ripária ao longo de rios e riachos, os topos de morros e as áreas com alta declividade.
As mudanças do Código Florestal igualmente poderão acelerar a ocupação de áreas de risco em inúmeras cidades brasileiras, estimular a impunidade devido a ampla anistia proposta àqueles que cometeram crimes ambientais até passado recente e a oportunidade de Estados brasileiros utilizarem a prerrogativa de legislar sobre temas ambientais para atrair futuros investimentos associados a mais degradação ambiental no meio rural. 
Esta substituição levará, invariavelmente, a um decréscimo acentuado da biodiversidade, a um aumento das emissões de carbono para a atmosfera, no aumento das perdas de solo por erosão com consequente assoreamento de corpos hídricos, que conjuntamente levarão a perdas irreparáveis em serviços ambientais das quais a própria agricultura depende sobremaneira, e também poderão contribuir para aumentar desastres naturais ligados a deslizamentos em encostas, inundações e enchentes nas cidades e áreas rurais.
Assim sendo, a comunidade científica reconhece claramente a importância da agricultura na economia brasileira e mundial, como também reconhece a importância de aperfeiçoar o Código Florestal visando atender a nova realidade rural brasileira.
Entretanto, entendemos que qualquer aperfeiçoamento deva ser conduzido à luz da ciência, com a definição de parâmetros que atendam a multi-funcionalidade das paisagens brasileiras, compatibilizando produção e conservação como sustentáculos de um novo modelo econômico que priorize a sustentabilidade.
Desta forma podemos chegar a decisões consensuais, entre produtores rurais, legisladores, e a sociedade civil organizada, pautadas por recomendações com base científica, referendadas pela academia e não a decisões pautadas por grupos de interesses setoriais, que comprometam de forma irreversível nossos ecossistemas naturais e os serviços ambientais que desempenham."

quarta-feira, 14 de julho de 2010

Vejam como agem os #@%$&* da Bancada Ruralista

"Não vote em quem mata Florestas"!

Nessa terça-feira, frente ao tratoraço dos ruralistas para aprovar o relatório de Aldo Rebelo, nós, do Greenpeace, organizamos um protesto dentro da Câmara dos Deputados, durante a reunião da Comissão Especial criada para analisar mudanças no Código Florestal. Soamos sirenes para alertar toda a sociedade e a mídia sobre o perigo que ronda nossas florestas.
Um banner com os dizeres “Não vote em quem mata florestas” parou a sessão por alguns minutos veja no vídeo.

O resultado foram três ativistas agredidas física e verbalmente pela segurança da casa, fotos e matérias nos grandes veículos do país sobre o assunto e uma sociedade atenta à decisão dos deputados. O texto final, aprovado por 13 votos a 5, dá muito poder aos estados, joga a conta da preservação para todos os brasileiros, e premia com anistia quem cometeu crimes ambientais. Saiba mais.

A aprovação na comissão especial, contudo, não é o fim de um processo. Daqui, o texto do relatório ainda percorre um bom caminho na Câmara e no Senado. Ele deve ser mudado, disputado, e ser pauta de muitos debates públicos, a começar pelas eleições. E seu papel, ciberativista, será mais que decisivo nesse momento, já que durante o período eleitoral a sociedade deverá exigir o que é interesse do Brasil.

Entenda o caminho já percorrido pelo relatório.

Fique de olho. Veja abaixo quem votou contra e à favor do relatório de Aldo e continue acompanhando conosco os próximos passos da campanha em defesa das florestas. Compartilhe também essas informações com seus amigos. Agradeço mais uma vez o seu apoio e engajamento.

Quem votou pela mudança do Código Florestal:
Aldo Rebelo
AnselmoAnselmo De Jesus (PT-RO)E-mail: dep.anselmodejesus@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Duarte NogueiraDuarte Nogueira (PSDB-SP)E-mail: dep.duartenogueira@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
EduardoEduardo Seabra (PTB-AP)E-mail: dep.eduardoseabra@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Ernandes AmorimErnandes Amorim (PTB-RO)E-mail: dep.ernandesamorim@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
HomeroHomero Pereira (PR-MT)E-mail: dep.homeropereira@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Luis CarlosLuis Carlos Heinze (PP-RS)E-mail: dep.luiscarlosheinze@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Marcos MontesMarcos Montes (DEM-MG)E-mail: dep.marcosmontes@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Moacir MichelletoMoacir Micheletto (PMDB-PR)E-mail: dep.moacirmicheletto@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Moreira MendesMoreira Mendes (PPS-RO)E-mail: dep.moreiramendes@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Paulo PiauPaulo Piau (PPS-MG)E-mail: dep.paulopiau@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Reinholds StephanesReinhold Stephanes (PMDB-PR)E-mail: dep.reinholdstephanes@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Valdir ColattoValdir Colatto (PMDB-SC)E-mail: dep.valdircolatto@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados

Quem votou contra a mudança do Código Florestal:
Dr. RosinhaDr. Rosinha (PT-PR)E-mail: dep.dr.rosinha@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Ivan ValenteIvan Valente (PSOL-SP)E-mail: dep.ivanvalente@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Sarney FilhoSarney Filho (PV-MA)E-mail: dep.sarneyfilho@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Ricardo TripuliRicardo Tripoli (PSDB-SP)E-mail: dep.ricardotripoli@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
Rodrigo RollembergRodrigo Rollemberg (PSB-DF)E-mail: dep.rodrigorollemberg@camara.gov.br
Página na Câmara dos Deputados
  
Rafael Cruz
Rafael Cruz
Rafael Cruz
Coordenador de campanha
Greenpeace

quarta-feira, 7 de julho de 2010

Participação da Agricultura Familiar na Alimentação do Povo Brasileiro

O Código Florestal Brasileiro considera as diferentes formas de agricultura que existem em nosso país. Dessa forma, ao analisarmos a agricultura camponesa, familiar ou posse rural familiar (este último como é denominado no código florestal) percebe-se a importância que elas possuem na produção de alimentos em nosso país como é notável no último censo agropecuário (IBGE, 2006) que afirma que a agricultura familiar é responsável por 87% da produção nacional de mandioca, 70% da produção de feijão, 46% do milho, 38% do café, 34% do arroz, 58% do leite, 59% do plantel de suínos, 50% das aves, 30% dos bovinos e 21% do trigo; além de 75% da mão-de-obra no campo.

ABEEF lança cartilha sobre Código Florestal

Fonte: MST - Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra

30 de março de 2010


A Associação Brasileira dos Estudantes de Engenharia Ambiental (ABEEF) lançou uma cartilha que analisa uma das mais de trinta propostas de alteração do Código Florestal tramitando no Congresso Nacional, o Projeto de Lei (PL) nº 5367 de 2009, de autoria do Deputado Federal Valdir Colatto.
O texto denuncia as mentiras e táticas utilizadas pelos latifundiários para flexibilizar a legislação ambiental, "de forma que possam continuar sua devastação do território nacional e promover a manutenção da hegemonia do agronegócio", afirma a entidade.
"A legislação ambiental brasileira é considerada avançada por muitos no que tange a preservação do meio ambiente. A propagação da idéia de que o Código Florestal (Lei 4771/65) não permite a relação harmoniosa entre a natureza e o ser humano no campo, faz parte do cenário de disputa em favor do desmonte da legislação ambiental. No campo brasileiro, essa legislação não permite uma agricultura baseada nos princípios da Revolução Verde, muito embora as leis não tenham se concretizado em ações efetivas de contenção do agronegócio", diz a cartilha.
Leia e baixe a cartilha na íntegra no arquivo anexo.
AnexoTamanho
Cartilha Código Florestal - ABEEF - Março 2010.pdf2.64 MB

Comissão dos políticos da bancada ruralista aprova destruição das Florestas Brasileiras

A candidata Marina Silva (PV) afirmou hoje que, se eleita para a Presidência da República, vetará o projeto de lei que altera o Código Florestal Brasileiro e flexibiliza as regras para a preservação ambiental. A proposta de reforma foi aprovada ontem em comissão especial da Câmara dos Deputados. A votação no plenário só deve ocorrer após as eleições e o projeto ainda será analisado pelo Senado. Marina, ex-ministra do Meio Ambiente, classificou o texto aprovado como um "grande retrocesso" na legislação ambiental.

Acima, cena dos políticos corruptos, de costas para a imprensa, aprovando a aberração "legal" que destrói todo o esforço de 50 anos de luta pela preservação de nosso meio ambiente. Ocultam-se do povo que, sem saber que são inimigos públicos da Nação brasileira, neles votará nas próximas eleições!

Mais uma vez, o Congresso Nacional age em benefício próprio e dos interesses pequenos dos grandes latifundiários do país, jogando no lixo nossa principal legislação ambiental e abrindo brechas para que nossas florestas e rios sejam dizimados impunemente. Aliás, impunidade é o sinônimo da atuação dos parlamentares brasileiros, em qualquer nível: federal, estadual ou municipal. Como já alertei quando da aprovação do "Ficha Limpa", nada mudou para esse corruptos; continuarão agindo à margem das leis, certos de sua impunidade. Prova disso é que o próprio TSE já liberou vários políticos, como Heráclito Fortes, para disputar as próximas eleições, mesmo estando enquadrados na nova lei recém-aprovada e referendada pelo TSE.

Muitos dos membros (senão todos) dessa comissão são grandes proprietários rurais e foram condenados por crimes ambientais. Com essa "revisão" do Código Florestal, seus crimes deixam de existir. Perdão, nesse país, só para os latifundiários e membros da Bancada Ruralista! Parabéns, senhores parlamentares! Vocês conseguiram desfechar o mais destruidor golpe contra as áreas de preservação de nosso país! Agora, milhões de hectares de floresta nativa poderão ser derrubadas, queimadas, destruídas, transformadas em CO2, sem que isso represente crime ambiental! Vergonha Nacional! Isso depois que Lula prometeu ao mundo, em dezembro de 2009, em Kopenhagen, que o Brasil seria o exemplo de redução de emissões de dióxido de carbono, gás que se desprende das queimadas na Amazônia e contribui para o efeito estufa!

O BRASIL AGORA ESTÁ DE LUTO.
Pelo menos nós, os ambientalistas e amantes da NATUREZA, estamos!
http://www.greenpeace.org.br/codigoflorestal/slideshow.php

A FLORESTA AMEAÇADA

Esse artigo foi publicado meses antes da aprovação da proposta de Micheletto ocorrida ontem, dia 6 de julho de 2010.


Fonte: Greenpeace

Proposta de alteração do Código Florestal Brasileiro ameaça grandes ecossistemas

Considerado o país de maior biodiversidade do mundo, o Brasil tem sua riqueza natural constantemente ameaçada. A área de desmatamento na Amazônia, por exemplo, vem crescendo anualmente e a exploração ilegal de madeira ameaça a preservação da maior floresta tropical do mundo.

Elaborado em 1965, o Código Florestal Brasileiro regulamenta a proteção e uso dos ecossistemas florestais e demais forma de vegetação naturais do País. A atualização do dispositivo torna-se necessária em decorrência da devastação de grandes áreas florestais nativas e da ocupação desordenada de terras, além da necessidade de incorporar novos conceitos relativos ao desenvolvimento sustentável.

Desde o final de 1999, a bancada ruralista do Congresso Nacional - representada pelo deputado federal Moacir Micheletto (PMDB-PR) e pela Confederação Nacional da Agricultura (CNA) - vem articulando a aprovação de um projeto de lei que altera o novo Código Florestal Brasileiro. Se aprovado, o projeto do deputado paranaense permitira o desmatamento de até 80% da área de propriedades localizadas no Cerrado e de até 50% de propriedades na Amazônia.

A proposta dos ruralistas extingue conquistas ambientais obtidas há mais de 30 anos. Além de permitir a ampliação legal do desmatamento, o projeto reduz e, em alguns casos, elimina as Áreas de Preservação Permanente – responsáveis pela preservação e conservação dos recursos hídricos. O projeto ainda permite plantios florestais homogêneos de espécies exóticas – como o pinus e eucalipto – em áreas de Reserva Legal, destinadas atualmente à manutenção e manejo racional de florestas nativas.

O projeto do deputado Micheletto apoia-se no argumento de que o desenvolvimento econômico das regiões Centro-Oeste e Norte do Brasil só será possível com a pecuária extensiva e a abertura de novas áreas para a monocultura – como plantio de soja e algodão.

No entanto, tal argumento não se sustenta quando se leva em conta, por exemplo, a aptidão agrícola da região amazônica, seu histórico de desmatamento e a velocidade na queda de produtividade das áreas já abertas. Só na Amazônia legal existem, hoje, mais de 16 milhões de hectares de terras desmatadas e em estado de degradação e abandono. Além disso, outros grandes ecossistemas brasileiros – como o Cerrado, Manguezais e Mata Atlântica – estão ameaçados pelo projeto do deputado Micheletto.

Em contrapartida, o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama) aprovou, em março do ano passado, uma proposta alternativa para alteração do Código Florestal, garantindo que 80% da área total das propriedade particulares na Amazônia seja destinada à Reserva Legal. Além disso, a proposta do Conama institui a Cota de Reserva Legal como instrumento de compensação econômica aos proprietários que quiserem proteger uma área de mata nativa maior do que o mínimo exigido.

Tal proposta, apoiada pelo Greenpeace e diversas outras organizações ambientalistas, é o mínimo ambientalmente aceitável e demonstra a vontade da sociedade civil brasileira em compatibilizar um modelo de desenvolvimento agropecuário com a conservação dos recursos naturais para as gerações futuras, promovendo o desenvolvimento sustentável das nossas florestas naturais.

De acordo com uma recente pesquisa de opinião realizada pela WWF-Brasil e ISER, preservar a floresta é a primeira prioridade da população da Amazônia. Mais da metade (59%) dos entrevistados não estão dispostos a ter mais poluição mesmo que isso signifique mais empregos e 69% não consideram o progresso mais importante do que conservar a natureza.

Mais um round na luta pela preservação da Amazônia

A comissão parlamentar mista, formada para converter em lei a medida provisória nº 2.080-60, reuniu-se no último dia 21 de março para definir um cronograma de trabalho. Na prática, a definição de uma nova agenda de trabalho significa a retomada efetiva dos trabalhos da comissão, paralisados desde maio do ano passado, quando a aprovação do texto do deputado Micheletto gerou forte reação da opinião pública. No entanto, a comissão parlamentar mista não foi alterada – contrariando determinação do Colégio de Líderes do Congresso – e continua sendo composta por maioria ruralista e presidida pelo Senador Jonas Pinheiro (PFL-MT).

De acordo com o cronograma definido na reunião, um grupo de parlamentares visitará Rio Branco (AC) e Jiparaná (RO) nos dia 19 e 20 de abril para conhecer de perto dois diferentes tipos de zoneamento econômico-ecológico aplicados na região amazônica. Por sugestão do deputado Micheletto, a mesma comissão deve visitar, ainda em abril, a cidade de Toledo (PR) para verificar a realidade dos produtores rurais na região.

O zoneamento econômico-ecológico, previsto tanto no projeto de lei elaborado pelo Conama quanto na proposta apresentada pelo deputado paranaense, é um instrumento que define a aptidão das terras contidas em cada propriedade. O zoneamento pode permitir a redução da área de reserva legal em nome do desenvolvimento econômico da região ou definir áreas de preservação essenciais ao equilíbrio e manutenção de ecossistemas naturais ameaçados. Este instrumento, que já vem sendo aplicado sob diferentes formas na região amazônica (como nos estados do Acre e Rondônia) pode tanto servir de brecha a atividades econômicas inescrupulosas como garantir a manutenção de ecossistemas ameaçados, dependendo dos critérios e padrões utilizados.

Antes de ser votada pela comissão mista, Micheletto pretende apresentar a proposta para discussão em audiência pública junto à Câmara Técnica do Conama, responsável pela reformulação do Código Florestal. Com isso, a comissão pretende ter um projeto de conversão negociado para ser votado no plenário do Congresso no final de maio.

Pontos que ameaçam a Reserva Legal

O projeto apresentado pela bancada ruralista sugere que a reserva legal tem a única função de estoque de madeira para uso econômico, além de autorizar que ela seja composta por plantios homogêneos de espécies exóticas (como pinus e eucalipto), inviabilizando o equilíbrio ecológico do ecossistema.

A proposta do deputado Micheletto também diminui a área de reserva legal de propriedades particulares na Amazônia legal de 80 para 50%, podendo ser reduzida até 25% de acordo com os resultados de estudos do zoneamento ecológico-econômico; e de 35 para 20% em áreas de cerrado nos estados do Mato Grosso, Maranhão, Pará, Rondônia e Tocantins.

A proposta prevê ainda a dispensa de averbação da área de reserva legal de pequenas propriedades, além da possibilidade de desaverbação e realocação de reserva legal de uma propriedade para outra, dificultando o monitoramento e fiscalização da existência, conservação e recuperação das áreas de reserva legal. Áreas com intensa atividade agropecuária e sem cobertura florestal nativa poderiam continuar assim, pois os proprietários poderiam ter a reserva legal em outras regiões. Cabe salientar que as pequenas propriedades são predominantes no sul do país e a vegetação nativa remanescente se encontra, hoje, em pequenos fragmentos dentro destas propriedades.

Pontos que ameaçam a Área de Preservação Permanente

Em total desacordo com a função de proteção de recursos hídricos e conservação do solo das Áreas de Preservação Permanente, o projeto do deputado Micheletto determina que tais áreas, já desmatadas ilegalmente, possam ser utilizadas sem restrições, desobrigando assim sua recuperação.

A proposta também dispensa as áreas urbanas da necessidade de proteção das Áreas de Preservação Permanente, agravando problemas de grandes cidades, como enchentes, deslizamentos de terra e assoreamento dos rios.

Micheletto sugere ainda que a construção de estradas e canais de derivação, instalação de máquinas e equipamentos de sistema de exploração de atividade produtiva são empreendimentos de baixo impacto ambiental e, portanto, podem ser implementados – sem restrições.

segunda-feira, 5 de julho de 2010

A herança de Luiz Inácio para o Meio Ambiente

O Brasil ainda é a maior nação do mundo se considerados apenas seus recursos naturais: as maiores bacias hidrográficas, o maior rio do mundo em extensão e em volume de águas, a maior floresta do mundo, a maior bio-diversidade do mundo, a maior diversidade de biomas do mundo, as maiores reservas de minérios do mundo, o maior reservatório de águas subterrâneas do mundo (aquíferos), a maior extensão de praias tropicais do mundo, a maior diversidade de pássaros, peixes e plantas medicinais do mundo... parece que somos imbatíveis na Natureza!

Mas tudo isso pode acabar em poucas décadas! Isso porque Luiz Inácio deixou passar muitas oportunidades que teve para ser lembrado por toda a eternidade por suas conquistas na defesa do Meio Ambiente. Ao invés disso, optou por privilegiar as "plantations" (imensas extensões de terras cultivadas sob o regime de monoculturas) e os latifundiários, que representam menos de 5% dos lavradores de nosso país. A monocultura esgota rapidamente os nutrientes do solo e exige altos investimentos em mecanização, agrotóxicos e processos logísticos; além disso, sua produção destina-se prioritariamente à industrialização e à exportação, não atendendo à demanda interna por alimentos, que precisa ser suprida pelos milhões de micro e pequenos lavradores, com muito menor impacto ambiental. Luiz Inácio, infelizmente, escolheu o mau caminho.

Quando Marina Silva deixou o Ministério do Meio Ambiente a pequena mas poderosa ($$$) bancada ruralista percebeu que era o momento de agir; constituiu uma comissão para rever o Código Florestal e toda a legislação ambiental construída nos últimos 50 anos! Viu nessa comissão sua tábua de salvação, eximendo-se da responsabilidade pela recuperação de terras degradadas pela agricultura e pela pecuária, e livrando-se das multas pelos crimes ambientais praticados ao longo de cinco décadas! Tudo isso numa só cartada!

Além dessa imensa brecha aberta pelo PT e seus aliados, o governo de Luiz Inácio implementou políticas equivocadas de energia, comprometendo a existência de um de nossos mais importantes recursos hidrográficos, o rio São Francisco e seus afluentes, ameaçados por mais de 100 (cem) barragens e pequenas centrais hidrelétricas para favorecer o agronegócio. Apenas no rio São Francisco já existem sete imensas barragens que armazenam mais de 50% de toda água doce do nordeste e estão previstas mais três barragens no submédio e baixo São Francisco. Essa enorme quantidade de águas, no entanto, está fadada à evaporação, não cumprindo seu papel de irrigar as terras ribeirinhas e resgatar o povo nordestino das mazelas da seca.

Ao contrário, Luiz Inácio decidiu contra todas as evidências e opiniões dos especialistas e deu início à sua mais polêmica obra: a Transposição das águas do rio São Francisco, não para mitigar a sede do povo nordestino, mas para abastecer outros reservatórios e assegurar água para os grandes investidores do agronegócio em Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte. Os canais da transposição passarão no meio das pequenas propriedades ribeirinhas que padecem, ano após ano, da implacável seca, sem que deles possam tirar sequer uma gota d'água para seu consumo, irrigação ou sua criação de animais.

A Amazônia continua queimando um campo de futebol por minuto, enquanto as estatísticas governamentais alardeiam vitórias na pífia redução dos percentuais de devastação sistemática. No lugar de florestas, pastos, soja e campos devastados! Com a ajuda da Embrapa, ensinam os agricultores a plantar eucalipto e consorciar essas "florestas" com plantio de soja e criação de gado! Isso, sem falar das usinas hidrelétricas de Belo Monte, no rio Xingu, e de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira.

Os estados do Pará e Mato Grosso já têm muito pouco a preservar dessa imensa floresta. Parte dela é derrubada para dar lugar a projetos de mineração, não raras vezes desenvolvidos para atender às necessidades de países emergentes, como a China e a Índia, que já acabaram com suas florestas.

Campos de pouso e estradas particulares, sem autorização do IBAMA, são construídos para dar vazão a essa produção em massa, que não atende aos interesses do nosso país, mas sim a ambições individuais de poderosos, grileiros, posseiros a serviço do agronegócio. Tudo sob as vendas dos olhos cegos do poder central, sob a omissão tácita do IBAMA, da Justiça, do Presidente e do Exército Brasileiro.

O que Luiz Inácio deixará para seu sucessor no campo ambiental? Um imenso passivo que nunca poderá ser resgatado, pois o que o homem destrói, a Natureza jamais reconstruirá!

domingo, 4 de julho de 2010

Votorantim continua causando Mortandade de peixes no rio São Francisco


As constantes denúncias feitas pelos pescadores da Bacia do São Francisco, movimentos e pastorais sociais, sobre a mortandade de peixes no trecho alto/médio São Francisco devido à contaminação de metais pesados provocada pela Votorantim Metais de Três Marias não são infundadas, como defendeu recentemente a Associação Mineira de Defesa do Ambiente - AMDA em nota publicada no dia 10 de fevereiro de 2009 no site da instituição (www.amda.org.br). A posição desta instituição não nos surpreende, pois um de seus sócios jurídicos especiais é a Companhia Mineira de Metais (CMM), antigo nome da Votorantim Metais (www.amda.org.br/base/socios_juridicos). Ressaltamos que esta entidade “representa” a sociedade civil no Conselho Estadual de Política Ambiental (COPAM). Manifestamos nosso repúdio a este tipo de entidade “ambientalista”, que fugindo dos princípios éticos de defender o meio ambiente, defende os interesses empresariais. 
Analisemos um breve histórico sobre o problema:
A Votorantim Metais em Três Marias iniciou sua produção em 1969; desta data até 1983 lançou todos os dejetos resultantes da produção de Zinco, no córrego Consciência, afluente do Rio São Francisco (desde 1973 relatórios de diversos órgãos como o Departamento Nacional de Águas e Energia Elétrica – DNAEE, Fundação Centro Tecnológico de Minas Gerais – CETEC, Serviço Geológico do Brasil – CPRM e Conselho Estadual de Política Ambiental – COPAM, indicaram a grave contaminação causada pela empresa).
Atualmente existe no Córrego Consciência uma quantidade enorme de rejeito acumulado em suas barrancas. Destaca-se a presença de um material vermelho, que revolvido, colore a água ficando exposto ao ecossistema 24 horas por dia, problema ambiental, que até hoje não foi solucionado pela empresa.
Após várias denúncias a empresa construiu uma barragem de contenção de rejeitos às margens do Rio São Francisco, em Área de Preservação Permanente (APP), o que não é legal e nem ético. Hoje apresenta em seus arredores, incontáveis manchas brancas, denominadas “sulfatação”, indicativos de vazamento. Nenhuma solução foi eficientemente implementada.
Em 2002, a Votorantim iniciou o processo de licenciamento ambiental para a construção de uma nova Barragem no leito do córrego Lavagem, área que apresentava uma geologia inadequada, com formação rochosa de granito susceptível à infiltração, dentre outros problemas constatados. A licença foi concedida à Votorantim, mediante aplicação de uma manta de polietileno de alta densidade, conhecida pela sigla PAD que se estenderia da parede interna da barragem a uma distância de 200 metros.
A empresa iniciou a construção da barragem sem utilizar a manta indicada no processo de licenciamento; mesmo assim obteve a liberação da obra pelo COPAM, ignorando as recomendações dos técnicos da Fundação Estadual do Meio Ambiente (FEAM), Robson Adriano Martins e Arnaldo Abranchees Batista, que recomendaram retroagir o processo à fase de licença de instalação, para melhor discussão da segurança do novo projeto, tendo em vista que a aplicação da manta de polietileno para resíduos perigosos é uma exigência da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT).
Após a construção da barragem, ocorreram inúmeros vazamentos. À medida que a contaminação avançava pelo leito e pelas margens do Córrego, a Votorantim construía caixas de concreto para barrar o liquido tóxico. Um sistema automático de bombas leva, intermitentemente, a água de volta à barragem. Atualmente funcionam quatro caixas que praticamente secaram o córrego numa extensão aproximada de 600 metros.
Em algumas medições determinadas pela FEAM, foi constatada toxicidade aguda no Ribeirão Espírito Santo que recebe as águas do Córrego Lavagem antes de desaguar no São Francisco. A poluição por metais se mostra visível no leito do córrego, formando uma poeira branca de sulfatos. Sinais de corrosão podem ser vistos nas pedras. Em dezembro de 2005 houve uma pane nas bombas, que provocou o transbordamento de uma das caixas de concreto causando um desastre córrego abaixo.
O problema pode ser constatado em uma propriedade situada abaixo da barragem, cujo proprietário fez diversas denúncias sobre o problema. Freqüentemente a Votorantim retira toneladas de sulfatos que se acumulam no leito do córrego Lavagem. Em visita ao local, verificamos que a empresa construiu mais um metro de barramento para aumentar sua vida útil, sem resolução para o passivo ambiental instalado.
Pesquisas e análises são realizadas em torno da mortandade de peixes na região do Alto-médio São Francisco. As mortes vem ocorrendo desde a instalação da Votorantim, agravadas em alguns períodos, como em 2004 a 2006.
Relatórios confirmam altíssimos índices de contaminação por metais pesados, como Zinco, Chumbo, Arsênio e Cádmio – análises feitas pelo Sistema Estadual de Meio Ambiente - SISEMA – demonstram que a água do Córrego Consciência – afluente direto do rio São Francisco – apresenta número 5.280 vezes acima dos limites permitidos. Este índice de metal pesado viola os padrões de qualidade da água – classe II – estabelecido pela Resolução do CONAMA 357/05.
Relatórios realizados pelo SISEMA (assinados pela FEAM, IEF e IGAM) indicam que a contaminação da Votorantim “é a principal causa da mortandade de peixes” – a água, os sedimentos e os peixes identificam altos índices de contaminação, cujos efeitos são constatados na fisiologia dos exemplares avaliados. Estudos realizados pelo Laboratório de Biogeoquímica Ambiental da Universidade de São Carlos também apontam para isso. Portanto, há um conjunto de informações que são inequívocos sobre a contaminação por metais pesados, na água, peixes e sedimento.
A empresa Votorantim refuta de forma sistemática que a causa da morte dos peixes é a contaminação por metais pesados. Sabemos dos graves danos sociais e econômicos que causa à população ribeirinha esse crime ambiental. Por isso o denunciamos ao Poder Judiciário, Ministério Público e sociedade.
Para manter sua defesa, a Votorantim contrata empresas, laboratórios, pesquisadores especializados, coopta o poder público local e organizações da sociedade civil – neste caso, financiando pequenos projetos de preservação ambiental abafando o problema. Assim, a empresa Votorantim defende o argumento de que “a morte de peixes na bacia do São Francisco é um problema multifatorial, representando um reflexo da degradação da bacia como um todo”.
A População Ribeirinha percebe e sente os impactos. Estudos sobre os efeitos que esta contaminação possa causar, ou esteja causando no ser humano, não foram realizados, ficando as comunidades à mercê do jogo de interesses com a única opção: suportar o problema.
Então perguntamos: até quando?
Assinam essa denúncia:
Colônia de Pescadores de Ibiaí Z-20, Colônia de pescadores de Juazeiro Z-60, Projeto Chico Fulo (Buritizeiro), Conselho Pastoral de Pescadores (CPP), Comissão Pastoral da Terra – MG/BA (CPT), Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais, Movimento pelas Serras e Águas de Minas, ASA (Articulação no semi-árido /MG), Cáritas Paracatu, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra de MG, Movimento dos Atingidos por Barragem – MG (MAB), Movimento Capão Xavier Vivo, Centro de Assessoria e Apoio à Iniciativas Sociais-CAIS, Central das Associações do Projeto Extrativista São Francisco (CAPAESF), Movimento Estadual de Trabalhadores Assentados, Acampados e Quilombolas (CETA), Conselho Indigenista Missionário (CIMI/NE), Instituto Regional da Pequena Agropecuária Apropriada (IRPAA,) Universidade do Estado da Bahia (UNEB/Paulo Afonso), Movimento em Defesa dos Direitos Humanos e Meio Ambiente-BH (MDDUMA), Agência 10Envolvimento (Bahia) e Irmãs da Divina Providência - Internacional (Münster- Alemanha).
Observação importante: embora esta notícia tenha sido publicada em 5 de março de 2009, constatamos que o problema continua ocorrendo e nenhuma providência efetiva foi implementada.

sexta-feira, 2 de julho de 2010

Rio São Francisco foi o rio que mais perdeu água na América Latina


O rio São Francisco está perdendo vazão. Pior: o Velho Chico foi o rio que mais apresentou diminuição das águas no último meio século – nada menos que 35% de sua capacidade.
Para se ter uma idéia dessa diminuição, o fluxo de águas na bacia do Amazonas caiu apenas 3,1%, no mesmo período, enquanto outros rios brasileiros apresentaram uma elevação na vazão. Esse é um dos alertas que o coordenador da Comissão Pastoral da Terra da Bahia (CPT), Ruben Siqueira, trouxe para Campina Grande durante a abertura do Encontro de Atingidos e Atingidas pelo Projeto de Transposição do Rio São Francisco, no dia 17 de junho. O evento, realizado na Casa de Encontro São Clemente, no bairro de Bodocongó, contou com mais de cem participantes vindos dos cincos estados nordestinos envolvidos na transposição.

Para Siqueira, o outrora caudaloso São Francisco agora apresenta um panorama agudo, preocupante. “É um rio com todas as evidências de um quadro hídrico crítico, no entanto, o governo continua com esses projetos que privilegiam a produção de cana-de-açúcar para etanol em toda a bacia do São Francisco”. A crítica do coordenador da CPT Baiana faz referência à preferência do projeto de transposição do Velho Chico para irrigação de plantações em detrimento, não raro, ao consumo da água pelo sertanejo da região que o leito transposto vai passar. E mais: pelos números acerca dos reservatórios de água já existentes no semi-árido brasileiro, segundo Ruben Siqueira, a transposição seria um projeto totalmente redundante e desnecessário.

“O semi-árido brasileiro é a região, entre os semi-áridos do mundo, que mais concentrou água, que mais fez açudes. São 70 mil açudes. Há açudes que têm seis bilhões de metros cúbicos de água. São grandes cemitérios de água, porque essas águas estão lá e não estão sendo usadas, ou são usadas pelos grandes latifundiários. Para que, então, exportar água? Alguns falam que a transposição dará segurança hídrica às águas do nordeste. Mas nós perguntamos: aumentar a oferta hídrica para quem? Para fazer o que? A que custo? Qual o desenvolvimento que está por trás da transposição? Esse debate não está sendo feito. Essa água acumulada, por lei, deve ser acessível à população do árido, mas não é”, revela o coordenador.

João Suassuna e a perspectiva do Brasil Real

Quem também participou do Encontro de Atingidos e Atingidas pelo Projeto de Transposição do Rio São Francisco foi o pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, em Pernambuco, João Suassuna. Engenheiro agrônomo e especialista no projeto que transpõe o Velho Chico, Suassuna é autor do livro "A Transposição do Rio São Francisco na Perspectiva do Brasil Real". Para ele, o projeto de transposição não apenas engana o povo como deve acelerar o processo de desertificação no semi-árido nordestino. “Os beneficiários da transposição do São Francisco serão as empreiteiras, os industriais, o grande capital. O povo está sendo iludido, não terá acesso a uma gota d’água sequer da transposição. Não está claro no projeto como essa água sairá das grandes represas para abastecer o povo. Está claro que a água irá caminhar nos 700 km de canais e abastecerá as principais represas do Nordeste, para promover aquilo que as autoridades estão chamando de sinergia hídrica, que é a forma dessas represas não virem a secar.”

Pesquisador das questões envoltas no leito do São Francisco, João Suassuna reforça que a resistência ao projeto de transposição continuará – e este será um ano decisivo nesse cenário. “A resistência continua e essa situação irá se agravar porque, neste ano, teremos eleições. É possível que os candidatos utilizem essa obra como a panacéia da solução de tudo, e não será. Nossa preocupação é essa, é que isso sirva como moeda de troca para voto. Isso, certamente, irá acontecer. Eles irão centrar as campanhas no Nordeste para o abastecimento das pessoas e utilizarão como pano de fundo o projeto da transposição. Mas sabemos que isso terá um engodo, porque o abastecimento das populações não irá se proceder com esse projeto, que vai se utilizar da água para o agronegócio.”

A pesquisa sobre a vazão do São Francisco

A informação sobre a diminuição da vazão do rio São Francisco foi publicada em 15 de maio de 2009 no Journal of Climate, da Sociedade Meteorológica Americana. No estudo, pesquisadores do National Center for Atmospheric Research (NCAR) analisaram dados coletados entre os anos de 1948 e 2004 nos 925 maiores rios do planeta, e concluíram que vários rios de algumas das regiões mais populosas estão perdendo água.

As planilhas dos pesquisadores apontaram que a bacia do São Francisco foi a que apresentou o maior declínio no fluxo de águas entre os principais rios que correm em território brasileiro durante o período pesquisado – uma negativa de 35%. No mesmo período, por exemplo, o fluxo de águas na bacia do Amazonas caiu 3,1%. Outras bacias brasileiras pesquisadas pelos norte americano apresentaram uma elevação na vazão.

* Colaboração de Ruben Siqueira, CPT/BA, para o EcoDebate, 02/07/2010

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