segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

A Eclusa de Sobradinho

Por: Por José Paulo Borges. Fotos de José Augusto Cíndio
Publicado em 18/12/2011
Onde o Velho Chico virou mar
Passeio no Vapor do Vinho dura cerca de duas horas
Quando as cortinas de aço da eclusa da barragem de Sobradinho se abrem, é impossível não se impressionar com o que acontece em seguida. No meio da caatinga, em pleno Rio São Francisco, no interior da Bahia, sob um sol de mais de 30 graus, o espetáculo é deslumbrante. São 4.214 quilômetros quadrados e capacidade para 37,5 bilhões de metros cúbicos de água do segundo maior lago artificial do mundo. O céu sertanejo de um azul-cobalto e os morros ao fundo compõem, com as marolas de meio metro de altura, ou mais, a paisagem onde o Velho Chico vira mar.
Eclusa de Sobradinho (@ José Augusto Cindio)
Eclusa de Sobradinho (@ José Augusto Cindio)
Com 120 metros de comprimento e 17 de largura, a eclusa permite às embarcações vencer o desnível de 32 metros criado pela barragem construída pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), no período de 1973 a 1979.
Eclusa  permite às embarcações subir e descer o desnível de 32 metros entre o rio e lago
O Vapor do Vinho, referência às primeiras embarcações que navegavam pelo São Francisco, impulsionadas a vapor, leva até 50 turistas à eclusa e à Barragem de Sobradinho, à Fazenda Fortaleza, produtora de frutas, e à Vinícola Terranova, ambas no município baiano de Casa Nova.
O passeio dura cerca de oito horas. Cobre um trecho do São Francisco situado a 40 quilômetros das cidades de Petrolina (PE), Juazeiro e Sobradinho (BA). O ônibus – grande, novo e confortável – parte cedo da orla de Petrolina e, após cerca de 50 minutos de viagem, para na vinícola. Os visitantes são conduzidos por guias da Terranova para conhecer o processo produtivo. Ao final, podem degustar, ou comprar, vinhos, espumantes e brandy num elegante salão. A etapa seguinte, uma incursão à Fazenda Fortaleza, produtora de uvas e mangas para exportação, termina igualmente em degustações. Já por volta do meio-dia, o grupo é conduzido à barca para o retorno a Petrolina.
  • Roteiro: 8h30, saída da orla portuária de Juazeiro (BA)-Petrolina (PE), via rodoviária, até o porto de Chico Periquito, em Sobradinho (BA); 10h, embarque no Vapor do Vinho em direção à eclusa; 13h, chegada à Fazenda Fortaleza; 14h, chegada à Vinícola Terranova; 17h, chegada prevista às orlas de Juazeiro e Petrolina.
No meio do caminho, a passagem pela eclusa é um espetáculo fascinante. O trajeto que leva a embarcação, para baixo ou para cima, é uma experiência de encher os olhos. Inaugurada em 1978, a eclusa é um reservatório em forma de câmara que possibilita, pelo enchimento e pelo esvaziamento, que uma embarcação transponha a diferença de nível. O desnível de pouco mais de 32 metros da represa está entre os quatro maiores no mundo.
No retorno, durante as cerca de quatro horas finais da viagem, os visitantes recebem no rosto a brisa do Velho Chico e são brindados com a paisagem das margens baiana e pernambucana do rio. De quebra, desfrutam a excelente comida regional de bordo – com direito a bode cozido e peixes do São Francisco –, incluindo petiscos e bebidas variadas. A hospitalidade e a diversão prosseguem. Pouca gente resiste à tentação de mexer os quadris, embalada pelos ritmos de uma banda regional.

Adeus Remanso, Casa Nova, Sento Sé, Pilão Arcado...

Represa de Sobradinho formou o segundo maior lago artificial do mundo (foto: @ José Augusto Cindio)
Represa de Sobradinho formou o segundo maior lago artificial do mundo
(foto: @ José Augusto Cindio)
Sertão baiano, 1978. Com a subida de nível das águas do Rio São Francisco, o lago formado para a construção da represa de Sobradinho atingiu sua capacidade máxima, afogando as cidades de Remanso, Casa Nova, Sento Sé e Pilão Arcado, 26 povoados e uma imensa extensão de terras agricultáveis. Mais de 70 mil pessoas foram desalojadas. A imagem daquele dilúvio repentino e as promessas de fartura e oportunidades em outros assentamentos, distantes, acenadas pela Companhia Hidro Elétrica do São Francisco (Chesf), responsável pela barragem, convenceram os ribeirinhos a deixar suas terras.
Os “beraderos“ ou “barranqueiros” tinham forte relação de sobrevivência com o rio. Cerca de 6.000 famílias foram transferidas para o Projeto Especial de Colonização Serra do Ramalho, em Bom Jesus da Lapa, a 700 quilômetros de onde viviam. Receberam glebas de 25 hectares, sem irrigação. Passados alguns anos, muitos não se adaptaram, transferiram sua terra para terceiros e tentaram voltar, inchando as periferias do Vale do São Francisco. A hidrelétrica de Sobradinho foi orçada em US$ 870 milhões (valores de dezembro de 1979). Os custos sociais e ambientais são incalculáveis.

2 comentários:

Semnomedeblog disse...

Muito bem escrito, parabéns. Deu uma vontade de estar aí...

Semnomedeblog disse...
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