A perda da vazão natural afeta populações ribeirinhas e a reprodução de várias espécies de peixes
“O rio São Francisco é, hoje, um cano com água, que atende prioritariamente ao setor hidrelétrico.” A denúncia é do presidente da Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco – Canoa de Tolda e coordenador da Câmara de Baixo do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Carlos Eduardo Ribeiro Júnior. Para manter nove usinas em operação, o regime hídrico da bacia do rio passou a ser controlado tecnologicamente, alterando a vazão natural.
Segundo Carlos Júnior, o problema teve início há 30 anos, com a instalação da usina de Sobradinho (BA), que teria afetado o ciclo das cheias e prejudicado as comunidades ribeirinhas do Baixo e do Médio São Francisco, tradicionais agricultoras de arroz, milho e feijão. “Todo mundo sabia que com a usina o rio ia mudar, isso era óbvio, mas a primeira preocupação foi com a geração de energia elétrica”, relata ele.
O controle hídrico artificial do rio também afetou a reprodução das espécies de peixes da região, chamadas de ictiofauna. “Com a vazão regularizada, mas sem a pulsação natural, as lagoas marginais estão secas. Por causa das barragens, o sedimento, aquela massa cheia de matéria orgânica e nutrientes naturais, acabou. O normal era termos uma água barrenta, não essa que parece de piscina”, ressalta o presidente da Canoa de Tolda.
Além dos impactos provocados pelas usinas hidrelétricas, a própria população local também tem participação no agravamento da situação atual, na região do Baixo São Francisco. A ocupação desordenada das margens e o desmatamento têm ocasionado um processo de erosão e assoreamento graves, de acordo com Carlos. “Observamos um retrocesso da linha costeira, porque não há mais sedimentos. O rio não está mais contribuindo para estabilizar o litoral Norte de Sergipe.”
A principal reivindicação da Sociedade Socioambiental do Baixo São Francisco e do CBHSF, atualmente, é a vazão ambiental, que significa a recuperação das condições originais de vazão do rio.
“Também queremos participar dos processos de licenciamento de barragens, o que ainda não acontece. As hidrelétricas acreditam que contribuem com o rio por meio do pagamento de impostos, mas o dinheiro não compensa os prejuízos provocados até agora”, salienta o presidente.