sábado, 27 de junho de 2009

Natureza Selvagem

Intensas emoções, monótonas belezas... Complexos universos, paisagens imutáveis... Contemplativo campo onde as batalhas nunca terminam; não há vencidos ou vencedores, não há heróis nem coadjuvantes...
Uma garça é qualquer garça... milhares de árvores se confundem em nossa percepção limitada da realidade... tudo igualmente verde; tudo igualmente difuso...
Aqueles patos mandarins teriam sido sempre os mesmos durante toda a viagem? Não importa? A água que flui incessantemente no mesmo lugar seria a mesma água todos os dias, todas as horas, o tempo todo? Aquela que chega à foz, de onde veio, afinal?
Em nossos mundos individuais tudo tem nome, endereço, origem... e nos diferenciamos pelo olhar, pela voz, pelo movimento, pelas palavras... até mesmo pelas roupas!
Seríamos, deveras, diferentes? Mudamos constantemente durante a vida, e aquele que nasceu, no momento seguinte já não mais existe...
Quando partir não serei eu mesmo e, no entanto, aqui não deixarei meus rastros. E nada levarei, senão as recordações, as imagens registradas na memória... ou nas máquinas digitais... talvez algum pensamento ou emoção escape de mim e corra para a selva, sem que eu possa perceber. E passe, então, a viver como os outros animais...
Sentirão eles as minhas emoções?
Talvez alguém, daqui a muitos anos, ao passar por aqui, encontre os meus pensamentos, mas eles também não serão os mesmos, pois se tornaram bichos, embrenharam-se nas matas, circularam pelas mentes de outros seres e também se transformaram...
Fará algum sentido, então, esse antigo pensamento? Talvez não... pode ser até que não haja, sequer os animais... as árvores terão caído ou sido derrubadas... talvez o rio esteja seco... casas, pessoas, concreto, asfalto, poluição talvez estejam aqui, em seu lugar...
E aquele pensamento, aqueles sentimentos anacrônicos se perderão para sempre, assim como minhas recordações e as lembranças que porventura tenham de mim... e eu terei sido levado pelo tempo, pelo vento... assim como meus pensamentos...
E minhas palavras se perderão no deserto que ficou por aqui.
Infinita e monótona beleza, é por isso que não resistirás! Não há utilidade na Beleza! Beleza não se produz... Beleza não se consome... ela apenas está aí, enquanto a querem. Não vale a pena lutar por preservar a Beleza...
Por isso, quando te vi, quando contemplei tua vastidão infinita, quedei-me a teus pés e só fiz chorar... haverá, um dia, um mundo sem luz, sem cor, sem pássaros e seu cantar, sem as águas cristalinas de uma cascata, jorrando, sem cessar, o seu frescor e pureza...
Nesse mundo eu não quero estar...

Esse texto fará parte do livro "Meu Velho Chico", a ser publicado ao final da expedição.

[foto: Closé Limongi]

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