segunda-feira, 31 de maio de 2010

Estudos ressaltam importância ambiental do Código Florestal

Jornalistas de São Paulo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Minas Gerais, Brasília e Acre participaram de encontro com especialistas convidados pelas ONGS WWF-Brasil, Greenpeace e SOS Mata Atlântica para debater o Código Florestal. O objetivo do seminário foi possibilitar diferentes visões técnicas acerca da importância desta legislação para a conservação dos ecossistemas terrestres e aquáticos, suas biodiversidades e os serviços ambientais prestados por eles, bem como dos solos e das águas, insumos básicos da agropecuária.

Durante a manhã, o superintendente de Conservação do WWF-Brasil, Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, e o professor e o pesquisador da Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (Esalq), Gerd Sparovek, apresentaram estudos inéditos, complementares e com bases científicas em favor da manutenção do Código Florestal como ele é hoje.

O primeiro estudo, em uma escala de trabalho mais detalhada, foi elaborado por equipe do WWF-Brasil e da Arcplan. O segundo, mais abrangente em termos geográficos, necessitou de cerca de um ano e meio de esforços da equipe da Esalq para reunir, consolidar e analisar base de dados. Nesse momento ele já está em fase de revisão pelos pares para publicação em um periódico científico.

Nas apresentações de WWF-Brasil e Esalq foram abordados os mitos e fatos relacionados aos impactos do Código Florestal na agricultura brasileira. Scaramuzza comentou que um dos mitos em relação ao Código Florestal é de que sua aplicação inviabilizaria a agricultura.

Os fundamentos e resultados da “Análise do impacto da aplicação do Código Florestal em municípios de alta produção agrícola” demonstram exatamente o contrário. O objetivo do estudo do WWF-Brasil foi identificar as áreas de preservação permanente (APPs) e o uso que elas têm em quatro municípios de alta produção agrícola: Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul (maior produtor de uva do Brasil), Três Pontas, em Minas Gerais (segundo principal produtor de café do estado), Vila Valério (número um no ranking de plantadores de café do Espírito Santo) e Fraiburgo (líder no cultivo de maçã em Santa Catarina).

A conclusão a que se chegou, após análise de todas as APPs, é que a implementação do Código Florestal tal qual é definido atualmente, teria um impacto irrisório em torno de 1,5%, na produção agrícola desses municípios. Esse número foi determinado após mapeamento de alta resolução sobre a quantidade de lavoura que existe nas APPs nos respectivos municípios. Isto indica, em outras palavras, que o argumento em favor da flexibilização do Código e redução das APPs para não travar o agronegócio e conseqüentemente o desenvolvimento nacional , usado pela Comissão Especial formada na Câmara Federal, não tem fundamento prático.

“O Código Florestal é uma legislação do futuro. Através dos serviços prestados pelas APPs e reservas legais (RL), além da manutenção da biodiversidade, há a possibilidade de reduzir os riscos causados pela intensificação dos eventos climáticos extremos. O Código Florestal protege as nascentes e os rios, impede a erosão dos solos e os deslizamentos de terra, por exemplo”, avaliou Scaramuzza.

Situação no Brasil


Gerd Sparovek explicou aos jornalistas que o estudo da Esalq teve o objetivo de modelar estatisticamente o uso das terras agrícolas no Brasil, com o objetivo de se avaliar quanto a agricultura pode ser expandida. O estudo é uma parceria entre USP/Esalq, Chalmers University (Suécia), Ministério do Desenvolvimento Agrário e WWF-Brasil.

A partir de uma base de dados sobre a vegetação natural (VN) remanescente no país (em seus mais distintos estágios de conservação, mas predominando pouca ação antrópica e elevada relevância ecológica) pode-se quantificar sua distribuição entre as áreas de APP (declividade e hidrografia) e RL estabelecidas pelo Código Florestal para os diferentes domínios biogeográficos brasileiro, nas unidades de conservação e nas terras Indígenas.

Ao todo, o Brasil tem 537 milhões de hectares (Mha) de remanescentes de vegetação natural.
Desse total, porém, apenas 11%, ou 59 milhões de hectares, estão em áreas de preservação permanente – quando, na verdade, o número deveria chegar à casa dos 103 Mha. Há, portanto, um déficit de 44 Mha, ou 43% de vegetação natural a ser recuperado para atender os requisitos de APPs. Em termos de reserva legal, a não conformidade atingiria no mínimo 43 Mha. Os números e a complexidades desse cenário são expressivos e por isso exige soluções articuladas e diversificadas, que envolvem investimentos e assistência técnica para maior ganho de produtividade e implementação do dispositivo da compensação da reserva legal extra propriedade.

Unidades de conservação e terras indígenas (totalizando 175 Mha) demonstram alto grau de eficiência na conservação, pois 97% apresentam cobertura vegetal natural, representando 32 % de toda a vegetação do país. A conservação de nossos ecossistemas e dos serviços ambientais que eles provêm depende do fortalecimento da presença do Estado na criação, implementação e manutenção de unidades de conservação de domínio e gestão pública.

Segundo Sparovek, 57% da vegetação natural (308 milhões de hectares) constituem o estoque que, dependendo da legislação, pode ser usado para alocação de reserva legal, constituição de área protegida ou abertura de novas áreas agrícolas. Esse estoque representa 3/5 da vegetação natural do país. “O que será feito do estoque, atualmente, depende de ‘pra onde os ventos vão soprar’. A reserva legal é o principal mecanismo de controle legal sobre o estoque de vegetação natural. Daí o interesse na mudança do Código Florestal”, afirmou Sparovek.

“Vamos supor, em uma utopia, que o Código Florestal seja rigorosamente cumprido por todas as propriedades, em todos os biomas. Mesmo assim, ainda teríamos 100 milhões de hectares com possibilidade de desmatamento legal. Desses, 7% tem alta aptidão para a agricultura, e 23% média, podendo mais do que dobrar a área agrícola do Brasil. A pecuária gosta dos terrenos com baixa aptidão também. Caso haja a mudança na legislação e a reserva legal fosse extinta, esta área potencialmente poderia atingir os 308 Mha”, explica Gerd.

O estudo concluiu que o pacto para o desmatamento zero e imediato é viável, pois a produção agropecuária não depende de desmatamento para aumentar sua área de produção ou sua produtividade. Há também possibilidade de expansão da agricultura sobre 60 milhões de hectares de pastagens extensivas, que tem baixa produtividade.

Ficou claro, segundo Gerd, que expansão da agropecuária não depende de mais desflorestamento para atingir maiores índices de produtividade ou até mesmo aumentar as suas áreas de cultivo. Caem por terra, portanto, as principais defesas da Comissão Especial para alterar uma lei criada há 45 anos e que, em pleno século XXI, ainda não foi sequer implementada com eficiência.

sexta-feira, 28 de maio de 2010

Há um ano...

Hoje completa-se um ano do início de minha jornada pelo rio São Francisco. Nesta data, em 2009, eu seguia para São Roque de Minas, na Serra da Canastra, onde se iniciaria minha expedição. Não direi "parece que foi ontem", pois não é verdade; parece mesmo uma eternidade! E hoje me sinto muito distante daquele rio fantástico, que me deu lições de solidariedade e a consciência de que a realidade de nosso país é muito mais trágica do que supomos em nossa lide diária. Sim, pois em nosso pequeno mundo de ilusões ignoramos o que acontece nas áreas mais pobres e carentes dos mais longínquos rincões do planeta. Há um ano eu começava a conhecer o rio São Francisco...

Hoje, um ano depois, tenho uma percepção clara das belezas, dos problemas, das comunidades, da economia que se alimenta de suas águas, da triste intervenção política que desconhece a história e a cultura que se construiram ao longo de cinco séculos e que ameaçam desaparecer com as obras megalomaníacas de personagens que não fazem parte desse contexto e que, no entanto, têm o poder de transformar tudo apenas com uma assinatura no papel de suas vaidades.

Eu acreditava que, depois dessa viagem extraordinária, muitas pessoas, escolas, veículos de comunicação gostariam de saber o que vi, vivi, senti e constatei ao longo do imenso percurso de 2.700 quilômetros. Eu imaginava que meus amigos, meus familiares, as pessoas com quem convivi durante anos quisessem saber o que se passou por meus pensamentos durante esses 100 dias que durou minha viagem.

Mas nada disso aconteceu. É passado! Nada restou senão minhas anotações, meu livro inconcluso à espera da sua publicação. Qual será o destino desse relato? O tempo dirá, mas tenho poucas esperanças de que minha saga sirva de lição para a sociedade. Sim, porque o nosso pequeno mundo só percebe o que lhe convém, o que faz parte de nosso cotidiano, e a maioria dos seres humanos se contenta em deixar o tempo seguir seu curso nas brincadeiras virtuais que amenizam seu isolamento.

Para mim foi o bastante: minha vida não pode ser a mesma, meus caminhos não me levam mais ao previsível racional, não consigo me adaptar às artimanhas do jogo dos homens e fingir que tudo o que vi não existe, de fato; seria apenas o produto de minha imaginação... não! eu vivi realmente essa peregrinação, contracenei com os mártires da sociedade, subjugados pelo poder econômico em nome de interesses menores; sofri com eles e deles me compadeci no âmago de meus sentimentos.

Nos próximos dias sigo para Roraima; devo começar uma nova vida, dedicada aos silvícolas, seres que, humilhados pelo processo de colonização, expropriados de suas terras, chacinados pela extrema ambição de seus algozes, destituídos de suas tradições e culturas peculiares, são hoje confinados em territórios impostos pelos herdeiros bastardos de sua riqueza natural, vendo suas matas se transformarem em plantações de soja e pastagens de gado, seus rios poluídos pelos esgotos e dejetos industriais, suas famílias desagregadas pela única lição que o "homem branco" lhes legou: consumir, prostituir, empobrecer, entregar-se aos vícios e às drogas!

Sigo como o fiz pelo São Francisco, em minha peregrinação inglória, imbuído de minha responsabilidade, pela consciência de que faço parte dessa história deprimente que estamos construindo para nossos herdeiros. O que dirão nossos filhos quando já for tarde demais para reverter a desgraça da destruição que lhes deixamos? Talvez eles próprios não se apercebam dessa barbárie, por não conhecer o que havia de rico, de belo, de único na Natureza que então se perdeu.

Não guardo mais rancores, pois sei que "eles não sabem o que fazem", como disse um mestre muito citado e pouco seguido. Guardo uma profunda tristeza, um desalento ao constatar que nada do que se faça reverterá esse quadro macabro da passagem dos homens por essa Terra abençoada. Nosso pequeno planeta, talvez o mais belo de todas as galáxias por ter gerado a vida, certamente se acabará precocemente pelas mãos de sua maior obra: o próprio Homem! Restarão os desertos, a escória da humanidade a se arrastar, miserável e perdida pelos continentes devastados.

Há um ano eu iniciava minha viagem repleto de esperanças...

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Eleições e Meio Ambiente

Como um intransigente defensor do Meio Ambiente, não posso me omitir neste importantíssimo momento da vida política nacional. Minhas idéias políticas são bem conhecidas de todos, e as divulgo em meu blog Boca Ferina. Mas creio ser importante avaliar o momento atual sob o enfoque ambiental, principalmente quando políticos se manifestam de forma tão anacrônica e irresponsável, como o fez Aldo Rebelo, defendendo a revisão do código florestal, com o propósito de facilitar a transformação das poucas florestas ainda existentes em pastos, canaviais e plantações de soja. Esse político apóia Dilma Roussef, que já cometeu seus equívocos ao conseguir a revogação do único decreto que protegia nossas cavernas, propondo sua substituição por uma lei que permitiria a destruição da maior parte de nossas cavidades naturais, sob a justificativa política da "relevância" das grutas, ou seja, para que preservar duas grutas, se elas possuem os mesmos tipos de espeleotemas? Mais vale destruir uma para exploração de cancário...

Pois é, diante de tais barbaridades, vale lembrar que o governo LULA deu seu apoio incondicional aos integrantes da Bancada Ruralista no Congresso Nacional, privilegiando o desenvolvimento do Agro-Negócio em detrimento da agricultura familiar. Enqunato aquela favorece apenas 5% dos produtores rurais, a agricultura familiar dá emprego para 95% dos pequenos agricultores do país! O que vale mais: a vida humana ou a produção agrícola? Vale ressaltar que a maior parcela dessa produção em massa dos latifúndios nacionais é exportada, favorecendo a riqueza indivdual em detrimento da riqueza social, da distribuição de renda e da redução da pobreza, esse ranço imperial que ainda mantém na miséria milhões de brasileiros.

Foi também o governo LULA que acelerou a construção das grandes hidrelétricas do Amazonas, causando enorme e irreversível impacto ambiental, a despeito das manifestações contrárias dos maiores especialistas nacionais em hidrologia. LULA também decidiu, em oposição a esses pesquisadores e ofendendo frontalmente as populações tradicionais ribeirinhas, a construção dos canais da Transposição do Rio São Francisco, levando bilhões de litros de suas águas para outras terras do nordeste, e deixando à mingua a população que durante séculos viveu da lavoura e da pesca. Usou, inclusive, tropas do Exército para impor sua vontade.

Centenas de pequenas centrais hidrelétricas estão em construção pelo país, grande parte delas sem estudo adequado de impactos ambientais, e expulsando milhares de pequenos agricultores de suas terras em troca de falsas promessas de fartura e riqueza. Todos sabemos que isso não corresponde à verdade.

LULA não cumpriu suas promessas de regularização fundiária e o INCRA continuou sua "reforma agrária" a passos de tartaruga, deixando imensas populações à mercê da miséria e do subemprego nas favelas das metrópoles brasleiras. Assentamento rural é um tabu para esse governo, que regulariza as terras griladas pelos milionários fazendeiros, favorecidos pelo crédito fácil e pelo perdão de suas dívidas passadas, sob o manto da impunidade e sob o pretexto do crescimento econômico a qualquer preço. Quanto valem essas "políticas agrárias" que favorecem os latifúndios?

Por outro lado, Serra nunca demonstrou talento pela preservação ambiental. Suas obras são de concreto: estradas, escolas, edificações, crédito agrícola aos grandes fazendeiros do estado de São Paulo, principalmente em favor das "plantations" de cana de açúcar e soja, verdadeiras "panacéias" no imaginário de nossos políticos e empresários. Se sua obra foi correta sob o ponto de vista econômico-financeiro, já suas conseqüências não podem ser tão bem avaliadas. São Paulo é, sem dúvida, um estado privilegiado, que sobreviveu às ambições políticas de Ademar de Barros, Paulo Maluf e outros políticos de idoneidade (no mínimo) duvidosas. Mas as áreas verdes desse pequeno grande território já não podem dizer o mesmo, uma vez que a Mata Atlântica se encontra cada vez mais ameaçada e restrita a poucas manchas nas proximidades litorâneas e em algumas encostas da Mantiqueira.

Resta-nos Marina Silva, a candidata do Partido Verde. Marina possui uma biografia impecável e edificante. Nascida seringueira, lutou contra as possibilidades estatísticas e venceu, tornando-se conhecida mundialmente por sua luta em defesa do meio ambiente, e sendo considerada uma das poucas celebridades mundiais que poderiam fazer a diferença na luta pela sobrevivência dos principais ecossistemas de nosso planeta. Marina Silva é uma personalidade cativante pela sua lucidez e brilhantismo em defesa de suas idéias. Mas, infelizmente, a mídia nacional a ignora. A razão é óbvia, pois os grandes veículos da imprensa brasileira sobrevivem graças ao poder econômico dos grandes grupos nacionais, que veiculam suas propagandas na mídia impressa e televisiva, para os quais não seria conveniente uma ativista ambiental no poder.

Esse mesmo raciocínio tem feito fracassar todas as iniciativas de luta contra o aquecimento global e a destruição sistemática do meio ambiente. Por enquanto, ficou apenas o discurso fácil dos políticos, sem resultados concretos. A maior evidência desse fracasso preservacionista é o uso abusivo da expressão "SUSTENTABILIDADE". Políticas sustentáveis, programas econômicos sustentáveis, obras de engenharia sustentáveis, edifícios inteligentes... o modismo desses termos esconde a verdadeira intenção de dispersar a opinião pública da terrível devastação de nosso planeta! A cada dia, milhares de espécies animais e vegetais desaparecem definitivamente da Natureza; a Floresta Amazônica segue sendo destruída sob o falso pretexto da "redução" do desmatamento; os desastres ecológicos mostram-se cada vez mais agressivos à Natureza, assim como os fenômenos "naturais".

Pois este é o momento de decisão em que podemos defender nossas idéias e intenções. O voto é um instrumento poderoso, que poderia reverter esse quadro desolador, caso houvesse consciência ecológica em nossa Nação. Mas não existe; o voto é obrigatório, inclui os analfabetos absolutos e funcionais, não se observam campanhas conscientizadoras por parte dos partidos políticos, que repetem as mesmas fórmulas imorais de prometer o que não podem cumprir. E os políticos que se apresentam ao voto popular são os mesmos: mesmas caras, mesmas idéias, mesmos interesses pessoais, mesmas intenções de enriquecimento ilícito!

Aos poucos que ainda perseveram na luta pela decência, pela moralidade ideológica, pela defesa de princípios éticos, resta o consolo de manifestar suas posições políticas e incitar o povo a votar CONSCIENTEMENTE. Eu aqui o faço, convidando-os a avaliar as intenções ocultas nas palavras fáceis dos políticos: escolham bem os seus políticos, pois serão os nossos filhos os herdeiros dessa Terra.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

RORAIMA: Minha nova missão!

Enquanto meu livro não sai, prossigo em minha luta em defesa do Meio Ambiente. Ainda que, às vezes, a realidade nos impacte e exploda diante de nós, demonstrando a inviabilidade dessa luta inglória, não podemos esmorecer. Somos os pilares da sobrevivência desse nosso planeta...

Primeiro tentei me estabelecer em Alto Paraíso, interior de Goiás, portal da Chapada dos Veadeiros, lugar místico e sereno a 1.300 metros de altitude e um povo pacato e discreto. Infelizmente, não deu certo. Disse-me um morador, que a cidade ora aceita, ora rejeita seus visitantes. Deve ser verdade.

Mas não desisto facilmente, e procuro um lugar onde possa ser útil, onde consiga contribuir com meu trabalho, idéias, dedicação e vontade para produzir algum resultado que ainda justifique minha presença neste mundo.

Foi com esse propósito que me inscrevi, prestei e fui aprovado no concurso da FUNAI, Fundação Nacional do Índio, candidatando-me a agente indigenista, para atuar no extremo norte do Brasil, Roraima e noroeste do Amazonas. Lá existem nações indígenas que geraram lendas, que escreveram belíssimas páginas de nossa pré-história, dos tempos imemoriais anteriores à nefasta presença dos "descobridores" portugueses.

Para esses povos, Macunaíma foi a divindade que criou o mundo com todas as suas belezas que insistimos em destruir. Lá vivem os Yanomamis e outras tantas etnias indígenas com as quais pretendo conviver e para as quais pretendo doar meus próximos vinte anos, se a vida me permitir.

Por isso, ainda continuarei escrevendo neste blog, que foi criado para defender o nosso Velho Chico, mas que não me impede de vislumbrar outras possibilidades nessa provisória passagem pelas terras dos homens.

A impossóvel missão dos Ambientalistas, Conservacionistas e Ecologistas

Esses termos costumam ser usados como sinônimos, até porque é muito difícil definir nosso papel nesse mundo contemporâneo. Ser ambientalista é uma decisão, uma atitude permanente de defesa do Meio Ambiente, e não o resultado de uma formação acadêmica. No entanto, existem enormes divergências quanto aos propósitos, limites e responsabilidades de cada um de nós no trato com a Natureza. Existe mesmo uma incerteza quanto à presença humana e seu papel neste Planeta. A maior evidência disso é que nos consideramos seres isolados: o Homem separado da Natureza.

Segregamos nossa função como se tudo o que resta estivesse à nossa disposição para dele fazer o que nos convier: produzir, transformar, destruir, explorar, escravizar, matar, expropriar, esgotar. E com esse exclusivo propósito de nos locupletar de todas as riquezas da Terra, nos esquecemos de que seu esgotamento significará o fim da espécie humana.

Nossa percepção do Universo inclui a certeza de que existe um Deus, um Criador único, e que fomos criados à sua imagem e semelhança; daí essa arrogância em tomar posse de todos os outros Reinos e deles fazer uso inconseqüente, irresponsável. Não admitimos supor que, assim como os animais, o fim de nossas vidas é também o fim de nossas consciências, e que não existe alma nem espírito; pois, se houvesse, essa alma, esse espírito estariam contidos em todas as existências da Terra e de todo o Universo, e não apenas em nós. Acreditar nisso seria pior do que imaginar que somos apenas um grão de areia imperceptível pelas nossas supostas divindades.

Por isso, pensamos e agimos apenas no presente, sem esperar recompensas, ou sem nos preocupar com a permanência das coisas na Eternidade. Até porque o Eterno, o Infinito não cabem em nossa compreensão limitada e patética! Se imaginarmos que a História da Humanidade sobre a Terra é apenas um lapso de tempo na duração suposta do Universo, compreenderemos que nada somos. A outra hipótese, de que existe uma permanência da Alma que assegurará que continuaremos existindo após a morte é, simplesmente, inaceitável!

E é exatamente por isso que considero impossível essa missão de salvar o nosso pequeno planeta. Por que alguém abriria mão de suas vantagens aqui e agora, ainda que conquistadas à custa da violência e da opressão, se nada haverá para se usufruir depois da morte, quando ninguém mais se lembrará de nós e nosso corpo apodrecerá na terra, e os ossos se dissolverão no solo e a ele se reintegrarão mineralizados? Esse, na verdade, seria um argumento poderoso em defesa da superioridade das coisas inanimadas sobre a nossa frágil Vida!

Pois, ao final, como resultado de nossa irresponsabilidade, apenas o pó restará de todos os seres vivos...

domingo, 2 de maio de 2010

Marina Silva: um ser iluminado

Já esperávamos ansiosos, há quase duas horas, nos corredores e nas rodas de discussão, quando Marina Silva se desvencilhou dos repórteres e dos membros da executiva do partido e seguiu para o Salão Nobre da Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto. Aquela delicada criatura quase desaparecia na multidão, rodeada de políticos, jornalistas, fotógrafos, admiradores e insistentes pedidos de autógrafos.

Formada a mesa, seguiram-se os discursos de Fábio Feldmann e Ricardo Young, respectivamente candidatos ao Governo e Senador da República por São Paulo. Finalmente, aquela que todos esperávamos: Marina Silva! No começo, as citações de praxe, mencionando as presenças de políticos... e então, eis que ela aparece em toda a sua aura de sabedoria, delicadeza, generosidade, elegância, humildade e inteligência! Marina encantou a todos discursando durante quase uma hora, falando de improviso, sem consultar uma anotação sequer!

Suas palavras foram entremeadas de aplausos, não aqueles ensaiados pela claque política, mas aplausos verdadeiros, entusiásticos, emocionados, encantados com a sua coerência e fluidez. Não falou apenas da preservação ambiental, mas discorreu sobre as possibilidades de um novo governo que se oferece como alternativa ao plebiscito que PT e PSDB tentam impor ao eleitorado. Havia em suas palavras uma certeza de que a disputa apenas começara, que os números ainda não conseguem traduzir em estatísticas confiáveis.

Por detrás de seus 12% do eleitorado existe uma imensa possibilidade de mudança de opiniões! Afinal, poucos a conhecem, e talvez esses números apenas indiquem o percentual dos brasileiros que estão efetivamente comprometidos em reverter o quadro de devastação ambiental deixado pelos antecessores: políticos, industriais, comerciantes, agricultores e pecuaristas que praticaram a política da terra arrasada, acreditando que os recursos naturais são ilimitados e renováveis, mesmo diante de tamanha destruição.

Com o acirramento das campanhas, com os debates públicos ao vivo, com a presença marcante dessa mulher fantástica, esses números certamente crescerão, assim como aconteceu com Lula depois de tantas derrotas eleitorais. Um povo que elegeu um sociólogo e um operário poderá, certamente, quebrar outro paradigma e eleger uma mulher tipicamente brasileira, misto de negra, indígena e branca, nascida e criada na pobreza e nos confins da maior floresta do mundo, educada na luta contra o preconceito racial e social, e admirada mundialmente como uma das mais importantes personalidades que poderão influenciar favoravelmente nosso planeta na luta pela preservação do meio ambiente e por um desenvolvimento sustentável. Se o mundo aos poucos desperta para a gravidade da situação, o Brasil também haverá de fazê-lo, sob pena de perder, uma vez mais, as oportunidades que se lhe oferecem de liderança global.

Disse Marina, com propriedade e justiça, que as conquistas de seus antecessores credenciam-na a partir para uma nova etapa no processo evolutivo de nosso povo: conduzir nosso país na liderança das ações solidárias, com responsabilidade social e compromisso ambiental, assegurando às futuras gerações as mesmas possibilidades que hoje temos de acesso aos recursos naturais renováveis. Ainda é possível reverter as terríveis ações que devastaram nossos ecossistemas: Cerrado, Matas Tropicais, Florestas Equatoriais, Recursos Hídricos de superfície e do subsolo, Plataforma Marítima, Cavernas, Montanhas, Caatinga... os mais ricos e diversificados ambientes naturais do mundo!

Com todo respeito à história de seus adversários políticos, Marina Silva se mostra como a personalidade mais preparada para conduzir esse novo processo, dando ênfase às prioridades sociais e às conquistas já consolidadas, mas com uma nova visão dos compromissos de nossa Nação com o futuro de sua gente. Se foram importantes e vitais o controle da economia e a distribuição, ainda que modesta, da renda, agora é o momento do gigantesco salto qualitativo do domínio dos espaços naturais preservados, sem perda da capacidade produtiva, apoiados no desenvolvimento tecnológico e na redução dos desperdícios.

Mesmo falando para uma platéia de correligionários políticos, Marina Silva manteve a sua elegância e serenidade, evitando qualquer crítica aos erros de seus antecessores. Sabemos que foram muitos esses erros, assim como muitos também foram os seus acertos; porém, um dos grandes méritos da democracia é a alternância ideológica no poder. Se os intelectuais tiveram seus oito anos no poder com Fernando Henrique, e a classe trabalhadora teve também seus oito anos no poder com Luiz Inácio, agora é a vez dos ambientalistas, daqueles que defendem um desenvolvimento sustentável na boa acepção dessa expressão, tão desgastada pela mídia e pelos interesses dos grandes produtores agro-industriais.

Saímos da palestra com a certeza de que Marina Silva não é apenas admirada internacionalmente pela sua lucidez e inteligência, mas também é a melhor candidata à Presidência do Brasil nas próximas eleições! Não fossem o poder da máquina estatal em favor dos candidatos concorrentes, as alianças políticas oportunistas dos partidos nanicos e os interesses econômicos que tendem a favorecer aqueles que já estão no poder, e Marina Silva não teria concorrentes capazes de alcançá-la na corrida presidencial. Ainda assim, ao revés de todas as expectativas, a dimensão ética, intelectual e cívica de Marina Silva é tamanha que nos dá a certeza de que essa disputa está muito longe de ser definida, e dependerá apenas da convicção daqueles que a conhecem e admiram!

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Marina Silva em Ribeirão Preto!

Neste sábado, dia 1º de maio, dia do Trabalhador, às 10:00 horas da manhã, nossa candidata à Presidência da República estará em nossa cidade, na Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto! Vamos prestigiá-la e mostrar a força dos Ambientalistas nas próximas eleições de 2.010!
Enquanto ações políticas eleitoreiras destróem nosso meio ambiente nos extertores do governo Lula, com obras faraônicas (Transposição do rio São Francisco: 6,6 bilhões de reais; Hidrelétrica de Belo Monte: 29 bilhões de reais!) que, certamente, comprometerão o orçamento do próximo governante, tanto o PT quanto o PSDB já se consideram vitoriosos nas próximas eleições. Não podemos nos omitir! Precisamos mostrar que existe uma terceira via, mais inteligente, mais humana, mais justa e solidária, que não favoreça as motosserras da raivosa bancada ruralista, mas dê dignidade ao pequeno trabalhador rural, à agricultura familiar, às plantações orgânicas, ao tradicional plantio dos vazanteiros, às culturas de nossos povos tradicionais, caboclos, indígenas e quilombolas, que representam 90% de toda a população rural brasileira.

O grande agricultor, o grande pecuarista, esses não conhecem a realidade dos campos, exceto para impor sua força e prepotência aos pequenos lavradores. Governam seus latifúndios de longe, de seus apartamentos luxuosos, de suas mansões, das capitais dos estados. Presenciei a violência e a truculência desses senhores que se consideram os donos do Brasil, soltando seu gado sobre as pequenas plantações de comunidades quilombolas no oeste bahiano. É cruel e desumano!

Companheiros ambientalistas: vamos apoiar nossa candidata Marina Silva e mostrar a força de um pequeno partido de grandes idéias! Esse é o momento da virada, o ponto de inflexão da curva na preferência dos eleitores, enquanto os marketeiros ainda não colocaram seus clientes nos cartazes, nem nas telinhas da TV. Cada membro do Partido Verde pode trazer muitos eleitores e convencê-los de que os grandes partidos já demonstraram a que vieram. Chega de escândalos financeiros, chega de propinas e de mensalões! Agora é a nossa vez!

Sábado, dia 1º de maio, dia do Trabalhador, às 10:00 horas da manhã, nossa candidata à Presidência da República, MARINA SILVA, estará em nossa cidade, na Câmara de Vereadores de Ribeirão Preto! COMPAREÇA E MOSTRE SUA CONVICÇÃO!

terça-feira, 27 de abril de 2010

Aldo Rebelo, o novo integrante da Bancada Ruralista

Aldo Rebelo - quem diria? - aderiu ao discurso do Agronegócio e da raivosa bancada ruralista! Pois é... quem assistiu ao programa do PCdoB ouviu, com todas as palavras, esse antigo membro do Partidão entregar o ouro e a dignidade em defesa daqueles que desmatam e destróem nossa Natureza!

Até mesmo o discurso de Blairo Maggi, ex-governador de Mato Grosso e maior plantador de soja de nosso país, Aldo Rebelo agora reverencia. Ele não sabe a diferença entre áreas de florestas, onde a lei é clara e exige que 80% das terras sejam preservadas, e áreas já ocupadas, que a legislação tolerante admite que 80% seja devastada, sem mesmo um estudo de impacto ambiental. Agora, como relator, quer mudar o código florestal brasileiro e acabar com o que resta de nossas florestas.

Chama o Greenpeace de ONG holandesa, em completa ignorância de que essa organização é internacional, não tem uma pátria, e luta ardorosamente, até sob o risco de vida de seus ativistas, para defender o que restou de vida em nosso combalido planeta! Diz o parlamentar que sua comissão "ouviu" mais de 300 pessoas para propor a transformação do código florestal em mais um aliado da motosserra. O que são 300 pessoas em um universo de 200 milhões? Quantas dessas pessoas ouvidas têm a competência e a dignidade de falar pelos ambientalistas?

Diz ele que ouviu a Embrapa, empresa brasileira que se dedica, com competência, ao desenvolvimento de tecnologias agropecuárias, mas que não tem nenhum compromisso com a preservação do meio ambiente. Se Luiz Inácio e Carlos Minc, ex-ministro do Meio Ambiente, nada fizeram de concreto para salvar nossos ecossistemas, o que esperar de um deputado que mal conhece o Brasil Silvestre?

Senhor Aldo Rebelo, alguma vez o senhor se embrenhou na mata, conviveu nas comunidades indígenas e quilombolas, dormiu nas barracas de lona preta dos sem-terra? Alguma vez o senhor percorreu os rios, as matas, as montanhas de nosso país para poder falar em nome dos nossos irmãos empobrecidos e explorados pelo agro-negócio? Por acaso o senhor conhece os impactos sócio-ambientais da Transposição ou da Hidrelétrica de Belo Monte? Certamente, não!

Não fale, portanto, senhor Aldo Rebelo, em nome do que não conhece! O senhor sabe dos crimes ambientais praticados pelas nossas grandes indústrias mineradoras, como a White Martins e a Votorantim? Sabe que, em fevereiro de 2004, em Três Marias, a fábrica de Manganês da Votorantim derramou toneladas de dejetos e produtos químicos usados na extração desse metal dentro do rio São Francisco, deixando os pescadores sem seu sustento durante meses com a mortandade de milhões de peixes? Sabe que até hoje, seis anos depois, o rio não se recuperou dessa matança e a lagoa de dejetos continua lá, à beira da BR 040, esperando uma nova enchente para ser derramada de novo na calha do rio? Pois, é, senhor deputado, estude mais e ouça os que sabem antes de tentar mexer na legislação ambiental.

O senhor sabe qual o potencial energético necessário para acionar os tanques eletrolíticos das indústrias de extração de alumínio do senhor Antônio Ermírio de Moraes? Sabe das centenas de pequenas centrais hidrelétricas que estão sendo construídas sem licitação pelo Brasil afora, destruindo o pouco que resta de nossas matas ciliares? Apenas na região de Cocos, no oeste Bahiano, entre os rios Corrente e Carinhanha, são 49 (pasmem! quarenta e nove!) PCH's que irão destruir quatro afluentes do São Francisco, além de desalojar centenas de famílias de seus lares tradicionais!

O senhor deputado sabe que, para a construção do imenso Lago de Sobradinho, em plena ditadura militar, 72.000 famílias foram desalojadas, perderam sua história e suas tradições e foram despachadas como gado para diversos outros lugares para viver miseravelmente?

Deputado Aldo Rebelo, antes de legislar, aprenda alguma coisa sobre o meio ambiente para não cometer a estupidez de falar em nome de quem não conhece. Milhares de indígenas, nossos povos tradicionais, estão sendo alijados de seus locais de origem, que ocuparam por centenas de anos, para dar passagem às águas da Transposição, que não abastecerão suas casas, suas propriedades, mas sim os rios e reservatórios de outras bacias hidrográficas do Ceará, da Paraíba e do Rio Grande do Norte.

Enquanto isso, os indígenas e os pequenos agricultores passam fome a menos de três quilômetros do rio São Francisco; enquanto isso, muitos bairros de Cabrobó, de Orocó, de Santa Maria da Boa Vista e de Petrolina depndem da famosa "indústria da seca", sendo abastecidos de água pelos carros-pipa, controlados por políticos regionais!

O Nordeste tem armazenadas mais de 50 bilhões de metros cúbicos de água em seus reservatórios, açudes, cacimbas... enquanto isso, mais de 7 bilhões de reais serão gastos em uma obra que não abastecerá um único rincão do sertão nordestino pela Transposição. Toda essa água será destinada aos grandes centros urbanos e aos grandes empreendimentos do agro-negócio, cada vez mais próspero no meio da miséria nordestina!

Por isso, senhor deputado Aldo Rebelo, não seja hipócrita! Deixe nossa legislação ambiental em paz, e que os verdadeiros especialistas façam sua atualização, sem prejudicar ainda mais a Natureza. Nós, os ambientalistas, agradeceremos sua omissão e ausência!

sábado, 17 de abril de 2010

As obras faraônicas do governo LULA

Depois de sete anos fazendo aquilo que se espera de um estadista, LULA, em seus últimos momentos de Glória, decidiu, como um verdadeiro DITADOR, assumir a paternidade de obras que, pelo seu caráter polêmico e pelo gigantismo dos investimentos, não deveriam ser iniciadas ao final de um período governamental. Afinal, depois de iniciadas, o ônus da interrupção cairá sobre o próximo governante.

A primeira dessas obras faraônicas foi a Transposição das águas do rio São Francisco. Apesar de todas opiniões de especialistas não recomendando o início das obras, apesar de toda oposição dos movimentos sociais denunciando os impactos dessas obras sobre as comunidades tradicionais de indígenas e quilombolas, LULA "contratou" os serviços do Exército Brasileiro, desviando-o de suas atribuições constitucionais, para conseguir, pela força, o que não conseguiu pela fraca argumentação de seus defensores.

Agora LULA ataca novamente, desta vez na destruição da Amazônia, e justamente no estado campeão de desmatamento, o Pará, e em um dos rios mais preservados da região, o Xingu, em cujas margens habitam centenas de comunidades indígenas, para a construção de uma das maiores hidrelétricas do mundo, a Usina de Belo Monte.

As características dessa obra gigantesca, que custará mais de 30 bilhões de reais aos cofres públicos, são semelhantes àquelas encontradas na construção da hidrelétrica de Sobradinho, no São Francisco, nos tristes anos da Ditadura Militar onde, provavelmente, LULA encontra os modelos de autoritarismo que vêm justificar sua loucura empreendedora.

Sobradinho é o segundo maior lago artificial do mundo, responsável por um volume de 34 bilhões de metros cúbicos de água armazenada. Essa represa foi a responsável por desalojar 72 mil famílias de sua terra natal, levados à força para outras regiões; também causou um dos maiores desastres ecológicos em rios brasileiros, eliminando todas as espécies migratórias a sua jusante, impossibilitados de desovar nos movimentos de piracema interrompidos pela gigantesca barragem de concreto.

Belo Monte fará pior: invadirá regiões intocadas da floresta, bloqueará a migração de peixes, reduzirá drasticamente a mecânica natural do rio, de enchentes e vazantes, que abastecem suas margens dos nutrientes necessários à preservação das matas ciliares, e desalojará as populações indígenas de seus territórios, a despeito dos protestos.

Assim como no projeto de Transposição do Rio São Francisco, as populações afetadas não foram ouvidas, e o processo de tramitação das licenças ambientais foi atropelado sob a justificativa eleitoreira dos pretensos benefícios sociais desses projetos.

Mesmo com a argumentação dos maiores especialistas em hidrologia e dos ambientalistas, o governo LULA mostrou-se insensível aos apelos e impôs seu caráter autoritário, tripudiando da sociedade brasileira.

Agora, só nos resta esperar que o povo brasileiro saiba escolher seus governantes e que o presidente eleito interrompa essas obras, mesmo com os inevitáveis prejuízos dessas ações irresponsáveis do governo petista.

domingo, 24 de janeiro de 2010

Ambientalista viaja sozinho pelo São Francisco e faz levantamento ambiental do rio

Correio Braziliense - Ciência e Saúde

Gisela Cabral

Publicação: 24/01/2010 09:50



Percorrer toda a extensão do São Francisco a bordo de uma simples canoa. A missão — movida pela vontade de conhecer a fundo cada detalhe do famoso rio, que banha nada menos do que cinco estados brasileiros — pode parecer impossível, mas o ambientalista João Carlos Figueiredo, 60 anos, não só a realizou, como transformou a aventura solitária em alerta para a sociedade sobre a situação de um ecossistema que necessita de cuidados.

A jornada, iniciada em setembro passado, durou 99 dias. Figueiredo percorreu 2,5 mil quilômetros munido apenas de itens básicos de sobrevivência, com exceção de um aparelho de GPS para localização e câmeras de fotografia e vídeo. O ambientalista pode ver de perto a situação da fauna e da flora do rio — considerado o mais importante caminho de ligação das regiões Sudeste e Centro-Oeste com a Nordeste —, além das condições de vida das populações que vivem às margens do Velho Chico. Tudo registrado em milhares de fotos, horas de filmagem e muitas páginas escritas. O material foi publicado em um blog na internet pelo próprio Figueiredo, que recebeu patrocínio para alimentação e para a câmera fotográfica que utilizou.

Durante os mais de três meses de aventura, ele iniciava o dia por volta das 4h, remava por até 10 horas e só parava no fim da tarde, para se alimentar e descansar. Ele conta que teve o privilégio de observar belas paisagens e encontrar gente simples e hospitaleira, além de conhecer iniciativas bem-sucedidas de preservação do rio. Porém, a expedição revelou trechos onde a poluição e o desrespeito à natureza eram visíveis. “A destruição das matas ciliares fez com que barrancos enormes desmoronassem e provocassem o fenômeno do assoreamento no rio. Isso sem contar com o grave problema do desaparecimento da fauna nativa”, afirma.

De acordo com o viajante, já no início do rio é possível sentir o cheiro do esgoto. “A situação vai se agravando à medida que povoados maiores vão surgindo. Depois de Três Maria (MG), por exemplo, há o esgoto que vem de Belo Horizonte (MG) e desce pelo Rio das Velhas, um dos afluentes do São Francisco. Também falta educação ambiental às populações ribeirinhas, que acabam jogando lixo e dejetos na água. Essas pessoas não imaginam que a situação é ruim para elas e para o planeta”, explica Figueiredo. Indústrias e grandes agricultores também lançam resíduos no rio, como agrotóxicos utilizados nas lavouras.

Características próprias

Os contrastes encontrados ao longo do percurso também chamaram a atenção de Figueiredo. Apesar de o curso d’água ser o mesmo, ele aponta que cada região apresenta características próprias. “Em Alagoas, por exemplo, predomina a plantação de coco. Num trecho próximo a Piaçabuçu, cheio de curvas, conheci um verdadeiro paraíso ecológico, repleto de animais. Parecia um oásis”, conta. Trechos próximos a Sergipe, onde predominam plantações bem cuidadas e diversificadas, também não passaram despercebidas. Além disso, segundo ele, é impossível falar do Rio São Francisco sem mencionar a obra de transposição implantada pelo governo, devido ao agravamento da crise do abastecimento hídrico do Nordeste, em 1999. Porém, o tema ainda divide opiniões, pois é considerado por muitos uma agressão ao ecossistema.

A previsão é que seja concluída a implantação de um conjunto de canais, adutoras, túneis, estações de bombeamento e reservatórios feito a partir dos dois eixos que saem do rio, entre as barragens de Sobradinho e Itaparica, na Bahia. “A transposição tem de ser vista sobre dois pontos de vista: o ambiental e o social. O grande problema, na minha opinião, é que a água do rio está sendo levada para abastecer outros lugares e pode descobrir outros que também necessitam de ajuda”, avalia Figueiredo, que agora trabalha na compilação das informações coletadas ao longo dos três meses em que passou no rio para o lançamento de um livro.

Artigo Correio Braziliense

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Próximas Etapas

Já estou trabalhando o material que dará origem às minhas próximas ações... nesse ano de 2009, totalmente dedicado ao projeto da expedição "Meu Velho Chico" eu consumi cinco meses em planejamento, 99 dias em viagem, três meses tentando patrocínios; tirei quase 4.000 fotografias, gravei cerca de 30 horas de vídeo, escrevi mais de 300 páginas de meu diário de bordo, visitei 25 cidades e 15 comunidades (indígenas, quilombolas, assentamentos), conheci centenas de pessoas interessantíssimas, fotografei igrejas, pontes, pores-do-sol, animais, árvores, barrancos, pessoas, casas antigas, praias de rio e de mar...

Pretendo concluir a edição de todo esse material até o final de abril. Depois começa outra batalha por editoras e patrocínios. Quero ter meu livro publicado até o final de julho deste ano, para lançá-lo na Adventure Sports Fair e relançá-lo em algumas das principais cidades que visitei. Vou doar um exemplar para cada comunidade que me acolheu e para as pessoas que me ajudaram ao longo do rio. Gostaria muito de entregá-los pessoalmente, mas isso só será possível com patrocinadores... vamos aguardar...

Pretendo fazer palestras em todos os eventos relacionados com a preservação do meio ambiente e, para isso também preciso da ajuda de amigos, que tornem isso possível. Por enquanto, as poucas ajudas que consegui partiram dos mais humildes, dos mais comprometidos com a preservação do rio São Francisco. A mídia nacional continua me ignorando; por isso, se alguém puder me ajudar a romper essa muralha de silêncio, ficarei eternamente grato. Não é a fama que busco, mas oportunidades para divulgar minha missão!

Abraços a todos!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Já passamos de CENTO E VINTE assinaturas na Petição!

Embora seja um marco importante, cem assinaturas ainda representam pouco interesse pelas questões ambientais em nosso país... meu blog já recebeu mais de 12.000 visitantes em seis meses, o que é significativo para um assunto denso como a preservação do meio ambiente, mas 120 assinaturas representam 1% dos visitantes. Mesmo sabendo que a maioria das visitas pertence aos mesmos visitantes, que retornam ao blog, eu enviei mais de 400 emails, coloquei mensagens no Orkut, Facebook, Linked In, Plaxo, Twitter...
Bem, mas consciência ecológica é um processo educativo que demanda muito tempo para amadurecer... prova disso é que já se passaram 18 anos desde que o Brasil sediou a ECO 92 no Rio de Janeiro, verdadeiro marco divisório de um período extenso de desperdícios e o início de uma era de consumo racional, que ainda está na infância. No entanto, fenômenos trágicos como o que ocorre nas praias da região norte paulista evidenciam que um processo de transformações na Natureza está em curso. Katrina, nos Estados Unidos, Catarina em Santa Catarina, Tsunami nos mares das Filipinas, nevasca em Nova Iorque...
É lamentável que somente com a reação de desordem nos fenômenos naturais é que a Humanidade começará a tomar providências para reverter a tragédia que se avizinha... nem mesmo os filmes de ficção mais extremistas, como "O dia depois de amanhã" e "Avatar" são suficientes para mobilizar decisões dos países que estiveram reunidos em Kopenhagen e nada aconteceu de importante...
Bem, de qualquer forma, CENTO E VINTE assinaturas no nosso Protocolo do São Francisco é um número expressivo e quero agradecer a todas as colaborações dos que registraram sua presença e, principalmente daqueles que me ajudaram a divulgar esse manifesto, replicando emails e mobilizando sua rede de relacionamentos!
Ainda há tempo: a quem não assinou, convido a conhecerem a petição "Protocolo do São Francisco". Ela será encerrada no dia 31 de janeiro próximo, quando a encaminharei para os governos federal, estaduais e municipais (da bacia do São Francisco), aos órgãos de imprensa, às ONGs que atuam na região e aos ambientalistas que se manifestaram em meu apoio durante minha expedição.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Brasil que não está no GIBI


Passei o ano de 2009 comprometido com meu projeto de expedição pelo rio São Francisco e conheci o mais paradoxal exemplo de anacronismo político de um Brasil que pouca gente conhece e muitos pensam que morreu ou ficou no passado... pois existe, e ainda reflete as mais sórdidas realidades de nossa formação política, econômica e social: o país dos coronéis!
No oeste baiano, uma imensa população de deserdados é submetida, nos dias de hoje, às humilhações e à prepotência de um poder obscuro e, no entanto, real e cruel: grandes propriedades rurais, verdadeiros latifúndios, fazem valer sua vontade sobre pequenos agricultores, submetendo-os ao terror das armas, mantendo-os como testemunhos de uma história que gostaríamos de esquecer.
Visitei muitas dessas comunidades, onde a criação de cabras, porcos, galinhas e até algumas cabeças de gado é mantida solta, nas terras comunitárias, junto com os humanos... esses animais compartilham os mesmos espaços das crianças e dos adultos; as construções ainda são de taipa, e o besouro transmissor da doença de Chagas permanece ativo, fazendo novas vítimas... as oportunidades de trabalho são escassas e se resumem ao extrativismo (pescadores, carvoeiros, garimpeiros), às pequenas lavouras de lameiro, ao escambo e a um comércio regional incipiente e insignificante, que não permite que essas populações saiam da miséria econômica e, sobretudo, cultural. Para agravar ainda mais a situação, as famílias são imensas, com seis, oito, dez, doze filhos, pois a única distração das pessoas é procriar!
É como se voltássemos o relógio do tempo e mergulhássemos no mundo de nossos avós, onde o conforto era um luxo permitido a poucos, a segurança não existia e o futuro era incerto, às vezes até improvável... carros de tração animal, ruas sem calçamento, esgoto escorrendo pelas beiradas das casas, crianças mal nutridas perambulando suas enormes barrigas pela comunidade, lixo jogado a céu aberto, apodrecendo, e o grande paradoxo das antenas parabólicas, desfilando um mundo de fantasias que as pessoas só conhecem pela telinha...
Nenhuma cidade ribeirinha que eu visitei possui cinema; o circo mambembe passa por lá, levando espetáculos tão anacrônicos quanto os carros de boi rangendo pelas ruas, teatro é uma ilusão inacessível, e as igrejas evangélicas, pentecostais e católicas fazem a vida se resumir à esperança de que, ao menos depois da morte, haveria justiça e se tornam a única razão de continuar a viver. Para compensar tanta desgraça, somente a cachaça que corre solta por todo o lado, alimentando o crime, a solidão e o desespero inconsolável...
O coronelato domina o poder, mais forte do que aquele constituído e legal, de urnas eletrônicas e falta de consciência política, que elegem aqueles que mais entregam parcas e modestas benesses às vésperas das eleições. O sindicalismo é forte, mas apenas como outra faceta do mesmo grupo dominante, pois suas lideranças se contrapõem aos coronéias apenas para legalizar essa situação absurda e onírica! A eles também interessa preservar a miséria, sua principal matéria-prima de perpetuação nesse poder secundário dos protestos inúteis.
Crimes ocorrem aos montões: políticos, passionais, de vingança ou de "acerto de contas", de afirmação do machismo dominante, ou simplesmente devido ao excesso de álcool ou de drogas, que correm soltas por todas as partes. As histórias desses crimes "divertem" os mais velhos, que relembram as façanhas de seus antepassados, seja para conquista da terra, seja nas demonstrações de sua vontade e de poder.
Esse Brasil está lá, no nordeste, no oeste baiano, incentivado pela ausência das políticas nacionais, a quem interessa preservar esses currais eleitorais que jamais se extinguirão, mesmo com urnas eletrônicas e sistemas sofisticados de reconhecimento ergométrico de eleitores, pois não é o modo de votar que determina a validade e a representatividade popular, e sim a consciência política e a autonomia econômica e social.
Essas não existem na caatinga, e jamais existirão, enquanto a decisão dos investimentos privilegiar o agronegócio, que chega e se instala aos poucos, excluindo os pequenos e metamorfoseando as paisagens do sertão através das "plantations" contemporâneas que ocupam as novas fronteiras agrícolas nacionais de modo irreversível.
Dizem que o agronegócio levou modernidade e riqueza às terras antes ressequidas e agora férteis do sertão. É verdade. Basta olhar para Petrolina e constatar a pujança dessa nova cidade que emergiu do semi-árido nos últimos vinte anos: a estrutura urbana se transformou, edifícios se ergueram com as mesmas linhas das grandes cidades, estradas bem construídas surgiram por todo lado, universidades e centros de pesquisa foram construídos.
Mas não é preciso andar muito para constatar que existe um tênue manto de prosperidade no entorno dessa bela cidade; logo aparece de novo a miséria, a falta de água, a fome, a ausência de oportunidades, pois para os pobres quase nada mudou. O sertão continua lá; as águas do rio São Francisco não chegam às casas dos pobres que habitam as áreas rurais, que ainda dependem exclusivamente das parcas chuvas de "inverno" e da boa vontade dos políticos que manejam a distribuição de água pelos carros-pipa, moeda de troca dos favores...
O Brasil que não está no gibi também não está na consciência da população privilegiada do sul e sudeste-maravilha, do centro-oeste do agronegócio, do centro de poder brasiliense, repleto de escândalos e pobre de criatividade para a solução dos gravíssimos e crônicos problemas de distribuição de renda nacionais...
Até quando? Provavelmente, até que essa panela de pressão exploda, o que é improvável, mesmo com tamanha miséria, pois as igrejas fazem com competência o seu papel apaziguador de consciências, solapando qualquer iniciativa de rebeldia desses novos escravos de consciência da era contemporânea!

PROTOCOLO DO SÃO FRANCISCO


Vamos fazer um esforço para finalizar as assinaturas do Protocolo do São Francisco! Assinem e divulguem esse documento: http://www.ipetitions.com/petition/velhochico/. 
Até o final de janeiro pretendo encaminhá-lo às autoridades e conto com seu apoio e colaboração para dar credibilidade e força persuasiva a esse documento!
É incrível, mas apesar dos imensos recursos reservados para as obras da transposição, que seguem aceleradas às vésperas das eleições presidenciais, com evidentes interesses eleitoreiros, quase nada foi reservado para a revitalização do rio e de seus afluentes.
Nota-se claramente que não existe um plano nacional e integrado de ações preservacionistas para que o Velho Chico não morra... ao invés disso, pequenas obras de pouco alcance e de nenhum impacto nas complexas situações de degradação mostram o descaso de nossas autoridades em recuperar esse fantástico patrimônio hídrico nacional.
Enquanto isso, a propaganda política das ações na Amazônia Legal não condiz com a redução pífia dos desmatamentos e queimadas, e com a expansão acelerada da agro-indústria e das fronteiras agrícolas sobre outros biomas, como o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal, nossas Bacias Hidrográficas e a Mata Atlântica!
Onde estão os ambientalistas brasileiros? Preocupados com a pesca predatória das baleias e dos tubarões? Nada contra, mas precisamos cuidar primeiro do que é nosso e que garantirá o futuro de nossas novas gerações! Vamos nos mobilizar e demonstrar nossa revolta e insatisfação com o destino de nosso dinheiro, desperdiçado em obras faraônicas!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vida Simples ao Extremo!


Durante mais de três meses minha vida se limitou a remar, acampar, fazer comida, escrever e pensar... observei a Natureza ao meu redor, não como um reles expectador, mas como outra das tantas vidas que pulsavam naquele rio de tão diversificadas feições. Estava lá, limitado pelas margens e barrancos, conduzido pelas águas assim como os animais que o habitam há tantos séculos... hoje nem tantos e nem tão diversificados como no passado, quando o rio era selvagem e os povos indígenas não o molestavam com o lixo, as barragens, a pesca predatória, as queimadas, o desmatamento, o esgoto e os produtos químicos jogados em suas águas.


Meditei muito a respeito do supérfluo que nos pressiona ao consumismo e nos encaminha para um futuro assustador, enquanto o mundo discute suas vaidades em não ceder para não parecer fragilizado diante de seus vizinhos dessa aldeia global em que se transformou agora. Não entendi muito bem por que parece tão difícil para a maioria dos homens o que é tão simples para mim, como a vida no rio...


Acordava cedo, à primeira luz do dia ou ao cantar dos pássaros no alvorecer. Em poucos minutos já estava de pé, ajeitando as tralhas do acampamento na canoa, fazendo minha primeira refeição, singela e agradável, sob árvores frondosas, ou diante de um dos incansáveis espetáculos da Natureza, tingindo de cores o céu e as águas...


Logo, a canoa deslizava suavemente pelo rio, abrindo pequenas ondas ao seu redor, quebrando o espelho e perseguindo o Norte ou o Leste, não importava o destino, pois o único caminho que eu tinha me levava ao mar, distante e misterioso como todo meu percurso. Meus olhos registravam cenários efêmeros, que logo se dissipavam, dando lugar a outras pinturas que minha câmera se recusava a preservar. Às vezes eu nem tentava fotografar ou filmar, extasiado pela beleza e encantado pela sonoridade dos cantos dos pássaros...


O ritmo constante das remadas agia como um bálsamo ou um alucinógeno, levando-me a pensares não imaginados, conduzindo minha mente para além da mediocridade humana... em nenhum momento pareceu-me monótona a vida no rio; nada se repetia, ainda que as idéias fossem as mesmas, havia sempre uma transformação que conduzia a novas conclusões.


Nunca almoçava; não havia tempo para interromper a "caminhada", pois "navegar era preciso" e "chegar a algum lugar no mapa" significava cumprir a missão daquele dia. Bebia muita água, mais de quatro litros por dia; comia castanhas e granola, às vezes um doce, e isso me bastava. À tardinha, quando o sol se aproximava do horizonte, era hora de buscar abrigo: uma pequena praia ou um barranco protegido sempre estavam a me esperar e para lá me dirigia.


Sempre sabia que aquele era o lugar escolhido, pois a canoa se dirigia a ele quase espontaneamente; eu mal conduzia o barco e ele parava no lugar apropriado. É curioso como a Natureza provê tudo o que precisamos para sobreviver em segurança. Muitos me disseram: "vai ser roubado!", ou "vai naufragar", ou ainda "cuidado com os bandidos!". Que bandidos?


Montava meu acampamento sem pressa, pois o dia é longo e o tempo passa devagarinho para quem não está na correria das cidades... esse foi o mais longo ano de minha vida... e o mais expressivo, mais belo, mais gratificante, mais produtivo em todos os aspectos. O fogareiro fazia uma comida simples e gostosa, com alguns condimentos que levei... comia devagar, saboreando cada porção de alimento, imaginando que seus nutrientes me fariam recuperar as energias perdidas nas remadas. Bebia um refresco, ou apenas água...


Antes de me recolher lavava as roupas e os materiais de cozinha, e isso também nunca me incomodou. Um pequeno aparelho enviava um sinal para meus amigos e a família, confortando-os com a mensagem de que eu estava bem. Revisava as fotos do dia, as filmagens, olhava os mapas e me situava no globo dos homens, que pouco signficava para mim. Antes de dormir escrevia minhas memórias, meu essencial "diário de bordo".


Pela manhã o ritual era mais simples: desmontar a barraca, colocar a canoa na água, tomar um leite com "ovomaltoddy" ou granola, desfazer as marcas que deixara de minha presença nas areias da praia ou nas folhas do barranco, e seguir viagem novamente. Ah... estava me esquecendo de minhas necessidades fisiológicas! Um pequeno buraco na terra, longe da água, umas folhas, sabão antissético e um banho de rio; escovar os dentes e... pronto!


Assim foi minha vida nesses 99 dias que se passaram desde que saí de São Roque de Minas, exceto os três meses que corri atrás de patrocínio inutilmente... se quero viver assim? não sei... talvez meu espírito inconstante busque novos desafios, novas aventuras, novas experiências antes que eu me acomode em um pequeno esconderijo no meio do mato, no alto da montanha, na escuridão das matas, em algum lugar distante e desabitado, onde possa terminar meus dias... talvez eu não possa escolher o meu destino... mas vocês sabem o que eu quero nesse final e, quem sabe, se compadeçam de mim e deixem-me partir em paz...

sábado, 26 de dezembro de 2009

Ponte sobre o rio São Francisco, entre Petrolina e Juazeiro

Foto de Avelar Amador, um grande amigo que encontrei em Petrolina, e que me deu apoio desde Pernambuco até à chegada na foz do São Francisco, em Piaçabuçu!

Frustrações e o futuro...


Entre tantas alegrias por realizar meu grande projeto, é certo que ficaram algumas frustrações, decepções e tristezas por não ser compreendido muitas vezes... isso é natural; afinal, um ano dedicado a um projeto não é pouco! E o que interessa ao povo é mesmo aquele "axé" das músicas "bregas", ou o brilho opaco das celebridades fabricadas pela equipe global, ou ainda a trivialidade cotidiana de permanecer estável e seguro na sua própria zona de conforto...


Frustração de não ter visitado o Parque Nacional de Peruaçu, por exemplo. A Sociedade Brasileira de Espeleologia, à qual estive filiado por tantos anos e de cujos eventos participei tantas vezes, não me deu nenhum apoio, negou-me até uma resposta ao meu pedido de incluir minha expedição em seu calendário! Deixei de ir ao parque... uma pena, já que ele é desconhecido da maioria dos brasileiros e até mesmo dos amantes das cavernas, como eu. Nem mesmo posso citá-lo em meu livro...


Decepção por não receber um único patrocínio de nenhuma dessas grandes empresas que alardeiam seu compromisso com o meio ambiente, mas ignoram um projeto de tamanha expressividade e envergadura, em defesa de nosso maior patrimônio hídrico nacional. Muitas sequer responderam ao meu pedido de patrocínio; outras apenas declinaram alegando não se adequar o projeto às suas linhas de atuação. Isso desnuda suas verdadeiras intenções de transformar em lucro até suas atividades preservacionistas; se não houver incentivo fiscal, não há patrocínio! Ou seja, mesmo quando apóiam alguma iniciativa em favor da Natureza, quem paga a conta é o governo, com sua renúncia fiscal, ou seja, "nós pagamos!".


Tristeza por ver que nossas autoridades, em todas as esferas da administração pública, estão completamente despreparadas e equivocadas ao lidar com as questões do meio ambiente. Não existe nenhum projeto de revitalização, apesar das propagandas governamentais! Tristeza também por perceber que aqueles que me deram a mão em situações difíceis, muitas vezes desapareceram assim que eu parti para outros estados ou municípios que não os seus.


Quem apóia o faz sem interesses pessoais... mas isso quase não existe! O interesse está sempre acima da solidariedade! E isso é difícil de aceitar para quem está sozinho em um rio extenso e desconhecido, como o São Francisco... desconhecido sim, não por mim, mas pela sua população inteira! Cada lugar que visitei, em cada entrevista que dei, as pessoas me perguntavam, não como estava o rio em toda a sua extensão, mas como seu lugarejo cuidava dele, ou melhor, "como eu sou percebido por vocês?". Um rio não é um mosaico de micro-naturezas que não se relacionam; é um ecossistema complexo e integrado onde as ações humanas causam efeitos cumulativos em tudo o que vem depois.


Esse imenso e fantástico rio continua órfão de seus próprios hóspedes e habitantes!


Mas minhas frustrações, tristezas e decepções não diminuem em nada  os resultados que alcancei... pelo contrário, a despeito de tamanho descaso e desconsideração, consegui atingir os meus propósitos! E isso hoje me basta, por enquanto; pois uma nova batalha tenho à minha frente, que é a de transformar todo esse material coletado em um documento definitivo!


E ainda tenho alguns poucos grandes amigos que me acolheram, me deram as mãos, ativaram sua rede de contatos e permitiram que minha aventura se transformasse na mais importante experiência de minha vida! A todos eles, a minha eterna gratidão!


Publicarei brevemente uma postagem exclusivamente voltada a destacar essas pessoas!

quarta-feira, 9 de dezembro de 2009

Piaçabuçu - Alagoas: foz do rio São Francisco

Missão Cumprida!
A sensação de terminar um projeto tão longo, com tantas e diferentes dificuldades, sem patrocínio e apoio oficial de nenhuma organização, desconhecido pela grande mídia, é indescritível! Consegui vencer por meu próprio mérito e pelo apoio conquistado pelo caminho...
Os três últimos dias foram particularmente difíceis... depois que deixei aquela linda praia de Gararu segui em direção a Porto Real do Colégio e Propriá. Saí de madrugada, ainda noite, para evitar os fortes ventos e a agitação do rio, cada dia mais intensos.
O rio estava plácido, dormindo, como diz a lenda, e o barco deslizava rápido por aquele lago noturno. Logo passei por Traipu... fiz umas fotos sem graça e segui adiante. O que mudou muito na paisagem, desde Xingó, é que agora as ilhas eram pequnas, baixas e cobertas por uma densa vegetação aquática, arbustos verdes...
O rio voltou a ser largo, mas a água continuava límpida e verde esmeralda. No entanto, essa vegetação aquática, muitas vezes submersa e formada por algas longas, quando exposta ao sol apresenta cheiro desagradável.
Quando me aproximei de Porto Real do Colégio ouvi fogos e muita música, embarcações com grandes velas coloridas e "gaiolas" de todos os tamanhos. O barco da "família real" já havia passado por mim e quase me afundara na noite anterior. Por isso, fiquei atento, tentando evitar as fortes ondas que eles fazem ao passar. Havia uma grande estátua no meio do rio e parei de remar para fotografá-la; isso me custou caro, pois as ondas eram fortes, e tive que fazer manobras rápidas para evitar ser apanhado por elas...
Não consegui parar na cidade, nem atravessar até Propriá, porque a algazarra era demais para meus hábitos solitários e o rio estava violento. Pouco antes da grande ponte da BR 101 parei sob umas árvores para descansar. Amarrei o barco como pude e fiquei apreciando o vai-e-vem de barcos, alguns rápidos e movidos a vela, outros lentos, com motor de rabeta, rangendo e lutando contra a correnteza e as ondas.
Fiquei algumas horas parado, analisando as alternativas: por baixo da ponte, a densa vegetação e inúmeras ilhas não me permitiam compreender o caminho; pensei em passar a noite ali, pois o barco estava estabilizado e era um local tranquilo e protegido.
Porém, na ânsia de prosseguir e chegar o mais breve possível até o final, decidi arriscar a sorte e prosseguir. Eram 12 horas. Uma hora e meia depois, lutando contra as águas raivosas do rio, sendo jogado ora para um lado, ora para outro, fazendo manobras bruscas para evitar que o barco girasse sobre si mesmo e eu perdesse o controle, usando todas as minhas forças inutilmente, eu andara menos de dois quilômetros e apenas passara por baixo da ponte... os sons da cidade ainda eram fortes.
Tentei encostar em um barranco e acampar, mesmo em um pasto, mas a canoa batia na lama do barranco sem vegetação e as formigas me devoravam enquanto eu tentava encontrar um meio de retirar as tralhas. Depois de algumas tentativas frustradas, desisti e voltei para a tormenta. Lembrava-me do filme "Mar em Fúria"... esse era o meu "rio em fúria", mantidas as proporções... meu barquinho, uma "casca de noz", era jogado sem piedade!
Progredia de forma insignificante, mas precisava encontrar algum lugar protegido no meio daquela barreira de terra destruída. Uns 200 metros adiante vi uma pequena moita de calumbi e capim, e me apeguei a essa possibilidade. Remava com todas as minhas forças e, alguns minutos depois, joguei o barco de lado, forçando-o contra o capim e lá me refugiei, apesar dos espinhos e insetos.
Era evidente a ação protetora daquela simples vegetação para o barranco! As ondas e a correnteza eram domados por uma pequena moita de arbustos... mas os estúpidos fazendeiros continuam a devastar até o último pé de capim, mesmo que o rio venha a cobrar o seu tributo, levando as terras para dentro de seu leito e retirando o medíocre ganho de espaço conquistado pela ganância desses homens.
Amarrei precariamente o barco e me ajeitei como pude no pequeno espaço interno. Sabia que a espera seria longa e cansativa, pois o rio só adormece depois da meia-noite. E ainda teria que esperar pela luz da lua, cada vez mais tardia... já era quarto-minguante e sua tênue luminosidade ainda permitia navegar.
Saí de lá às duas horas da madrugada, sem dormir, sem comer e picado pelos insetos, com o corpo todo dolorido da incômoda posição. O rio voltara a ser calmo e meu barco parecia um caiaque, deslizando célere pela lagoa encantada em que se transfomara o meu "Velho Chico".
Remei intensamente, cada vez mais motivado pela possibilidade de encerrar a expedição. Mas o céu se cobria de pesadas nuvens e a visão do rio era precária. Felizmente, não havia nenhuma outra embarcação com a qual eu pudesse me chocar inadvertidamente.  Éramos apena eu, quebrando a magia do lago e o silêncio do caminho, com minhas remadas compassadas e firmes...
De repente, começou a chover. Olhei para o céu e era todo nuvens, densas e carregadas. Tive receio de uma tempestade: vento e chuva seriam os ingredientes ideais de uma tragédia, pois ali, a mata era um só manto negro nas margens do rio...
Felizmente, a chuva cessou tão rápido quanto viera, e eu continuava remando com todas as forças. Pela manhã, ao nascer do sol, eu já estava em Penedo, uma cidade curiosa, protegida por uma espécie de enseada longa e curva, que me obrigara a atravessar para a margem direita, contornar o "istmo" e retornar à margem esquerda. A escuridão fazia tudo parecer misterioso... via imagens e as interpretava conforme meu sentimento, às vezes imaginando cenas inexistentes, outras valorizando detalhes insignificantes...
Havia algum movimento de barcos de pescadores e uma balsa, que levava carros, pessoas e mercadorias para o outro lado, onde também havia um povoado. Luzes coloridas, piscando intermitentemente, e música indicavam o final de uma festa, talvez a mesma que agitava Porto Real e Propriá...
Pensei em talvez encontrar algum bar ou quiosque ainda aberto, com  aqueles bebedores renitentes,  onde poderia encontrar comida... talvez até uma padaria, pois a fome estava me alertando sobre o vazio em meu estômago. Mas não havia nada! O som ecoava no vazio da noite e decidi parar o barco ao lado da balsa, sob um poste iluminado. Tomei dois goles de mel; era o que estava à mão naquele momento.
Um pescador se aproximou e "puxou conversa". Perguntou de onde eu vinha, de que era feito meu barco e coisas assim... e se eu achara os ventos fortes até então, é porque não conhecia o que haveria adiante! É que a proximidade do mar agora influenciava o rio e, na maré enchente, ele avançava por quilômetros, criando ondas mais fortes e mais altas, além do vento incessante.
Eram seis horas da manhã quando saí de Penedo. Já ventava um pouco e havia uma sucessão de ondas vindo em minha direção, mas eu progredia bem e não me importei com o esforço extra.
Às sete horas encontrei uma região belíssima - acho que o nome é Marituba" - com ilhas e margens cobertas de rica vegetação. Pela primeira vez desde Paulo Afonso eu voltava a ver e ouvir os pássaros! A água parou e as ondas desapareceram, como por encanto. Pois era assim que eu me sentia, encantado com aquele paraíso; reduzi a marcha e comecei a passear pelo rio, pura meditação em movimento... era como uma espiral, girando sobre si mesma, e escolhi o caminho mais longo para apreciar essa maravilha!
Alguns pescadores jogavam suas tarrafas e os peixes saltavam ao meu redor. Mas, aos poucos, percebi que boa parte daquele lugar já havia sido profanada! Nas ilhas, por detrás das matas, plantações de coqueiros; nas margens, depois da estreita vegetação, o gado tomava conta de tudo!
Sentia o cheiro de mata queimada e molhada pela chuva e, logo depois, uma grande extensão de terra desolada pelo fogo recente, os troncos enegrecidos e retorcidos, à margem do rio... o encanto se quebrou... ainda vi algumas belezas, como um trecho de areia branca, quase à superfície da água; depois uma enorme vegetação de algas submersas, balançando-se ao movimento do rio... e mais nada!
Voltei ao rio, normal e agitado pelos ventos. A chuva também voltou e temia não conseguir chegar a Piaçabuçu antes do vendaval. Já passava das nove horas e teria ainda cerca de 15 quilômetros pela frente, pelas marcações do GPS. O vento aumentou depressa e resolvi parar, pois estava exausto! Encostei sob umas árvores e fixei a canoa. Desci e limpei o lugar, pensando na possibilidade de pernoitar ali. Pelo menos não havia formigas, e tinha até uma minúscula praia para eu tomar um banho. Mas não tinha espaço para armar a barraca e teria que dormir no barco pela segunda noite consecutiva; isso me incomodava...
Aproveitei para colocar tudo em ordem: pendurei a toalha e a rede, tirei a água do barco, tomei banho e falei com minhas filhas, dizendo que poderia me atrasar bastante. Muitos barcos passavam por mim e confesso que tive muita vontade de "pegar carona" e chegar logo ao meu destino...
Segui adiante uma hora mais tarde, quando o vento diminuiu de intensidade. Estava perto de Brejo Grande, a última cidade de Sergipe antes da foz. Mas tive que parar novamente, pois voltou a ameaçar chuva e o vento aumentou bruscamente. Encontrei um abrigo e cobri a canoa com a lona do acampamento. Preparei um leite com chocolate e estava já decidido a ficar por ali mesmo.
Mas depois de algum tempo, perto do meio-dia, resolvi retomar a viagem. Lembrei-me das marés e pensei que, agora, na vazante, elas poderiam me ajudar, puxando o barco com a água do rio em direção ao mar. De fato, apesar do vento e de algumas ondas, o barco voltou a progredir e andar rápido. Era curiosa a ilusão óptica: remando contra as ondas, o rio parecia subir uma leve ladeira! Havia muitos aguapés nas margens.
Passei por um lugar apelidado de "Penedinho", uma espécie de clube de campo com várias casas, muitos barcos e até "jet-ski"! As propriedades colocaram cercas de arame farpado dentro do rio, impedindo os barcos de atracar! Um absurdo inaceitável! O rio é de todos, uma concessão de uso! No dia anterior eu tinha sido atacado por dois "hotweiller" em uma propriedade dessas, casa de luxo, talvez um marajá da era Collor... agora me mantinha distante da margem, por precaução...
Avistei Piaçabuçu às 13 horas. Bem antes de chegar à cidade, uma longa sucessão de barcos evidenciava uma vila de pescadores. O rio voltou a se agitar, mas agora, com essa visão de "fita de chegada" nada mais me seguraria! Remei intensamente, não me importando com as ondas que faziam a popa do barco se levantar e bater com força nas águas... até gostava desse barulho!
Cheguei a Piaçabuçu e observei o portal à frente, onde se descortinaria o mar... estava, finalmente, no final de minha jornada! Consegui vencer! Uma sensação indescritível!
Parei para me orientar e um pescador me informou que havia uma pousada logo à frente. Segui margeando a orla, que se contorcia à esquerda, alargando o rio antes de se lançar no oceano.
Muitos barquinhos coloridos estavam ancorados na baía, à frente de uma parede de contenção. Logo avistei a pousada e, finalmente, ancorei. Podia comemorar!
Estava completada a expedição que durou 99 dias de atividades intensas, três meses parado em Três Marias, cinco meses de planejamento, uma despesa enorme que consumiu todos os meus recursos e muito mais, e um ano inteiro dedicado ao rio que deveria ser tratado com dignidade, motivo de orgulho de todos os brasileiros.
No entanto, o sentimento que me resta é uma tristeza enorme pelo descaso do poder público em todas as suas esferas, a ignorância extrema de fazendeiros e pequenos agricultores, a falta de planejamento para a propalada revitalização, e o alarde eleitoreiro de uma grande obra que, ao invés de atender às carências dos ribeirinhos, levará as águas do Velho Chico para outras bacias do Nordeste, para as grandes cidades, para a agro-indústria, mas não para a população rural, de 12 milhões de pessoas, que continuarão dependendo dos carros-pipa para poder sobreviver!
A transposição não resolverá os problemas do semi-árido porque quem a projetou não sabe o que é o Sertão, como vive esse povo, do que ele, de fato, necessita para recuperar esse atraso tecnológico e cultural em que se encontra.
A sensação que eu tive ao visitar a maioria das comunidades, principalmente do oeste baiano, é de uma volta ao passado, cinquenta anos atrás, na época da minha infância. Casas de taipa, carros de boi, nenhuma oferta de cultura, economia de escambo ou predatória, pessoas sem perspectivas ou ambição, desemprego, intensos conflitos de terra, exploração da ignorância pelos apelos da fé e das promessas  de políticos corruptos, cidades que não tem receita para reverter esse quadro lastimável!
Com a falta de oportunidades e de emprego, os poucos filhos dessa terra que saem para estudar e conseguem uma formação superior abandonam seu lar ancestral e seguem para os grandes centros urbanos.
Centenas de minúsculas comunidades vivem nesse espaço sem perspectivas, e sua única ambição é um pouco de água, um pedaço de chão e condições de cultivar seus alimentos e cuidar da criação. Rezam para que a chuva chegue a tempo de molhar sua plantação para que possam alimentar sua prole que, não raro, se compõe de seis, oito, dez filhos, uma pequena criação de cabras, algumas galinhas, uns poucos porcos, uma ou duas vacas, todos criados soltos, partilhando de sua vida camponesa.
As "ONGs" que aqui atuam incendeiam esse cadinho de tensões sociais, que derrama sua lava nas lutas pela terra, sua ocupação e posse definitiva, conquistada, às vezes, sem eliminar os conflitos.
Algumas comunidades afirmam ser quilombolas ou indígenas para agilizar a pesada e ineficiente máquina federal, ainda que suas feições sejam as mesmas de todo o povo sertanejo, e quase todos tenham perdido a memória de seus antepassados, sua lingua ancestral, seus costumes, suas crenças, sua história, enfim.
A quem interessa essa pobreza imensa? Às igrejas de todos os cultos, que asseguram seus "rebanhos", aos políticos de todos os matizes, que a transforma em mote eleitoreiro na sucessão dos anos, aos movimentos sociais e às "ongs", que delas, as pessoas, fazem sua bandeira e sua luta. E, com isso, o semi-árido, verdadeira nação são-franciscana, se esfacela em um misto de fé inabalável e em sua única expectativa de redenção, depois desta vida...
E, com isso, o rio caminha para a sua própria morte, das águas, dos povos, dos animais e da vida em todas as suas manifestações naturais e selvagens. O que será desse povo quando o rio não for mais capaz de se sustentar e mergulhar na entropia irreversível da auto-destruição?
Talvez a culpa seja atribuída ao passado, mas é no presente  que agem, intensas, essa forças da destruição. E assim como os demais biomas nacionais, vamos dizimando a Natureza, consumindo as riquezas de nossa redenção.
Somos o país mais rico do mundo em bio-diversidades, em hidrologia, em miscigenação racial, em sincretismo religioso... mas não somos capazes de preservá-los e de utilizá-los como alavanca de um desenvolvimento verdadeiramente sustentável, sem demagogias ou mentiras.
Ainda assim, depois de transformar o meu Velho Chico em minha morada e paixão por tanto tempo, posso afirmar que esta foi a maior e mais intensa experiência de minha vida, em aprendizado, em transformações intelectuais, pessoais e definitivas.
Se saberei convertê-las em um produto cultural, se minhas palavras se coverterão em um livro, se esse livro influenciará pessoas e influirá em outros destinos, só o futuro me responderá.
Mesmo que nada mais aconteça, eu me transformei, perdi minhas poucas vaidades, fiz dessa expedição um processo peregrino e missionário, e influenciei meu futuro e meu destino. E posso afirmar que valeu a pena!
Faria tudo de novo?
Certamente, não! Porque assim como as águas que nascem da Canastra nunca são as mesmas, ainda que voltasse a cada uma dessas localidades por onde passei, e percorresse os mesmos caminhos, meus olhos já não seriam os mesmos e contemplariam tudo de modo diferente, mais amadurecido, talvez, menos extasiados, certamente, mas com outros sentimentos, diferentes até na perplexidade e no encantamento que só existem no primeiro encontro.
Sou, portanto, mais uma vítima desse rio, um apaixonado que vê a sua amada sendo estuprada pela ganância e pelos interesses mesquinhos e imediatistas que a levarão à morte inevitável e cruel...
Fiz a minha parte... e você?

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

A chegada


Depois de 100 dias remando no leito do Rio São Francisco o canoísta João Carlos Figueiredo termina sua jornada fluvial e chega hoje finalmente no encontro com as águas do mar!
No momento o canoísta se encontra na cidade de Piçabuçu/SE e assim que tiver contato com a internet contará a todos como foi esse final da expedição!
Parabéns pelo sucesso na expedição!!!!!
Que bom que estará de volta trazendo essa riqueza de informações, registros e experiências de vida com você!

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