sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Igreja de São Francisco


Pôr do Sol na minha praia, às 18:00 horas


Morram de inveja!

Pôr do Sol na minha praia, às 18:00 horas



Carro de Boi na praia, a 18 km de São Francisco


Minha canoa, agora com Guarda-Sol!


Igreja de Nossa Senhora do Rosário em São Romão


Carro de Boi em São Romão


quarta-feira, 30 de setembro de 2009

São Romão


Casarão de 1.880 em São Romão
Cheguei a São Romão ontem, às 16:00 horas, depois de ser alcançado pelo vapor Benjamin Guimarães. O Comandante soou o apito me saudando, e eu me senti recompensado por aquele gesto de atenção!


O calor no rio é insuportável! Por várias vezes tive que parar sob a sobra de árvores para me recuperar de uma quase insolação... bebia água sem parar, mas não era suficiente; e com o tempo, a água foi se tornando morna, depois quente... bebi dois litros de água e a transpiração era constante.


No caminho havia trechos onde o assoreamento era tão intenso que metade do rio estava tomada por praias de areia. O vapor ziguezagueava, procurando águas mais profundas. E os pescadores reclamam que Três Marias aumenta a vazão para permitir que o barco possa navegar nessas águas cada vez mais rasas do Velho Chico... Até quando? Um dia os peixes desaparecerão por completo e essa gente pobre não terá como se sustentar. E então será tarde depmais para se tomar alguma providência! Para piorar, dizem que foi introduzida uma espécie estranha ao rio, o pacu caranha, e o surubim está desaparecendo do rio...


Chegando a São Romão não havia nenhum apoio me aguardando. Consegui ajuda de um mecânico, "seu" Joaquim, que prontamente levou seus ajudantes e tiraram a canoa do rio e levaram para a oficina, onde guardei minhas tralhas. Conhecendo meu projeto, ele me disse que tinha prazer em me ajudar.


Procurei um hotel simples para me hospedar; fiquei no São Geraldo, onde pude tomar um banho, lavar minha roupa, beber muita água e descansar um pouco. Fui, em seguida, a uma padaria; o calor interno não cessava! Parecia que estava com febre e exalava calor pelos poros; tomei dois sorvetes, bebi água de quatro cocos, mais uma garrafa de água, e outro sorvete. No hotel, ainda sentia esse calor me invadindo...


Dormi bem, com o ventilador ligado, e acordei muito cedo, apesar do cansaço; era o hábito!
Saí à procura das casas antigas, pois me disseram que a cidade tinha mais de 400 anos; mas não existe nada preservado; em vez de casarões antigos, casas velhas e mal cuidadas. Mas a cidade está em reforma e pode-se ver muitas pequenas obras: asfaltamento de ruas, limpeza de terrenos, construções...


Fui à padaria e tomei café da manhã, seguindo para a prefeitura. Lá encontrei Cândida, a secretária da cultura, que abriga também um chefe de agricultura; conversei com ele e me passou muita informação interessante a respeito do município. Nota-se que as voçorocas destroem grande parte do município, sem dinheiro para conter a degradação; existem projetos que tramitam nos órgãos federais há anos, sem resposta. O PAC faz obras de saneamento de esgotos, mas é muito pouco para a gravidade dos problemas ambientais.


Ficarei hoje por aqui, tentando obter mais informações e descansando do sol; amanhã saio cedo em direção a Januária, mais cinco dias de viagem. Comprei um guarda-sol que os pescadores visitantes costumam colocar em seus barcos a motor; vou tentar adaptá-lo à canoa e reduzir a incidência de sol...


Também comprarei uma caixa de isopor para guardar minha água e tentar mantê-la a uma temperatura suportável. Hoje não tem fotos, pois esqueci o cabo e a velocidade da rede é muito baixa. Até Januária!

sábado, 26 de setembro de 2009

Vapor Benjamin Guimarães



Foto: Closé Limongi
25 de setembro de 2009, Pirapora, MG
Os vapores que faziam o trajeto do São Francisco no início do século passado eram todos movidos a lenha e queimaram grande parte da mata ciliar em toda a sua extensão. Eram mais de 35 barcos, a maioria vida do Mississipi e, com a desvalorização do transporte fluvial, acabaram em desuso. Na ditadura militar muitos foram queimados, outros afundados e o que restou foi desmontado e vendido como sucata!


Só restou o Benjamin Guimarães... hoje ele ainda usa lenha como combustível, só que de eucaliptos, de "reflorestamento"! Apesar disso, é um marco histórico da vida nacional e traz divisas para os municípios por onde circula: Pirapora, Ibiaí, Ponto Chique, São Romão, São Francisco e Januária.

PIRAPORA: uma viagem ao passado

Foram três dias de canoagem desde Três Marias. Logo na primeira tarde encontrei uma bela ilha para acampar; um gramado extenso e tranquilo, onde montei acampamento. Estava feliz por ter superado a "cachoeira" Grande, com o apoio de Norberto, figura lendária do Velho Chico e grande conhecedor de seus mistérios. À noite a chuva chegou... primeiro, um festival de raios e trovões, prenúncio de tempestade. Minha barraca estava a uns cinco metros da água, em uma pequena elevação. Aparentemente, não deveria me preocupar. Mas não tive tempo de fazer um jantar e me contentei com minhas sementes e damasco. Escrevi um pouco e adormeci.
Subitamente, acordei com pássaros cantando e voando agitados. Era um mau sinal... olhei para fora da barraca e a água subira quase meio metro, aproximando-se da barraca. Olhei o barco: tivera o cuidado de retirá-lo da água e emborcá-lo, pouco abaixo de onde eu estava; com a subida do rio, ficou meio submerso, inclusive com algum material, cabos e uma sacola, tudo dentro dágua.
Não tive alternativa, senão me levantar e preparar um plano de evacuação, caso o rio subisse mais um pouco. Improvisei uma sinalização; se a água chegasse àquele ponto, seria hora de partir. Juntei todas as sacolas, retirei o que pude da barraca (saco de dormir, isolante, equipamentos) e coloquei tudo no barco. Retirei os specs e deixei a barraca semi-desmontada, pronto para partir.
A noite se arrastou, deixando-me insone e preocupado, vigiando a marca de alerta, mas nada aconteceu. Não dormi mais. Às cinco horas resolvi partir, deixando aquele que teria sido um ótimo local para acampamento.
Desci o rio na expectativa de passar a "cachoeira" do Ladeiro (ou "Criminosa"). O rio estava rápido e as remadas rendiam bem; no entanto, o tempo permaneceu fechado e bastante úmido, prenunciando novas chuvas. Perto do meio-dia cheguei à corredeira; conforme Norberto me orientou, segui por um estreito e raso canal à direita, que formava uma ilha ao lado da corredeira. Saí depois dela e só então percebi que não havia nenhum perigo; com a elevação do nível do rio ela se tornou fácil e mansa... mas eu passara sem dificuldades pelo canal.
Logo a seguir a chuva voltou forte e decidi parar; procurei um local adequado, mas a mata era densa e não encontrei nada. Parei em um rancho e pedi para montar minha barraca no terreno. O dono, Francisco, me recebeu de forma hospitaleira, ajudou-me a desembarcar, emprestou-me toalha e sabonete e tomei um banho quente! Enquanto isso, ele e seu pai, também Francisco, já preparavam o almoço, para o qual fui convidado.
Depois fui levado a conhecer a propriedade e decidi voltar ao rio, pois a chuva passara. Agradeci aos meus anfitriões, amáveis como todos os mineiros que conheci nesta expedição, e segui meu caminho.
Parei uns dez quilômetros adiante e montei acampamento. Tive muito tempo para acampar. À noite verifiquei minha posição: ainda faltavam uns 50 km até Pirapora. Precisava chegar no dia seguinte, aniversário de minha filha Luciana. Acordei cedo e remei forte por cerca de 5 horas.
Cheguei a Pirapora às 13:30 horas e me encantei com as pontes, as corredeiras, a paisagem magnífica! O rio se espalhava por uns 300 metros de largura, movendo-se suavemente antes da velha ponte férrea meio abandonada...
Fui recebido por Tina, gestora do vapor Benjamin Guimarães, onde fiquei hospedado. Magnífica embarcação construída em 1913, percorreu o Mississipi, depois o Amazonas, chegando, finalmente a Pirapora, onde serviu durante anos! Hoje transporta turistas em passeios memoráveis de 3 a 15 dias, chegando até Januária.
Agradeço a Closé, meu amigo e assessor, que me propiciou as estadas em Três Marias e Pirapora. Amanhã retomo minha viagem, revigorado pelas excelentes horas passadas nesse ícone do passado!

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Cronograma Atualizado em 22/09/2009

Três Marias / MG (22/09/2009)
Pirapora / MG (130 km – 25/09/2009)
Ibiaí / MG (65 km – 27/09/2009)
Ponto Chique / MG (35 km – 28/09/2009)
São Romão / MG (40 km – 29/09/2009)
São Francisco / MG (65 km – 01/10/2009)
Pedras de Maria da Cruz / MG (02/10/2009)
Januária / MG (80 km – 05/10/2009)
Itacarambi / MG (60 km – 07/10/2009)
Matias Cardoso / MG (36 km – 11/10/2009)
Manga / MG (12 km – 12/10/2009)
Malhada / BA (12/10/2009)
Carinhanha / BA (54 km – 14/10/2009)
Serra do Ramalho / BA (90 km – 17/10/2009)
Bom Jesus da Lapa / BA (42 km – 18/10/2009)
Paratinga / BA (80 km – 22/10/2009)
Ibotirama / BA (67 km – 24/10/2009)
Morpará / BA (83 km – 27/10/2009)
Barra / BA (60 km – 29/10/2009)
Xique-Xique / BA (65 km – 01/11/2009)
Remanso / BA (165 km – 07/11/2009)
Sento Sé / BA (08/11/2009)
Sobradinho / BA (156 km – 13/11/2009)
Juazeiro / BA (40 km – 15/11/2009)
Curaçá / BA (103 km – 20/11/2009)
Santa Maria da Boa Vista / PE (40 km – 21/11/2009)
Orocó / PE (35 km – 22/11/2009)
Cabrobó / PE (30 km – 23/11/2009)
Belém de São Francisco / PE (40 km – 25/11/2009)
Paulo Afonso / BA (180 km – 01/12/2009)
Canindé de São Francisco / SE (60 km – 04/12/2009)
Piranhas / AL (05/12/2009)
Pão de Açúcar / AL (40 km – 06/12/2009)
Gararu / SE (40 km – 07/12/2009)
Traipú / AL (15 km – 08/12/2009)
Porto Real do Colégio / AL (52 km – 10/12/2009)
Propriá / SE (11/12/2009)
Penedo / AL (35 km – 12/12/2009)
Ilha das Flores / SE (20 km – 14/12/2009)
Piaçabuçu / AL (20 km – 16/12/2009)
Pirambu / SE (60 km – 20/12/2009)
Aracaju / SE (30 km – 22/12/2009)

Três Marias: retomada da Expedição

Chegamos a Três Marias no sábado, ao final da tarde... minha filha Mônica e minha Mory me troxeram... suas presenças ao meu lado foram um presente, uma dádiva, cuja lembrança alimentará meus pensamentos por toda a jornada! Que bom ter o apoio daqueles a quem amamos! Luciana, Mônica, Mory, Nícolas, Bruno, minha mãe querida... vocês já fazem parte dessa expedição!

Fomos recebidos pelo Secretário do Turismo, Elias e sua esposa, e por seu assessor, José Arnaldo, que carinhosamente nos acolheram e permitiram meu acesso à rádio, à população, ao jornal, ao rio... muito obrigado a todos!

Amanhã saio de Três Marias e sigo meu caminho... Norberto, lenda viva do Velho Chico, me acompanhará até à cachoeira Grande, mostrando-me os canais para superar esse obstáculo. Então serão mais cerca de 120 km até Pirapora.

Por enquanto, é esse o breve relato do reinício... é muito mais difícil retomar essa jornada do que foi iniciá-la, em São Roque de Minas, no final de maio. Parece que nosso espírito se acomodou, que nossa mente parou em um vazio do tempo e do espaço, onde me perdi de meus objetivos...

Mas esse reencontro fará com que todos os ideais alimentados durante todos os meses de preparação e quilômetros de navegação despertem novamente, e revigore meu discurso preservacionista, mais forte, mais consciente, mais convicto do que nunca de que essa é minha causa e esse é o meu caminho!

A vocês que torcem por mim, este é meu compromisso: não esmorecer jamais, e levar essa bandeira, não como um soldado, mas em meu coração, onde já estão aqueles a quem amo acima de tudo nesta vida!

sexta-feira, 18 de setembro de 2009

Estou de volta, meu Velho Chico!


Amanhã retornarei ao meu Velho Chico... já consigo sentir as emoções que me esperam pelo caminho... é um misto de ansiedade e alegria contida, a adrenalina percorrendo as artérias e o coração batendo descompassado e inquieto! O que me espera nas curvas do rio?

Sigo para Três Marias, onde poderei falar ao povo, graças ao trabalho competente e amigo de Closé Limongi, meu anjo da guarda nessa viagem... obrigado, companheiro! Minha família, Mônica e Carmen, me levarão até o rio e de lá me despeço das comodidades do mundo moderno para ingressar de novo na Natureza... saudades de minha mãe querida, que me esperará ansiosa, sem saber ao certo por onde estou e por que faço isso, em sua ingenuidade e sabedoria que somente o tempo nos revela...

De alguma forma estarei de novo na companhia de meu pai, seu nome estampado na canoa, meu pensamento voltado pelas tantas oportunidades que tive de receber seus ensinamentos, mensagens sábias de um ser iluminado, que nos deixou órfãos de sua generosidade... no silêncio do rio, na escuridão das noites e na companhia dos animais que habitam suas margens estarei mais próximo de Ulysses, meu melhor amigo nesta vida...

domingo, 13 de setembro de 2009

Top1 em sustentabilidade.



Aconteceu ontem a premiação do TopBlog.
Com mais de 10 mil inscritos, Meu Velho Chico foi eleito pelo juri popular o número 1 em Sustentabilidade.

Agradeço, em nome do meu pai, a todos que ajudaram nessa vitória.:)

premiotopblog: Júri popular – SUSTENTABILIDADE – Pessoal – Top1: Meu Velho Chico (João Carlos Figueiredo) fonte: Twitter

sábado, 5 de setembro de 2009

Patrocínios e Doações - última chamada!

Transcrevo aqui o que já está escrito em meu blog porque acredito até o fim nas possibilidades de reverter expectativas não desejadas. Exemplo disso é o Prêmio Top Blog de Sustentabilidade que conquistamos pelo Júri Popular, nossa maior homenagem! E também nossa participação assegurada no programa global "No Limite", conseguida "no limite do tempo de inscrição!".

Esse é o nosso último apelo àqueles que podem influenciar pessoas e empresas a investir no Meio Ambiente. Muitos acreditam que somente as grandes ações trazem resultados significativos. No entanto, o que muda mentalidades, o que transforma pessoas é o esforço individual, a semente plantada uma-a-uma na consciência das pessoas, gerando uma "corrente do bem"!

Abaixo, transcrevo o meu texto, que consolida argumentos por patrocínios e doações. Conto com todos vocês: leitores de meu blog, amigos, companheiros de luta, políticos, empresários, organizações não governamentais. Leiam atentamente meu texto, considerando que ações perversas e empresários inescrupulosos estão vencendo essa batalha contra a Natureza.

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O aquecimento global, os desmatamentos, a ocupação agrícola descontrolada, a exploração intensiva do solo e o uso de defensivos agrícolas cada vez mais potentes, a construção de barragens de grandes proporções, provocam desequilíbrios ambientais irreversíveis, tais como a redução assustadora das reservas de água potável em todo o mundo, sinalizando um futuro desolador para a humanidade.

O Brasil é um país privilegiado pelos seus recursos naturais, principalmente hídricos e potáveis, os maiores do mundo. No entanto, todos esses fatores mencionados vêm causando degradação acelerada de nossas reservas naturais, aproximando-nos, perigosamente, dos limites suportáveis e reversíveis de exploração. Por outro lado, os previsíveis e iminentes conflitos internacionais pela posse desses recursos sinalizam riscos cada vez maiores à nossa soberania e sobrevivência, na medida em que demonstramos não ser capazes de administrá-los e protegê-los.

A bacia do São Francisco é um complexo hídrico e ecológico singular, uma vez que totalmente inserida em nossas fronteiras, com grande extensão navegável, quase uma centena de afluentes permanentes, e enorme extensão de terras banhadas por suas águas, e delas dependentes para seu cultivo e sobrevivência.

O principal produto de nosso projeto será a publicação de um livro ilustrado em cores, relatando a situação de pobreza das populações ribeirinhas, a poluição e o assoreamento das águas do São Francisco e seus afluentes, em toda a sua extensão, e documentando, através de fotos e depoimentos, a percepção e o sentimento dos habitantes das localidades visitadas.

Entendemos que ações como esta poderão provocar, a curto e médio prazos, a mudança da mentalidade de políticos, de autoridades e da própria população do país quanto ao uso e preservação de nossos recursos naturais.

Às empresas interessadas em patrocinar a expedição, serão oferecidas inserção de Nome, Logomarca e Link:

1. nos sites e blogs da expedição
2. em banners utilizados em palestras e entrevistas
3. nas páginas de abertura do livro a ser editado
4. no documentário a ser produzido com as filmagens
5. em qualquer evento ou exposição de fotografias do projeto

Além desses benefícios, as empresas patrocinadoras terão seu nome vinculado a ações de preservação ambiental e de comprometimento com a recuperação de um dos mais expressivos rios brasileiros: o Velho Chico!

Para contatos de patrocínio:
-enviar email para jotafig@hotmail.com
-ligar para (16) 9256-0665 ou (16) 3421-3210

Para doações:
-efetuar depósito em nome de:

João Carlos Figueiredo
Banco: 033 - Santander
Agência: 0257 - Higienópolis
Conta: 01.02.6440-1
CPF: 653.057.448-49

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O dia em que o Sol não nasceu


Naquela noite fomos todos dormir cedo. Havíamos caminhado o dia todo, a mochila pesando em nossos ombros... e o deslumbramento, ainda, da caverna que enchera nossos olhos! Não esperava encontrar uma gruta no alto da montanha, em meio àquela mata fechada e diante da paisagem que se estendia por quilômetros à nossa frente... era uma pequena travessia e nos levava ao outro lado do Castelo, como se conhecia esse local privilegiado, no meio do vale do Pati.

Montamos nosso acampamento à beira de um regato, próximo a uma daquelas casinhas rústicas que dominam o vale com sua singela beleza... o jantar foi preparado em grupo, como de costume, e conversamos, ainda extasiados pelo cenário que se registrou em nossas mentes. Seria difícil dormir com toda essa excitação, apesar do cansaço. Mas a noite veio lentamente pelo vale, escondeu o sol por detrás de suas paredes, e trouxe uma brisa refrescante.

Adormecemos...

Já era tarde quando eu despertei; mas me pareceu noite... a escuridão era total! Olhei em meu relógio: 10:22 horas! Não é possível, pensei!... estava tão escuro que precisei utilizar a lanterna, apesar das estrelas que tomavam toda a abóbada celeste. Olhei com deslumbramento para a Via Láctea, um rastro de névoa branca percorrendo o céu de um lado a outro.

Olhei ao meu redor e só então percebi que todos estavam de pé, igualmente perplexos com aquela noite em pleno dia, olhando para o céu, incrédulos como eu. O que significava isso? Por que o Sol não cumpriu sua obrigação de nos trazer de volta o dia?

Aos poucos, meus olhos se acostumavam com a escuridão e eu já podia perceber melhor as sombras e contrastes da Natureza ao redor. Mas notei, também, estupefato, que animais noturnos não se recolheram, e aqueles de hábitos diurnos saíram de suas tocas e esconderijos e não sabiam o que fazer. Cheiravam o ar e se entreolhavam; moviam-se com receio e permaneciam afastados das trilhas, como a pressentir que algo errado estava acontecendo.

Não podíamos desmontar o acampamento, mas também não tínhamos como ficar inertes ali, sem saber o que se passara durante aquela noite prolongada. Preparamos nosso café da manhã na expectativa de que tudo se esclarecesse com o evoluir das horas. Podia ser um eclipse?

Já era meio-dia quando decidimos partir, mesmo no escuro, e tentar contato com a civilização que deixáramos há mais de 10 dias, no início de nossa viagem. Era difícil caminhar pela mata à noite, mas tínhamos nosso GPS e a carta topográfica da redondeza. Só não podíamos nos afastar demais das trilhas, para não complicar ainda mais nossa situação.

Caminhávamos lentamente... agora tanto fazia a hora de parar e montar acampamento! Fazíamos pequenas paradas para descansar, comer e reidratar. Quase não conversávamos, pois estávamos assustados e temerosos diante desse fenômeno inexplicável. Tentamos nos manter nos vales dos rios, seguindo no sentido de sua correnteza. Certamente ele nos levaria para algum povoado, embora isso não mudasse em nada essa estranha realidade.

Para não perder a noção do tempo, anotávamos as horas e a localização em cada parada. Seguimos assim por três dias, acampando quando encontrávamos uma "clareira" (essa palavra perdera o sentido diante dessa situação), até chegar a Guiné, um pequeno povoado, um distrito de Mucugê. Pelo relógio eram três horas da madrugada, mas as ruas estavam repletas de pessoas assustadas e incrédulas. As beatas rezavam, de terços nas mãos; as crianças corriam de um lado para outro, achando graça da liberdade de estar na rua a essa hora da noite; as lojas e bares funcionavam, pois os comerciantes se aproveitavam para vender mais; os bêbados faziam a maratona 24 horas de embriaguês!

A polícia e as autoridades não sabiam o que fazer! A televisão não funcionava e as linhas telefônicas estavam tão congestionadas que ninguém conseguia completar uma ligação. Carros de som bradavam o "fim do mundo", enquanto grande parte da população chorava e gritava palavras desconexas, às vezes xingamentos sem nenhum propósito!

Curiosamente, no horizonte havia uma tênue luminosidade avermelhada, como se os raios de sol procurassem uma fresta para voltar à vida... não havia essa luz quando estávamos nas trilhas... será que tudo voltaria ao normal? Os cães ladravam nervosos, atacando todos que aparecessem à sua frente; o delegado mandou matá-los, mas a população não permitiu.

As notícias que chegavam, esporadicamente, das poucas ligações completadas, eram contraditórias e apavorantes! Alguns diziam que o mundo inteiro mergulhara nas sombras; outros, que a Terra se desprendera de sua órbita e vagava pelo Universo sem controle; outros ainda diziam que espíritos malignos desceram à Terra e buscavam as almas depravadas para levá-las para o Inferno! O pânico se alastrava e bandos de desocupados invadiam as lojas, levando tudo o que podiam: comida, roupas, aparelhos elétricos... mas levar para onde? levar para que?

Alto-falantes foram instalados nas ruas e mensagens de ordem eram pronunciadas continuamente, tentando restabelecer a tranquilidade à população. Mas não adiantava; os próprios locutores denunciavam seu pânico na voz balbuciante. Os mais preparados tentavam organizar grupos de defesa civil, arregimentando pessoas mais controladas. Porém, não havia tempo para que esses grupos se entendessem e formulassem planos eficazes diante do desconhecido.

Foi nessa situação que chegamos a Mucugê, horas depois, levados por uma kombi velha conduzida por um motorista apavorado. O veículo sacolejara tanto que estávamos todos enjoados e doloridos. Mas era preciso seguir para um lugar com mais recursos, pois sabíamos que em Guiné não tinha o que fazer para controlar a situação.

Para nossa surpresa, os moradores de Mucugê estavam tranquilos e conversavam animadamente nas ruas e praças da cidade. Procuramos o prefeito e relatamos o caos de Guiné e buscamos informações sobre o fenômeno sobrenatural. Apesar da aparente tranquilidade, ninguém podia esclarecer nada! O mundo estava mesmo na escuridão!

No quarto dia, um fraco sinal de tevê podia ser captado. Uma tela foi colocada na pracinha e o povo se reuniu diante daquele ícone, como se fosse um altar, um oráculo que, a qualquer momento, traria um esclarecimento lógico, uma explicação científica ou religiosa para a escuridão do mundo... mas os noticiários eram tão confusos quanto o povo!

O tempo se passava e os mantimentos se escasseavam nas prateleiras. Já não havia muitos bens essenciais e a população tentava sobreviver com coisas mais simples, como sementes, leite em pó, frutas, verduras... os animais haviam sido abatidos e devorados nos primeiros dias, em um ritual satânico impressinante, que nada deixava a dever para Fellini em Satyricon! Os que sobraram fugiram dos cercados, ou foram libertados pelas almas bondosas...

Dez dias depois do anoitecer já não havia água potável nas torneiras; os riachos foram contaminados pelos dejetos lançados, pois não havia nenhum serviço público que funcionasse: coleta de lixo, saúde, segurança, educação, transporte... tudo sucateado em meio a preocupações com o pânico cada vez mais violento! Assassinatos, saques coletivos, brigas violentas se sucediam e tornavam quase impossível a vida nos aglomerados urbanos.

Nós fugimos de Mucugê enquanto era possível, e nos refugiamos no leito seco de um rio; mudávamos de lugar continuamente para evitar que fôssemos descobertos. Mantínhamos vigília o tempo todo, alternando as sentinelas, enquanto os demais cuidavam de nossa sobrevivência. Nossos mantimentos também escasseavam, mas conseguimos montar um plano de baixo consumo e de coleta que ainda nos sustentava. Não podíamos fazer nada além disso.

Uns trinta dias depois que o fenômeno aconteceu, o mau cheiro se alastrava pelo ar, cada vez mais próximo de nós. Nos lugarejos, queimavam corpos em fogueiras para evitar epidemias. As mortes por violência diminuíam na medida em que a população quedava adoecida e fraca, a ponto de não mais lutar pela própria vida. Usávamos lenços improvisados sobre o rosto para reduzir o risco de contágio e prolongar a vida, ainda esperançosos de que tudo teria um fim.

Sabíamos que o Sol estava em algum lugar; que a Terra não se afastara de sua órbita; caso contrário, já teríamos morrido de frio. Nossas teorias eram extravagantes e, não fosse a trágica situação, até engraçadas... dizíamos que a Natureza se sublevara contra a agressão do Homem e escondera o Sol em suas matas, nas cavernas ou nas profundezas do oceano...

Para alguns de nós, até fazia sentido... durante nossa caminhada, antes do escurecer, constatamos, inúmeras vezes, a marca da degradação causada pelo homem, nos rios, na extinção das espécies animais e vegetais, nas montanhas... é claro que não havia um deus das florestas, mas estávamos sendo punidos, de alguma maneira. Contar casos e elaborar hipóteses para a escuridão era nosso único entretenimento, fora a busca incessante por comida.

Não sei quanto durou a escuridão. Nós também morríamos lentamente e, depois de algum tempo que me pareceu a eternidade, eu estava só, dentro daquela caverna, no alto da montanha. Às vezes saía para olhar o horizonte: as chamas devastavam tudo que sobrou e iluminavam a paisagem. Voltava para dentro e não fazia nenhuma diferença; havia muito tempo que minhas baterias se acabaram e eu estava na completa escuridão. Aprendi o caminho, instintivamente, de tanto percorrê-lo, e encontrava com facilidade o leito preparado nas pedras. Aos poucos, desanimei de viver e de esperar... e resolvi ficar aqui dentro até que tudo se consumasse... acho que essas serão minhas últimas palavras...

Na boca da caverna, a silhueta de um felino me observa...

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Ambientalista, autor de blog premiado, é recebido na Prefeitura


Ambientalista, autor de blog premiado, é recebido na Prefeitura
Ao ser recebido pelo assistente da Secretaria de Governo e representantes da Secretaria do Meio Ambiente, o ambientalista falou sobre seu trabalho, que tem como referência a recuperação do rio São Francisco
Difícil acreditar que um analista de sistemas aposentado, seja, há cerca de 10 anos, um estudioso e ferrenho defensor da natureza a ponto de ter elaborado um “Protocolo do São Francisco”, numa analogia ao “Protocolo de Kyoto”, ratificado em 1999 no Japão e que defende o combate ao aquecimento global. Numa experiência solitária, João Carlos Figueiredo, 59 anos, iniciou em 30 de maio, a navegação pelo rio São Francisco, que tem 2.700 km de extensão e área de bacia de 640 mil Km2. Sua navegação começou pela nascente, em São Roque de Minas. Durante 23 dias navegou pelo rio até chegar em Três Marias.

O trabalho de Figueiredo pela preservação do meio ambiente tem agora o apoio da Prefeitura de Ribeirão Preto. Nesta quarta-feira ele e sua esposa, acompanhados de assessores da Secretaria do Meio Ambiente, foram recebidos pelo assistente do secretário de Governo, Marcos Papa, que se comprometeu a divulgar seu trabalho junto a outras prefeituras da região tendo em vista a importância de apoio logístico para a continuidade de sua experiência. A decisão tem o respaldo da prefeita Dárcy Vera, que dedica atenção especial aos projetos ambientais.

Figueiredo mantém um blog meuvelhochico.blogspot.com, premiado entre os três melhores blogs de sustentabilidade do País. Foi escolhido pela Rede Globo de Televisão para participar, por um dia, do programa “No Limite”, provavelmente no próximo domingo. Conta, com orgulho, que participou de um “Curso de Formação de Educadores ao Ar Livre”, realizado na Chapada Diamantina e coordenado pela ONG canadense Outward Bound Brasil (OBB). Essa sua experiência lhe será útil pelo resto da vida, já que pretende continuar sua navegação do ponto onde parou e concluí-la até dezembro, quando pretende chegar à foz do São Francisco, em Aracaju.
“O que as pessoas precisam entender é que a sobrevivência de um Parque Nacional depende, sobretudo, da bacia hidrográfica. A natureza é uma cadeia que inclui água, solo, vegetação e fauna e não se pode esquecer de nenhum desses itens num trabalho preservacionista”, explica Figueiredo.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

ESTAREMOS "NO LIMITE"!

Meus caros amigos, hoje recebi minha segunda boa notícia desta semana: fui selecionado para passar um dia nas locações do programa "NO LIMITE", da TV Globo, no Ceará!

Por que seria esta uma boa notícia?

Em primeiro lugar porque é um programa polêmico, em um local paradisíaco e possui grande penetração de mercado. Durante os últimos 9 meses enviei centenas de correspondências tentando obter patrocínio para minha expedição. Procurei as maiores empresas do país, principalmente aquelas localizadas na região da bacia do São Francisco, e não consegui nenhuma resposta positiva, nem mesmo apoio logístico para as portagens nas represas! Chego a pensar que o destino da humanidade não tem a menor importância para a humanidade!

Mas a verdadeira razão de meu entusiasmo é que terei um público imenso a perceber minha presença! Espero, sinceramente, corresponder às minhas próprias expectativas! Além disso, terei a entrega do Prêmio Top Blog de Sustentabilidade, em São Paulo, no dia 12 de setembro. E, finalmente, no dia 17 de setembro, com algum atraso inevitável, estarei de volta à minha jornada pelo rio São Francisco! E seguirei minha viagem...

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Minha homenagem ao TOP BLOG

No momento em que escrevo esse post ainda não saiu o resultado dos TOP 3 de cada categoria do Top Blog. No entanto, quero manifestar minha satisfação por ter participado dessa saudável disputa entre os melhores blogueiros do país! Escrever em um blog é uma atividade nova para mim. E percebo o poder desse instrumento, que dá, a qualquer pessoa, voz ativa para expressar suas idéias, sem censuras, sem privilégios, sem obrigações senão as de sua própria consciência.

Estar nessa competição me fez melhor; obrigou-me a pensar em profundidade os temas com os quais estou comprometido desde o momento em que decidi realizar minha expedição. Talvez não o tivesse feito com tanto empenho, se não estivesse entre os Top 100... saber que existem leitores que frequentam nossas páginas é um incentivo, um estímulo e um compromisso! Por isso, durante esses meses pesquisei a web em busca de organizações não governamentais vinculadas ao tema "preservação do rio São Francisco", li o que foi possível, meditei sobre a vida no rio e em seu entorno, assisti documentários, e me envolvi completamente com o assunto! Tornei-me mais engajado, comprometido e preocupado em transmitir a "minha" mensagem, pois ela seria "ouvida" por dezenas de pessoas interessadas pelo destino de nossos rios, ecossistemas, meio ambiente...

Dentro de poucos dias estarei de volta ao rio, remando por devoção à minha causa, e esperando poder interferir no destino do Velho Chico, confiando que essa mensagem chegue às autoridades, empresários, educadores e estudantes, e lhes alcance o coração; que ela não chegue tarde, que haja tempo, ainda, para que as ações humanas sejam suficientes para mudar o destino do Planeta, e que essa expressão tão bela deixe de ser um texto poético e se torne uma profecia:

"A Terra não é uma herança de nossos pais, mas um empréstimo de nossos filhos!" E que, por isso, cada ser humano aprenda a consumir menos, a ser mais responsável, a ter cuidados com a Vida, a deixar menos pegadas em seu caminho, a amar a Natureza como se ama um filho, pois ela é o nosso maior legado à civilização que virá depois de nossa passagem por aqui.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Principais Aquíferos da bacia do São Francisco




Fonte: Articulação Popular "São Francisco Vivo"

Articulação defende um Projeto Popular de Revitalização do São Francisco

Mais de 100 delegados representando 43 organizações e movimentos sociais de toda a Bacia do São Francisco encerraram, no dia 23 de agosto, a participação no II Encontro Popular do Rio São Francisco, mantendo como prioridade de ações para os próximos dois anos da Articulação Popular pela Revitalização do São Francisco, a defesa de um projeto Popular de Revitalização do “Velho Chico”. A proposta surgiu em meio às constatações de que os grandes empreendimentos econômicos que degradam o rio têm avançado e que o programa de revitalização proposto pelo governo pouco fez para a real recuperação do São Francisco.

Na “Carta de Carnaíba”, documento final do evento, a Articulação denuncia o avanço de atividades degradantes em toda a Bacia, muitas delas incentivadas pelo PAC (Projeto de Aceleração do Crescimento). O cenário aponta como condição necessária para a revitalização, a prevenção de novos danos à bacia. Por essa razão, também está sendo priorizado o enfrentamento aos grandes projetos de mineração, agrohidronegócio, barragens (energia) e o fortalecimento da luta contra a Transposição.

No Projeto Popular de Revitalização proposto pela Articulação Popular do São Francisco, uma das alternativas apontadas para reverter esse estado atual de degradação é a garantia e o incentivo a demarcação, titulação e desintrusão das terras e territórios das comunidades tradicionais. Como as populações indígenas; os quilombolas, os pescadores e as comunidades de Fundos e feichos de pastos, que preservam um modo de vida de pouco impacto ao ambiente natural da bacia e com os quais ainda pode-se aprender muito quanto à preservação dos rios.

“Um projeto construído a partir das populações que vivem ao longo do rio, envolvendo os grupos e as comunidades, será em prol da vida. Ao contrário dos projetos do governo que estão contaminados por interesses econômicos”, analisa Maria Tereza Corujo, do Movimento pelas Serras e Águas de Minas, uma das participantes da Articulação.

Denúncias recentes feitas pelo Tribunal de Contas da União (TCU) confirmam a sua fala. O TCU determinou que o Ministério da Integração Nacional suspendesse a contratação de empresas para execução e acompanhamento de programas ambientais relacionados à transposição do Rio São Francisco, devido aos indícios de sobrepreço nos valores orçados relativos à mão de obra, passagens e aluguel de veículos, manutenção e combustível. O TCU encontrou sobrepreço de 64,03% no aluguel de veículo leve e de até 90,74% no valor das passagens aéreas.

Além das denúncias do TCU, o programa de Revitalização do governo também é alvo de críticas do presidente do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco (CBHSF), Thomaz Matta Machado. Na sua opinião, não existe um programa, mas apenas ações isoladas de esgotamento sanitário. “Existe muito dinheiro orçado para a Revitalização, mas sem a implementação real desses gastos”. Machado aponta também uma outra contradição no projeto proposto pelo governo. “A revitalização tem que trabalhar a questão da diminuição da vazão e não apenas a questão da qualidade da água. Na prática, as ações em execução priorizam o saneamento ambiental. A quantidade de água na bacia e no Rio São Francisco não está sendo considerada”.

A preocupação de Thomaz Machado é pertinente. Em estudo publicado pela Journal of Climate, da Sociedade Metereológica Americana, o fluxo de água do rio São Francisco caiu 35% no último meio século. “O programa de revitalização tem que vir da sociedade”, defende.

Idéia compartilhada pelos participantes do encontro na Carta de Carnaíba: “O cerne da nossa luta é o Projeto Popular para o São Francisco – Terra e Água, Rio e Povo”

Fonte: Informe da Comissão Pastoral da Terra – Regional Bahia, publicado pelo EcoDebate, 28/08/2009

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

A História das Coisas

Tomei esse vídeo emprestado do excelente blog de Rosana Kutnikas, "Meio Ambiente e etc" porque considero sua mensagem imprescindível para o entendimento de nosso compromisso com a preservação ambiental. Convido-os a assistir!

Parabéns pelo seu blog, Rosana!

Cronograma Ajustado da Expedição


Considerando a retomada da viagem no dia 20 de setembro próximo e partindo de Três Marias, este passa a ser o cronograma estimado da expedição. As distâncias entre as localidades são estimativas baseadas em medições no Google Earth e podem sofrer distorções e aproximações. As datas apresentadas entre parêntesis correspondem à chegada prevista nas localidades e incluem o tempo de permanência na localidade precedente.

Três Marias / MG (90 km20/09/2009)
Pirapora / MG (130 km – 23/09/2009)
Ibiaí / MG (65 km – 25/09/2009)
Ponto Chique / MG (35 km – 26/09/2009)
São Romão / MG (40 km – 27/09/2009)
São Francisco / MG (65 km – 29/09/2009)
Pedras de Maria da Cruz / MG (30/09/2009)
Januária / MG (80 km – 03/10/2009)
Itacarambi / MG (60 km – 05/10/2009)
Matias Cardoso / MG (36 km – 09/10/2009)
Manga / MG (12 km – 10/10/2009)
Malhada / BA (10/10/2009)
Carinhanha / BA (54 km – 12/10/2009)
Serra do Ramalho / BA (90 km – 15/10/2009)
Bom Jesus da Lapa / BA (42 km – 16/10/2009)
Paratinga / BA (80 km – 20/10/2009)
Ibotirama / BA (67 km – 22/10/2009)
Morpará / BA (83 km – 25/10/2009)
Barra / BA (60 km – 27/10/2009)
Xique-Xique / BA (65 km – 30/10/2009)
Remanso / BA (165 km – 05/11/2009)
Sento Sé / BA (06/11/2009)
Sobradinho / BA (156 km – 11/11/2009)
Juazeiro / BA (40 km – 13/11/2009)
Curaçá / BA (103 km – 18/11/2009)
Santa Maria da Boa Vista / PE (40 km – 19/11/2009)
Orocó / PE (35 km – 20/11/2009)
Cabrobó / PE (30 km – 21/11/2009)
Belém de São Francisco / PE (40 km – 23/11/2009)
Paulo Afonso / BA (180 km – 29/11/2009)
Canindé de São Francisco / SE (60 km – 02/12/2009)
Piranhas / AL (03/12/2009)
Pão de Açúcar / AL (40 km – 04/12/2009)
Gararu / SE (40 km – 05/12/2009)
Traipú / AL (15 km – 06/12/2009)
Porto Real do Colégio / AL (52 km – 08/12/2009)
Propriá / SE (09/12/2009)
Penedo / AL (35 km – 10/12/2009)
Ilha das Flores / SE (20 km – 12/12/2009)
Piaçabuçu / AL (20 km – 14/12/2009)
Pirambu / SE (60 km – 18/12/2009)
Aracaju / SE (30 km – 20/12/2009)

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Desenvolvimento Sustentável: paradoxo possível?


O debate entre “desenvolvimentistas” e “ambientalistas” evidencia as enormes contradições dessas palavras. Existe o “Desenvolvimento Sustentável” ou seria apenas uma quimera, um jogo de marketing que oculta intenções não manifestadas de desviar a atenção dos incautos sobre a devastação incontrolada de nossos recursos naturais?
A primeira contradição a ser resolvida é: “os ambientalistas são contrários ao desenvolvimento social, econômico, científico e tecnológico da humanidade?” Certamente que não! No entanto, a evolução não pode se dar mediante a destruição do meio ambiente! Aliás, isso não é necessário! As áreas ditas “produtivas” hoje existentes são grandes o bastante para abastecer toda a população do mundo, inclusive em crescimento moderado por muitos anos. Além disso, a evolução tecnológica e o aumento da produtividade assegurariam o ajuste das áreas produtivas ao aumento do consumo, desde que este se dê em níveis toleráveis.
E esta é a segunda questão!
O consumismo da sociedade contemporânea não tem precedentes na História da Humanidade! Nunca se consumiu tanto! NUNCA SE PRODUZIU TANTO LIXO! Hoje é comum, em uma sociedade “desenvolvida”, uma família ter um veículo, um celular, um computador para cada pessoa, dois ou mais televisores e uma imensa lata de lixo! Uma residência de classe média nessas sociedades costuma ter dois ou mais banheiros, com chuveiros de alta potência de consumo de energia. Cada habitante dos grandes centros urbanos produz mais lixo do que consegue consumir de alimentos! Cada veículo transporta apenas um passageiro (o motorista), em percursos de 20 a 50 km por dia, consumindo energia renovável ou não!
A humanidade continua crescendo a taxas superiores a 2,5% ao ano, sendo que esses indicadores são maiores para as sociedades mais pobres e carentes. Ou seja, o mundo não conseguirá vencer a batalha da pobreza, mantidos esses níveis de crescimento. Pior do que isso: a produção não será suficiente, os empregos não serão suficientes, a água potável se tornará escassa até mesmo nos grandes centros desenvolvidos do mundo contemporâneo, daqui a poucos, muito poucos anos!
A população do mundo precisa parar de crescer!
Diante desse quadro alarmante, o que seria um “Desenvolvimento Sustentável”?
Em primeiro lugar, nenhuma ação será suficientemente eficaz sem distribuição das riquezas e eliminação dos bolsões de pobreza. A miséria é a célula cancerosa que se espalhará por todo o organismo social, matando-o. É imprescindível eliminar a pobreza! O problema é: qual o ser humano RICO que estaria disposto a abrir mão de parte de sua riqueza para mitigar a fome de seu semelhante em troca de nada, simplesmente por compaixão e caridade? Nenhum, certamente!
E se for para salvar sua própria vida?
Sim, salvar a vida, pois a miséria se espalhará pelo mundo na medida em que os espaços cultiváveis forem ocupados, deixando atrás de si terras devastadas. Hoje, o mundo se caracteriza pelo retorno das “plantations”, as enormes áreas de monocultura de soja, de cana de açúcar, de trigo, de eucalipto, de pinus... as imensas pastagens... e as áreas de cerrado se queimando, para se transformar em novas “plantations”, as florestas sendo queimadas, para se transformar em pastagens... um dia todas desaparecerão!
Mas a humanidade continuará a crescer, a consumir desesperadamente, e a produzir lixo, muito lixo! E as fontes de energia não renováveis se extinguirão; e as novas fontes de energias renováveis consumirão terras que produziam alimentos; e as fontes de água potável se tornarão insuficientes para matar a sede de prováveis 10 bilhões de habitantes; e um exército de sedentos e famintos percorrerá a Terra em busca de saciar suas necessidades, matando e roubando, se for preciso, transformando nosso planeta em um local desprezível, pior até do que as mais trágicas ficções do cinema que costumamos assistir entusiasticamente, até com certo "prazer" mórbido, como se não nos dissesse respeito...
E não mais existirão “ambientalistas”, que desaparecerão junto com a Natureza, consumidos pela ambição desmesurada dos seres humanos, que conquistaram o poder e determinaram a prevalência de seus “valores desenvolvimentistas” e imediatistas, em detrimento da preservação da própria espécie! Mas então não existe saída?
Claro que existe! E ela é óbvia, como todas as grandes verdades!
O primeiro passo é ter consciência dessas possibilidades catastróficas e não compactuar com elas. É apoiar causas ambientalistas, sem paixão, mas com responsabilidade! Hoje, a maioria das pessoas acredita que "o ambientalista é uma espécie de herói, a quem é dado o poder de salvar a humanidade, sem que cada um precise fazer a sua parte!" Isso é impossível, injusto e irracional! Para que haja uma saída são necessários os esforços e o comprometimento dos políticos, dos empresários, dos educadores e do povo!
O que deve ser preservado? Essa é a primeira grande questão! As reservas ecológicas existentes, supondo que sejam preservadas, seriam suficientes para assegurar a preservação das espécies e garantir o futuro da Humanidade? Olhando para a Amazônia, foco de todas as ações atuais, o que ainda pode ser salvo? O Pará está condenado pelas madeireiras, mineradoras, pecuaristas e agro-indústrias, assim como grande parte do Mato Grosso. O Amazonas ainda pode ser salvo, assim como Roraima e outros estados. Mas é preciso um estudo detalhado daquele ecossistema para entender o que NÃO PODE SER DESTRUÍDO sob pena de causar um efeito de sucessivas degradações até a extinção final do meio ambiente.
A Natureza é um organismo extremamente frágil e sensível; às vezes, basta eliminar uma fonte de água para acabar com todo o ecossistema; veja, por exemplo, o Cerrado. Sua rica e exótica vegetação depende das águas subterrâneas que, por sua vez, dependem do tipo de solo e dos canais nele esculpidos para se locomoverem. Basta cortar um desses caminhos, e o que vem depois será devastado! Portanto, os sistemas hídricos da Terra precisam ser profundamente estudados, compreendidos e considerados nos planos de ocupação humana.
Curiosa é a ação governamental na bacia do São Francisco! Sabendo do estado lastimável em que se encontra o rio devido às intervenções humanas, principalmente na região das nascentes, resolve investir 4,5 bilhões para tirar mais água e distribuir para outras bacias do Nordeste! Não satisfeito, e em resposta às pressões ambientalistas, cria um plano "emergencial" de "revitalização", cujos primeiros investimentos foram para saneamento de esgotos nas localidades da Bahia, próximas às obras de transposição!
Oras, se não se cuidar do rio onde ele é gerado, de que adianta cuidar dos esgotos? As cabeceiras dos rios estão sendo destruídas pelas águas das chuvas devido à queda dos barrancos, uma vez que as matas ciliares foram arrancadas pelos agricultores! É lá que precisa haver investimento! É a terra arrancada dos barrancos e arrastada pela correnteza que causa o assoreamento! É o alargamento do rio que aumenta a evaporação e reduz o volume de águas do rio! É a morte das matas que causa o desaparecimento das espécies da rica fauna da região!
Não é meu propósito escrever um tratado sobre o assunto, mas alertar para o momento crucial que estamos vivendo: nunca a sociedade teve tamanho poder destrutivo, e nunca a população chegou aos níveis críticos em que se encontra. Nunca as fontes de água doce foram tão ameaçadas, seja pelo degelo dos glaciares, seja pela contaminação dos aquíferos e das águas de superfície, seja pelo uso dessas águas para consumo industrial, seja pelo consumo doméstico sem nenhum controle, seja pelo uso indiscriminado de agrotóxicos pela lavoura!
Enfim, existe o chamado “Desenvolvimento Sustentável”? Ele é possível? Sim e não; depende do que pretendemos significar com essa expressão. Se nosso propósito é apenas de marketing, para vender “créditos de carbono”, o desenvolvimento sustentável é uma grande mentira que nos conduzirá mais rapidamente para o fim! No entanto, se houver sinceridade de propósitos, se houver determinação da comunidade internacional até para impor aos governos dos países uma atitude responsável perante os tesouros da Natureza e de sua preservação, então será possível alcançarmos juntos o desenvolvimento sustentável, desde que associado a uma política socializante e humanitária!

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Monocultivo da cana devasta Cerrado no Alto São Francisco

Maria Luisa Mendonça

O cerrado é conhecido como "pai das águas", pois abastece as principais bacias hidrográficas do País. Aqui estão as nascentes do rio São Francisco e seus afluentes, como o Samburá, o Santo Antônio e o rio do Peixe, além do Rio Grande, que deságua no rio Paraná. A fauna e a flora são riquíssimas e guardam muitas espécies ameaçadas de extinção. Na Serra da Canastra foram identificadas mais de 300 espécies de aves e 7.000 espécies de plantas.

No município de Lagoa da Prata já existia uma usina de açúcar desde a década de 70, de propriedade de Antonio Luciano, "coronel" e latifundiário, conhecido como um dos maiores grileiros de Minas Gerais. Mais recentemente, a empresa francesa Louis Dreyfus adquiriu esta usina e expandiu o monocultivo de cana para a produção de etanol. Nos últimos dois anos, outras empresas participam do processo de expansão da monocultura da cana na região.

Os efeitos são devastadores. Na fazenda de Antonio Luciano chegaram até a desviar o curso do rio São Francisco para facilitar o escoamento da produção, sem licença ambiental ou estudos técnicos. Tanto no período inicial de implantação da cana, como nesta fase recente, a monocultura substitui áreas de lavouras e criação de gado, além de destruir as reservas florestais e a mata ciliar. Na implantação dos plantios, as empresas fazem queimadas clandestinas das matas nativas à noite, derrubam e enterram as árvores, para fugir da fiscalização.

"Hoje é comum encontrarmos animais mortos nas estradas, fugindo da devastação das matas. Já encontramos lobos, raposas, tamanduá-bandeira, tamanduá-mirim, lontra, quati, tatu, serpentes, garças, corujas, lagartos, além de peixes mortos no rio, como surubins, que chegam a pesar 40 quilos. Plantam cana até na beira dos rios e das lagoas", afirma Francisco Colares, professor de zoologia na Faculdade de Biologia e Meio Ambiente de Iguatama.

Segundo Colares, a usina de Lagoa da Prata utiliza a água do São Francisco em todo o processo de produção - para irrigação durante o cultivo, para lavar a cana depois da colheita e para resfriar as caldeiras no processamento. Em um dos pontos de captação, o bombeamento é de 500 litros por segundo - quantidade de água suficiente para abastecer todo o município.

O processo de expansão é intenso. A Empresa Total está construindo uma usina em Bambuí e está prevista a implantação de mais três usinas na região - duas em Arcos e uma em Iguatama, além da expansão da produção em Lagoa da Prata. O cultivo de cana chega até a Zona de Amortecimento do Parque Nacional da Serra da Canastra, considerada pelo Atlas da Biodiversidade em Minas Gerais como sendo de importância biológica extrema.

O parque fica entre as nascentes do rio São Francisco e a bacia do Rio Grande. A preservação da Zona de Amortecimento, ou área circundante ao parque, é essencial para garantir sua conservação. A produção de cana no local causa grande impacto, por seu potencial invasor, pelo intenso uso de agrotóxicos, entre outros. A Usina Itaiquara se instalou no município de Delfinópolis e plantou cana em áreas de preservação permanente, próximas ao grande reservatório de águas de Furnas.

"A cana chega até a margem do reservatório; plantam cana praticamente dentro d'água. Desmataram a área e praticaram queimadas, o que representa um grande risco para toda a região. O Ministério Público moveu uma ação contra a empresa e esperamos que a área seja recuperada em breve e que os responsáveis sejam punidos pelo dano ambiental. È necessário que os órgãos competentes fiscalizem essa atividade, pois a monocultura traz sérios problemas ambientais. O Brasil deveria priorizar uma agricultura diversificada", afirma Joaquim Maia Neto, Chefe da unidade do IBAMA responsável pelo Parque Nacional da Serra da Canastra.

O Secretário de Agricultura e Meio Ambiente do município de Luz, Dario Paulineli, descreve outros impactos na região. "A cana se expandiu rapidamente nos últimos anos. A empresa Louis Dreyfus fez muitos contratos de arrendamento com agricultores locais e o impacto ambiental foi enorme. A usina aplica o veneno de avião e atinge os agricultores vizinhos e a população das cidades. Desmatam madeira de lei, árvores protegidas por lei como o pequizeiro e a gameleira, plantam cana perto das nascentes dos rios, não respeitam os estudos de impacto ambiental. Muitos animais estão morrendo com a devastação das matas".

Para o agricultor Gaudino Correia, não vale a pena arrendar a terra. "Os contratos são de 12 anos e depois disso a cana já acabou com tudo. A usina usa máquinas pesadas para preparar a terra e causa erosão do solo. Depois queimam a cana e a cinza se espalha por toda a região. Eu não quis arrendar minha terra e estou cercado de cana. Aqui não tem mais terra para lavoura e por isso subiu tanto o preço dos alimentos. Meus vizinhos deixaram de produzir milho, feijão, café, leite e arrendaram a terra para a empresa Total. Eu ainda planto milho, feijão, e produzo leite, mas para o produtor o preço não aumentou, só para o atravessador e para a população. Ainda consigo produzir leite porque faço a ração. Se fosse comprar, não sobrava nenhuma renda. O preço da ração aumentou 50% e fica difícil criar animais".

O agricultor Sebastião Ribeiro tem a mesma posição. "A usina insistiu, mas eu não quis arrendar minha terra. Meus vizinhos arrendaram e depois ficaram com depressão, porque é o mesmo que perder a terra. O que vai acontecer se os agricultores deixarem de plantar alimentos?" Ribeiro explica também que a usina faz irrigação da cana com pivô central, usando água do São Francisco.

Especialistas alertam que não há fiscalização eficiente sobre os impactos sociais e ambientais. "O Estado deveria priorizar a preservação das nascentes dos rios. É como desgastar as veias que levam o sangue para o coração. Essa expansão tem sido muito rápida e a idéia é dobrar a produção de cana na região. A agricultura familiar vai sumir e podem faltar alimentos", afirma Lessandro da Costa, diretor da Associação Ambientalista do Alto São Francisco.

Apesar da propaganda das empresas, que dizem gerar emprego e desenvolvimento, organizações locais denunciam que as usinas não respeitam leis ambientais e trabalhistas. "Usam venenos violentos que afetam a saúde dos trabalhadores e da população. Onde antes se produzia milho, feijão, café, leite e outros alimentos, agora é só cana. Não há crédito para os pequenos produtores, mas o Banco do Brasil tem dinheiro de sobra para incentivar as grandes usinas, que destroem o cerrado e a Amazônia. Essa política vai deixar uma herança de destruição", afirma Carlos Santana, assessor do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bambuí.

Ele explica que "Aqui tem serviço, mas só braçal. Os trabalhadores chegam de todas as partes do país para cortar cana e o aluguel na região aumentou muito. Outra conseqüência foi o congestionamento do sistema de saúde pública. Os cortadores de cana recebem por produção e isso causa a exploração. Muitos ficam doentes e não conseguem mais trabalhar".

O Presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Lagoa da Prata, Nelson Rufino, denuncia que, "A usina Louis Dreyfus causa grande destruição do meio-ambiente. O trator da empresa arranca as árvores e depois enterra para esconder o crime ambiental. Somente metade dos canais onde depositam o vinhoto é feita de cimento. Nos outros canais o vinhoto vai direto para o subsolo e para os rios. Nós chamamos o vinhoto de "água que fede".

Rufino descreve ainda os impactos sociais nos municípios da região. "As cidades estão totalmente cercadas porque a cana chega até as áreas urbanas. A empresa joga veneno de avião e o índice de câncer na população é enorme. Só na minha família temos cinco casos de câncer e isso é comum na cidade. Há mais de 140 trabalhadores afastados por problemas de saúde como tendinite, problemas de coluna, asma e outras doenças pulmonares. Temos registros de cinco casos de mortes por acidentes de trabalho. Dois trabalhadores caíram nas caldeiras, um morreu durante a queima da cana e outros dois morreram em acidentes com o trator".

Grande parte dos cortadores de cana é migrante e está vulnerável à exploração e ao preconceito. O local onde vivem em Lagoa da Prata é chamado de "Carandirú". Rufino afirma que "Para os trabalhadores a situação piorou porque perdemos renda. Ano passado fizemos uma greve de 45 dias e conseguimos um aumento de $2,50 para $2,80 por tonelada de cana cortada. Mas a empresa quer buscar uma forma de nos incriminar e está processando o sindicato".

Outra forma de manipular os trabalhadores é estimulando a competição. Para isso, a empresa os divide em grupos, de acordo com a quantidade de cana cortada. Quem não cumprir a meta não será contratado na próxima safra. Aqueles que atingem a maior meta vão para a turma dos "touros", que cortam de 17 a 25 toneladas de cana por dia. Muitos trabalhadores desse grupo foram afastados por problemas de saúde e agora são chamados de "bezerros doentes".

Mesmo em áreas onde já havia atividade agrícola, o monocultivo da cana gera um grau muito maior de devastação porque substitui agricultura diversificada por cultivos homogêneos e contínuos, o que leva à destruição total das reservas florestais. A demanda das empresas por grande quantidade de terras de boa qualidade, com acesso à água e à infra-estrutura, gera devastação dos recursos naturais e da agricultura local. Portanto, não é verdade que a indústria da cana se expande para áreas degradadas e terras marginais, como afirma o governo.

Moacir Gomes, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Bambuí, conclui que, "O presidente Lula não conhece a realidade. Como pode dizer que a cana não substituiu áreas de produção de alimentos? As usinas estão trazendo miséria e vai faltar comida na mesa da população".

- Maria Luisa Mendonça é jornalista e coordenadora da Rede Social de Justiça e Direitos Humanos. Brasil de Fato, 2 de julho de 2008 - fonte: Agencia Latinoamericana de Información

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Hidrelétrica de Três Marias / MG

Morpará / BA

Pirapora / MG

Barra / BA

Ibiaí / MG

Xique-Xique / BA

Cachoeira do Manteiga / MG

Remanso / BA

Ponto Chique / MG

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São Romão / MG

Sobradinho / BA

São Francisco / MG

Juazeiro / BA

Pedras de Maria da Cruz / MG

Petrolina / PE

Januária / MG

Cabrobó / PE

Itacarambi / MG

Hidrelétrica de Itaparica - PE / BA

Matias Cardoso / MG

Hidrelétrica de Paulo Afonso / BA

Manga / MG

Canindé de São Francisco / SE

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Carinhanha / BA

Propriá / SE

Bom Jesus da Lapa / BA

Penedo / AL

Paratinga / BA

Piaçabuçu / AL

Depoimento de Dom Frei Luiz Cappio, Bispo de Barra, BA

Principais Afluentes

Rio Abaeté

Rio Pandeira

Rio Borrachudo

Rio Pará

Rio Carinhanha

Rio Paracatu

Rio Corrente

Rio Paramirim

Rio das Velhas

Rio Paraopeba

Rio Grande

Rio Pardo

Rio Indaiá

Rio São Pedro

Rio Jacaré

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Rio Pajeú

Rio Verde Grande

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