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quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Produção do livro "Meu Velho Chico"




Crowdfunding é uma iniciativa fantástica, democrática e justa de se viabilizar um projeto sem ter que depender de um governo ou de grandes empresas. Quem financia o projeto são nossos amigos e familiares, que conhecem o nosso trabalho e o compromisso que temos com as causas que defendemos.

Como vocês sabem, minhas causas são o AMBIENTALISMO e os POVOS INDÍGENAS! E nada mais coerente e compatível com essas causas do que a EXPEDIÇÃO que realizei em 2009 pelo rio SÃO FRANCISCO!

Meu livro relata justamente os problemas que esse fantástico rio enfrenta diante da devastação cada vez mais intensa, provocada pela exploração descontrolada de nossos recursos naturais, seja pelo desmatamento de suas margens, pelas hidrelétricas mal planejadas, e agora pela transposição de suas águas, irresponsavelmente construída numa das piores crises hídricas que o Velho Chico está sofrendo. Mas o livro fala também de um povo encantador, hospitaleiro e simples, que me acolheu em suas casas, generosamente, sem sequer me conhecer! Jamais me esquecerei dessa gente humilde e pura!

E é a essa generosidade que eu agora recorro, a vocês que me acompanham aqui, em minhas manifestações, sinceras e emocionadas, para viabilizar o meu projeto! A cada doação acima de 100 reais, sendo publicado o livro, enviarei um exemplar autografado como retribuição. Para que isso seja possível, ao efetuar a doação, não se esqueçam de preencher todos os dados de identificação, principalmente seu nome, telefone e endereço completo.

Hoje é o segundo dia de campanha. Eu e Armando Gonçalves Junior fomos os únicos canoeiros a percorrer toda extensão do rio São Francisco, da nascente até a foz, um percurso de 2.700 quilômetros. Mas não é apenas o aspecto de aventura que nos motivou, embora tenha sido a maior aventura de minha vida. Foi a grandiosidade do rio, a diversidade cultural dos povos ribeirinhos, a gravidade dos conflitos fundiários e a tristeza de ver esse gigante agonizando diante da falta de ações governamentais efetivas para sua revitalização!

Hoje, o que me motiva a perseverar na publicação do meu livro é saber que precisamos mobilizar a opinião pública, conscientizando a todos sobre a necessidade inadiável de preservação da natureza. No livro, eu relato minha visão desse rio mágico e inesquecível e sua população generosa e carente de atenção do Estado brasileiro... A novela "Velho Chico" mostra essa realidade de forma romanceada, mas eu estive lá! Vivi cem dias remando em suas águas! Convivi com os ribeirinhos! Dormi em suas casas e me alimentei de sua comida e de suas histórias! Senti na pele e na carne os seus problemas!

É disso que falo em meu livro! É para tornar público o meu relato que peço a ajuda de vocês! Colaborem com meu projeto doando qualquer quantia, pois tenho certeza que é para uma causa nobre. Não quero ganhar dinheiro com a publicação do livro, mas apenas levar adiante a palavra de um povo sofrido e oprimido por grandes latifundiários e pelas obras irresponsáveis de tantos governos corruptos que se aproveitam da miséria dessa gente para se enriquecer desonestamente!

É meu compromisso doar cada centavo que eventualmente ganhar com o livro para as populações ribeirinhas! Ao término dessa jornada levarei pessoalmente três exemplares para cada comunidade que me acolheu! Entregarei a cada um minha mensagem de esperança, que terá sido construída com a ajuda de todos vocês! Serei grato a todos que colaborarem com essa missão!


Para fazer sua doação, clique aqui: 
Expedição "Meu Velho Chico" - campanha para publicação do livro
  

quinta-feira, 14 de junho de 2012

O destino do planeta na Rio + 20


O que nos parece óbvio pode ser incompreensível para a maioria dos brasileiros, que não estão comprometidos com as questões ambientais: o planeta está em crise e o tempo para tomada de decisões poderá estar se esgotando. No entanto, os líderes mundiais também não se importam com o futuro, nem se sentem ameaçados por essa enorme transformação em curso, e o resultado final desse encontro que acontece no Rio de Janeiro poderá ser irrelevante para os destinos do planeta.

Muito se discute sobre os temas a serem abordados no documento final da Conferência; criou-se até um modelo de discussões baseado em três pilares: Economia, Sociedade e Meio Ambiente. Mas a questão fundamental não é acadêmica e muito menos se enquadra nos padrões de palestras empresariais, arenas em que as aparências têm mais importância do que os resultados almejados. Por isso, as conclusões da Rio + 20 poderão ser frustrantes! Já não se debate, como acontecia há 20 anos, se existe ou não um "aquecimento global" e se esse fenômeno está ou não relacionado com as ações humanas e com o modelo de produção e de consumo da sociedade contemporânea. Essa conclusão é óbvia e fundamentada em estudos, pesquisas e dados consistentes e irrefutáveis, ainda que as ações humanas não sejam as únicas a mudar o curso da História, ameaçando a vida na Terra.

Nas últimas quatro décadas, desde que surgiu a discussão sobre sustentabilidade e se iniciou a busca por novos modelos de produção, de consumo, e de reutilização de produtos descartados, as transformações sociais, políticas e econômicas foram profundas e impactantes para o Meio Ambiente. Em 1.972 a maioria dos países subdesenvolvidos estava imersa em violentas ditaduras militares e as grandes potências travavam disputas ideológicas entre o Capitalismo e o Comunismo. Desde então, essas ditaduras deixaram de causar vítimas inocentes, o Comunismo foi derrotado e o Capitalismo se tornou mais selvagem do que nunca, alimentando o excesso de consumo e o desperdício desenfreado.

Na sequência, crises sucessivas da Economia mundial evidenciaram a falência do modelo capitalista globalizado, e expuseram a falácia das antigas e desgastadas teses do Welfare State e do American Way of Life. A Europa imergiu na pior crise de sua história de pós-guerra, e os Estados Unidos conheceram a fragilidade de sua Economia, deixando metade da população mundial exposta à falência do modelo baseado no Império do Dollar como moeda internacional. Paralelamente às crises, a China cresceu e superou quase todas as economias mundiais, inclusive europeias e asiáticas, tornando-se a segunda potência econômica, somente atrás dos norte-americanos.

Tudo isso teve um custo insustentável para o Meio Ambiente: a exploração dos recursos naturais superou a capacidade da Natureza de repor seus estoques, até então considerados inesgotáveis e seguros. O Brasil, mais uma vez, escolheu o caminho errado e investiu pesado na exploração e comercialização de Commodities e de Matérias Primas (grãos e minérios). Essa escolha evidenciou-se trágica: em cerca de 40 anos os governos militares e os governos liberais que se seguiram destruíram metade do bioma Cerrado e 25% da Amazônia. Estados como o Mato Grosso, Rondônia e o Pará causaram mais de 50% de devastação na Floresta Amazônica, e a Mata Atlântica foi vítima da pior exploração imobiliária de sua história, fragmentando ainda mais o que restou da exploração colonialista da cana de açúcar, do algodão e do café, do início do século XVI ao final do século XIX.

Nossos recursos hídricos foram os mais desgastados por essa febre desenvolvimentista, seja pela construção de gigantescas hidrelétricas, como Itaipu, Sobradinho, Santo Antônio, Jirau, Belo Monte, Tucuruí, Ilha Solteira e Xingó, seja pela poluição dos cursos dágua por esgotos urbanos, contaminação por agrotóxicos e resíduos industriais e exploração descontrolada dos aquíferos subterrâneos, comprometendo definitivamente quase todas as bacias hidrográficas do país.

Os processos industriais não se preocuparam em otimizar recursos, mas em incentivar o desperdício, criando produtos descartáveis e bens pouco duráveis. Se, no passado, a indústria automobilística e eletro-eletrônica produziam bens para durar uma vida inteira, nos dias de hoje a vida útil desses bens não passa de cinco anos, quando muito. Quanto menos durar um produto, mais se consome: esse é o princípio que norteia a Nova Economia; e a sucata decorrente é descartada no Meio Ambiente, sem nenhuma preocupação com a reciclagem.

Pois é nesse contexto que se insere a discussão sobre o destino de nosso planeta. No entanto, grandes líderes mundiais estarão ausentes, como o presidente norte-americano, que não quer se indispor, em um ano eleitoral, com seus financiadores de campanha, e repete o comportamento irresponsável de seus antecessores. Essa ausência é emblemática, considerando-se que esse país é responsável por 25% da liberação de carbono na atmosfera, que causa o efeito estufa e o aquecimento global. No Brasil também, a posição do governo Dilma é dúbia, irresponsável e contraditória: de um lado, afirma, retoricamente, seu compromisso com o Meio Ambiente; de outro, afaga os criminosos ambientais, como mineradoras, pecuaristas e latifundiários da soja, dispensando-os, inclusive, das multas e da recomposição das áreas degradadas. Ninguém, em sã consciência, se arriscaria a afirmar que Dilma honrará seus compromissos com a preservação ambiental.

No Congresso, outra farsa se desenrola na CPI de Cachoeira (que nada tem a ver com a Natureza), para despistar os ambientalistas e deixar passar a comoção da Rio + 20, para depois trazer à tona a questão do Código Florestal (ou melhor, do Código Ruralista do Desflorestamento e da Impunidade dos Crimes Ambientais). As perdas para o Meio Ambiente, ainda que a proposta de Dilma fosse aprovada na íntegra, já representariam o pior retrocesso da legislação ambiental de nosso país, com perdas irreparáveis de áreas de preservação permanente degradadas, reservas legais devastadas e não recuperadas, invasões e "legalização"de terras públicas ocupadas pelos ruralistas, e ameaças e invasões de terras indígenas, inclusive as já demarcadas.

As piores previsões de cientistas alertam para o risco de um aumento de mais de 8º C na temperatura média da Amazônia antes do final do século, o que, de per si, já significaria o fim da Floresta e a maior desertificação do planeta em tempos modernos. O impacto desse desastre ecológico repercutirá em todo o território nacional, causando quebras definitivas na capacidade produtiva da agricultura e da pecuária nacional, e o consequente desastre econômico para um país que tem, na produção rural e na exploração de minérios, a base de sua Economia. Esse modelo é tão estúpido e insustentável quanto a exploração de petróleo. No entanto, apostamos no Pré-Sal  nossas expectativas de redenção...

É claro que o debate que se desenvolve na Rio + 20 tem um valor inestimável para a transformação do pensamento político brasileiro e mundial, e suas consequências irão, certamente, muito além desses poucos dias de discussões no âmago da Conferência. No entanto, é importante destacar que talvez não haja tempo hábil para uma mudança de consciência e de comportamento político e econômico para evitar a catástrofe que se anuncia. Quanto tempo nos resta para evitar as tragédias? Qual será o ponto de inflexão dessa curva, aquele em que, mesmo que se mudem as decisões, o resultado já terá sido irreversível para nosso país e para a Humanidade? Talvez a resposta para essas indagações seja a própria tragédia que se anuncia para o gênero humano...

sexta-feira, 30 de março de 2012

Palestra na Assembleia Legislativa de Minas Gerais


O Deputado Rômulo Veneroso (PV) convida para reunião da Comissão de Meio Ambiente da Assembleia Legislativa de Minas Gerais que ouvirá o ambientalista, canoísta, indigenista, espeleólogo e montanhista, João Carlos Figueiredo, para exposição sobre a expedição “Rio São Francisco da Nascente à Foz” (http://meuvelhochico.blogspot.com.br/).

Dia: 17/04/2012 
Hora: 10h 
Local: ALMG Auditório andar SE
Rua Rodrigues Caldas, 30, Bairro Santo Agostinho
Belo Horizonte, MG

Sua presença enriquecerá o debate sobre o tema.

A Canoa "Ulisses" será doada à Fundação Zoobotânica para ser exposta no aquário

Contato

(31)2108 5410 Gab Dep Rômulo Veneroso
(31)2108 5411 telfax

Confirme sua presença
Assessora Comissão: Daniele Mattos Baracho Tel: 2108 7131

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Falarei das questões ambientais e fundiárias da Bacia do São Francisco e suas populações ribeirinhas e do seu entorno. Conto com sua presença! RSVP

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Os equívocos do Ambientalismo

Estão estranhando o título? Não se preocupem: não mudei de lado! Mas quero esclarecer algumas mentiras que a mídia vem propalando e que podem desacreditar os verdadeiros defensores do Meio Ambiente e da Natureza.

Em primeiro lugar, é preciso entender que as realidades são diferentes em cada região desse nosso maltratado planeta, e que, portanto, as estratégias que aqui funcionam, não têm o menor sentido em outro lugar. Cada ecossistema tem seus próprios mecanismos de sobrevivência, e mesmo em áreas de intensa presença humana, as preocupações com o Meio Ambiente devem levar em consideração seu espaço e seu entorno, e como essas relações podem afetar a Natureza.

Vamos começar com algumas regras "Básicas"!


1. Devemos economizar água; devemos evitar o desperdício; devemos fechar a torneira enquanto nos ensaboamos, ou fazemos a barba, ou escovamos os dentes. Certo?

Parece óbvio, mas não é... quando morei na Amazônia, a presença humana é insignificante em algumas regiões; a disponibilidade de água é absurda! Chove torrencialmente durante dez meses do ano! A água que usamos vem dos rios, sem qualquer tratamento! Economizar água nessa região é uma tolice desnecessária e inútil, até porque toda água utilizada ou consumida retorna naturalmente para o ambiente. No entanto, explorar o garimpo em terras indígenas, pelos próprios indígenas, é um crime contra a Natureza, que será contaminada pelo mercúrio e se propagará pelos igarapés, riachos, rios, afetando toda a Natureza em seu caminho. O garimpo ainda revolve o solo e o subsolo, causando voçorocas que levam dezenas de anos para se recuperar, isso se a atividade de garimpo for interrompida. No entanto, em ambientes urbanos de grande densidade populacional, e que dependem de gigantescos reservatórios em seu entorno, a economia de água, bem como seu tratamento para devolvê-la à Natureza caracterizam ações e comportamentos essenciais.

2. O uso de sacos plásticos pelos supermercados é um atentado contra a Natureza e deve ser sumariamente proibido! Verdade?
Mais uma vez, parece uma excelente medida, que foi "comprada" por quase todos os ambientalistas como a salvação do planeta! Outra tolice sem tamanho! Quem usa os saquinhos plásticos costuma reciclá-los para se desfazer do lixo doméstico. Se não houver o saco plástico, todos terão que comprar sacos de lixo, muito mais nocivos ao Meio Ambiente, por serem mais grossos, mais resistentes e menos degradáveis. Portanto, essa medida tem endereço certo: favorecer a indústria de sacos plásticos! Melhor seria obrigar a indústria plástica a produzir materiais biodegradáveis, definindo um prazo razoável para sua adequação. Ações dessa natureza são de difícil implementação, seja pela falta de consciência da população, seja pela falta de alternativas oferecidas pelas indústrias. No entanto, considerando-se a destinação do lixo humano, sabemos que muita coisa precisa ser feita para refrear o consumismo, este a verdadeira causa dos males à Natureza.

3. Brinquedos pedagógicos são excelentes para a conscientização de nossas crianças, ensinando-as a respeitar a Natureza. É isso mesmo?
Mais uma vez, uma enorme mentira, pois a maioria dos brinquedos "pedagógicos" são fabricados com madeira, cuja procedência, na maioria das vezes, é desconhecida. Enquanto isso, os brinquedos "não-pedagógicos" causam maior estrago ainda porque replicam modelos da sociedade de consumo, valorizando personagens da Disney, estimulando o desperdício e a "doutrina" da competição sem escrúpulos e sem limites! Os brinquedos "pedagógicos" são pálidas iniciativas (de "brinquedo") diante da poderosa e influente indústria do consumo capitalista que "educa" nossas crianças para a substituição (entenda-se "destruição") contínua de artefatos de lazer. Melhor seria estimular as brincadeiras infantis que existiam no passado, a construção de brinquedos através de sucatas ou de reciclagem de materiais plásticos, do estímulo à criatividade que, a cada dia, se torna mais desnecessária em nossa sociedade contemporânea. É mais fácil sucatear um brinquedo com o lançamento de novas e poderosas versões de "softwares infantis" do que estimular a inteligência. Infelizmente, brinquedos pedagógicos não conseguem competir com jogos eletrônicos...

4. Ecoturismo é uma atividade que educa para a Natureza! CERTO?
Errado! A "indústria do ecoturismo" está promovendo a maior invasão descontrolada de nossos ambientes naturais, despreparados ("desequipados") para a prática de esportes de aventura, causando danos irreparáveis aos ecossistemas, submetidos a pressões sociais extremas, danificando e expandindo desordenadamente as trilhas, desalojando animais silvestres e tornando os Parques Nacionais verdadeiros "acampamentos de festa" em finais de semana. Muitos ecossistemas são extremamente frágeis para suportar centenas, milhares de turistas mal-informados e sem orientação ambiental, deixando seus rastros de dejetos de toda sorte (alimentos, embalagens, fezes), e levando suas "lembranças" dos locais visitados, para expor em suas prateleiras de recordações e exibir como troféus aos amigos. Turismo ecológico é uma expressão tão falaciosa quanto o uso e abuso da expressão "desenvolvimento sustentável"! Não existe sustentabilidade na presença humana neste planeta, sem antes se pensar em "crescimento zero" da população e interrupção da expansão contínua que se verifica nas fronteiras agrícolas. Ecoturismo é muito bom, mas com consciência e responsabilidade. No entanto, assim como em todas as atividades humanas, a invasão de ambientes naturais sem controle e as práticas de atividades de forte impacto, como festas "rave", corridas de aventura e rallies com motos, caminhões, jeeps... são agressões insuportáveis ao meio ambiente.

5. Empresas de "revitalização de áreas degradadas" prestam um significativo serviço ao Meio Ambiente através do replantio de árvores, da reprodução e reintrodução de espécies para repovoar os cursos dágua, e do estímulo à conscientização ecológica da população local. Verdade?
Mentira! A maioria dos projetos de revitalização de áreas degradadas está associada a empresas que não entendem nada do Meio Ambiente. Produzem mudas de árvores exógenas (estranhas àquele ecossistema como pinheiros e eucalipto), produzem alevinos que não são nativos (como a tilápia do nilo) e repovoam lagoas de reprodução, causando a extinção de espécies tradicionais e dizimando  a flora original, causando desequilíbrios irreversíveis à Natureza. Exemplo disso são as "florestas com exploração sustentável" concebidas e promovidas pela EMBRAPA, que consorcia a plantação de pinus ou eucalipto com plantações de soja e brachiaria e com a criação de gado! Querem algo mais "ecológico"? (vejam "Integração Lavoura-Pecuária-Floresta")

6. Deveríamos ter uma "Política Nacional de Proteção ao Meio Ambiente" que adotasse políticas padronizadas para todos os ecossistemas nacionais.
Pois é... tratar o Cerrado, a Caatinga, a Mata Atlântica, a Amazônia, as Florestas Homogêneas, as Cavernas e os Recursos Hídricos de maneira uniformizada seria a destruição total de nossos ecossistemas. É necessário criar políticas que tratem cada bioma, cada ecossistema como um indivíduo com identidade própria, com necessidades específicas, com riscos diferenciados, e como recursos finitos e não-renováveis! Cada região, cada ambiente possui suas peculiaridades que inviabilizam políticas uniformes. É preciso conhecer profundamente cada ecossistema, cada bioma, cada microclima, cada microbacia hidrográfica, cada aglomerado humano e suas relações com o entorno ambiental para poder definir políticas específicas voltadas para a realidade e os problemas locais. No entanto, não podemos perder de vista as interações que ocorrem nos diferentes ecossistemas; isso nos assegura que a destruição de uma área de preservação terá consequências imprevisíveis para os demais e para todo o planeta. Isso pode ser evidenciado nas mudanças climáticas que já se acentuam, causadas pelo desaparecimento de imensas áreas de floresta, transformadas em pasto para criação de gado, ou em lavouras extensivas de soja, algodão, milho e outras monoculturas, que esgotam as reservas hídricas do subsolo e promovem a desertificação progressiva das áreas abandonadas pelos fazendeiros. No Brasil, cerca de 50% do Cerrado, um dos mais ricos ecossistemas em biodiversidade, já foi exterminado pelos latifúndios; parte expressiva da Floresta Amazônica também desapareceu no Pará, no Mato Grosso e em Rondônia, pela ação criminosa de fazendeiros, com a anuência conivente do governo federal e do Congresso Nacional.

7. Grandes Corporações têm produzido importantes planos para o Meio Ambiente. Vejam o exemplo da Vale do Rio Doce, empresa modelo de preservação ambiental!
A Vale do Rio Doce foi eleita a Pior Empresa do Mundo em 2011 pelos desastres ecológicos que já causou ao longo de sua vida empresarial. A Petrobrás tem sido a maior vilã de nossos mares pelos vazamentos de óleo e contaminação dos oceanos e das praias, causando enormes mortandade de espécies marinhas. A Votorantim já causou enormes desastres ecológicos nas regiões em que atua, seja pela contaminação com dejetos industriais altamente tóxicos, seja pelo uso abusivo de energia elétrica, induzindo à construção de hidrelétricas que, ao contrário do que diz o governo, não são "fontes limpas e renováveis de energia". Uma hidrelétrica muda completamente o ecossistema de um rio, bloqueando seu curso, paralisando suas correntes, mudando o pH de suas águas, interrompendo o ciclo da piracema e alagando extensas áreas de preservação ambiental ("proteção permanente").

Como percebemos, muitas ideias "ambientalistas" são completamente equivocadas, ou deliberadamente mentirosas com o propósito de enganar a população. Por isso, devemos sempre duvidar e questionar as iniciativas de governos e de grandes corporações, pois sempre existe um propósito oculto por detrás das "melhores práticas" dessas instituições!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A escolha difícil

Conforme havíamos previsto em crônicas anteriores em meu blog "Boca Ferina", Dilma será, provavelmente, a nova inquilina do Palácio do Planalto. Embora não conte com nossa simpatia e apoio, a candidata do PT tem muito mais qualificações para assumir a Presidência da República do que o tucano Serra.

Isto porque Lula, que a apóia, representou, para o Povo Brasileiro, uma promissora redenção em suas políticas públicas que favoreceram a ascensão das minorias à condição de dignidade social, e à grande e empobrecida maioria, alguns degraus que a afastou temporariamente da pobreza e da fome. Assistencialismo e imediatismos à parte, essa "proteção" contra a miséria, vinda através do Bolsa Família, era uma necessidade imperativa, enquanto medidas mais efetivas e duradouras não pudessem vir a afeito.

As habilidosas e inteligentes negociações de Lula e de sua equipe de Diplomatas conseguiram evitar que a maior crise do Capitalismo desestruturasse todas as conquistas sociais obtidas nesses últimos 10 anos. Isso ocorreu porque nosso mercado externo passou pela maior guinada de sua História, reduzindo a importância de parceiros tradicionais, fortemente atrelados ao Euro e ao Dolar, e buscando a parceria de outros países emergentes, como a China e a Índia, além dos países africanos e do Oriente Médio.

Lula também acelerou o processo de demarcação das terras indígenas e dos quilombolas, e de assentamento de trabalhadores rurais, dando o primeiro passo para o resgate desssas populações, que foram as maiores vítimas do Colonialismo português, no pior genocídio que maculou a História do Brasil, de Portugal e de sua aliada, a Inglaterra.

No entanto, apesar de tantas conquistas sociais importantes, o governo Lula não conseguiu reverter o processo de destruição sistemática da Floresta Amazônica, deixando um vergonhoso rastro de devastação provocado pelas alianças espúrias do PT com a famigerada Bancada Ruralista, para quem só importa o enriquecimento fácil da exploração e da exportação de soja, da criação de gado bovino e dos subprodutos da cana de açúcar.

Marina Silva, nossa candidadta à Presidência, não conseguiu, contudo, conter a fúria destruidora do Latifúndio e das monoculturas, que destroçaram, desgraçadamente, grande parte do Cerrado do Mato Grosso, Goiás e Tocantins, e também extensas regiões da Floresta Amazônica nos estados do Pará, Rondônia e Acre.

Na visão Desenvolvimentista embasada pelo anacrônico e decadente Neo-Liberalismo, DIlma e Serra não se diferenciam; isso nos leva a crer que os próximos quatro anos, pelo menos, serão desastrosos para o Meio Ambiente, conduzindo-nos a uma situação crítica de sobrevivência de nossos principais biomas, os mais importantes do Planeta em extensão e biodiversidade. Principalmente para as bacias hidrográficas do Amazonas e do São Francisco, fontes de irrigação de uma gigantesca extensão territorial brasileira.

Será uma perda irreversível, dada a fragilidade dos solos amazônicos, e um grande risco para a sobrevivência da raça humana. Quem será o responsável por essa hecatombe: Dilma ou Serra? No próximo final de semana conheceremos o nosso algoz!

segunda-feira, 19 de julho de 2010

LANÇAMENTO DE MEU LIVRO "VIRTUAL"

Meus caros amigos,

Não era esse o livro com o qual sonhara quando terminei minha expedição pelo rio Sâo Francisco. Queria um livro impresso, ilustrado com dezenas de fotos da imensa coleção dos instantes que captei ao longo do caminho. Queria compartilhar esses longos dias que passei remando, pensando, sonhando com um mundo melhor, imaginando que meus esforços resultariam positivos para que algo transformasse a realidade que não queremos ver, de degradação e morte espalhadas pelas águas do rio, arrastadas para suas margens e para os povos ribeirinhos, vítimas finais dessa destruição sem fim.

Mas ainda não consegui viabilizar meu projeto. Passei meses tentando obter o apoio financeiro necessário para publicá-lo, sem sucesso. Porém eu nunca desisto; e resolvi encarar esse novo desafio de divulgar minhas memórias para o maior público possível e, enquanto não sai o meu livro impresso, este foi o veículo escolhido: um novo blog " Lula não Leu(http://lulanaoleu.blogspot.com/), apenas com as páginas desse livro, conforme fora concebido, com dedicatória, agradecimentos, prefácio e tudo o que haveria em páginas impressas.

Ao contrário de outros blogs, este nasce pronto, com todo seu conteúdo terminado, sem nada mais a ser acrescentado nos tempos que virão. Mas gostaria de contar com sua participação, escrevendo comentários, dando sugestões, manifestando seus sentimentos ao percorrer as páginas desse inusitado "livro". Façam-no nos rodapés dos textos e ele se enriquecerá com seus pensamentos, assim como me enriqueci com a vivência nesse rio fantástico!

Mais do que ler, divulguem minha mensagem; passem adiante o endereço deste blog para que outras pessoas, milhares delas, possam saber o que se faz contra o meio ambiente, contra os ribeirinhos e contra a humanidade, atirando lixo e produtos químicos em suas águas, devastando e queimando suas matas, matando seus animais selvagens, humilhando o povo simples e humilde que dele retira tudo o que necessita para sua sobrevivência!

Mandem mensagens para meu email: jotafig@hotmail.com, reafirmando seu compromisso com nossas teses preservacionistas. Este site contém mais de 100 postagens, equivalentes a 500 páginas de texto impresso e mais de 300 fotografias. Por enquanto, vocês também podem baixar o livro "Meu Velho Chico: diário de uma expedição solitária" em PDF a partir do Overmundohttp://goo.gl/V0XCP ou a partir do SCRIBDhttp://goo.gl/8Ujft

Boa leitura!
João Carlos Figueiredo
Ambientalista, canoeiro, indigenista, mergulhador, espeleólogo, montanhista
Porém, mais do que tudo isso, um amante incondicional da NATUREZA!

sexta-feira, 25 de junho de 2010

A Mentira dos Ruralistas

23 jun 2010 - Fonte: GREENPEACE BRASIL

ONGs assinam nota pública sobre Código Florestal, desmatamento zero e competi-tividade agrícola em repúdio ao estudo americano “Fazendas aqui, Florestas lá”.

Recentemente lançado nos Estados Unidos, o estudo “Fazendas aqui, florestas lá”, patrocinado pela organização National Farmers Union (União Nacional de Fazendeiros), principal sindicato rural norte-americano, e apoiado pela Avoided Deforestation Partners (Parceiros pelo Desmatamento Evitado) – uma aliança informal de pessoas e organizações que defendem o fim do desmatamento no mundo, foi feito para promover a aprovação da lei de mudanças climáticas, em tramitação no Senado americano. Um dos dispositivos desse projeto de lei prevê a possibilidade de que grandes poluidores norte-americanos possam compensar suas emissões de gases do efeito estufa, financiando a proteção de florestas em países tropicais. É o caso da Indonésia e do Brasil, onde o desmatamento torna esses dois países o terceiro e o quarto maiores poluidores do clima no planeta, respectivamente.

Elaborado com a intenção de convencer parte da bancada republicana – contrária à lei – a mudar de posição, sobretudo a pertencente a estados com grande produção agropecuária, o estudo defende que o investimento em mecanismos de desmatamento evitado em países tropicais elevaria os ganhos da agricultura norte-americana, não só diminuindo os custos com a mudança de tecnologia para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, mas, sobretudo, afastando a competição de produtores rurais desses países, que hoje competem diretamente com os americanos pelos mercados de commodities agrícolas. Segundo o estudo, os ganhos poderiam alcançar US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030 só com a diminuição da competição dos países tropicais.

Em função dessa conclusão infundada, esse estudo vem sendo usado, nos últimos dias, por diversos parlamentares e lideranças ruralistas brasileiros para defender a tese de que a proteção de florestas no Brasil é algo que contrariaria o interesse nacional. Com isso, querem justificar a necessidade de aprovação de um projeto de lei que altera dramaticamente a legislação florestal brasileira. Nessa história, no entanto, estão enganados os ruralistas norte-americanos e os brasileiros.

Em primeiro lugar o estudo, que desconhece a realidade brasileira, é equivocado ao assumir que o fim do desmatamento por aqui significaria paralisar a expansão da produção de commodities agrícolas a preços competitivos. Segundo dados da Universidade de São Paulo/ESALQ, temos pelo menos 61 milhões de hectares de terras de elevado potencial agrícola hoje ocupadas por pecuária de baixa produtividade e que podem ser rapidamente convertidas em áreas de expansão agrícola. Com o fim da expansão horizontal da fronteira agrícola, há forte tendência de valorização da terra e de substituição dos sistemas de produção agropecuária de baixa produtividade (que garimpam os nutrientes e degradam o meio ambiente) por sistemas de produção mais intensivos e com maior produtividade.

Estudos da Embrapa mostram que há um cenário ganha-ganha quando se incorpora tecnologias (recuperação de áreas de pastagens degradadas, agricultura com plantio direto, sistemas integrados de lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta) nas áreas atualmente ocupadas com agricultura e pecuária, aumentando a produção, reduzindo custos e emissões de gases do efeito estufa. No caso do Brasil, onde 4/5 das terras agricultáveis são ocupadas por pastagens, tais ganhos são especialmente expressivos - de forma que poderíamos dobrar nossa produção de alimentos sem ter que derrubar novas áreas de floresta e ainda recuperando aquelas áreas onde o reflorestamento se faz necessário por seu potencial de prover serviços ecossistêmicos.

Portanto, o aumento da produção agrícola não passa necessariamente pelo aumento ou continuidade do desmatamento, como quer fazer crer o estudo norte-americano. Os produtores competitivos não são os que usam métodos do século XVIII, grilando terras públicas, desmatando e usando mão de obra escrava e sonegando impostos. Pelo contrário, são os que investem em tecnologia e mão de obra qualificada para o bom aproveitamento de terras com infraestrutura adequada. Por essa razão até mesmo a Confederação Nacional da Agricultura – CNA, afirma que não é mais necessário desmatar para aumentar e fortalecer a produção agropecuária brasileira.

Não devemos esquecer que a preservação e a recuperação de florestas no Brasil interessam, antes de tudo, a nós mesmos. O fornecimento de produtos florestais, a regulação das águas e do clima, a manutenção da biodiversidade, são todos serviços ambientais prestados exclusivamente pelas florestas e indispensáveis à sustentação da agropecuária nacional.

Frente a isso, repudiamos não só as conclusões do estudo norte-americano, como a tentativa de usá-lo para legitimar propostas que, essas sim, atentam contra o interesse nacional, ao permitir o desmate de mais de 80 milhões de hectares e a anistia definitiva para aqueles já ocorridos, o que coloca em cheque a possibilidade de cumprirmos com as metas assumidas de redução de emissões de gases de efeito estufa e recuperar a oferta de serviços ambientais em regiões hoje totalmente desreguladas, algumas inclusive em desertificação. Aumentar a produção agropecuária com base no desmatamento de novas áreas é uma lógica com data marcada para acabar, tão logo os recursos naturais se esgotem e o clima se modifique. Não podemos, nesse momento em que o Código Florestal pode vir a ser desfigurado pela bancada ruralista do Congresso Nacional, nos desviar da discussão que realmente interessa ao país, que é saber se precisamos ou não das florestas para o nosso próprio bem-estar e desenvolvimento.

A defesa das florestas é matéria de alto e urgente interesse nacional.

Assinam:

Amigos da Terra – Amazônia brasileira
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida- APREMAVI
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segunda-feira, 7 de junho de 2010

Brasil, a agenda ‘esquecida’: Código florestal, debate para além da questão ambiental

A possível alteração do Código Florestal brasileiro é outro fato da conjuntura nacional, na agenda nesses dias, que manifesta o debate de modelo de sociedade que se deseja. Ofuscado pelo boom econômico, o tema ambiental não tem recebido atenção por parte do governo, pelo contrário, é visto como um empecilho para o crescimento econômico. Há um visível desconforto e até má vontade por parte do governo em debater o tema, e nesse sentido o debate do Código Florestal é apenas um dos muitos temas que faz parte da denominada agenda ambiental.

A temática ecológica já não se constitui mais em uma novidade na sociedade, mas o tema veio à tona e ganhou espaço muito em função do esforço do movimento ambientalista, movimento esse que já irrompe como um dos principais movimentos sociais do século XXI. O movimento ambientalista – pouco compreendido até muitas vezes por seus parceiros do movimento social – alerta para os limites do paradigma do crescimento econômico fundado na idéia da exploração ilimitada dos recursos naturais. É ele, o movimento ambientalista, que exprime de forma mais contundente que o atual modo de produzir e consumir não é compatível com as possibilidades do Planeta.


Destacar o tema do Código Florestal nesse momento é dar visibilidade a um debate que para além dos atores envolvidos: governo, parlamentares, ruralistas e movimento social diz respeito ao Brasil que se quer – conteúdo aliás central do encontro da Assembléia Popular.

A bancada ruralista pressiona o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB-SP), a colocar em discussão e votação, ainda neste mês, o relatório do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP) – cada vez mais próximo da bancada ruralista – que modifica o Código Florestal. A pressão dos ruralistas vai além da abordagem direta ao presidente da Câmara. O deputado Moreira Mendes (PPS-RO), da Frente Parlamentar da Agropecuária, disse, que se for necessário organizará uma manifestação de produtores rurais em Brasília. “A Frente pretende reunir 50 mil manifestantes para fazer um panelaço a favor das mudanças no Código Florestal”, disse ele em tom exagerado.

As medidas propostas, na opinião do movimento social, vão no sentido de flexibilizar a legislação ambiental para favorecer o agronegócio, fazendeiros e exportadores de commodities. As propostas sugerem: reduzir a Reserva Legal na Amazônia de 80% para 50%; reduzir as Áreas de Preservação Permanente como margens de rios e lagoas, encostas e topos de morro; anistia aos crimes ambientais, sem tornar o reflorestamento da área uma obrigação e – medida considerada extremamente grave pelo movimento social –, transferir a legislação ambiental para o nível estadual, removendo o controle federal.

Segundo o movimento social os objetivos dos ruralistas são muito claros com a proposta de retalhar o Código Florestal: “consolidar o desmatamento que já promoveram no Cerrado, Mata Atlântica, Pampas e Caatinga; avançar na destruição da Amazônia e consolidar as áreas que já desmataram”, avalia Luiz Zarref, engenheiro florestal, especialista em agroecologia e militante do MST.

O ambientalista Mário Mantovani, coordenador da ONG SOS Mata Atlântica, afirma que o que se quer com o projeto de Rebelo é “massacrar a legislação ambiental brasileira”. Raul do Valle, coordenador do Programa de Política e Direito Socioambiental do Instituto Socioambiental (ISA), tem opinião similar ao de Mantovani. Segundo ele, “a proposta dos ruralistas é acabar com o Código Florestal”.

A SOS Mata Atlântica é uma das organizações que ao lado de outras lançou a campanha ”exterminadores do futuro”, numa referência aos principais defensores da mudança da legislação ambiental.

A luta contra as mudanças no Código Florestal torna-se nesse momento de grande importância porque manifesta em seu interior interesses antagônicos que dizem respeitos a formas de conceber a relação com o meio ambiente. De um lado estão as forças econômicas que vêem os recursos naturais como mercadorias. A estratégia dos ruralistas e do agronegócio é uma estratégia auto-destrutiva destaca Sérgio Abranches: “O agronegócio brasileiro adota as piores práticas sócio-ambientais. Despreza a tendência do mercado global de adotar práticas de sustentabilidade em toda a cadeia de suprimentos. Um projeto economicamente suicida”. Sequer o agronegócio saber utilizar racionalmente a “mercadoria” que tanto preza. De outro, temos as forças sociais que percebem que a utilização indiscriminada da biodiversidade é uma ameaça a vida humana e de todos os seres. Esses movimentos não aceitam a mercadorização dos recursos naturais.

Fonte: (Ecodebate, 07/06/2010) publicado pelo IHU On-line, parceiro estratégico do EcoDebate na socialização da informação.

sábado, 5 de junho de 2010

Dia Internacional do Meio Ambiente

Hoje deveríamos vestir luto. Não há o que comemorar.

Ontem, em uma entrevista à TV Câmara, o IBAMA afirmava que, nos últimos 40 anos, 50% do Cerrado brasileiro foi arrasado pelo avanço das fronteiras agrícolas, particularmente a soja e as pastagens. O Globo Repórter mostrou um casal de Harpias, o Gavião Real, maior ave de rapina brasileira, em processo de extinção, fazendo seu ninho em uma pequena mancha verde nas imediações de Floresta, cidade ao norte de Mato Grosso "em plena floresta amazônica", estado campeão de desmatamento e de cultivo da soja e da criação de gado. Este ano, os fenômenos climáticos mostraram toda a sua fúria em tempestades, furacões, vulcões e terremotos, evidenciando o desequilíbrio crescente causado pelo Homem à Natureza.

O descaso da humanidade pelo Meio Ambiente evidencia suas próprias contradições no desenvolvimento científico e tecnológico e no descontrole demográfico, que agrava continuadamente a situação de miséria e abandono das populações do terceiro mundo, expressão anacrônica para um mundo que se diz civilizado. Enquanto isso, o agronegócio conspira contra a Natureza, comandando a mais funesta revisão do Código Florestal brasileiro, sem que a sociedade se organize e se posicione para evitar a catástrofe iminente. Se com uma legislação consistente não conseguimos deter as motosserras e as queimadas, o que acontecerá com a liberação de milhões de quilômetros quadrados de áreas atualmente protegidas para a invasão da soja e do gado?

Minha alma se veste de preto, meu coração se contrai, meus pensamentos falham diante das possibilidades nefastas e terríveis que esse dia nos reserva. Enquanto isso, o Ministério do Meio Ambiente e o IBAMA comemoram... o que mesmo eles comemoram?

segunda-feira, 31 de maio de 2010

Lembranças de nosso Código Florestal

Por que publiquei na íntegra o Código Florestal Brasileiro?

Porque corremos o risco de tê-lo revogado amanhã, pela Câmara de Deputados, graças à força e à truculência da temível Bancada Ruralista, o mais poderoso grupo existente no Congresso Nacional! Embora composto de um pequeno número de deputados e senadores, esse temível grupo arquiteta 24 horas por dia, 365 dias por ano, ações que favorecem os mais ricos latifundiários do país! É incrível como até partidos ditos de "esquerda", como o PCdoB se enamoraram do "canto de sereia" desses "senhores de engenho" contemporâneos! Aldo Rebelo, o relator do projeto, vendeu-se ao Capitalismo!

Nós temos a mais fantástica legislação ambiental e indigenista do planeta: ela fornece os mecanismos necessários à preservação do meio ambiente e à proteção de nossos povos tradicionais, com a qual todo ambientalista sonharia. No entanto, nossas florestas continuam sendo devastadas, nossos rios destruídos pela exploração excessiva e descontrolada, nossas cavernas estupradas pela indústria de mineração, nosso Cerrado, a segunda maior savana do mundo, dizimada pela pecuária e pelo plantio de soja, e nossos indígenas humilhados e explorados por fazendeiros que roubam descaradamente suas terras! Enquanto isso, 80% de nossa população rural, constituída de pequenos agricultores é explorada e passa fome!

Publiquei esse magnífico Código Florestal, curiosamente sancionado em plena Ditadura Militar, porque sentiremos falta de nossas florestas quando pouco dela restar, depois do ataque avassalador da ganância dos grandes pecuaristas e agricultores que ocorrerá, inevitavelmente, quando essa lei for revogada e substituída por um arremedo de torpes falsidades e hipocrisia! O que será desse país que possui o mais complexo conjunto de biomas da Terra, quando tudo for reduzido a pastos e plantações de soja? E depois, quando tudo se converter em terras desérticas e imprestáveis?

Pois ainda podemos reverter essa situação e, para isto, basta que você, que lê esse artigo, tome a iniciativa de assinar o protesto: http://www.avaaz.org/po/salve_codigo_florestal/?vl e convidar seus amigos a também fazê-lo, em defesa de nossa Natureza privilegiada e em respeito aos nossos descendentes! Reserve uns poucos minutos para refletir sobre a gravidade dessa situação e faça a sua parte!

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Eleições e Meio Ambiente

Como um intransigente defensor do Meio Ambiente, não posso me omitir neste importantíssimo momento da vida política nacional. Minhas idéias políticas são bem conhecidas de todos, e as divulgo em meu blog Boca Ferina. Mas creio ser importante avaliar o momento atual sob o enfoque ambiental, principalmente quando políticos se manifestam de forma tão anacrônica e irresponsável, como o fez Aldo Rebelo, defendendo a revisão do código florestal, com o propósito de facilitar a transformação das poucas florestas ainda existentes em pastos, canaviais e plantações de soja. Esse político apóia Dilma Roussef, que já cometeu seus equívocos ao conseguir a revogação do único decreto que protegia nossas cavernas, propondo sua substituição por uma lei que permitiria a destruição da maior parte de nossas cavidades naturais, sob a justificativa política da "relevância" das grutas, ou seja, para que preservar duas grutas, se elas possuem os mesmos tipos de espeleotemas? Mais vale destruir uma para exploração de cancário...

Pois é, diante de tais barbaridades, vale lembrar que o governo LULA deu seu apoio incondicional aos integrantes da Bancada Ruralista no Congresso Nacional, privilegiando o desenvolvimento do Agro-Negócio em detrimento da agricultura familiar. Enqunato aquela favorece apenas 5% dos produtores rurais, a agricultura familiar dá emprego para 95% dos pequenos agricultores do país! O que vale mais: a vida humana ou a produção agrícola? Vale ressaltar que a maior parcela dessa produção em massa dos latifúndios nacionais é exportada, favorecendo a riqueza indivdual em detrimento da riqueza social, da distribuição de renda e da redução da pobreza, esse ranço imperial que ainda mantém na miséria milhões de brasileiros.

Foi também o governo LULA que acelerou a construção das grandes hidrelétricas do Amazonas, causando enorme e irreversível impacto ambiental, a despeito das manifestações contrárias dos maiores especialistas nacionais em hidrologia. LULA também decidiu, em oposição a esses pesquisadores e ofendendo frontalmente as populações tradicionais ribeirinhas, a construção dos canais da Transposição do Rio São Francisco, levando bilhões de litros de suas águas para outras terras do nordeste, e deixando à mingua a população que durante séculos viveu da lavoura e da pesca. Usou, inclusive, tropas do Exército para impor sua vontade.

Centenas de pequenas centrais hidrelétricas estão em construção pelo país, grande parte delas sem estudo adequado de impactos ambientais, e expulsando milhares de pequenos agricultores de suas terras em troca de falsas promessas de fartura e riqueza. Todos sabemos que isso não corresponde à verdade.

LULA não cumpriu suas promessas de regularização fundiária e o INCRA continuou sua "reforma agrária" a passos de tartaruga, deixando imensas populações à mercê da miséria e do subemprego nas favelas das metrópoles brasleiras. Assentamento rural é um tabu para esse governo, que regulariza as terras griladas pelos milionários fazendeiros, favorecidos pelo crédito fácil e pelo perdão de suas dívidas passadas, sob o manto da impunidade e sob o pretexto do crescimento econômico a qualquer preço. Quanto valem essas "políticas agrárias" que favorecem os latifúndios?

Por outro lado, Serra nunca demonstrou talento pela preservação ambiental. Suas obras são de concreto: estradas, escolas, edificações, crédito agrícola aos grandes fazendeiros do estado de São Paulo, principalmente em favor das "plantations" de cana de açúcar e soja, verdadeiras "panacéias" no imaginário de nossos políticos e empresários. Se sua obra foi correta sob o ponto de vista econômico-financeiro, já suas conseqüências não podem ser tão bem avaliadas. São Paulo é, sem dúvida, um estado privilegiado, que sobreviveu às ambições políticas de Ademar de Barros, Paulo Maluf e outros políticos de idoneidade (no mínimo) duvidosas. Mas as áreas verdes desse pequeno grande território já não podem dizer o mesmo, uma vez que a Mata Atlântica se encontra cada vez mais ameaçada e restrita a poucas manchas nas proximidades litorâneas e em algumas encostas da Mantiqueira.

Resta-nos Marina Silva, a candidata do Partido Verde. Marina possui uma biografia impecável e edificante. Nascida seringueira, lutou contra as possibilidades estatísticas e venceu, tornando-se conhecida mundialmente por sua luta em defesa do meio ambiente, e sendo considerada uma das poucas celebridades mundiais que poderiam fazer a diferença na luta pela sobrevivência dos principais ecossistemas de nosso planeta. Marina Silva é uma personalidade cativante pela sua lucidez e brilhantismo em defesa de suas idéias. Mas, infelizmente, a mídia nacional a ignora. A razão é óbvia, pois os grandes veículos da imprensa brasileira sobrevivem graças ao poder econômico dos grandes grupos nacionais, que veiculam suas propagandas na mídia impressa e televisiva, para os quais não seria conveniente uma ativista ambiental no poder.

Esse mesmo raciocínio tem feito fracassar todas as iniciativas de luta contra o aquecimento global e a destruição sistemática do meio ambiente. Por enquanto, ficou apenas o discurso fácil dos políticos, sem resultados concretos. A maior evidência desse fracasso preservacionista é o uso abusivo da expressão "SUSTENTABILIDADE". Políticas sustentáveis, programas econômicos sustentáveis, obras de engenharia sustentáveis, edifícios inteligentes... o modismo desses termos esconde a verdadeira intenção de dispersar a opinião pública da terrível devastação de nosso planeta! A cada dia, milhares de espécies animais e vegetais desaparecem definitivamente da Natureza; a Floresta Amazônica segue sendo destruída sob o falso pretexto da "redução" do desmatamento; os desastres ecológicos mostram-se cada vez mais agressivos à Natureza, assim como os fenômenos "naturais".

Pois este é o momento de decisão em que podemos defender nossas idéias e intenções. O voto é um instrumento poderoso, que poderia reverter esse quadro desolador, caso houvesse consciência ecológica em nossa Nação. Mas não existe; o voto é obrigatório, inclui os analfabetos absolutos e funcionais, não se observam campanhas conscientizadoras por parte dos partidos políticos, que repetem as mesmas fórmulas imorais de prometer o que não podem cumprir. E os políticos que se apresentam ao voto popular são os mesmos: mesmas caras, mesmas idéias, mesmos interesses pessoais, mesmas intenções de enriquecimento ilícito!

Aos poucos que ainda perseveram na luta pela decência, pela moralidade ideológica, pela defesa de princípios éticos, resta o consolo de manifestar suas posições políticas e incitar o povo a votar CONSCIENTEMENTE. Eu aqui o faço, convidando-os a avaliar as intenções ocultas nas palavras fáceis dos políticos: escolham bem os seus políticos, pois serão os nossos filhos os herdeiros dessa Terra.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Já passamos de CENTO E VINTE assinaturas na Petição!

Embora seja um marco importante, cem assinaturas ainda representam pouco interesse pelas questões ambientais em nosso país... meu blog já recebeu mais de 12.000 visitantes em seis meses, o que é significativo para um assunto denso como a preservação do meio ambiente, mas 120 assinaturas representam 1% dos visitantes. Mesmo sabendo que a maioria das visitas pertence aos mesmos visitantes, que retornam ao blog, eu enviei mais de 400 emails, coloquei mensagens no Orkut, Facebook, Linked In, Plaxo, Twitter...
Bem, mas consciência ecológica é um processo educativo que demanda muito tempo para amadurecer... prova disso é que já se passaram 18 anos desde que o Brasil sediou a ECO 92 no Rio de Janeiro, verdadeiro marco divisório de um período extenso de desperdícios e o início de uma era de consumo racional, que ainda está na infância. No entanto, fenômenos trágicos como o que ocorre nas praias da região norte paulista evidenciam que um processo de transformações na Natureza está em curso. Katrina, nos Estados Unidos, Catarina em Santa Catarina, Tsunami nos mares das Filipinas, nevasca em Nova Iorque...
É lamentável que somente com a reação de desordem nos fenômenos naturais é que a Humanidade começará a tomar providências para reverter a tragédia que se avizinha... nem mesmo os filmes de ficção mais extremistas, como "O dia depois de amanhã" e "Avatar" são suficientes para mobilizar decisões dos países que estiveram reunidos em Kopenhagen e nada aconteceu de importante...
Bem, de qualquer forma, CENTO E VINTE assinaturas no nosso Protocolo do São Francisco é um número expressivo e quero agradecer a todas as colaborações dos que registraram sua presença e, principalmente daqueles que me ajudaram a divulgar esse manifesto, replicando emails e mobilizando sua rede de relacionamentos!
Ainda há tempo: a quem não assinou, convido a conhecerem a petição "Protocolo do São Francisco". Ela será encerrada no dia 31 de janeiro próximo, quando a encaminharei para os governos federal, estaduais e municipais (da bacia do São Francisco), aos órgãos de imprensa, às ONGs que atuam na região e aos ambientalistas que se manifestaram em meu apoio durante minha expedição.

sábado, 2 de janeiro de 2010

O Brasil que não está no GIBI


Passei o ano de 2009 comprometido com meu projeto de expedição pelo rio São Francisco e conheci o mais paradoxal exemplo de anacronismo político de um Brasil que pouca gente conhece e muitos pensam que morreu ou ficou no passado... pois existe, e ainda reflete as mais sórdidas realidades de nossa formação política, econômica e social: o país dos coronéis!
No oeste baiano, uma imensa população de deserdados é submetida, nos dias de hoje, às humilhações e à prepotência de um poder obscuro e, no entanto, real e cruel: grandes propriedades rurais, verdadeiros latifúndios, fazem valer sua vontade sobre pequenos agricultores, submetendo-os ao terror das armas, mantendo-os como testemunhos de uma história que gostaríamos de esquecer.
Visitei muitas dessas comunidades, onde a criação de cabras, porcos, galinhas e até algumas cabeças de gado é mantida solta, nas terras comunitárias, junto com os humanos... esses animais compartilham os mesmos espaços das crianças e dos adultos; as construções ainda são de taipa, e o besouro transmissor da doença de Chagas permanece ativo, fazendo novas vítimas... as oportunidades de trabalho são escassas e se resumem ao extrativismo (pescadores, carvoeiros, garimpeiros), às pequenas lavouras de lameiro, ao escambo e a um comércio regional incipiente e insignificante, que não permite que essas populações saiam da miséria econômica e, sobretudo, cultural. Para agravar ainda mais a situação, as famílias são imensas, com seis, oito, dez, doze filhos, pois a única distração das pessoas é procriar!
É como se voltássemos o relógio do tempo e mergulhássemos no mundo de nossos avós, onde o conforto era um luxo permitido a poucos, a segurança não existia e o futuro era incerto, às vezes até improvável... carros de tração animal, ruas sem calçamento, esgoto escorrendo pelas beiradas das casas, crianças mal nutridas perambulando suas enormes barrigas pela comunidade, lixo jogado a céu aberto, apodrecendo, e o grande paradoxo das antenas parabólicas, desfilando um mundo de fantasias que as pessoas só conhecem pela telinha...
Nenhuma cidade ribeirinha que eu visitei possui cinema; o circo mambembe passa por lá, levando espetáculos tão anacrônicos quanto os carros de boi rangendo pelas ruas, teatro é uma ilusão inacessível, e as igrejas evangélicas, pentecostais e católicas fazem a vida se resumir à esperança de que, ao menos depois da morte, haveria justiça e se tornam a única razão de continuar a viver. Para compensar tanta desgraça, somente a cachaça que corre solta por todo o lado, alimentando o crime, a solidão e o desespero inconsolável...
O coronelato domina o poder, mais forte do que aquele constituído e legal, de urnas eletrônicas e falta de consciência política, que elegem aqueles que mais entregam parcas e modestas benesses às vésperas das eleições. O sindicalismo é forte, mas apenas como outra faceta do mesmo grupo dominante, pois suas lideranças se contrapõem aos coronéias apenas para legalizar essa situação absurda e onírica! A eles também interessa preservar a miséria, sua principal matéria-prima de perpetuação nesse poder secundário dos protestos inúteis.
Crimes ocorrem aos montões: políticos, passionais, de vingança ou de "acerto de contas", de afirmação do machismo dominante, ou simplesmente devido ao excesso de álcool ou de drogas, que correm soltas por todas as partes. As histórias desses crimes "divertem" os mais velhos, que relembram as façanhas de seus antepassados, seja para conquista da terra, seja nas demonstrações de sua vontade e de poder.
Esse Brasil está lá, no nordeste, no oeste baiano, incentivado pela ausência das políticas nacionais, a quem interessa preservar esses currais eleitorais que jamais se extinguirão, mesmo com urnas eletrônicas e sistemas sofisticados de reconhecimento ergométrico de eleitores, pois não é o modo de votar que determina a validade e a representatividade popular, e sim a consciência política e a autonomia econômica e social.
Essas não existem na caatinga, e jamais existirão, enquanto a decisão dos investimentos privilegiar o agronegócio, que chega e se instala aos poucos, excluindo os pequenos e metamorfoseando as paisagens do sertão através das "plantations" contemporâneas que ocupam as novas fronteiras agrícolas nacionais de modo irreversível.
Dizem que o agronegócio levou modernidade e riqueza às terras antes ressequidas e agora férteis do sertão. É verdade. Basta olhar para Petrolina e constatar a pujança dessa nova cidade que emergiu do semi-árido nos últimos vinte anos: a estrutura urbana se transformou, edifícios se ergueram com as mesmas linhas das grandes cidades, estradas bem construídas surgiram por todo lado, universidades e centros de pesquisa foram construídos.
Mas não é preciso andar muito para constatar que existe um tênue manto de prosperidade no entorno dessa bela cidade; logo aparece de novo a miséria, a falta de água, a fome, a ausência de oportunidades, pois para os pobres quase nada mudou. O sertão continua lá; as águas do rio São Francisco não chegam às casas dos pobres que habitam as áreas rurais, que ainda dependem exclusivamente das parcas chuvas de "inverno" e da boa vontade dos políticos que manejam a distribuição de água pelos carros-pipa, moeda de troca dos favores...
O Brasil que não está no gibi também não está na consciência da população privilegiada do sul e sudeste-maravilha, do centro-oeste do agronegócio, do centro de poder brasiliense, repleto de escândalos e pobre de criatividade para a solução dos gravíssimos e crônicos problemas de distribuição de renda nacionais...
Até quando? Provavelmente, até que essa panela de pressão exploda, o que é improvável, mesmo com tamanha miséria, pois as igrejas fazem com competência o seu papel apaziguador de consciências, solapando qualquer iniciativa de rebeldia desses novos escravos de consciência da era contemporânea!

PROTOCOLO DO SÃO FRANCISCO


Vamos fazer um esforço para finalizar as assinaturas do Protocolo do São Francisco! Assinem e divulguem esse documento: http://www.ipetitions.com/petition/velhochico/. 
Até o final de janeiro pretendo encaminhá-lo às autoridades e conto com seu apoio e colaboração para dar credibilidade e força persuasiva a esse documento!
É incrível, mas apesar dos imensos recursos reservados para as obras da transposição, que seguem aceleradas às vésperas das eleições presidenciais, com evidentes interesses eleitoreiros, quase nada foi reservado para a revitalização do rio e de seus afluentes.
Nota-se claramente que não existe um plano nacional e integrado de ações preservacionistas para que o Velho Chico não morra... ao invés disso, pequenas obras de pouco alcance e de nenhum impacto nas complexas situações de degradação mostram o descaso de nossas autoridades em recuperar esse fantástico patrimônio hídrico nacional.
Enquanto isso, a propaganda política das ações na Amazônia Legal não condiz com a redução pífia dos desmatamentos e queimadas, e com a expansão acelerada da agro-indústria e das fronteiras agrícolas sobre outros biomas, como o Cerrado, a Caatinga, o Pantanal, nossas Bacias Hidrográficas e a Mata Atlântica!
Onde estão os ambientalistas brasileiros? Preocupados com a pesca predatória das baleias e dos tubarões? Nada contra, mas precisamos cuidar primeiro do que é nosso e que garantirá o futuro de nossas novas gerações! Vamos nos mobilizar e demonstrar nossa revolta e insatisfação com o destino de nosso dinheiro, desperdiçado em obras faraônicas!

segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Vida Simples ao Extremo!


Durante mais de três meses minha vida se limitou a remar, acampar, fazer comida, escrever e pensar... observei a Natureza ao meu redor, não como um reles expectador, mas como outra das tantas vidas que pulsavam naquele rio de tão diversificadas feições. Estava lá, limitado pelas margens e barrancos, conduzido pelas águas assim como os animais que o habitam há tantos séculos... hoje nem tantos e nem tão diversificados como no passado, quando o rio era selvagem e os povos indígenas não o molestavam com o lixo, as barragens, a pesca predatória, as queimadas, o desmatamento, o esgoto e os produtos químicos jogados em suas águas.


Meditei muito a respeito do supérfluo que nos pressiona ao consumismo e nos encaminha para um futuro assustador, enquanto o mundo discute suas vaidades em não ceder para não parecer fragilizado diante de seus vizinhos dessa aldeia global em que se transformou agora. Não entendi muito bem por que parece tão difícil para a maioria dos homens o que é tão simples para mim, como a vida no rio...


Acordava cedo, à primeira luz do dia ou ao cantar dos pássaros no alvorecer. Em poucos minutos já estava de pé, ajeitando as tralhas do acampamento na canoa, fazendo minha primeira refeição, singela e agradável, sob árvores frondosas, ou diante de um dos incansáveis espetáculos da Natureza, tingindo de cores o céu e as águas...


Logo, a canoa deslizava suavemente pelo rio, abrindo pequenas ondas ao seu redor, quebrando o espelho e perseguindo o Norte ou o Leste, não importava o destino, pois o único caminho que eu tinha me levava ao mar, distante e misterioso como todo meu percurso. Meus olhos registravam cenários efêmeros, que logo se dissipavam, dando lugar a outras pinturas que minha câmera se recusava a preservar. Às vezes eu nem tentava fotografar ou filmar, extasiado pela beleza e encantado pela sonoridade dos cantos dos pássaros...


O ritmo constante das remadas agia como um bálsamo ou um alucinógeno, levando-me a pensares não imaginados, conduzindo minha mente para além da mediocridade humana... em nenhum momento pareceu-me monótona a vida no rio; nada se repetia, ainda que as idéias fossem as mesmas, havia sempre uma transformação que conduzia a novas conclusões.


Nunca almoçava; não havia tempo para interromper a "caminhada", pois "navegar era preciso" e "chegar a algum lugar no mapa" significava cumprir a missão daquele dia. Bebia muita água, mais de quatro litros por dia; comia castanhas e granola, às vezes um doce, e isso me bastava. À tardinha, quando o sol se aproximava do horizonte, era hora de buscar abrigo: uma pequena praia ou um barranco protegido sempre estavam a me esperar e para lá me dirigia.


Sempre sabia que aquele era o lugar escolhido, pois a canoa se dirigia a ele quase espontaneamente; eu mal conduzia o barco e ele parava no lugar apropriado. É curioso como a Natureza provê tudo o que precisamos para sobreviver em segurança. Muitos me disseram: "vai ser roubado!", ou "vai naufragar", ou ainda "cuidado com os bandidos!". Que bandidos?


Montava meu acampamento sem pressa, pois o dia é longo e o tempo passa devagarinho para quem não está na correria das cidades... esse foi o mais longo ano de minha vida... e o mais expressivo, mais belo, mais gratificante, mais produtivo em todos os aspectos. O fogareiro fazia uma comida simples e gostosa, com alguns condimentos que levei... comia devagar, saboreando cada porção de alimento, imaginando que seus nutrientes me fariam recuperar as energias perdidas nas remadas. Bebia um refresco, ou apenas água...


Antes de me recolher lavava as roupas e os materiais de cozinha, e isso também nunca me incomodou. Um pequeno aparelho enviava um sinal para meus amigos e a família, confortando-os com a mensagem de que eu estava bem. Revisava as fotos do dia, as filmagens, olhava os mapas e me situava no globo dos homens, que pouco signficava para mim. Antes de dormir escrevia minhas memórias, meu essencial "diário de bordo".


Pela manhã o ritual era mais simples: desmontar a barraca, colocar a canoa na água, tomar um leite com "ovomaltoddy" ou granola, desfazer as marcas que deixara de minha presença nas areias da praia ou nas folhas do barranco, e seguir viagem novamente. Ah... estava me esquecendo de minhas necessidades fisiológicas! Um pequeno buraco na terra, longe da água, umas folhas, sabão antissético e um banho de rio; escovar os dentes e... pronto!


Assim foi minha vida nesses 99 dias que se passaram desde que saí de São Roque de Minas, exceto os três meses que corri atrás de patrocínio inutilmente... se quero viver assim? não sei... talvez meu espírito inconstante busque novos desafios, novas aventuras, novas experiências antes que eu me acomode em um pequeno esconderijo no meio do mato, no alto da montanha, na escuridão das matas, em algum lugar distante e desabitado, onde possa terminar meus dias... talvez eu não possa escolher o meu destino... mas vocês sabem o que eu quero nesse final e, quem sabe, se compadeçam de mim e deixem-me partir em paz...

sábado, 26 de dezembro de 2009

Ponte sobre o rio São Francisco, entre Petrolina e Juazeiro

Foto de Avelar Amador, um grande amigo que encontrei em Petrolina, e que me deu apoio desde Pernambuco até à chegada na foz do São Francisco, em Piaçabuçu!

Frustrações e o futuro...


Entre tantas alegrias por realizar meu grande projeto, é certo que ficaram algumas frustrações, decepções e tristezas por não ser compreendido muitas vezes... isso é natural; afinal, um ano dedicado a um projeto não é pouco! E o que interessa ao povo é mesmo aquele "axé" das músicas "bregas", ou o brilho opaco das celebridades fabricadas pela equipe global, ou ainda a trivialidade cotidiana de permanecer estável e seguro na sua própria zona de conforto...


Frustração de não ter visitado o Parque Nacional de Peruaçu, por exemplo. A Sociedade Brasileira de Espeleologia, à qual estive filiado por tantos anos e de cujos eventos participei tantas vezes, não me deu nenhum apoio, negou-me até uma resposta ao meu pedido de incluir minha expedição em seu calendário! Deixei de ir ao parque... uma pena, já que ele é desconhecido da maioria dos brasileiros e até mesmo dos amantes das cavernas, como eu. Nem mesmo posso citá-lo em meu livro...


Decepção por não receber um único patrocínio de nenhuma dessas grandes empresas que alardeiam seu compromisso com o meio ambiente, mas ignoram um projeto de tamanha expressividade e envergadura, em defesa de nosso maior patrimônio hídrico nacional. Muitas sequer responderam ao meu pedido de patrocínio; outras apenas declinaram alegando não se adequar o projeto às suas linhas de atuação. Isso desnuda suas verdadeiras intenções de transformar em lucro até suas atividades preservacionistas; se não houver incentivo fiscal, não há patrocínio! Ou seja, mesmo quando apóiam alguma iniciativa em favor da Natureza, quem paga a conta é o governo, com sua renúncia fiscal, ou seja, "nós pagamos!".


Tristeza por ver que nossas autoridades, em todas as esferas da administração pública, estão completamente despreparadas e equivocadas ao lidar com as questões do meio ambiente. Não existe nenhum projeto de revitalização, apesar das propagandas governamentais! Tristeza também por perceber que aqueles que me deram a mão em situações difíceis, muitas vezes desapareceram assim que eu parti para outros estados ou municípios que não os seus.


Quem apóia o faz sem interesses pessoais... mas isso quase não existe! O interesse está sempre acima da solidariedade! E isso é difícil de aceitar para quem está sozinho em um rio extenso e desconhecido, como o São Francisco... desconhecido sim, não por mim, mas pela sua população inteira! Cada lugar que visitei, em cada entrevista que dei, as pessoas me perguntavam, não como estava o rio em toda a sua extensão, mas como seu lugarejo cuidava dele, ou melhor, "como eu sou percebido por vocês?". Um rio não é um mosaico de micro-naturezas que não se relacionam; é um ecossistema complexo e integrado onde as ações humanas causam efeitos cumulativos em tudo o que vem depois.


Esse imenso e fantástico rio continua órfão de seus próprios hóspedes e habitantes!


Mas minhas frustrações, tristezas e decepções não diminuem em nada  os resultados que alcancei... pelo contrário, a despeito de tamanho descaso e desconsideração, consegui atingir os meus propósitos! E isso hoje me basta, por enquanto; pois uma nova batalha tenho à minha frente, que é a de transformar todo esse material coletado em um documento definitivo!


E ainda tenho alguns poucos grandes amigos que me acolheram, me deram as mãos, ativaram sua rede de contatos e permitiram que minha aventura se transformasse na mais importante experiência de minha vida! A todos eles, a minha eterna gratidão!


Publicarei brevemente uma postagem exclusivamente voltada a destacar essas pessoas!

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