Mostrando postagens com marcador crime ambiental. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador crime ambiental. Mostrar todas as postagens

quinta-feira, 17 de maio de 2012

Perfídia contra o Código Florestal


Autor(es): José Eli da Veiga
Valor Econômico - 15/05/2012
 Fonte: Clipping do MPOG
Qual será o limite de desfaçatez dos que sonham com uma lei que legitime os desmatamentos criminosos dos últimos 12 anos e ainda torne desprotegidas as áreas úmidas, os manguezais, as margens dos rios, as encostas e os topos de morro?
Agora se valem de reles blefe para chantagear a presidente Dilma: aumento dos preços alimentares decorrente de diminuição da área cultivada, caso não seja sancionado o projeto da Câmara que revoga o Código Florestal. Essa é a síntese da ameaça publicada na "Folha de São Paulo" de 12/05 pela presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD/TO).
Bazófia cabalmente desmentida pelas projeções do próprio agronegócio: o "Outlook Brasil 2022", feito em parceria do Departamento de Agronegócio da FIESP (Deagro) com o Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais (Ícone).
A área necessária para expandir a produção de grãos até 2022 não chega a 3% do espaço coberto por capim
Até 2022 a produção de grãos terá crescido quase 30%, com aumento da área plantada de quase 16%. Isso significa que será necessário acrescentar uns 6,2 milhões de hectares aos atuais 39,2 milhões, para que nos próximos dez anos a produção de grãos seja 30% maior que a atual.
Segundo a senadora, seria a obtenção desses 6,2 milhões de hectares que impediria a observância de boas normas de conservação. Como se por aqui houvesse um impasse que obrigaria a nação a sacrificar seu meio ambiente em razão da incontornável necessidade de produzir comida barata.
Falando sério: qualquer vestibulando sabe que a expansão da agricultura se faz por incorporação de terras antes destinadas a pastagens. E esses 6,2 milhões de hectares não chegam a 3% da imensa área coberta por capim, que já ultrapassa 211 milhões de hectares.
É intrigante que se recorra a tão pífio estratagema para tentar defender o indefensável: o "maluco" projeto aprovado na Câmara em 25 de abril. O que mais interessa, contudo, é a real motivação da sanha da CNA contra as áreas de preservação permanente (APP), já que em nada dificultam a expansão agrícola.
A ocupação territorial deste país vem sendo feita por um esquema de desmatamento, queimada e capim que atropela todas as precauções intrínsecas ao cuidado de se manter as APP. Se passar o projeto da Câmara, essas terras terão imediato salto de valorização patrimonial, apesar de todos os riscos de erosão dos solos e assoreamento de rios. Se, ao contrário, a sociedade brasileira exigir a reversão de tão trágico malfeito, os valores desses domínios terão que embutir os custos da indispensável recomposição da vegetação nativa em APP. Principalmente no Centro-Oeste e no Norte, mas também no oeste da Bahia e no sul do Maranhão e do Piauí.
Como esses grandes interesses especulativos são menos confessáveis, foi montada uma campanha política para tentar vender a ideia de que "o grande prejudicado é quem se esforça para produzir "alimentos melhores e mais baratos". E como também não faltam exemplos de verdadeiros agricultores que, por outras razões, enfrentam dificuldades com a legislação em vigor, são eles que servem de biombo para uma gigantesca operação no mercado imobiliário rural.
É isso que permite entender a geografia da votação de 25 de abril. Aprovado com 100% dos votos das bancadas de Tocantins e de Mato Grosso, ou com mais de 85% dos votos das de Rondônia, Goiás e Roraima, o relatório dos especuladores foi rejeitado pelas bancadas de São Paulo (41 a 26) e do Rio de Janeiro (25 a 15).
Apesar de ter sido cavalo da batalha intragovernamental do PMDB contra o PT, o projeto só obteve 274 votos favoráveis, pouco mais de 50%. E menos de 50% pelo critério do número de eleitores que botaram os atuais deputados na Câmara. Pior: essa é a casa com maior déficit democrático, como demonstrou ontem (14/05) Renato Janine Ribeiro em sua coluna no Valor (A10).
Caso típico, portanto, em que a democracia requer veto presidencial. E como ele tende a ser integral (ou quase), multiplicam-se as iniciativas para preencher o vazio. Algumas certamente tentarão corrigir três sérios deslizes cometidos pelo Senado.
Não é possível ignorar que a Lei de Crimes Ambientais (9.605, de 12/02/1998) está regulamentada desde 1999. Posteriores desmatamentos de APP foram crimes dolosos que, se perdoados, configurariam mais indulto que anistia. A escolha de julho de 2008 para demarcar o passivo é uma mesquinha vingança contra a regulamentação específica do governo Lula.
Se houver excepcionalidade para os chamados "pequenos produtores", não se deve usar a figura do imóvel rural (com área de até tantos módulos), porque não há qualquer correspondência entre propriedade (imóvel) e empreendimento (estabelecimento). Deve prevalecer a Lei da Agricultura Familiar (11.326, de 24/07/2006), cujos critérios impedem que imóvel voltado à especulação fundiária seja tomado como se fosse dedicado à agricultura de pequena escala.
Terceiro, mas não menos importante: é preciso banir pastagem em APP, pois não há pior atentado ao beabá do conhecimento agronômico.
José Eli da Veiga, professor dos programas de pós-graduação do Instituto de Relações Internacionais da USP (IRI/USP) e do Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)

quarta-feira, 4 de abril de 2012

Votorantim Metais causa desastre ecológico

“Cheguei em Três Marias em 1951, com 11 anos de idade. Eu vendia pão na rua. Um dia, vi um cardume de peixes no rio e decidi tentar pescar alguma coisa. No primeiro dia peguei uma corvina de dois quilos. O preço que consegui por ela era igual a tudo que eu ganhava vendendo pão durante um mês! Aqui era um paraíso para os pescadores”. Esse é o início da história do pescador Norberto dos Santos. A região de Três Marias, onde o rio São Francisco representa a principal fonte de vida e sustento da população, tem sido explorada por fortes interesses econômicos, principalmente pela atuação da siderúrgica Votorantim Metais.

Norberto conta que, “em 1969, a Votorantim começou a funcionar. Foi o maior desastre ecológico que já vi. Matou tudo, até barata d’água morreu. A empresa jogava os resíduos no córrego Consciência, que ia direto pro rio. De 1969 até 1990, todos os anos era essa tragédia. Os peixes morriam por asfixia porque não tinha oxigênio. A água ficava vermelha de tanto resíduo. Em 1997 estourou um cano na empresa e morreram 50 toneladas de peixes. A partir de 2004, começaram a morrer os “nobres” do São Francisco, que são os surubins. Até surubim de 90 quilos apareceu morto! De 2004 a 2008, nós calculamos que perdemos no mínimo 5 mil exemplares de matrizes reprodutoras. São fêmeas que pesam uns 40 quilos e cada uma tem 4 quilos de ovos, com 2 mil ovos por grama. No total calculamos que devem ter morrido 100 toneladas de surubim. E continuam morrendo.”

O Pescador Moisés dos Santos conta uma história semelhante.“Nasci na beira do São Francisco. Sou filho de pescador e minha família vivia da pesca. Mas a chegada da Votorantim afetou todo o ecossistema. Nós dependemos do rio para sobreviver”.

Os resultados de diversos relatórios técnicos confirmam índices altíssimos de contaminação por metais pesados na água, sedimentos e peixes. Um relatório do SISEMA (Sistema Ambiental do Estado de Minas) constatou que o nível de zinco nas águas do córrego Consciência, afluente do São Francisco que recebe dejetos da Votorantim, atinge o alarmante índice de 5.280 vezes acima do limite legal. O Cádmio apresenta uma quantidade 1140 vezes acima do permitido, o chumbo 46 vezes e o cobre 32 vezes acima do limite legal.

Sobre a morte de peixes, o relatório do SISEMA concluiu que isto ocorre porque "O efluente da CMM (Companhia Mineira de Metais ou Votorantim Metais) em estado coloidal, após diluição pelas águas do rio São Francisco, deposita-se nas guelras dos peixes na forma de uma película impermeabilizante, provocando morte por asfixia. Esta hipótese é viável, pois a concentração de zinco e outros metais pesados tem sido mais elevada nas partes externas dos peixes. Outra hipótese, seria o acúmulo destes elementos na cadeia alimentar, fenômeno que seria agravado quando da ocorrência de concentrações muito elevadas de zinco nas águas, acelerando o processo de intoxicação."

Além dos laudos técnicos, qualquer pessoa pode constatar a presença de metais nas margens do rio. Navegando no córrego Consciência, é possível coletar resíduos tóxicos no solo de suas encostas. De 1969, quando a empresa começou a funcionar, até 1983, quando foi construída a primeira barragem de contenção de resíduos, não houve nenhum controle ambiental. Mesmo após esse período, não houve um controle eficaz da poluição.

“As barragens que foram feitas para conter a contaminação estão na beira do rio e não são impermeabilizadas. Além disso, essas barragens têm bombas que jogam os resíduos diretamente no rio. Nossos poços artesianos estão contaminados. Dependemos de caminhão pipa porque não temos água potável. O tamanho da destruição é incalculável. Mas, além da empresa, eu culpo também os órgãos ambientais, que não fazem nada. Só mandam o batalhão de choque para fiscalizar os pescadores”, explica Norberto.

Exames realizados pela FUNDACENTRO na população local constataram contaminação por arsênio, manganês e zinco. “É muito sofrimento pra gente que vive na beira do rio. Os olhos e o nariz ardem tanto que parece pimenta. Vem aquela poeira cor-de-rosa e a boca fica seca, às vezes até ferida. Irrita a pele e resseca o cabelo. A gente não pode beber a água do rio e nem lavar roupa. Agora meus filhos não podem viver da pesca. Vão fazer o quê? É o fim do mundo”, conta Maria dos Santos, moradora da região.

Cleide de Almeida, que mora em uma ilha no local, explica que, “as hortas morreram, tinha muita fruta antes, mas as árvores morreram. Até a água subterrânea está contaminada. A Votorantim acabou com muita coisa. Quando desce o minério pela encosta do rio fica um cheiro ruim e mata as plantas. Até os peixes vivos ficam fedendo. Quando bate o vento do lado da empresa, dá tanta tosse que não tem remédio que cure. Tem menino novo encostado, que pegou câncer e se aleijou trabalhando pra empresa. E o Antonio Ermírio é o homem mais rico do Brasil! Coitado do rio, não tem dó. Tem que tratar dele desde aqui. E imagina que esse rio vai até Pernambuco”!

O Sindicato dos Metalúrgicos de Três Marias possui registro de 145 trabalhadores que foram afastados da Votorantim Metais por doenças ocupacionais ou acidentes de trabalho. Os documentos demonstram que a partir de 2000 a situação piorou, pois a empresa instituiu um programa de reestruturação produtiva que reduziu o número de trabalhadores e aumentou a jornada de trabalho.

“Fui afastado em 2003. Tive que fazer uma cirurgia na coluna e depois fui despedido. O trabalho braçal acabou com a minha saúde. Com a reestruturação da empresa, tínhamos que trabalhar mais rápido”, afirma o operário Carlos de Lima. Outros trabalhadores têm histórias parecidas. “Diminuiu o pessoal e aumentou o trabalho. Isso arrebentou a gente. Meu ombro estourou e hoje sou aposentado, mas não recebi seguro. Por isso tem muita gente doente que continua trabalhando”, conta Pedro de Souza.

Para não conceder aposentadoria, a empresa obriga os funcionários a trabalharem doentes, através de um suposto programa de reabilitação. Depois de alguns meses, muitos são despedidos e perdem o plano se saúde. “Tive artrose no ombro. Fiz duas cirurgias, mas não tive melhora. Tenho limitação para mexer o braço. O médico falou que era só problema da minha cabeça e que eu podia voltar para a mesma função. Eu aplicava remédio para dor e continuava a trabalhar”, explica o operário Geraldo Leite.

Outro problema, como denuncia Adimilson Costa, é que “os trabalhadores sofrem com o esforço repetitivo e também com contaminação com cádmio e chumbo. Quando precisamos de mais de um exame, os médicos não autorizam. Por exemplo, não podemos fazer mais de uma ressonância magnética para comparar e ver se melhoramos com o tratamento”.

A historia de Sérgio de Almeida não é diferente. “Eu trabalhava nos fornos, com óxido de zinco. Carregava lingote de até 70 quilos. Antes o turno era de seis horas, mas depois passou pra oito horas. A empresa fazia competição entre as turmas para ver quem trabalhava mais. Sofri um acidente de trabalho e fui afastado. Meu tratamento foi interrompido em dezembro porque a Votorantim diz que não tem responsabilidade. A médica perita do INSS é esposa do gerente e mora dentro das dependências da empresa. Não paga aluguel, água, luz, nada. O chefe dos peritos do INSS já trabalhou para a Votorantim e agora tem uma psicóloga que é a “olhera”. Quer saber nossos problemas para contar para a empresa. Quando fazemos manifestação na porta da fábrica a polícia chega batendo com cassetete. Os fiscais do IBAMA avisam quando vão fazer inspeção. Aí o gerente manda esconder tudo”. Há também casos de acidentes graves, como conta Carlos Roberto. “Comecei a trabalhar na Votorantim em 1986. Em 1991, sofri um acidente e queimei metade do corpo com zinco. Fiquei quatro anos em tratamento e fiz seis cirurgias. Não posso exercer atividades no calor ou carregar peso, mas a empresa me obrigou a trabalhar através do programa de reabilitação que criou com o INSS. Como precisava pegar peso, em 2003 tive que fazer outra cirurgia porque tive uma trombose na perna”.

Vanderlei Oliveira explica que teve que se aposentar com 26 anos porque trabalhava no setor de fundição e sofreu um desligamento no ombro. “Fiz cirurgia, mas fiquei com seqüelas e o ombro atrofiou. Mesmo assim, fui liberado para voltar a trabalhar carregando peso. Aí adquiri hérnia de disco”, explica.

Para o metalúrgico Isac Laurentino, há ainda o problema da discriminação de trabalhadores doentes. “Fui afastado em 2004 com problemas no ombro e na coluna. Depois de um ano, a empresa mandou que eu voltasse para mesma função. Sinto muitas dores, mas tenho que trabalhar com fundição de zinco. A empresa cria conflito e competição entre os funcionários e os outros acham que eu não estou doente. Tenho que cumprir a reabilitação, senão vou ser despedido. Outros colegas têm medo de dizer que estão doentes, para não ser discriminados. A família sofre, a gente passa vergonha”.

O poder da Votorantim, que domina a economia local, dificulta a organização dos trabalhadores. “É difícil organizar porque a empresa quer nos desunir. Então tenta cooptar, ameaça despedir quem não depor a favor dela. Sempre formam chapa branca para ganhar a eleição do sindicato, mas nunca conseguiram”, explica o sindicalista Jorge Mendes.

A impunidade da empresa é um dos principais problemas, como afirma o operário Valter Ramos. “A Votorantim tem influência na justiça e na política. Por isso polui o rio, a gente fica doente e não acontece nada. A empresa despeja resíduo de cádmio, zinco, chumbo, arsênio, cobre, cério e lantânio nas margens do rio. Não nasce nem capim”.

A opinião dos operários coincide com a dos pescadores. Norberto dos Santos conta que sua pele fica ferida só de entrar em contato com o lodo do rio. “As algas ficam vermelhas e deixam nossa pele em carne viva. Vários pesquisadores de universidades já constataram a presença de arsênio, chumbo, zinco, cádmio e outras substâncias tóxicas na água. O pior é que não sabemos o que fazer. Não tenho esperança nas ações do Ministério Público. Eles dizem que dependemos da boa vontade da empresa e que devemos aceitar o que oferecem. Dizem que a justiça é lenta, que os processos podem demorar mais de 50 anos e nós morremos antes disso”.Para o pescador Moisés dos Santos, a solução é a organização popular. “Os termos de ajuste de conduta que a empresa assina com o Ministério Público, mesmo sendo paliativos, não são cumpridos. Se cumprissem a lei, a Votorantim seria fechada. Em dezembro de 2006, paramos a BR por 13 horas para protestar contra esse descaso. Só assim vamos conseguir alguma coisa”.


Maria Luisa Mendonça, enviada especial a Três Marias (MG)


Publicado em 7 de abril de 2008

Luta dos pescadores contra Mineradora Votorantim

Contaminação do Rio São Francisco 


Fonte: (Boca no Trombone) escrito em quarta 06 abril 2011 12:42




A Votorantim Metais (antiga Companhia Mineira de Mineração - CMM), foi instalada no município de Três Marias (Centro-Norte de Minas Gerais), a jusante da Usina Hidrelétrica de Três Marias, nas margens do São Francisco, no ano de 1969. A fábrica produz, principalmente, zinco metálico, ligas de zinco e óxido de zinco.

Até 1986, por um período de 20 anos, a Votorantim lançava os rejeitos industriais diretamente no rio, sem nenhum tipo de tratamento. Vários foram os desastres ambientais causados pela empresa, como relatam os pescadores, e mostram os documentos dos órgãos ambientais. Depois de várias denúncias, em 1986 a Votorantim construiu uma barragem de contenção de rejeitos na margem direita do Rio São Francisco, mas em Área de Preservação Permanente.

Os problemas continuaram. Posteriormente construíram a “barragem nova”, que apresenta problemas de infiltração por causa das irregularidades na construção, bem como a localização e solo inadequados para uma barragem de contenção de rejeitos. Recentemente, a mortandade de peixes, principalmente surubins adultos, alarmou a população.

Vários relatórios e analises químicas de órgãos ambientais mostram que água, sedimentos e peixes apresentam índices alarmantes de contaminação por metais pesados: zinco (5.280 vezes acima dos níveis estabelecidos pelo CONAMA - Conselho Nacional do Meio Ambiente), nas águas do córrego Consciência, cobre (32 vezes acima do permitido), chumbo (42 vezes) e cádmio (1140 vezes).

Segundo estimativa dos pescadores de Ibiaí, desde final de 2004 já morreram 200 toneladas de peixes, principalmente surubins. Contam que antes deste desastre pescavam 35 a 50 surubins por período da pesca (março a outubro), hoje apenas 2 a 5 peixes. Ou seja, caiu em 90%. Além disso, contam que se pescava, até com certa facilidade, surubins de 50 a 70 kg; hoje é raro se pescar um surubim de mais de 20 kg.

A contaminação por metais vem causando diversos impactos; a mortandade de peixes é o mais evidente, mas certamente atinge todo o ecossistema do Rio São Francisco, inclusive as comunidades. Estudos apontam que existe uma presença maior de metais nas localidades mais próximas à metalúrgica.


Mas, com a dinâmica do rio, essa contaminação deve ter uma dimensão territorial muito maior, como também o impacto na cadeia alimentar. As águas contaminadas e os sedimentos podem se arrastar por muitos quilômetros ao longo do rio. Peixes mortos apareceram entre Três Marias e Barra, na Bahia. A principal espécie afetada é o Surubim adulto, que percorre grandes distancias na bacia.

O Ministério Publico vem investigando o caso, e já fez alguns TACs (Termo de Ajustamento de Conduta) em relação a vazamentos, mas sobre o problema da morte dos peixes não houve nenhum avanço, porque a empresa não reconhece que é a culpada do desastre.


Em dezembro de 2006, o COPAM (Conselho Estadual de Política Ambiental) concedeu à empresa a renovação da licença ambiental por mais 4 anos. Para obter essa concessão a empresa comprometeu-se em fazer os seguintes ajustes:

- construir uma terceira barragem para contenção de rejeitos: a Barragem Murici, que foi aprovada recentemente pelo COPAM. Aqui existe grande polemica, pois não existe garantia, nem confiança na empresa, que essa barragem será eficiente; 

- retirar os resíduos da barragem velha, e da atual barragem, que tem sérios problemas de vazamento;


-despoluir o leito do Córrego Consciência e colocar os seus rejeitos na barragem Murici.

A construção da nova barragem, a chamada barragem Murici, ainda está em fase de licenciamento, mas a empresa continua em pleno funcionamento, apesar dos protestos e denúncias. E o pior: a empresa pretende expandir ainda mais suas atividades, investindo R$ 763 milhões no setor de zinco. Com essa ampliação a produção em Três Marias irá passar de 180 mil toneladas para 260 mil toneladas.



Os pescadores artesanais se mobilizam

Na foto: Ponte sobre a BR 040, sobre o Velho Chico, em Três Marias.
Ao fundo instalações da Votorantim Metais,
com barragem de rejeitos minerários na beira do rio São Francisco.
No Estado de Minas Gerais, na calha do Rio São Francisco, estima-se que existam mais de 4.500 pescadores filiados nas colônias.

Considerando a estimativa dos pescadores artesanais filiados nas colônias e os associados (existem muitas outras associações) temos uma estimativa de quase 8 mil pescadores só no Rio São Francisco, sem contar os pescadores dos afluentes.


Além das mobilizações de denúncia, principalmente através da audiência pública feita na câmara de vereadores de Três Marias. Os pescadores moveram duas ações civis públicas contra a empresa, responsabilizando-a pelos danos na atividade econômica e reivindicando indenização financeira pelos danos econômicos. Além disso, um grupo de pessoas e uma entidade de Três Marias entrou com uma ação contra danos ambientais.

O Ministério Público Estadual vem fazendo um inquérito para apurar causas e denunciar os responsáveis. Os processos estão em andamento.


Mas os problemas persistem e são tratados com descaso pela Votorantim Metais.


Foi alertado que quem deveria ser preso era a Votorantim, pois está contaminando com metais pesados o rio São Francisco.



Isso é crime hediondo. Essa barragem já foi interditada, mas não foi ainda construída outra barragem capaz de conter os metais pesados e impedir que caiam no Velho Chico.

domingo, 19 de junho de 2011

Entrevista para a Revista "CONTERRÂNEOS"

De onde partiu seu interesse de trabalhar como militante do meio ambiente e quando você iniciou os trabalhos?
Meu interesse pelas questões ambientais vem de longa data; meu pai, desde minha infância, me ensinou a respeitar e cuidar do meio ambiente; vivíamos em uma pequena cidade do interior de São Paulo, próximo ao rio Paraná que, naquela época, ainda não sofria os impactos das intervenções humanas. Porém, efetivamente comecei a atuar como ativista ambiental quando passei a me dedicar a esportes da Natureza, há mais de uma década. Primeiro, visitações a Parques Nacionais e Estaduais, com minhas filhas; depois, fizemos treinamentos de mergulho equipado (SCUBA) e hoje sou dive master e instrutor assistente de mergulho, com mais de 100 mergulhos logados na costa sul e sudeste do Brasil; em seguida, fiz treinamentos em montanhismo pelo Clube Alpino Paulista, tendo realizado diversas expedições pelas montanhas da Serra do Mar e da Mantiqueira; isso também me levou à escalada em rocha, sendo qualificado por um dos mais experientes escaladores do país, Eliseu Frechou; finalmente, surgiu a oportunidade de fazer uma expedição de treinamento pela ONG Outward Bound Brasil, na Chapada Diamantina, que me capacitou a realizar expedições autônomas. Hoje sou indigenista, moro na Amazônia, e me dedico à proteção das populações indígenas do Rio Negro, onde vivem cerca de 40.000 índios.

Como nasceu seu fascínio pelo rio São Francisco e de onde surgiu a ideia de viajar pelo rio?
O rio São Francisco sempre povoou os sonhos de meu imaginário, seja pelas suas lendas, seja pelas canções nordestinas que enaltecem suas belezas, seja pelos documentários que assisti a respeito de seus povos ribeirinhos e sua cultura regional. No final de 2008 decidi realizar uma expedição solo, autônoma e independente e escolhi a canoagem e o Rio São Francisco. Queria conhecer de perto essas histórias e descobrir, por minha conta, as belezas naturais e o encanto dessas águas que abrigam uma população de mais de 15 milhões de seres humanos, das mais diversas origens e etnias. Só no rio encontraria as respostas.

Porque a preferência por fazer a aventura de forma solitária em uma canoa a remo?
A canoagem a remo é um esporte que nasceu em minha juventude, por estímulo de meu pai, que era remador em sua juventude, e me levou a remar pequenos barcos (“catraias”) no rio Pardo, SP, onde conversávamos horas a fio a respeito de nossas vidas. Lá aprendi com ele as noções de ética, dignidade, respeito e humildade. Percebi, então, que a canoagem, além de ser um excelente esporte, também nos levava à reflexão. Sempre fui muito solitário, desde minha infância, e credito a isso minha paixão pelos livros e minha busca pelo autoconhecimento. Daí, a decisão pela canoa a remo foi uma consequência imediata.

O que você esperava conquistar com a aventura?
Na verdade, quando concebi a expedição, pensava na aventura de viajar sozinho durante meses, dependendo apenas de meus recursos e de minhas decisões, para percorrer os 2700 km desse rio. Queria conhecer, fotografar, conversar com as pessoas, ouvir suas estórias, falar sobre preservação ambiental e defender o Rio São Francisco que estava moribundo. Depois, ao longo do rio, minha percepção foi se modificando e percebi o imenso universo que se escondia nas margens desse rio e de seus afluentes. A primeira etapa foi de muito esforço físico, muitas exigências com relação às adversidades de um rio que desce a montanha através de inúmeras corredeiras, agravadas pelo frio do inverno. Em Três Marias decidi parar, reavaliar meus objetivos e buscar patrocínios, que meus recursos rapidamente se acabavam. Fiquei três meses tentando, sem êxito, obter apoio. Decidi, então, voltar ao Rio e completar minha viagem. Percebi que as motivações eram muito maiores e as questões muito mais complexas do que simplesmente vencer os desafios da Natureza e registrar essas realidades. Precisava me confundir com elas, vivê-las integralmente, oferecendo-me aos ribeirinhos para compreender seus dramas e tentar, de alguma forma, ajudá-los a superar suas imensas dificuldades. O restante da viagem foi uma verdadeira aventura de lutas contra a opressão que sofrem os quilombolas e indígenas, sem deixar de observar o lado belo e onírico desse rio fantástico e completamente brasileiro.

Porque você decidiu registrá-la em um blog?
Por que precisava me comunicar com as pessoas e percebi que o blog era o meio mais eficiente e cronológico de fazê-lo. Desde os primeiros momentos de planejamento da expedição registrei minhas impressões no blog. Meu compromisso era de não seguir uma linha editorial, mas deixar que os pensamentos, as reflexões e as manifestações de meu ser fossem registradas sem censura, apenas comprometidas com a realidade que passou a ser minha vida, durante um ano. O blog foi fundamental para o sucesso da expedição.

Como foi a receptividade do blog?
O blog foi um sucesso absoluto! Já tive mais de 30.000 visitantes. Mesmo hoje, tendo deixado de escrever, ainda tenho centenas de visitas por mês. Em 2009 ganhei o primeiro prêmio Top Blog na categoria SUSTENTABILIDADE pelo Juri Popular. Recebi centenas de manifestações escritas, seja por e-mail, seja em comentários nas publicações que fazia.

Quais foram as principais impressões que você extraiu dessa jornada e as cidades que mais chamaram sua atenção?
As impressões são muitas, desde a perplexidade diante da devastação da Natureza ao longo de seu curso, o descaso das autoridades, a paixão pelos ribeirinhos, minha identificação com a causa dos quilombolas, indígenas e assentados, o êxtase pela beleza incomparável das cenas que o rio proporciona em toda sua extensão, a tristeza de não poder fazer mais por ele. Conheci pessoas fantásticas, que me mostraram que o rio ainda é desconhecido dos brasileiros; percebi de perto sua arte única, passei por situações extremas e fui feliz. As cidades que mais marcaram minha expedição foram Iguatama, minha primeira parada, Três Marias, ponto de inflexão na jornada, Pirapora, São Romão, Itacarambi, Malhada, Bom Jesus da Lapa, Paratinga, Barra, Xique-Xique, Petrolina, Santa Maria da Boa Vista, Cabrobó, Paulo Afonso, Piranhas e Piaçabuçu, todas com muito envolvimento meu.

Você manteve contato com os moradores das regiões visitadas? Você acredita que eles já possuem uma conscientização política sobre a importância da preservação do meio ambiente?
Sim, mantive contatos com o povo e, a partir de Três Marias eu passei a entrar em mais cidades, falar com as pessoas, visitar quilombos, acampamentos de sem-terra, assentamentos, discuti com os movimentos populares e abracei suas causas, conheci lideranças e vivi seus dramas. No entanto, não creio que as populações do Rio São Francisco tenham plena consciência da situação do Meio Ambiente, pois cada região sabe de si mesma, não conhece o que está antes de si e não sabe do que vem depois; não tem a percepção de que até pequenas ações predadoras podem levar à extinção da fauna, da flora e do próprio sistema hídrico. Muitos pequenos afluentes já desapareceram e mesmo os grandes rios perdem água ano após ano. As administrações públicas pouco fazem para conscientizar suas populações de seu compromisso com o meio ambiente, o esgoto é jogado displicentemente no rio e em seus afluentes, as matas ciliares estão muito destruídas, e em alguns locais já desapareceram completamente, causando a queda de barrancos, o alargamento do rio e seu assoreamento. Já não podemos dizer que seja um rio navegável, pois as represas impedem sua travessia; apenas Sobradinho possui uma eclusa, mas poucos barcos se aventuram a cruzar suas águas. Ninguém se dá conta de que o rio foi fragmentado pelas barragens e isso afetou definitivamente o ciclo da vida em suas águas. Para que o rio sobreviva, seria necessário engajar sua população em campanhas de conscientização; fortes investimentos deveriam resgatar os afluentes e proteger as matas ciliares. Temo pela morte do rio, até porque, a nova versão do Código Florestal já não mais protege as áreas de preservação permanente, como são as margens do rio. O São Francisco chega a ter mais de um quilômetro de largura em seu leito natural e cerca de 3 km na sua foz; dentro de Sobradinho chega a 35 km de largura; no entanto, as matas ciliares, na maior parte de seu percurso, não passam de uns poucos metros, violentando a legislação, impunemente. Eu creio que uma nova geração de pessoas comprometidas com o Meio Ambiente poderia reverter esse quadro de desolação; mas seria preciso investir fortemente na educação ambiental, desde a pré-escola, em todas as escolas do país para, quem sabe um dia, se possa entender a imensidão de nossos paraísos ambientais, seja no rio São Francisco, seja na Amazônia, na Mata Atlântica, nos Cerrados e Caatingas. Infelizmente, ainda existem milhões de brasileiros que acreditam que os Cerrados devam ser destruídos para dar lugar às plantações de soja, cana-de-açúcar, e à criação de gado. Eles se esquecem que todo mundo precisa de ar e de água, e que, sem as riquezas naturais, esses recursos naturais chegarão, inexoravelmente, à extinção, que será, certamente, o desparecimento do próprio Homem na Terra. O Ser Humano é egoísta e mesquinho, e só pensa em seu bem-estar. Nem concebe que seus filhos, seus netos, seus descendentes serão privados de conviver com a imensidão de belezas que se escondem por detrás das matas, das montanhas, sob o mar...

Entrevista publicada no número 32 da Revista "CONTERRÂNEOS" do Banco do Nordeste do Brasil (BNB)

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Minha Canoa está de volta!


Não posso deixar essa data passar em branco: meu amigo CLOSÉ LIMONGI, Jornalista e Mineiro, duas qualidades insuperáveis, conseguiu buscar minha canoa "ULYSSES" em Aracaju e levá-la para Belo Horizonte, onde ficará até que não a queiram mais! Closé, meu caro amigo, muito obrigado!

É um sentimento estranho, que me reconduz ao meu Velho Chico, trazendo-me à memória os longos e inesquecíveis dias que compartilhei em sua companhia única... Velho Chico, uma vida que se desenrolou por 99 dias, 99 tardes, 99 pores-do-sol incríveis, 99 noites de solidão, meditação e sonhos, alguns impossíveis, outros que me motivaram a seguir em frente...

Meu Velho, meu Chico... um dia, quando o tempo me levar dessa vida, minhas cinzas repousarão em seu leito estremecido pelos maus-tratos, pelo descaso de tantos, e pelo amor de alguns abnegados que louvaram suas belezas, suas histórias, suas lendas...

Que minha velha canoa seja bem tratada e desperte em alguns a paixão que me conduziu pelos seus caminhos infinitos... quem sabe, em breve, eu possa revê-la e derramar a lágrima derradeira, aquela que restou das tristezas que presenciei pelos seus caminhos, Velho Chico...

quinta-feira, 3 de fevereiro de 2011

Arte e Inspiração

Perdi a minha Arte... já disse, um dia, em um poema, que "Arte é Inspiração". Pelo menos, assim penso que seja quando se trata de poesia. A poesia não depende do talento; ela brota de dentro do ser e irrompe avassaladoramente, obrigando o poeta a manifestá-la perante o mundo, ainda que contra a sua vontade! Foi assim comigo; durante dois anos esse fluxo de mensagens fluía naturalmente, sem que eu precisasse sequer retocar o que escrevia com tanta facilidade.

Se minha arte era rica, não importa. Sei que tinha seu valor e expressava meus pensamentos de forma clara, concisa e lírica como eu nunca mais o faria, pois essa erupção poética se extinguiu assim como chegou. Não lamento, pois creio ter dito tudo o que desejava nesses poucos meses em que fui visitado pela Poesia.

Meus textos são duros, difíceis de encontrar adeptos porque eu falo aquilo que todos se recusam a admitir: que o mundo dos homens não é belo, que a brutalidade das relações se esconde sob as máscaras de cada um, enquanto nossos pensamentos refletem nossa verdadeira personalidade, que ocultamos até de nós mesmos.

Escrevi por mais dois anos sobre o rio... não um rio qualquer, mas o Meu Velho Chico, companheiro de viagem, confidente e amigo, que me acolheu por tanto e longo tempo, compreendendo minhas razões e expondo seu sofrimento devido à ação cruel dos homens. O Velho Chico está lá, percorrendo incessantemente os mesmos caminhos, definhando amarguradamente enquanto dilaceram sua artérias, inexoravelmente...

Eu, por meu turno, segui outros caminhos, não para enriquecer-me de belezas, mas para sentir a dor ainda maior de conviver com inimigos, percebê-los tramando contra mim, que continuo passivo, apenas aguardando o fim que se aproxima. Não da vida, que dela nada sei; nem da morte, que essa seria definitiva e expiaria todo sofrimento... mas da existência por si mesma, aquela dádiva não desejada, concedida ao nascer e confiscada em cada instante do viver. Para ela não há salvação possível, apenas esperar.

No entanto, esses caminhos cruéis que tomei para mim não têm compensações, como aquele por-do-sol que está no ocaso de cada novo dia. Apenas mágoas e revoltas inúteis, pois sou eu quem está na trilha errada; todos os demais encontram-se em seu ambiente natural, e nem percebem que ele é escuro, perverso, sem vida, sem cores, sem sonhos...

Cá estou, no âmago do monstro que me devora vivo, arrastando-me pelas estradas que levam ao meu destino final: a expiação de meu pecado original de pensar em um mundo melhor, justo, digno, ético, igualitário e feliz. Não devemos sonhar: é proibido, perigoso e inútil!

sábado, 27 de novembro de 2010

O Fim de um Ciclo

Aqui se encerra mais um ciclo de minha vida. Depois de quase dois anos alimentando este blog com minhas considerações, idéias, pensamentos, termino assim o meu blog. Ele continuará ativo para quem queira ler meus textos e conhecer minha expedição. Agradeço a todos aqueles que me prestigiaram com sua atenção, leituras e comentários e espero ter contribuído para a preservação ambiental, particularmente na defesa do rio São Francisco, cujas lembranças permanecerão em minha memória enquanto eu existir. Um grande abraço a todos...

sábado, 13 de novembro de 2010

Às margens do rio Negro

Chove a cântaros aqui na Amazônia Ocidental. O calor é insuportável nos intervalos das chuvas, e provoca um imenso volume de evaporação que, por sua vez, realimenta o ciclo das águas. Como é fantástica a Natureza! Um ciclo perfeito que assegura a vida em nosso planeta! Apesar disso, as águas do rio Negro continuam a baixar, exibindo as pedras, cada vez mais freqüentes em seu leito, e dificultando a navegação, única forma de transporte entre as áreas urbanas de São Gabriel da Cachoeira e as aldeias indígenas situadas a montante do rio e de seus afluentes.

Estou há dois meses aqui, aprendendo a gostar dessa gente humilde e apreciando as oportunidades que me são concedidas de caminhar nas trilhas da solidariedade. Este mês fiz um curso de piscicultura: quinze dias coletando informações sobre espécies da região, como o Aracu, o Tambaqui, Tucunaré, Pirarucu, Matrinxã e tantos ourtos peixes de grande aceitação e consumo nas mesas dos habitantes locais. Construímos um tanque flutuante com ripas entrelaçadas por cipós, que podem durar mais de um ano e abrigar centenas de peixes.

Também aprendi a extrair as ovas de fêmeas de Tambaqui e Matrinxã e inseminá-las, antes de colocá-las nos berçários, gerando alguns milhões de alevinos que irão repovoar os tanques e os rios. A piscicultura é uma das opções de melhoria da segurança alimentar das famílias indígenas. Ao longo de séculos de ocupação e desagregação de costumes e tradições os indígenas também contribuíram para a redução dos estoques de peixes nos igarapés; sua alimentação tornou-se precária, carente de proteínas, e nossos projetos visam oferecer alternativas simples e de baixo custo para a melhoria das condições de saúde e da qualidade de vida dos índios.

São centenas de comunidades que habitam a bacia do rio Negro. Só de Yanomamis são cerca de 5.000 índios. Estes vivem em semi-isolamento, na região montanhosa do Parque Nacional do Pico da Neblina. Duas dezenas de etnias coabitam o Alto Rio Negro e seus principais afluentes: Uaupés, Tiquié, Içana, Xié... milhões de igarapés abastecem um intrincado complexo de rios que levarão suas águas para a bacia Amazônica, a maior do mundo em extensão e volume de águas. A bacia do rio Negro também é a maior bacia de águas pretas do mundo. Sua coloração é devida aos compostos orgânicos, ricos em tanino.

Nessa região, a floresta alterna espaços com uma vegetação mais pobre, conhecida como Campinaranas, ou Caatinga da Amazônia, terras muito pobres em nutrientes, solo arenoso e extremamente ácido, que reduz o volume de fitoplâncton e zooplâncton de suas águas límpidas e cor de chá preto. Por isso, a capacidade de manutenção da vida nesses rios de águas pretas é baixa; poucas espécies se adaptaram à acidez e falta de alimentos.

Muitas localidades, na fronteira com a Colômbia, demandam 48 horas contínuas dentro de uma voadeira (barco a motor), ou quatro a cinco dias de viagem, atravessando corredeiras e sob um sol causticante de 35ºC, cuja sensação térmica é de mais de 40ºC. As aldeias limítrofes com a Colômbia têm presença permanente do Exército, que não apenas controla e protege as fronteiras, mas também dá auxílio às populações indígenas, oferecendo assistência médica e apoio logístico em casos mais graves que exigem translado do paciente.

Não é raro encontrarmos indígenas com pernas amputadas em decorrência de picadas de cobras, muito comuns nas matas da região. Alguns não sobrevivem e nem mesmo são atendidos a tempo de se ministrar soros anti-ofídicos devido ao isolamento em que se encontram. O Ministério da Saúde mantém equipes de atendimento médico em toda a região, através dos Distritos Sanitários Especiais Indígenas, mas a região é muito extensa.

Esta é a minha realidade, lugar que escolhi morar para contribuir com meu trabalho para a transição dos indígenas, de seu estado atual de enorme dependência do Estado, para uma situação de auto-suficiência de que já gozaram um dia remoto no passado. A transição é inevitável: a partir do momento em que a "civilização" os tocou, contaminando sua alma, nada mais se pode fazer para reverter essa situação. Por isso, é necessário se preservar o que é possível, resgatando a memória desse povo e registrando-a em compêndios que, um dia, serão suas únicas recordações de seus tempos primitivos.

Atualmente, muitos indígenas são professores nas aldeias, outros se formaram técnicos agrícolas, alguns poucos chegaram aos bancos acadêmicos e hoje são mestres e doutores. Mas a absoluta maioria ainda padece da mais cruel e insensata ignorância, viciados pela religião e pelas drogas. A primeira lhes solapa a vontade, resignados pelas promessas de salvação de suas almas. A segunda lhes rouba a dignidade e os torna vítimas dos piores males da "civilização": a bebida, as drogas, a prostituição, a mendicância... centenas de mortos-vivos arrastando-se pelas ruas das urbanidades dominadas por imigrantes de outras terras e culturas.

Assim são as margens do rio Negro, cujas pedras guardam memórias milenares e cujos seres se perdem nos caminhos inundados, com seus sonhos desfeitos e sua memória perdida.

terça-feira, 2 de novembro de 2010

Propostas equivocadas

Dentre as promessas de campanha, Dilma evidencia a incoerência de suas políticas públicas, muitas das quais antagônicas quanto a seus impactos sobre o Meio Ambiente, o que demonstra seu desconhecimento da matéria, ou apenas a necessidade de conquistar o eleitorado durante os meses que antecederam as eleições presidenciais. Cito abaixo algumas dessas "promessas", publicadas em "O GLOBO" em 01/11/2010.

OUTRAS FONTES DE ENERGIA


142. Fazer uma política com ênfase na produção de energia renovável e na pesquisa de novas fontes limpas. Construir parques eólicos.

Seria muito bom se esse fosse, realmente, um compromisso de Presidente da República. Afinal, há muitos anos se discute o uso de recursos renováveis em substituição a fontes tradicionais de produção de energia. Mas vejam o próximo item:


143. Desenvolver o potencial hidrelétrico do país.

Certamente, dentre as fontes primárias de produção de energia, o uso do potencial hidrelétrico do país foi o que causou maiores danos ao meio ambiente. As gigantescas hidrelétricas como Itaipu, Sobradinho, Três Marias, Tucuruí, dentre tantas, causaram danos irreparáveis à Natureza. Além da imensa área alagada, que caracteriza esse tipo de empreendimento, há o bloqueio dos rios, interrompendo seu ciclo natural, com enormes perdas de mobilidade de espécies, muitas vezes até com sua extinção. O governo Lula deu prosseguimento a essa modalidade de exploração de energia e Dilma diz que fará o mesmo.


144. Ampliar a liderança mundial do Brasil na produção de energia limpa.

Depois da revelação de sua preferência pela energia hidrelétrica, Dilma se contradiz afirmando que o Brasil se tornará o líder mundial em energia limpa.


145. Expandir o etanol na matriz energética brasileira e ampliar a participação do combustível na matriz mundial.

Novamente a contradição: para se produzir etanol são necessárias imensas áreas de plantação de cana de açúcar, com trágicas consequências para o meio ambiente. Não há coerência entre tais propostas.


146. Incentivar a produção de biocombustíveis.

O que são os biocombustíveis senão resultado de monoculturas que exigem a ocupação de imensas áreas territoriais, geralmente confiscadas de ambientes naturais, como áreas de cerrado ou até de matas preservadas? Pois muitas regiões do país tiveram suas reservas naturais destruídas pela produção de matérias primas para o biocombustível, como é o caso de Mato Grosso.



MEIO AMBIENTE

147. Reduzir em 80% o desmatamento na Amazônia.

Isto significa que, mesmo tendo atingido a meta, 20% do desmatamento atual continuará devastando nossa Floresta Amazônica. Apenas estaremos postergando a tragédia final, que será o fim a Amazônia. Não existe nenhum estudo científico que afirme que esse nível de desmatamento seja tolerável pela floresta e impeça sua total destruição. O único nível de desmatamento possível para a Amazônia, a Mata Atlântica e outros biomas nacionais é DESMATAMENTO ZERO! Já temos áreas agricultáveis em quantidade suficiente para abastecer nossa população de alimentos por milhares de anos. O que é preciso é aumentar a produtividade por espaço físico, e isso a EMBRAPA já oferece com competência.


148. Ter tolerância zero com desmatamento em qualquer bioma.

Como assim: e o que foi dito na proposta anterior? Tolerância zero com 20% de desmatamento?


149. Incentivar o reflorestamento em áreas degradadas.

De que forma será esse incentivo: através de isenção de impostos? De perdão das multas pelo desmatamento já realizado? Quem fará esse reflorestamento? Como acreditar nessa proposta?


150. Antecipar o cumprimento da meta de reduzir as emissões dos gases do efeito estufa em 36% a 39% até 2020.

Mais uma vez, a hipocrisia: de onde tiraram nossos diplomatas esses números percentuais quando foram apresentados à comunidade internacional? É preciso se trabalhar em um projeto sério de planejamento para se saber como extrair o máximo de nossas áreas agricultáveis para poder prescindir de novos desmatamentos. Também é necessário se investir em novas fontes de energia não poluentes para se afirmar com algum nível de certeza em metas percentuais tão agressivas. Nosso atual modelo produtivo, que exporta matérias-primas sem valor agregado, em lugar de alta tecnologia com elevado valor agregado, não permite propostas tão corajosas e arrojadas. São apenas propostas eleitoreiras.


151. Dar prioridade à economia de baixo carbono, consolidando o modelo de energia renovável.

Mesmas considerações acima: propostas vãs, sem respaldo científico ou tecnológico.


152. Considerar critérios ambientais nas políticas industrial, fiscal e de crédito.

Esse deveria ser o primeiro item desta série, e deveria incluir as políticas agrícolas, que hoje privilegiam a agro-indústria, como se verá abaixo, maior responsável pelos desmatamentos no país.



REFORMA AGRÁRIA E AGRICULTURA

153. Reduzir as invasões no campo.

As invasões no campo são consequência de uma promessa nunca cumprida de fornecer terras para os trabalhadores rurais. Enquanto não houver uma reforma agrária séria e compromissada, não se acabará com as tensões no campo. Basta conhecer os conflitos fundiários no oeste baiano.


154. Não compactuar com invasões de prédios públicos e propriedades. Mas não reprimir manifestações de sem terra quando estiverem simplesmente fazendo reivindicações.

Esse é um compromisso irrelevante. É obrigação de todo governante proteger os prédios e propriedades públicas que estão sob sua guarda e responsabilidade.


155. Intensificar e aprimorar a reforma agrária para dar centralidade na estratégia de desenvolvimento sustentável, com a garantia do cumprimento integral da função social da propriedade.

A reforma agrária nunca saiu do papel; mesmo nos assentamentos realizados, sempre faltou assistência técnica e extensão rural aos novos trabalhadores. Sem orientação, a maioria acaba por abandonar suas terras e retornar às áreas urbanas, agravando as tensões sociais. Meia reforma agrária é como meia gravidez.


156. Ampliar o financiamento para o agronegócio e a agricultura familiar.

(grifo meu) Quando lidamos com o agronegício devemos recordar que o Brasil possui um rebanho de 200 milhões de cabeças de gado, uma área de plantio de soja e cana de açúcar maior do que a maioria dos países do mundo, e que ao exportarmos produtos agrícolas primários, assim como a exportação de minérios, estamos jogando fora nossas maiores riquezas naturais, pois para cada gado no pasto extensivo, centenas de árvores foram abatidas. Não é esse o caminho inteligente. Agora, falar de agricultura familiar no Brasil é brincadeira! As verbas são irrelevantes! Existem milhões de pequenos e micro-agricultores em nosso país; eles representam 95% dos homens do campo e só percebem 5% da renda das propriedades agrícolas nacionais. Muitos ainda são semi-escravos da indústria, produzindo sob contratos leoninos, que os impedem de participar da livre concorrência, um dos pilares do Capitalismo!


157. Assegurar crédito, assistência técnica e mercado aos pequenos produtores. Vai ampliar inclusive o programa de compra direta de alimentos do agricultor familiar, passando de 700 mil para 1,2 milhão de contemplados. Ao mesmo tempo, apoiar os grandes produtores, que contribuem decisivamente para o superávit comercial.

70% de aumento previsto. Quanto cresceu o agronegócio durante o governo Lula?


158. Incluir dois milhões de famílias de pequeno agricultores e assentados no Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf).

Novamente, números baseados em intenções de voto. Quanto representam esses números em esforço e em recursos a serem carreados para esse propósito? Como se chegou a esses números? As campanhas deveriam ter se baseado em apresentar e comprovar a viabilidade de tantas metas arrojadas...


159. Dar mais apoio científico e tecnológico a organismos como a Embrapa.

A Embrapa não precisa de apoio científico ou tecnológico. É uma das mais bem sucedidas empresas nacionais, mesmo sendo pública. Dela saem os melhores resultados em pesquisa pura e aplicada ao campo. O que é preciso é convencer os demais órgãos públicos, inclusive o Ministério da Agricultura a competência dessa empresa exemplar: não há necessidade de expandir as fronteiras agrícolas; apenas é preciso investir em aumento da produtividade. Não seria necessário abate de mais uma única árvore!



IRRIGAÇÃO

160. Fazer 54 obras para melhorar os indicadores de saúde das comunidades ribeirinhas do Norte.

Que obras são essas? Quanto custam? Para que servem? Onde se localizam? Que comunidades são essas? É o mesmo que dizer "construir mais 54 pontes nos rios do Norte"! Temos milhões de rios!


161. Construir sistemas de irrigação no Sul, no Sudeste e no Centro-Oeste.

Só faltaram o Norte e o Nordeste... que proposta mais vazia e desprovida de significado! É esta nossa Administradora que foi capaz, sozinha, de gerenciar o PAC e o PAC-2? Aliás, onde estão os PAC´s nessas propostas? PAC são Programas Ausentes de Crédito, um "monte" de obras desconexas que, para efeitos eleitoreiros foram agrupadas no mesmo "feixe". O que precisamos é de planejamento de longo prazo, projetos integrados que não consumam recursos desnecessários e sejam aprovados pela população.


162. Continuar a transposição das águas do Rio São Francisco.

Tragédia das tragédias: a Transposição do rio São Francisco é o Elefante Branco das obras de Luiz Inácio LULA da Silva. Um projeto dos tempos do Império que, ressuscitado, sequer foi atualizado com o acordo das populações ribeirinhas do São Francisco. Aprovado nas catacumbas do poder, foi implementado à força pelo Exército, desviando águas de um rio moribundo para abastecer reservatórios e bacias de outros estados, enquanto a população ribeirinha do Velho Chico padece da fome e da seca. Provem que uma única família do São Francisco receberá água dessa obra faraônica!



Ainda faltou o principal compromisso que deveria constar de todas as campanhas eleitorais dos candidatos: impedir, de todos os modos possíveis e negociáveis, o desvirtuamento de uma de nossas melhores legislações - o Código Florestal Brasileiro! Depois de gravemente ameaçado pelo NEO-RURALISTA Aldo Rebelo, nossa legislação florestal está ameaçada de extinção, assim como nossos rios e florestas! Tentar impedir essas mudanças é dever e obrigação de todo político e de todo brasileiro consciente. Perdoar as dívidas dos desmatadores, dos criminosos que quase acabaram com as mais promissoras áreas de cerrado e floresta subtropical é um crime maior do que daquele que o praticou.

domingo, 31 de outubro de 2010

Carta aberta à Presidente Dilma Rousseff

Sra. Presidente Dilma Rousseff,

Falo como quem não votou em seu nome, e nunca votaria em José Serra. Fui defensor de Marina Silva como uma alternativa de governo que nunca foi tentada neste país, mas que deveria ser considerada por quem ama a terra em que nasceu e acredita no ser humano como uma criatura possível no concerto geral deste universo atribulado por tanta miséria e desgoverno.

Até hoje a humanidade sempre procurou alternativas para conceder o poder e as riquezas para poucos em detrimento da maioria. À senhora que, como eu, lutou contra a ditadura militar, mesmo sabendo que na relação de forças não tínhamos a menor possibilidade de vitória, e que, por idealismo e convicção, mesmo assim perseverou na defesa de seus ideais, peço-lhe apenas um minuto de sua atenção, antes que sucumba de vez nos labirintos do poder.

Nas barganhas dos cargos e dos Ministérios, guarde uma vaga para o bom-senso, e destine, pela primeira vez na história, a Agricultura para os pequenos agricultores, esses que representam mais de 95% de todos os trabalhadores rurais desse país imenso. Não entregue o poder para os ruralistas, esses que querem apenas se enriquecer, produzindo soja, gado e cana de açúcar para abastecer os celeiros do mundo, deixando a mesa dos pobres vazia.

Reserve o Meio Ambiente para quem luta por preservar as belezas desse planeta, suas águas e as florestas, seus animais e as paisagens para que nossos filhos, nossos netos, seus netos, tenham algo para se maravilhar e viver. Deixe um pouco do que resta para as futuras gerações e não para aqueles que ambicionam os domínios intermináveis dos latifúndios vazios.

Leve consigo, para as outras pastas, a Educação, a Saúde, os Transportes, Minas e Energia, pessoas que sonham com um mundo melhor e menos consumista, onde todos (todos mesmo) possam ter suas vidas dignas e não consumidas no desperdício e no desprezo pelos pobres.

Senhora Presidente, seja, antes de tudo, humilde; visite todos os rincões desse país e não apenas aqueles que lhe deram os votos da vitória, mesmo que sejam tão vazios e distantes que apenas os indígenas os estejam habitando. Veja com seus olhos a imensidão de nossas florestas, de nossos rios, a riqueza que eles guardam para um futuro que só acontecerá se alguém cuidar para que isso aconteça. E apenas a senhora poderá fazê-lo.

Não espere que as alianças espúrias que fez lhe garantam a tal "governabilidade". Tenha a coragem e a ousadia de decidir pelas gentes de nossa Nação, a despeito dos partidos políticos, cada vez mais corruptos, cada vez mais distantes dos nossos anseios populares.

Senão, para que terá valido sua luta revolucionária? Lembre-se de seu idealismo como estudante, que enfrentou as armas dos exércitos, os porões da ditadura, apenas para viabilizar um mundo melhor, mais solidário, mais justo e honesto. Traga de volta seus sonhos estudantis, ainda não contaminados pelas ambições políticas, e pense em seu povo, pois foi este quem a elegeu com seus milhões de votos! Rompa essas alianças estúpidas e acredite em seu poder.

Senhora Dilma Rousseff, não repita a hipocrisia do passado! Leve consigo poucas propostas, mas apenas as efetivas, importantes de fato, que possam modificar para sempre a fisionomia deste imenso país, de recursos (quase) inesgotáveis. Não deixe que eles se acabem!

Ainda existem pessoas do bem, preocupadas e solidárias, aquelas que votaram em Marina Silva apenas pelo que ela representou para todos nós, uma via diferente, não baseada no Capitalismo Selvagem em que vivemos, mas na busca de alternativas Sustentáveis, que possam preservar a Vida, a Beleza e a Permanência do Homem sobre a Terra.

Este é o meu pedido sincero, senhora Presidente!

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

A escolha difícil

Conforme havíamos previsto em crônicas anteriores em meu blog "Boca Ferina", Dilma será, provavelmente, a nova inquilina do Palácio do Planalto. Embora não conte com nossa simpatia e apoio, a candidata do PT tem muito mais qualificações para assumir a Presidência da República do que o tucano Serra.

Isto porque Lula, que a apóia, representou, para o Povo Brasileiro, uma promissora redenção em suas políticas públicas que favoreceram a ascensão das minorias à condição de dignidade social, e à grande e empobrecida maioria, alguns degraus que a afastou temporariamente da pobreza e da fome. Assistencialismo e imediatismos à parte, essa "proteção" contra a miséria, vinda através do Bolsa Família, era uma necessidade imperativa, enquanto medidas mais efetivas e duradouras não pudessem vir a afeito.

As habilidosas e inteligentes negociações de Lula e de sua equipe de Diplomatas conseguiram evitar que a maior crise do Capitalismo desestruturasse todas as conquistas sociais obtidas nesses últimos 10 anos. Isso ocorreu porque nosso mercado externo passou pela maior guinada de sua História, reduzindo a importância de parceiros tradicionais, fortemente atrelados ao Euro e ao Dolar, e buscando a parceria de outros países emergentes, como a China e a Índia, além dos países africanos e do Oriente Médio.

Lula também acelerou o processo de demarcação das terras indígenas e dos quilombolas, e de assentamento de trabalhadores rurais, dando o primeiro passo para o resgate desssas populações, que foram as maiores vítimas do Colonialismo português, no pior genocídio que maculou a História do Brasil, de Portugal e de sua aliada, a Inglaterra.

No entanto, apesar de tantas conquistas sociais importantes, o governo Lula não conseguiu reverter o processo de destruição sistemática da Floresta Amazônica, deixando um vergonhoso rastro de devastação provocado pelas alianças espúrias do PT com a famigerada Bancada Ruralista, para quem só importa o enriquecimento fácil da exploração e da exportação de soja, da criação de gado bovino e dos subprodutos da cana de açúcar.

Marina Silva, nossa candidadta à Presidência, não conseguiu, contudo, conter a fúria destruidora do Latifúndio e das monoculturas, que destroçaram, desgraçadamente, grande parte do Cerrado do Mato Grosso, Goiás e Tocantins, e também extensas regiões da Floresta Amazônica nos estados do Pará, Rondônia e Acre.

Na visão Desenvolvimentista embasada pelo anacrônico e decadente Neo-Liberalismo, DIlma e Serra não se diferenciam; isso nos leva a crer que os próximos quatro anos, pelo menos, serão desastrosos para o Meio Ambiente, conduzindo-nos a uma situação crítica de sobrevivência de nossos principais biomas, os mais importantes do Planeta em extensão e biodiversidade. Principalmente para as bacias hidrográficas do Amazonas e do São Francisco, fontes de irrigação de uma gigantesca extensão territorial brasileira.

Será uma perda irreversível, dada a fragilidade dos solos amazônicos, e um grande risco para a sobrevivência da raça humana. Quem será o responsável por essa hecatombe: Dilma ou Serra? No próximo final de semana conheceremos o nosso algoz!

segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Momento de Decisão

O segundo turno se aproxima e a decisão por um e outro candidato pode determinar o futuro da Nação brasileira, dadas as diferentes visões de mundo de cada uma das facções que se enfrentam nas urnas. Apesar de eu já ter dito que as alianças espúrias de um e outro candidato os tornam praticamente iguais do ponto de vista da governabilidade e das concessões que terão de fazer em seus mandatos, existem aspectos que os diferenciam.

Um deles, que mais interessa a nós, ambientalistas, é o destino que se dará aos projetos de construção de obras gigantescas em áreas de risco ambiental, como é o caso das bacias do São Francisco e do Amazonas. Ambos, o Velho Chico e a Amazônia já padecem de violentas intervenções desde o período ditatorial dos anos 60 e 70; as imensas barragens de Sobradinho e Tucurui, as rodovias Transamazônica e Belém-Brasília, os estímulos fiscais a transformar Manaus em um pólo de desenvolvimento a qualquer custo (e que custo elevado foi esse!), já demonstraram os enormes equívocos de decisões baseadas em um modelo desenvolvimentista ultrapassado e predador.

Recentemente, novas barragens foram construídas ou estão em vias de se tornarem realidade, como Belo Monte, no Xingu, e Santo Antônio e Jirau, no rio Madeira, além de uma dezena de outras já em fase final de planejamento ou de certificação junto ao IBAMA. Ocorre que a Amazônia representa cerca de 60% de todas as florestas tropicais do planeta, e vem sendo destruída, às barbas do governo e com sua conivência, pelo agronegócio, que despreza as leis e invade as fronteiras do bom-senso e do equilíbrio que deveriam nortear as ações estratégicas de um país continental, que se propõe a ser, um dia, uma grande potência.

O São Francisco já foi tão mutilado que mal pode ser considerado um rio contínuo em toda sua extensão: são 5 barragens (Três Marias, Sobradinho, Moxotó, Paulo Afonso e Xingó) e ainda se pretende construir mais três: em Pirapora, Santa Maria da Boa Vista e em Pão de Açúcar, fora as dezenas de pequenas centrais hidrelétricas planejadas ou em execução nos afluentes do Velho Chico. Neste, a existência de espécies tradicionais está completamente ameaçada.

Por isso, o momento é de decisão: precisamos pensar em quem fará menos mal, causará menos dano, provocará menos desastres ambientais em nosso já tão combalido planeta. O Brasil é, ao mesmo tempo, um país privilegiado e responsável pelos destinos do mundo, pois um desastre de grandes proporções nos riquíssimos ecossistemas que temos poderá determinar o ocaso da civilização em todo globo terrestre. É uma pena, mas os políticos, excetuando-se Marina Silva, ainda não se deram conta da gravidade desta situação.

Quando Al Gore fez seu contundente depoimento, que se tornou filme, "Uma Verdade Inconveniente", ele sabia que enfrentaria o maior desafio de sua carreira depois da eleição roubada por George Bush (filho). Poucos ouviram seu depoimento, menos ainda foram os que o entenderam, mas ninguém, nenhum mandatário do mundo mexeu uma palha sequer para inserir seu país dentre as nações preservacionistas. O desastre está aí, à nossa porta, pronto para arrombar as nossas vidas com a destruição da beleza e da riqueza da biodiversidade que dá motivo às nossas existências. Só não vê quem não quer, ou quem ambiciona lucros fantásticos e de curto prazo, como a nossa famigerada Bancada Ruralista!

A decisão está nas mãos dos brasileiros, ou melhor, estava, quando Marina Silva ainda concorria pelo cargo máximo da Nação brasileira. Agora, só nos resta esperar que quem vença as eleições tenha juízo e bom-senso para não aderir às políticas fáceis e de favorecimento das classes dominantes, em detrimento das populações mais pobres, mais esquecidas pelas políticas públicas, ou enganadas por elas. Cabe a cada um de nós o veredito, mas é bom lembrar que Fernando Henrique Cardoso, quando tomou o poder, teria dito algo como: "esqueçam tudo o que eu disse"; sua intenção teria sido demonstrar o quanto um presidente da república está atrelado aos acordos e conchavos políticos que viabilizaram sua eleição. Agora, PSDB e PT têm muito pouca margem de manobra e decisão!

domingo, 17 de outubro de 2010

Visão do Rio Negro em São Gabriel da Cachoeira

Quando deixei o meu Velho Chico, em dezembro de 2009, uma etapa de minha vida havia sido cumprida. Apesar da falta de apoios e do desinteresse das autoridades pela questão do São Francisco, minha voz continuou sendo ouvida pelas repercussões deste blog, pelas inúmeras manifestações de solidariedade vindas de todas as partes, e isso me deixou reconfortado, com a sensação de que valeu a pena meu esforço. Mesmo que meu livro não tenha sido publicado no formato tradicional em papel, resta-me a satisfação do grande interesse despertado pela leitura nos sites em que foi disponiblizado.

Quando procurei novos caminhos para minha missão preservacionista e optei pelo trabalho com a população indígena, não quis me afastar dos rios brasileiros, e escolhi São Gabriel da Cachoeira, cidade do Amazonas, às margens do rio Negro, cujas semelhanças e diferenças com nosso Velho Chico apenas demonstram que a questão ambiental não pode ser abandonada, mesmo que os políticos que se degladiam pelo poder em Brasília pouco se importem com a conservação da Natureza e do meio ambiente, nossa maior riqueza.

Assim, decidi conservar esse blog e falar dos temas ambientais, mantendo acesa a chama da luta pela revitalização do São Francisco, sem nos esquecermos que nossos recursos hídricos são os maiores e mais complexos de todo o planeta. O clima da Amazônia é responsável pela manutenção da vida na Terra, e poucos sabem disso; por isso, a motosserra continua devastando essa que é a maior floresta contínua e em biodiversidade do mundo! Quem se importa? Certamente os ambientalistas, talvez uma pequena parcela da população esclarecida. Mas não os ruralistas, para quem só importa produzir e enriquecer, nem que seja à custa do desaparecimento de todas as espécies animais e vegetais e não apenas aquelas hoje consideradas em extinção; e até mesmo do desaparecimento das populações indígenas, esses incômodos personagens de nossa história nada digna, nem edificante, vítimas dos massacres provocados pela mesma ânsia pelo poder e pela dominação a qualquer custo que hoje determinam as posturas "desenvolvimentistas" de José Serra e de Dilma Rousseff.

Mesmo que meus esforços sejam em vão, e que o destino do mundo seja o de se transformar tudo em uma imensidão desértica comparável às premonições trágicas de Mad Max, ainda assim precisamos continuar lutando, pois talvez a geração que nos sucederá acorde em tempo de salvar um pouco dessas belezas que, por si somente deveriam justificar a vida em toda sua plenitude, e que, para tantos são apenas áreas inúteis a se converter em pastos e campos de soja e de cana de açúcar... de que valerá viver então, quando nada mais restar?

terça-feira, 12 de outubro de 2010

Dois rios majestosos e a mesma sentença

As bacias do São Francisco e do rio Negro têm, ambas, dimensões semelhantes em área ocupada; o São Francisco possui cerca de 640.000 km2 e percorre cinco estados: Minas Gerais, Bahia, Pernambuco, Alagoas e Sergipe; o rio Negro possui área aproximada de 700.000 km2 e percorre parte do noroeste do Amazonas; sua bacia, porém, banha também o estado de Roraima e avança pelos países da Guiana, Venezuela e Colômbia. Mas suas semelhanças terminam aí.

Enquanto a bacia do São Francisco possui uma população de cerca de 15 milhões de habitantes, a bacia do rio Negro não chega aos dois milhões; e quase a totalidade de seus habitantes está nas cidades de Boa Vista e de Manaus, na foz do rio Negro, onde suas águas se misturam, lentamente, às águas do Solimões, formando o gigantesco rio Amazonas. O rio Negro é o maior afluente da margem esquerda do Amazonas e o maior de todos os seus afluentes em volume de águas.

Enquanto o rio São Francisco possui cerca de 150 afluentes, o rio Negro tem mais de 700 tributários, sem contar os mais de 8.000 igarapés que formam uma das maiores cadeias de cursos dágua do planeta. Em suas terras, a bacia do rio Negro abriga uma população de mais de 80.000 indígenas, em quase 1.000 aldeias, com mais de 80 etnias, e falando dezenas de línguas e suas variações ou dialetos!

A coloração do rio Negro, de águas cor de chá preto, é devida ao tanino retirado dos compostos orgânicos da imensa floresta que ainda sobrevive, quase intacta, em seus territórios, ao contrário da vegetação quase moribunda do São Francisco. As terras do rio Negro não são ricas em nutrientes, como as do Velho Chico, mas o respeito da população indígena pela Natureza ajudou a preservar, durante séculos, essa imensa riqueza das florestas, presentes em grande parte de seu território.

Ao contrário do que muitos pensam, a presença humana na região do rio Negro remnta a mais de 3.000 anos, mesmo com o terrível genocídio perpetrado pelos colonizadores e pelos Salesianos a partir do século XVI. Já foram identificados vestígios dessa época, de uma civilzação inteligente na região de Iawaretê, na fronteira com a Colômbia, e os estudos ainda prosseguem.

No entanto, a triste notícia é que a civilização ocidental, que tantos males já causou aos indígenas, únicos e verdadeiros habitantes originários das Américas, essa civilização que se julga tão avançada e inteligente, continua a destruir culturas e povos indígenas com seus hábitos daninhos: caça e pesca predatórias, consumo de drogas, ingestão de bebidas alcoólicas em índices absurdos, e degradação ambiental em todos os níveis.

Acreditava-se que o rio Negro seria eterno em sua beleza e prosperidade. No entanto, as populações indígenas hoje passam fome e carecem da ajuda dos invasores brancos para sobreviver, pois estes, em sua ânsia pelo lucro indiscriminado, faz os indígenas se esquecerem de suas próprias crenças, adotando as "religiões" ocidentais; torna-os dependentes da cachaça, em lugar de sua inofensiva bebida, o caxiri; torna-os ambiciosos e competitivos, eliminando a harmonia que os mantinha como "parentes", independentemente de suas etnias; permite que os brancos os escravizem em dívidas contraídas em "trocas" injustas de mercadorias valiosas por bugigangas ocidentais; e destroem seus lugares sagrados, fazendo-os se esquecerem de suas tradições, de seus valores e de suas origens ancestrais.

São dois rios que demonstram a inviabilidade da vida no modelo ocidental, capitalista, "desenvolvimentista" a qualquer custo. Ambos condenados à morte; porém um, o Velho Chico, já moribundo e decadente, aguarda apenas o golpe de misericórdia, enquanto o outro, o majestoso rio Negro, ainda floresce na magnificência de suas matas repletas de vida, mas consciente de que sua sentença não será menos cruel: a morte de suas populações indígenas será também a sua morte, pois não há como separar a vida do rio e da floresta da vida de seus generosos habitantes, simples em sua maneira de viver, econômicos no uso dos recursos naturais, singelos em suas crenças que, aos poucos, se esvanecem, sufocadas pela "cultura" ocidental.

quinta-feira, 7 de outubro de 2010

O Rio Negro: algumas informações

O rio Negro é o maior afluente da margem esquerda do rio Amazonas (1.700 km de extensão), o mais extenso rio de água negra do mundo, e o segundo maior em volume de água — atrás somente do Amazonas, o qual ajuda a formar. Tem sua origem entre as bacias do rio Orinoco e Amazônica, e também conecta-se com o Orinoco através do canal de Casiquiare. Na Colômbia, onde tem a sua nascente, é chamado de rio Guainia. Seus principais afluentes são o Rio Branco e o rio Uaupés que disputa ser o começo do rio Orinoco junto com o rio Guaviare, drena a região leste dos Andes na Colômbia. Após passar por Manaus, une-se ao rio Solimões e a partir dessa união este último passa a chamar-se rio Amazonas.

O rio Negro é navegável por 720 km acima de sua foz e pode chegar a ter um mínimo de 1 m de água em tempo de seca, mas há muitos bancos de areia e outras dificuldades menores. Na estação das chuvas, transborda, inundando as regiões ribeirinhas em distâncias que vão de 32 km até 640 km.

Todo ano, com o degelo nos Andes, e a estação das chuvas na região Amazônica, o nível do rio sobe vários metros, alcançando sua máxima entre os meses de Junho e Julho. O pico coincide com o "verão amazônico", e portanto, o nível do rio começa a baixar até meados de novembro, quando novamente inicia o ciclo da cheia. Em Manaus, a cota máxima do Rio Negro vem sendo registrada há mais de cem anos, e há um quadro no Porto de Manaus com todos os registros históricos, inclusive o da maior cheia de todos os tempos, ocorrido em 1º de julho de 2009, alcançando a cota máxima de 29,77 m acima do nível do mar. Todos os rios da Bacia Amazônica sofrem o mesmo fenômeno de subidas e baixas em seus níveis, comandados pelos dois maiores rios: Rio Negro e Rio Solimões.


Essas informações foram obtidas no Wikipédia.

Além disso, a bacia do rio Negro é maior que a bacia do São Francisco, com cerca de 700.000 km2 em três países: Brasil, Venezuela e Colômbia. Possui grandes afluentes, como o Uaupés e o rio Branco, além de milhares de igarapés que tornam sua região uma das mais irrigadas do mundo.

LinkWithin

Related Posts with Thumbnails

Depoimento de Manoel Bibiano, prefeito de Iguatama, MG

Charge na "Gazzeta do São Francisco"

Charge na "Gazzeta do São Francisco"
Despedida de Nêgo Dágua e a Carranca - Juazeiro, BA

Depoimento de Roberto Rocha, Lagoa da Prata, MG

Localidades Ribeirinhas

Vargem Bonita / MG

Ibotirama / BA

Hidrelétrica de Três Marias / MG

Morpará / BA

Pirapora / MG

Barra / BA

Ibiaí / MG

Xique-Xique / BA

Cachoeira do Manteiga / MG

Remanso / BA

Ponto Chique / MG

Santo Sé / BA

São Romão / MG

Sobradinho / BA

São Francisco / MG

Juazeiro / BA

Pedras de Maria da Cruz / MG

Petrolina / PE

Januária / MG

Cabrobó / PE

Itacarambi / MG

Hidrelétrica de Itaparica - PE / BA

Matias Cardoso / MG

Hidrelétrica de Paulo Afonso / BA

Manga / MG

Canindé de São Francisco / SE

Malhada / BA

Hidrelétrica de Xingó - AL / SE

Carinhanha / BA

Propriá / SE

Bom Jesus da Lapa / BA

Penedo / AL

Paratinga / BA

Piaçabuçu / AL

Depoimento de Dom Frei Luiz Cappio, Bispo de Barra, BA

Principais Afluentes

Rio Abaeté

Rio Pandeira

Rio Borrachudo

Rio Pará

Rio Carinhanha

Rio Paracatu

Rio Corrente

Rio Paramirim

Rio das Velhas

Rio Paraopeba

Rio Grande

Rio Pardo

Rio Indaiá

Rio São Pedro

Rio Jacaré

Rio Urucuia

Rio Pajeú

Rio Verde Grande

Entrevista à TV Sergipe, Aracaju

Postagens mais populares