terça-feira, 23 de junho de 2009

De Iguatama a Três Marias: momento de decisão!

Saí de Iguatama na segunda-feira, dia 15 de junho, pela manhã. As feições do rio desde o encontro com o Samburá se mantiveram de um padrão único, com altos barrancos barrentos, muitas árvores derrubadas pelas últimas chuvas, troncos ocultos sob as águas, e curvas intermináveis, à direita e à esquerda, aumentando as distâncias para quem observa as cartas topográficas sem a qualidade adequada à navegação.

Preocupavam-me o atraso no cronograma original, as distâncias a serem percorridas e a monotonia do cenário, cada vez mais contínuo e sem as belezas naturais verificadas no trecho inicial desde Vargem Bonita. Também os locais de acampamento se tornaram mais difíceis, muitas vezes exigindo superar os barrancos íngremes para encontrar um local plano. Cheguei a acampar sobre um lamaçal seco e craquelado, por detrás de uma árvore despencada, e sob o risco de desabamento do barranco, por falta de alternativas visíveis, pois já passava das 17:00 horas e logo iria escurecer!
Apesar disso, a navegação se tornou fácil e sem grandes imprevistos, com o fim das corredeiras. Isso me permitia observar mais atentamente a rica fauna da região, principalmente a diversidade de pássaros! Um dia cheguei a assistir a uma imensa revoada de patos, garças e outros pássaros, que passaram sobre mim, em grandes grupos, durante vários minutos.
Das margens ouvia-se o canto de milhares de pássaros em lugares que pareciam criadouros de aves, tamanha a algazarra provocada pelos cantos os mais diversos!
Logo na terça-feira, eu me encontrei com um pescador de 70 anos, sr. Roberto Borges, pessoa de grande sensibilidade e consciência ecológica, que me deu várias orientações e gravou um depoimento emocionante sobre a degradação ambiental no São Francisco.
Na quinta-feira me encontrei com um grupo de pescadores que me convidou a almoçar. Aceitei, e eles me alertaram sobre o que estava por vir na entrada da represa de Três Marias. Segundo eles, experientes pescadores, na entrada do lago havia uma grande corredeira, muito forte e difícil de ser vencida. Recomendaram-me que não fizesse esse trajeto, pois meu barco não suportaria. Mesmo com barco a motor eles disseram que era difícil entrar na represa!
Acabei pernoitando no acampamento deles e obtive mais informações e subsídios para a minha decisão. Eles haviam pescado muitas piranhas de 3 a 5 kg, um pintado (surubim) de uns 8 kg e um grande dourado de cerca de 12 kg. Convidaram-me a ir para seu rancho antes de prosseguir.
Na sexta-feira pela manhã saí cedo e cheguei ao rancho perto do meio-dia. Almocei com eles e decidi que não faria a entrada na represa. Segui remando até uma ponte próxima às corredeiras e contratei um pequeno caminhão para levar-me até Três Marias, onde cheguei às 21:00 horas.
Passei a noite meditando sobre tudo o que acontecera desde o início da expedição. Minha maior preocupação tinha sido superar obstáculos! As questões ambientais foram deixadas de lado em função das inúmeras dificuldades encontradas. E, nos últimos dias, minhas atividades se resumiam em remar cada vez com mais vigor para cumprir um cronograma que nada tinha a ver com meus objetivos e propósitos nesta expedição.
Encontrara poucas pessoas, tomara pouquíssimos depoimentos, fotografara poucas cenas, e nenhuma fora do leito do rio, perdi algumas oportunidades de conhecer lagoas de reprodução que estavam a poucos metros das margens... e, para completar, estava consumindo meus recursos financeiros e comprometendo seriamente a expedição.
Além disso, fui informado por um habitante de Três Marias que a uns 10 km da cidade havia uma perigosa corredeira, a Cachoeira Grande. Depois, uns dois dias de navegação, e havia outra, a Cachoeira Criminosa, uma enorme pedra que obstruía a passagem, sem ser percebida por quem desce o rio! Era emoção demais para quem buscava relacionamentos e informações sobre o meio ambiente, como eu!
Por tudo isso, decidi interromper minha viagem, reavaliar meus objetivos, buscar apoios financeiros e retomar a intenção de fazer essa expedição com propósitos preservacionistas.
Portanto, para quem me acompanha, essa é minha decisão: não farei mais corredeiras, não passarei por trechos perigosos, pois não estou fazendo rafting ou canoísmo como esporte, mas sim como meio de locomoção para conhecer o rio São Francisco e as comunidades que vivem em seu entorno, que dependem de suas águas para sobreviver! Creio ser essa a melhor atitude, antes que todos os objetivos da expedição estejam comprometidos...
No início de julho ocorrerá em São Paulo o 4o. Salão do Turismo: Roteiros do Brasil, quando será distribuída a revista "Circuito das Gerais" com uma reportagem de capa sobre minha expedição. Estarei lá para participar desse evento e obter apoio e patrocínio.

Vejam as fotos da expedição no álbum: http://picasaweb.google.com.br/jotadiver/VelhoChico#

Um comentário:

Marcio Costa disse...

Voce melhor que ninguém pode tomar decisões a respeito.
Com certeza tomou a decisão que melhor podia no momento, mesmo assim continue sua luta seja por terra ou por água, não desanime pois é muito importante para nosso planeta que existam pessoas como voce que realmente se preucupam com o que realmente importa.
Estarei acompanhando seu blog e lhe desejando boa sorte na nova decisão que vier a tomar.
Fique com DEUS.

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